Ana Mazzotti – Ao Vivo – Festival De Verão Do Guarujá (1982)

Olá amigos cultos e ocultos! Entre trancos em barrancos, vamos sem data ou hora marcada. As postagens por aqui continuam esparsadas, mas seguimos sempre ativos.
Hoje vamos como este disco, enviado pelo amigo Denys, que nos fez o favor de dar um trato tanto no áudio quanto nas imagens da capa. Trata-se de um excelente registro ao vivo da cantora, compositora e instrumentista gaúcha, Ana Mazzotti, uma das grandes artistas desconhecidas da nossa música popular brasileira. Além de gaúcha, tem um timbre de voz que lembra muito a baixinha  Elis Regina. Um álbum até já bem curtido pelo público blogueiro, mas aqui ainda inédito e mais do que necessário. Confiram no GTM.

o causo
mudanças
nada me governa
roda mundo
blues pros bicos
perguntação
grand chick

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Juão – Cheiro De Mudança (1982)

Olá amigos cultos e ocultos! Procurando sempre manter os olhos e os ouvidos ligados em coisas raras do nosso universo fonomusical, eu hoje trago para você uma produção independente, um disco que não sei de onde apareceu por aqui. Com diz o Roberto Carlos, são tantas as emoções, fica difícil as vezes saber de onde surgiu. Para piorar, eu não encontrei nenhuma informação sobre o artista e seu disco. Daí, tudo que posso dizer é que se trata de um trabalho bem interessante. Juão, o artista, é aqui um intérprete que traz em seu lp um repertório de primeira, com músicas selecionadas, algumas de sucesso, bem conhecidas do público. Caetano, Fagner, Cátia de França, Chico Buarque e outros fazem parte do seu leque musical. Produção independente lançada no início dos anos 80. Vale a pena conferir 😉

caçada
kukukaia
traduzir-se
caçador de mim
com a mão no ombro
vida vida vida
trampolim
a felicidade bate a sua porta
gente
notícias do brasil
estrela da terra
gera luz

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Adriana (1970)

Cantora e compositora, ela é considerada uma das mais belas vozes femininas  do Brasil. Trata-se de Adriana Rosa dos Santos, ou simplesmente Adriana, que o TM põe em foco em sua postagem de hoje. Foi no dia 3 de fevereiro de 1953, no Rio de Janeiro, que nossa Adriana veio ao mundo, filha de Maria Helena, uma vedete do teatro de revista que atuou na companhia de Carlos Machado, então “o rei da noite”. Mesmo contra a vontade da mãe, que desaprovava sua intenção de seguir carreira artística, Adrianazinha começou na plenitude de seus 12/13 anos de idade, cantando em apresentações de matinês. Inscreveu-se ainda em programas de calouros, e, devidamente aprovada, tornou-se cantora de rádio. O sucesso que ela conseguiu apresentando-se nesses eventos, chamou a atenção de produtores musicais, e nossa Adriana passou a ser chamada para cantar em programas de TV. Extremamente tímida, ela pensou em obedecer a mãe e desistir de cantar, porém, convencida pelos produtores  a não desperdiçar sua potência vocal, decidiu seguir em frente na carreira. Em 1967, com a Jovem Guarda ainda no auge, Adriana grava seu primeiro disco, um compacto simples, no selo Equipe, e consegue, por tabela, seu primeiro grande sucesso, com “Anjo azul”, feita especialmente para ela por Nonato Buzar, que ficaria mais conhecida como “Vesti azul” (“Minha sorte então mudou”…), título com o qual seria regravada, com êxito redobrado, pelo então “rei da pilantragem”, Wilson Simonal. Gravou ainda mais dois compactos simples na Equipe, e as seis músicas de seus singles nessa marca foramreunidas num LP que compartilhou com Luiz Keller. Como era ainda adolescente, só podia se apresentar à tarde nos programas de auditório da época, como os de Chacrinha e Flávio Cavalcanti. O carisma de Adriana com o público lhe garantiu a alcunha de “rainha hippie”. Com a carreira consolidada, foi capa da revista “O Cruzeiro”, em 1973, e, cinco anos mais tarde (1978), venceu o festival de música de Mar del Plata, na Argentina, com a música “O cara”, dela mesma em parceria com Gibran. Outros hits de Adriana foram: “Lá lálá”, “Viu?”, “O que me importa?” (depois regravada por Tim Maia e Marisa Monte), “O problema é seu”, “Deixe estar como está”, “Mamãe, cê viu?”, “Quando você partir”, “Pra sempre vou te amar”, “Joguei tudo com você”, “Combinado assim” e, por certo o maior de todos, “I loveyou, baby”, de Gilson e Joran, lançado em 1986 e mais conhecido pela frase final da letra, “Te amar é tão bom, tão bom, tão bom”.  Até hoje, Adriana admite ser muito tímida, tem vergonha de dar entrevistas e aparecer na TV, e que sempre fica nervosa ao pisar em um palco. Sua discografia abrange cerca de 30 títulos, entre LPs e compactos, sem contar as coletâneas e participações em álbuns mistos. Ainda participou de filmes, novelas de TV e fotonovelas (daquelas que saíam antigamente nas revistas femininas). Casada há mais de vinte anos com o músico e biólogo marinho Márcio Monteiro, que conheceu nos palcos, Adriana tem duas filhas gêmeas, Natanna e Tuanny, que, ainda crianças, integraram a segunda formação da Turma do Balão Mágico e depois formaram-se em Direito, hoje fazendo coro para a mãezona em seus shows. Seu mais recente trabalho é o CD “Eu mereço”, com quatro músicas, lançado em 2016. Hoje, o TM oferece a seus amigos ocultos e ocultos este que foi o primeiro LP-solo de Adriana, lançado em maio de 1970 pela Odeon, gravadorapara a qual foi contratada por influência justamente de Wilson Simonal, um de seus maiores incentivadores, ao lado do “velho guerreiro”, Chacrinha. Sob a batuta de Mílton Miranda e com direção musical de Lírio Panicalli, Adriana dá um show de interpretação, e a primeira faixa, o samba-rock “Justo nesta noite”, de Luiz Wagner e Tom Gomes (também presentes aqui com “Agora que estou sozinha” e “Não digo nada”)foi apenas um dos êxitos desse disco. Temos ainda uma regravação do clássico “Hoje”, de Taiguara, uma composição de Hyldon, “Com muita saudade”, bem antes de ele estourar com “Na rua, na chuva, na fazenda”, e trabalhos de dois integrantes dos Golden Boys, os irmãos Ronaldo (“Não vou chorar nunca mais”) e Renato Corrêa (“Só se for nós dois”, parceria com Edinho). Carlos Imperial e Hélio Matheus aqui comparecem com “O que é que eu faço desta saudade?”.  São doze faixas no total, mostrando todo o talento e carisma de Adriana, sem dúvida uma excelente cantora, e ainda hoje em franca atividade, realizando shows por todo o país e recebendo os merecidos aplausos do público.

justo nesta noite
anjo
agora que eu estou sozinha
não diga nada
só se for nós dois
com muita saudade
aquele encantamento
hoje
o que que eu faço dessa saudade
descalça no parque
não vou chorar nunca mais
não vai mais acontecer

*Texto de Samuel Machado Filho

Os Cariocas – Compacto (1965)

Dentre os conjuntos vocais que deram aquele “banho de loja” em nossa música popular (Bando da Lua, Anjos do Inferno, Quatro Ases e um Coringa, Vocalistas Tropicais etc.), Os Cariocas ocupam um lugar de destaque. Formado em 1942 por irmãos paraenses que moravam na Tijuca, Severino de Araújo Silva Filho (que seria pai da atriz Lúcia Veríssimo) e Ismael de Araújo Silva Neto, o grupo era inicialmente um quinteto, completado pelos vizinhos Salvador, Tarquínio e Ary Mesquita, este último depois substituído pelo gaitista Waldir Viviani. Começaram a carreira em 1945, participando do programa de calouros “Papelcarbono”, apresentado no rádio por Renato Murce, e obtendo o terceiro lugar. Em uma segunda tentativa, finalmente conseguem a primeira posição, e, em 1946, são contratados pela lendária PRE-8, Rádio Nacional, a meca artística da época.  Já com Badeco e Quartera no lugar de Tarquínio e Salvador, Os Cariocas gravam seu primeiro disco em 1948, na Continental, apresentando o samba “Adeus, América” e, no verso, o samba-canção “Nova ilusão”, logo causando sensação por suas harmonias ousadas e pelo sincopado rítmico, precursor da bossa nova. Em 1956, falece Ismael Neto e Severino Filho assume a liderança dos Cariocas, contando, por seis anos, com a irmã da dupla básica, Hortênsia. Obviamente, participaram da bossa nova, tanto que, em 1962, fizeram parte do show “Encontro”, na boate carioca Au Bon Gourmet, ao lado de João Gilberto, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, o bateritaMílton Banana e o contrabaixista Otávio Bailly, apresentando as músicas mais simbólicas do movimento, tipo “Corcovado”, “Samba do avião”, “Chega de saudade” etc.  O currículo dos Cariocas ainda inclui apresentações nos EUA, Argentina, Porto Rico e México. E ainda atuaram diversas vezes no programa “O fino da bossa”, apresentado na TV Record de São Paulo pelos inesquecíveis Elis Regina e Jair Rodrigues. Em 1966, o grupo se separou, por divergências com o maestro Severino Filho, e cada integrante foi para seu lado. Vinte e um anos mais tarde, 1987, o pianista Alberto Chinelli convidou Severino Filho para ouvir o arranjo feito para o clássico “Da cor do pecado”, de Bororó. Severino, entusiasmado, fez o arranjo vocal e chamou os integrantes do conjunto para voltarem aos discos e shows. Em primeiro de março de 2016, morre Severino Filho, o que parece ter encerrado a longa e gloriosa trajetória dos Cariocas. Da longa e expressiva discografia do conjunto, o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos um raríssimo compacto simples lançado pela Philips em 1965, época em que Os Cariocas eram um quarteto. Ambas as faixas foram extraídas do LP “Os Cariocas de quatrocentas bossas”, desse mesmo ano. No lado A, um indiscutível clássico romântico dos irmãos Marcos e Paulo Sérgio Valle, “Preciso aprender a ser só”, verdadeira joia que foi, merecidamente, um dos maiores sucessos musicais de 65, e tem inúmeras outras gravações, como as de Elis Regina, Sylvia Telles e do próprio Marcos Valle. E o lado B apresenta uma curiosidade: a toada “Carro de boi”, de Maurício Tapajós com letra de Antônio Carlos de Brito, aliás, Cacaso, futuro amigo/parceiro de “medalhões” da MPB, como Suely Costa, Djavan, Joyce Moreno, Olívia Byington,João Donato, Edu Lobo e outros mais. “Carro de boi” seria inclusive regravada, em 1976, por Mílton Nascimento, para seu álbum “Geraes”. Enfim, outro precioso e raro disquinho com fonogramas preciosos, dignos de figurarem nos acervos de tantos quantos apreciem a música popular brasileira no que ela tem de melhor e mais expressivo. É só baixar e conferir.

preciso aprender a ser só
carro de boi

*Texto de Samuel Machado Filho

Armando Macedo – Compacto (1968)

Mais um precioso compacto é oferecido hoje pelo TM a seus amigos cultos e ocultos. E de inestimável valor histórico, pois documenta o início de carreira de um de nossos mais talentosos e expressivos músicos: Armando Macedo, mais tarde conhecido como Armandinho. Instrumentista, cantor e compositor, Armando da Costa Macedo nasceu em Salvador, capital da Bahia, em 22 de maio de 1953. É filho de Osmar Macedo, da dupla Dodô e Osmar, idealizadores do célebre trio elétrico de mesmo nome. Em 1962, Armandinho formou o grupo de frevo Trio Elétrico Mirim, em 1962, e em 1967 o conjunto de rock Hell’sAngels.  Mais tarde apresentou-se no programa ‘A grande chance”, da TV Tupi carioca, apresentado pelo polêmico Flávio Cavalcanti. Ficou em primeiro lugar na fase eliminatória e, no ano seguinte, gravou seu disco de estreia, o compacto que apresentamos hoje. Em 1974, juntou-se a seu pai e outros músicos para formar o Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar, lançando inúmeros discos carnavalescos ao longo dos anos 80. Paralelamente, no final dos anos 70, Armandinho formou o grupo A Cor do Som, inicialmente a banda de apoio de Moraes Moreira, que também se apresentava no Trio Elétrico Armandinho, Dodô & Osmar. Formada ainda por Dadi (baixo e vocal), Mú Carvalho (teclados e vocal) e Gustavo Schroeter (bateria), A Cor do Som lançou seu primeiro álbum em 1977, notabilizando-se pela alta qualidade instrumental, misturando jazz, rock e MPB. Em meados de 1979, o percussionista e vocalista Ary Dias, que também tocava no Trio Elétrico, passa a integrar o grupo, que um ano antes se apresentara no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, resultando em um disco ao vivo. Alcançam novo patamar de sucesso ao introduzirem músicas cantadas a partir do terceiro LP, “Frutificar”, do qual brotaram hits do porte de “Beleza pura” (Caetano Veloso), “Abri a porta” (Gilberto Gil e Dominguinhos) e “Zanzibar” (Armandinho e Fausto Nilo). Em meados de 1981, após gravar mais dois álbuns com A Cor do Som (“Transe total” e “Mudança de estação”), Armandinho deixa o grupo para dedicar-se à carreira-solo e seu projeto com o Trio Elétrico Dodô & Osmar. Ao longo dos anos seguintes, daria continuidade a seu trabalho instrumental, voltado para o choro e outros gêneros, gravando e se apresentando ao lado de músicos do porte de Raphael Rabello, Paulo Moura, o conjunto Época de Ouro, Moraes Moreira, Pepeu Gomes, Caetano Veloso e Yamandú Costa. Em 2005, se reúne novamente com A Cor do Som, gravando um disco acústico e realizando shows esporádicos. Este pequeno, grande e precioso disco, pontapé inicial da vitoriosa carreira de Armandinho, foi gravado ao vivo no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 1968, e lançado pela extinta Codil com o selo Compacto. Nele, o então Armando Macedo executa ao bandolim peças eruditas e populares, acompanhado pelo violonista Horondino Silva, o Dino Sete Cordas. No lado A, um pot-pourri que junta as “Czardas” de Vitorio Monte a temas de Zequinha de Abreu (“Branca”), Honorino Lopes (“Língua de preto”), Manoel Marques (“Tema de amor em forma de prelúdio”) e Sérgio Bittencourt (“Modinha”). E, no lado B, temos a “Marcha turca”, de Mozart. Tudo isso com virtuosismo e maestria, fazendo deste single de estreia de Armando Macedo, o futuro Armandinho, um trabalho digno da postagem do meu, do seu, do nosso Toque Musical!

branca

czardas

lingua de preto

tema de amor

preludio

modinha

marcha turca


*Texto de Samuel Machado Filho

Carlos Gonzaga – Adão E Eva (Compacto) (1960)

E prossegue o festival de compactos raros do TM. Hoje apresentamos, para deleite de nossos amigos cultos e ocultos, um compacto duplo de 45 rpm (a mesma rotação dos que então saíam nos EUA e em outros países), lançado em 1960 pela RCA Victor, com um dos pioneiros do rock em terras brasileiras: José Gonzaga Ferreira, aliás Carlos Gonzaga. Foi na cidade mineira de Paraisópolis que Carlos Gonzaga veio ao mundo, no dia 10 de fevereiro de 1924. Iniciou sua carreira em meados dos anos 1940, demonstrando, desde então, extrema versatilidade, na interpretação dos mais variados gêneros musicais, como samba, guarânia, bolero, samba-canção, fox, tango e, evidentemente, o rock, no qual se consagrou interpretando versões de hits internacionais do gênero. Seu primeiro disco foi lançado pela RCA Victor em setembro de 1955, um 78 rpm apresentando a guarânia paraguaia “Anahi”, em versão de José Fortuna, e o tango “Perdão de Nossa Senhora”, de Palmeira e Teddy Vieira. Talvez os maiores êxitos de Carlos Gonzaga tenham sido as versões de “Diana”, de Paul Anka, assinada por Fred Jorge (“Não te esqueças, meu amor/ que quem mais te amou fui eu”…), e “BatMasterson”, de Bart Corwin e HavensWray, assinada por Édison Borges (“No velho Oeste ele nasceu”…), esta última o tema principal de um seriado de TV norte-americano do gênero western, no qual o personagem-título, interpretado pelo ator Gene Barry, portava uma perigosa bengala-espingarda, e que alcançou enorme sucesso no início dos anos 1960, inclusive no Brasil. Outros êxitos de Carlos Gonzaga foram: “Rapaz solitário (Lonely boy)”, “Você é meu destino (You are mydestiny)”, “Diabinho (Heylittledevil)”, “Oh! Carol”, “O diário (The diary)”, “Twist outra vez (Let’s twist again)”, “Regresso” (samba-canção de Adelino Moreira), “Ponderosa” (feito para aproveitar o sucesso de outro seriado de TV do gênero western, “Bonanza”), “Juramento de playboy” e outros mais. Fez shows por todo o Brasil e também nos principais países da América Latina, obtendo reconhecimento internacional. Desde 1986, reside na cidade de Santo André, no ABC paulista, e inclusive recebeu, em 2006, o título de Cidadão Andreense. “Adão e Eva” é o nome do compacto duplo de Carlos Gonzaga que o TM nos oferece hoje. A faixa-título e de abertura, claro, é versão de um sucesso de Paul Anka (“Adam andEve”), assinada por Fred Jorge, igualmente lançada em 78 rpm e no LP “És tudo para mim”, do qual também foram pinçadas as duas faixas seguintes do disquinho, “A vida, só com amor”, da misteriosa Marilena, e “Foi o luar (Far, faraway)”, outra versão de Fred Jorge, esta para um hit do cantor-compositor country Don Gibson. Já a faixa de encerramento, “Calipso de amor”, foi lançada originalmente no LP “The bestseller”, e é de autoria do compositor e radialista Serafim Costa Almeida. Enfim, mais uma raridade que o TM entrega a vocês, deste autêntico pioneiro do rock brazuca que é Carlos Gonzaga!

adão e eva
a vida só com amor
foi o luar
calypso do amor

*Texto de Samuel Machado Filho

Clara Nunes – Compacto (1968)

Nascida em 12 de agosto de 1942, em Cedro, distrito de Paraopeba (hoje Caetanópolis), na região central do estado de Minas Gerais, Clara Francisca Gonçalves, aliás Clara Nunes, prestou notável contribuição para nossa música popular, e é considerada, com justiça, uma das maiores e melhores intérpretes do Brasil. Era filha de um violeiro, Mané Serrador, que exercia importante papel em sua comunidade, sobretudo na Folia de Reis. Talento precoce, a futura Guerreira, aos 10 anos de idade, venceu seu primeiro concurso de canto, em sua cidade natal, e aos 14, começou a trabalhar como tecelã, ofício que continuou a exercer ao mudar-se para Belo Horizonte, em 1958. Cantando nas quermesses do bairro Renascença, onde morava, Clara chamou a atenção do violonista Jadir Ambrósio, que lhe abriu espaços principalmente em programas de rádio. Em 1960, venceu a fase mineira do concurso A Voz de Ouro ABC, e obteve o terceiro lugar na versão nacional. Mais tarde, é contratada pela Rádio Inconfidência e, em 1961, recebe o Troféu Ary Barroso de melhor cantora do rádio mineiro. Atuou também em clubes e boates da capital mineira, chegando a trabalhar junto com nada mais nada menos que Mílton Nascimento, então contrabaixista. Nessa época, fez sua primeira apresentação na televisão, em um programa que a lendária Hebe Camargo apresentava em BH. E, em 1963, ganhou programa exclusivo, “Clara Nunes apresenta”, na extinta TV Itacolomi, onde se apresentavam “medalhões” da MPB de então, como Altemar Dutra e Ângela Maria. Em 1965, muda-se para o Rio de Janeiro, logo atuando no rádio na televisão, casas noturnas e escolas de samba. Nesse ano, é contratada pela Odeon, sua única gravadora em toda a carreira, e, umano depois, lança o primeiro LP, “A voz adorável de Clara Nunes”, com repertório essencialmente romântico (boleros e sambas-canções), mas sem repercussão. Seu primeiro sucesso comercial viria em 1968, com “Você passa, eu acho graça”, de Ataulfo Alves e Carlos Imperial. A partir daí, aderiu de vez ao samba (interpretando também MPB e forró), sendo inclusive uma das cantoras que mais gravou músicas de compositores da Portela, sua escola de coração. Foi também a primeira cantora brasileira a vender mais de cem mil cópias, quebrando o tabu de que vozes femininas não vendiam discos. Conhecedora das músicas, danças e tradições afro-brasileiras, converteu-se à umbanda e levou a cultura africana para suas canções e vestimentas. Seu currículo também inclui apresentações no exterior, onde representou dignamente a cultura do Brasil, ela que também foi pesquisadora de nosso folclore e nossos ritmos. Em 1973, participou do show “Poeta, moça e violão”, junto com a dupla Toquinho e Vinícius de Moraes, então em evidência, no Teatro Castro Alves de Salvador, Bahia . Também fez, ao lado do ator Paulo Gracindo, em 1974, no extinto Canecão do Rio, o show “Brasileiro, profissão:  esperança”, no qual cantava músicas de Dolores Duran, entremeadas por crônicas de Antônio Maria, interpretadas por Gracindo, e que gerou um álbum de mesmo nome. Entre seus maiores sucessos, destacam-se: “Ê baiana”, “Conto de areia”, “Tristeza pé no chão”, “Menino Deus”, “O mar serenou”, “Deusa dos orixás”, “Banho de manjericão”, “Meu sapato já furou”, “Morena de Angola”, “Peixe com coco”, “Basta um dia”, “Na linha do mar”, “Portela na avenida”, “Nação”, “Tributo aos orixás”, “Guerreira”, “Feira de mangaio”, “As forças da natureza”, “Coração leviano” e “Ijexá”.  Uma gloriosa carreira que se encerrou prematuramente no dia 2 de abril de 1983, quando Clara Nunes faleceu, aos 40 anos, na Clínica São Vicente do Rio de Janeiro. Ela havia se submetido a uma cirurgia de varizes, aparentemente simples, mas acabou tendo uma reação alérgica a um componente do anestésico (o chamado “choque anafilático”), e sofreu uma parada cardíaca, permanecendo 28 dias em coma. Em sua homenagem, a Rua Arruda Câmara, onde fica a quadra da Portela, passou a chamar-se Rua Clara Nunes. A discografia da eterna Guerreira, que vendeu, em toda a sua trajetória artística, pelo menos4,4 milhões de cópias, segundo dados disponíveis, engloba 16 álbuns de estúdio e mais de 90 compactos, sem contar as coletâneas, tudo isso pela Odeon (depois EMI, hoje Universal Music). Dela, o TM foi buscar, para deleite de seus amigos cultos e ocultos, este raríssimo compacto duplo de 1968. Nele, vamos encontrar uma Clara Nunes ainda em início de carreira, interpretando versões de hits internacionais da época, todas assinadas por Geraldo Figueiredo. Destaque para “O amor é azul (L’amour est bleu)”, originalmente sucesso da cantora grega VickyLeandros, e merecedora até mesmo de uma famosa versão orquestrada do maestro francês Paul Mauriat, lembrada até hoje. Completam este precioso disquinho, “Mamãe (Mama)”, “Sozinha” (adaptada da “Suíte número 3”, de Johann Sebastian Bach) e “Adeus à noite (Adieu a lanuit)”. Nenhuma dessas faixas apareceu nos LPs da inesquecível Clara Nunes, o que redobra o valor histórico desta postagem do TM, precioso documento do início de carreira de uma das mais expressivas cantoras que o Brasil já teve. É só conferir.

mamãe
sozinha
o amor é azul
adeus a noite

*Texto de Samuel Machado Filho

Leno – A Festa Dos Seus 15 Anos (1969)

E prossegue o festival de compactos raros do TM, para alegria de seus amigos cultos e ocultos. Hoje, apresentamos um compacto duplo de Gileno Osório Wanderley de Azevedo, aliás, Leno. Ele veio ao mundo no dia 25 de abril de 1949, na capital do Rio Grande do Norte, Natal, e foi um dos maiores astros da Jovem Guarda, como a voz masculina da dupla que formou com a carioca Sílvia Lília BarrieKnapp, a Lilian. Após participar de alguns conjuntos de rock dessa época, Leno foi descoberto por produtores da CBS, atual Sony Music, e formou a dupla com Lilian. Em março de 1966, auge da Jovem Guarda, é lançado o compacto simples de estreia de Leno e Lilian, e as duas músicas logo fazem enorme sucesso. No lado A, veio a balada romântica “Devolva-me”, da própria Lilian em parceria com Renato Barros, fundador e líder do grupo Renato e seus Blue Caps, que mereceu anos mais tarde uma expressiva regravação de Adriana Calcanhoto. E, no verso, “Pobre menina”, versão também da própria Lilian para “Hangonsloopy”, então hit do grupo norte-americano The McCoys. Meses depois, vem o primeiro LP, incluindo essas duas músicas e outro grande sucesso, também lembrado até hoje, “Eu não sabia que você existia”, além de versões de hits internacionais da época. Após o segundo LP, “Não acredito” (1967), ainda no período da Jovem Guarda, desentendimentos entre Leno e Lilian acarretaram a separação e o consequente fim da dupla, e cada um partiu para carreiras-solos. Em 1972, Leno e Lilian voltaram a cantar juntos, mas sem o brilho de outrora. Tanto Leno quanto Lilian continuam na ativa em suas próprias carreiras, ainda mantendo relações amistosas, e, nos anos 90, participaram juntos de homenagens à Jovem Guarda, juntamente com outros artistas que dela participaram, como Jerry Adriani e Wanderléa. Em sua carreira-solo, Leno possui nove álbuns, oito em estúdio e um ao vivo. Além, é claro, de inúmeros compactos (dessa época, inclusive, é o sucesso “A pobreza”, também conhecido por “Paixão proibida”). Seu mais recente trabalho é “Canções com Raulzito” (aliás, Raul Seixas), lançado em 2010. Hoje, o TM oferece “A festa dos seus quinze anos”, compacto duplo com músicas do segundo LP-solo de Leno, editado pela CBS em novembro de 1969. Por sinal, era comum, nessa época, o lançamento de compactos simples e duplos extraídos dos LPs, possibilitando aos compradores de poucas posses terem as melhores faixas, ou as que mais agradavam. A faixa-título e de abertura, composta por Ed Wilson, é uma ótima balada romântica que obteve boa aceitação na época, sendo até hoje executada em programas de rádio de cunho saudosista. E, nesse disquinho, temos ainda “Quando você me deixou”, de Pedro Paulo e Getúlio Cortes (cujos efeitos no final são propositais), “Não precisa devolver”, do já citado Renato Barros, e “Não se esqueça desse bobo”, do próprio Leno. É mais uma raridade que o TM oferece com a grata satisfação de sempre, de um artista que continua em plena atividade. É só baixar e ouvir.

a festa dos seus 15 anos

quando você me deixou

não precisa devolver

não se esqueça desse bobo

 


*Texto de Samuel Machado Filho

João Da Praia (1974)

Hoje, o TM oferece a seus amigos cultos e ocultos um raro compacto duplo da Copacabana (selo Beverly), editado em 1974, apresentando quatro gravações feitas pelo cantor e compositor João da Praia, e anteriormente lançadas em dois compactos simples. Nascido no Rio de Janeiro, em 1950, João da Praia recebeu, na pia batismal, o nome de Antônio Jorge Zacarias. Analfabeto, ele vendia sorvete na lendária Praia de Copacabana, quando foi descoberto pelo produtor Jacques Ayres. Daí por diante, empunhando um violão de uma corda só que achou no lixo, João da Praia conseguiu sucesso logo no primeiro compacto simples, apresentando no lado A uma canção rural com estrofes hilárias, que aproveita como refrão um dito popular: “Aonde a vaca vai, o boi vai atrás”. Um dos maiores sucessos populares de 1974 (servindo até como jingle publicitário de uma marca de inseticida!), “O boi vai atrás” consagrou João da Praia nacionalmente, tornando-o atração em vários programas de televisão da época, e o single vendeu trezentas mil cópias (o lado B, “Meu cajueiro”, é a faixa que encerra o presente compacto duplo).  Meses depois, veio o segundo single, com “Formiga cabeçuda” e “Preta linda”, faixas também aqui constantes.  Em 1975, ele ainda lançaria a música “Poluição”, lado B de outro compacto simples da Beverly/Copacabana, dividido com a dupla Conde e Drácula, que no lado A interpretava “Tá faltando ôme”. Entretanto, João da Praia não conseguiu repetir o sucesso de “O boi vai atrás”. Consta que Sílvio Santos o contratou para se apresentar em seu programa dominical (à época transmitido pela TV Globo) e ele não foi, mesmo com tudo pago. Sílvio anunciou “Vem aí João da Praia” cinco vezes , mas nada dele aparecer! Depois disso, ele caiu no ostracismo, tendo de trabalhar como motorista e balconista para sobreviver. Seu último disco foi um outro compacto duplo, editado em 1981 pela obscura Nacional Discos, apresentando as músicas “Com minha vaca lavei a égua”, “Mundo enrolado”, “Custo de vida até o ano 2001” e “Rock coceira”, evidentemente sem repercussão. As informações sobre o falecimento de João da Praia são desencontradas. Segundo a revista “Veja”, ele teria morrido em primeiro de julho de 1988, aos 38 anos, de ataque cardíaco, em Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Entretanto, amigos de João da Praia entraram em contato com o portal “Memória da MPB”, informando que o falecimento dele aconteceu em 1989, em São Paulo, no Hospital Zona Sul, bairro de Santo Amaro, e seus restos mortais estão sepultados no Cemitério São Luís. Portanto, este compacto duplo é um documento histórico que o TM hoje nos oferece, e mais uma joia rara para os que garimpam raridades discográficas. Aproveitem…

formiga cabeçuda
preta linda
o boi vai atras
meu cajueiro
*Texto de Samuel Machado Filho

Jorge Mautner – Compacto (1966)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Por favor, não percam a esperança como o Toque Musical. Temos ido devagar-quase-parando, mas continuamos ativos. Não somos mais diários, mas estamos sempre presente. E por falar em presente, aqui vai um, este compacto lançado pela RCA Victor em 1966 do velho maldito, Jorge Mautner. Creio que este foi o primeiro disco ele (ou estarei enganado?). Meu tempo é curto, daí não dá tempo de pesquisar. Mas achei um texto de uma entrevista do artista falando sobre o disquinho. Nada melhor, né?
“Em 1965, eu gravei um compacto pela RCA-Victor, com a produção de Moracy Do Val, e acompanhado pelo grupo de folk-rock The Vikings (eram dois irmão que cantavam músicas deles e dos Everly Brothers). Este disco, juntamente com o livro Vigarista Jorge, motivaram a incursão do meu nome na lei de segurança nacional. Dois meses depois de lançado o compacto, cronistas de jornais, inclusive pelo falecido Sergio Bittencourt, filho do Jacob do Bandolim, e que era, junto com Nelson Motta, juri do Flávio Cavalcanti, denunciaram tanto ele como o meu livro como perigosa subversão trotzkista. Apesar disso, por ocasião da minha volta do exílio em 1971, fui encontrar Sergio Bittencourt, eu o perdoei, ele também, e nos abraçamos. A faixa “Radioatividade”, que fala sobre a Terceira Guerra Mundial e da bomba atômica, causava muita estranheza pela sua temática, até por pessoas geniais e bem-pensantes, como Nara Leão, que disse a respeito: “o que tem o Brasil a ver com a bomba atômica?”

radioatividade
não, não, não
.

Cláudio Pérsio – Outros Cantos De Minas (198?)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Continuamos em nossa mostra de compactos. Sempre procurando trazer algo que faz jus a máxima de se ouvir música com outros olhos. Buscamos, mais que nunca, apresentar aquilo que está longe do acesso comum. Geralmente, é depois que postamos aqui a coisa se espalha.
Hoje temos esse compacto duplo do compositor mineiro Cláudio Pérsio. Trata-se, por certo, de uma produção independente, possivelmente dos anos 80. Conforme podemos ler na capa, há um pequeno texto colado, apresentando o autor. Cláudio Pérsio é um médico, psiquiatra, músico e poeta. Procurando pela internet consegui apenas confirmar o que foi dito. Achei também um video com ele cantado uma outra música, o que me leva a crer que chegou a gravar mais alguma coisa. Neste compacto duplo iremos encontrar quatro boas músicas, composições de qualidade que reforçam e justificam sua presença aqui no Toque Musical. Gravações feitas aqui mesmo em BH, com arranjos de dois grandes mestres da música mineira, Célio Balona e José Guimarães. Muito bom, acima da média, com certeza!

eterna capital
marasmo
lamento mineiro
singularmente plural
.
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Carlos Hamilton – Canta Para Os Namorados (196?)

Bom dia, caríssimos amigos cultos e ocultos! Mais uma vez, fazendo jus a nossa tradição, temos aqui uma raridade de alto nível, coisa que vocês só encontram em primeira mão no Toque Musical. Trago hoje para vocês esse raríssimo compacto, produção independente, talvez uma das primeiras lançadas por aqui. Aliás, este disquinho, é pioneiro não apenas como produção independente. É também uma das primeiras manifestações isoladas da Bossa Nova, o primeiro compacto triplo (com três faixas em cada lado) e o primeiro compacto de rotação 33.
Temos aqui o primeiro registro da ‘Turma da Savassi’, a turma dos compositores mineiros Pacífico Mascarenhas e Roberto Guimarães, nomes dos mais importantes da música mineira e porque não dizer, da Bossa mineira. Olhando assim, pela capa, para muitos esse disquinho pode ter passado batido, até porque quem se destaca é o intérprete, o cantor da turma, Carlos Hamilton. Quem vê o disquinho sem lhe dar muita atenção há de entender este, apenas como mais um velho compacto independente (e que ninguém conhece e se interessa). Mas, nesse sentido, o valor está na obra, nas composições, em especial de Pacífico Mascarenhas, onde temos uma autêntica bossa nova, a faixa de abertura, “Pouca duração”. Acredito que poucos conhecem bem essa música, a qual também aparece em outros discos do compositor. Este samba, que é pura bossa surgi neste compacto, que foi lançado no início dos anos 60. Infelizmente, eu não consegui localizar a data, a qual seria muito importante para termos uma dimensão da coisa. Ao que contam, Pacífico conseguiu convencer o produtor fonográfico Harry Zuckerman a transformar o compacto de 45 rpm em 33. Assim a Companhia Industrial de Discos (CID) criou o primeiro compacto, uma produção independente para este 7 polegadas e dava-se aí início aos disquinhos, agora rodando em 33 rpm. Não deixem de conferir essa raridade. Logo mais alguém coloca no Youtube (e eu aqui nem sou lembrado).

pouca duração
quantos anos
olhos feiticeiros
blusa vermelha
para haver amor
sem dizer mais nada
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Conjunto Bossa Nova – Bossa É Bossa (1959)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Muitos são os discos que ainda queremos postar aqui no Toque Musical e hoje temos aqui um desses, um compactozinho que é pura raridade, cobiçado por muitos colecionadores, em especial aos amantes da Bossa Nova. Acredito eu que este seja o primeiro compacto de Bossa Nova lançado no mundo. Temos assim, o Conjunto Bossa Nova, num compacto duplo, com quatro músicas. Por certo, trata-se de um disquinho já bem manjado por todos os seguidores de blog. A primeira vez que apareceu foi no saudoso Loronix e aqui agora completo, com capa, contracapa e selos, para a turma mais exigente 🙂
O Conjunto Bossa Nova era formado por Roberto Menescal, Bill Horn, Luiz Carlos Vinhas. Bebeto Castilho, Helcio Milito e Luiz Paulo Nogueira. Lançado em 1959 pelo selo Odeon, este compacto traz um registro ao vivo do grupo, onde foram selecionadas quatro composições:

meditação
não faz assim
minha saudade
céu e mar

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Antonio Carlos Nóbrega – Compacto (1983)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Seguimos hoje com este compacto duplo, disquinho bem raro do violinista pernambucano Antonio Carlos Nóbrega. Na verdade, este foi seu primeiro registro fonográfico autoral, lançado de forma independente no ano de 1983, conforme relato na contracapa. Antes disso ele integrava o maravilhoso Quinteto Armorial, grupo precursor na criação de uma música de câmara brasileira e raízes populares. Inclusive, aqui no Toque Musical, já foram postados dois discos do grupo.

desassombro
mateus embaixador
calu
romance do rei d. sebastião

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Caetano Veloso – Compacto (1965)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Seguimos hoje com esse compacto nota 10, um disquinho especial, o primeiro registro do genial Caetano Veloso, aqui ainda com dois Ls. Certamente, trata-se de um disquinho já bem divulgado e hoje, mais ainda, na rede é que nem bolacha, em qualquer canto se acha. Mas isso só no formato digital, pois o compacto em si é hoje moeda forte. Tem maluco tentando vender o seu no Mercado Livre por quase 200 pratas. Mas Mercado Livre não deve servir de referencia para preço, ainda mais de vinil que até poucos anos atrás eram vendidos quase de graça. Hoje, com muita informação e fake news, dourar a pílula ficou mais fácil. E o que não falta é trouxa para comprar a joia. Aqui, o que importa é ter em nosso acervo digital um disco que é a cara do Toque Musical (putz, até rimou!) Deixo aqui também a minha gratidão a mais um bom amigo do TM, o Denys, que muito me ajudou no tratamento da capinha e selo. Valeu, brother! 🙂

samba em paz
cavaleiro

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Gaúcho E Seu Trio – Em Ritmo de Tango (1960)

Hoje, o Toque Musical oferece a seus amigos cultos e ocultos um álbum focalizando o tango, estilo musical surgido na região do Rio da Prata, na América do Sul, entre as cidades de Buenos Aires (capital da Argentina) e Montevidéu (capital do Uruguai).  A partir do início do século XX, o tango começou a ultrapassar fronteiras, levado por marinheiros franceses a seu país natal. Paris se apaixonou pelo tango, o que fez muitos artistas argentinos e uruguaios viajarem e até se radicarem na “cidade-luz”. Este “Em ritmo de tango”, que hoje oferecemos, foi lançado pela Philips em 1960, e a execução fica por conta do acordeonista Gaúcho, sobre o qual, infelizmente, pouco se sabe. Ele é (ou era) gaúcho mesmo, batizado com o nome de Auro Pedro Tomaz, e nascido na cidade de Santo Ângelo. Seu primeiro instrumento foi o banjo, então na moda, que tocava no conjunto orquestral de seu pai, o Jazz Elite, em 1942. Mais tarde, transferiu-se para a capital do estado, Porto Alegre, e ficou três anos na Rádio Gaúcha, atuando no conjunto de Paraná e na orquestra típica da emissora. Aperfeiçoando sua técnica no acordeom, do qual seria autêntico virtuose, logo que ingressou na Aeronáutica, foi nomeado sargento-músico, depois mudando-se para a capital pernambucana, Recife, onde tomou parte nos festejos de inauguração da Rádio Tamandaré, como chefe do conjunto dançante. De lá, foi para a Rádio Jornal do Commercio, criando uma orquestra de danças, e seu acordeom é inclusive ouvido nos primeiros discos de Jackson do Pandeiro, lançados pela Copacabana entre 1953 e 1955. Em 1955, Gaúcho desliga-se da Aeronáutica e muda-se para o Rio de Janeiro, ingressando na lendária PRE-8, Rádio Nacional, então “a estação das multidões”. Atuou ainda nos conjuntos do violonista Djalma de Andrade, o Bola Sete (com quem excursionou pelo Chile, Peru e Argentina), e do flautista e maestro Copinha. Participou ainda da terceira formação do Trio Surdina, com o violinista Al Quincas e violonista Nestor Campos, e teve orquestra própria, que tocava no Dancing Avenida. Neste “Em ritmo de tango”, produzido por um verdadeiro “cobra”, Luiz Bittencourt, Gaúcho sola seu acordeom à frente de um trio formado por Hugo (bateria), Malaguti (contrabaixo) e o conceituadíssimo Zé Menezes (guitarra). São dezesseis tangos de sucesso internacional, com arranjos do próprio Gaúcho, em oito faixas, duas para cada música. Entre eles, obras-primas como “Jalousie”, “Sueño azul”, “Senhora fortuna” e “Amado mio”, integrando um repertório de muito bom gosto e sensibilidade. Portanto, este é mais um trabalho de qualidade que merece a postagem de hoje de nosso TM.

violino tzigano

sueno azul

orquideas ao luar

inspiration

mon couer est un violon

tango boogie

the moon was yellow

jailouise


* Texto de Samuel Machado Filho

Pernambuco E Sua Orquestra – Conversando Com O Piston (1959)

O Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos mais um disco na linha dançante, desses que animavam quaisquer  bailes e festas não só em residências como também em salões que não dispunham de música ao vivo. Trata-se de “Conversando com o pistom”, terceiro álbum do maestro, pianista e pistonista Pernambuco (os anteriores foram “Em ritmo de dança” 1 e 2), lançado em 1959 pela Polydor. Ayres da Costa Pessoa, seu nome verdadeiro, nasceu na cidade de Palmares (município pernambucano, obviamente), no dia 27 de fevereiro de 1918, e há poucas informações a respeito dele (não há referência nem mesmo a respeito de seu falecimento). Partiu muito jovem para a então meca dos artistas e capital da República, o Rio de Janeiro, e, em seus primeiros anos na “Cidade Maravilhosa”, foi pistonista da orquestra de Otaviano Romero Monteiro, o Fon-Fon. Mais tarde, trocou o pistom pelo piano, dedicando-se também a arranjos e composições. Um de seus trabalhos autorais mais conhecidos é o samba-canção “Suas mãos”, de parceria com Antônio Maria, que tem várias gravações, destacando-se as de Sylvia Telles e Maysa. No entanto, após oito anos, Pernambuco voltou a soprar seu pistom, o que aliás é frisado no interessante texto de contracapa assinado pelo jornalista e também compositor Ricardo Galeno, um diálogo imaginário entre Pernambuco e o instrumento. Aqui, ele está à frente de sua orquestra (os dois álbuns anteriores foram com seu conjunto), com direito inclusive a duas músicas de autoria dele próprio, à época também lançadas em 78 rpm: a faixa-título e de abertura, o samba “Conversando com o pistom”, e o mambolero “Dorme”, este em parceria com o contracapista do álbum, Ricardo Galeno, interpretado por coral, e regravado mais tarde por Dalva de Oliveira. Além de uma adaptação do próprio Pernambuco para o clássico “Casinha pequenina”, em ritmo de samba, e “Sarambá”, parceria do dançarino Duque com o maestro J. Thomaz (que regia de luvas e… não sabia música!), surgida em 1930. No mais, uma verdadeira seleção de sucessos, com destaque para a presença de dois indiscutíveis e imortais clássicos de Luiz Gonzaga: “Asa branca” (parceria com Humberto Teixeira) e “Vem, morena (com Zé Dantas). E ainda os clássicos internacionais “All the way” (então sucesso de Frank Sinatra), “Babalu” (eterno carro-chefe de Ângela Maria no Brasil), “As time goes by” (surgida em 1931 mas que só se tornou bem conhecida em 1942, com o filme “Casablanca”), “An affair to remember” (tema-título de outro filme famoso, exibido no Brasil como “Tarde demais para esquecer” e “Ai, mouraria” (obra-prima portuguesa, com certeza). Enfim, mais um álbum que é verdadeiro espelho de sua época, representando um período de expressivo fastígio melódico no mundo inteiro, inclusive no Brasil, é claro. É só conferir…

conversando com o piston

all the way

babalu

asa branca

as time goes by

saramba

dorme

an affair to remember

casinha pequenina

zum zum babae

a mouraria

vem morena


*Texto de Samuel Machado Filho

Antonio Carlos Jobim & Quarteto 004 (1968) CP

Olá amiguíssimos cultos e ocultos! Estou com alguns compactos aqui e acho que vai cair bem uma apresentação intercalada com os lps. Daí, para começar a parada, eu escolhi este compacto, lançado em 1968, trazendo uma prévia do disco do Quarteto 004, um discaço, por sinal, com participação de outros feras como Eumir Deodato, Ugo Marotta, Waltel Branco, Edino Krieger e Tom Jobim. O Quarteto 004 era um grupo vocal formado por Luiz Roberto, João Felipe, Athayde e Luiz Carlos. Um excelente quarteto vocal bem comum naqueles anos 60. Neste compacto iremos encontrar a belíssima “Retrato em branco e preto”, de Tom e Chico Buarque. No lado B temos outra bela canção, de Luis Bonfá e Maria Helena Toledo. Disquinho que desperta a vontade de ouvir o long play. 🙂

retrato em branco e preto
canção do encontro
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Aline (1979)

Muito bom dia, amigos cultos e ocultos! Estou trazendo hoje um disco o qual eu pensava que já tivesse postado aqui. Aliás, este lp passou por várias vezes na minha mão. Recentemente, entre compras e doações, apareceu ele aqui de novo. Um disco realmente muito interessante, um dos primeiros lançamentos independentes surgidos no final dos anos 70. Trabalho de estréia e de altíssima qualidade da cantora mineira, de Montes Claros, Aline Mendonça Luz. Antes deste lp, a cantora já havia gravado um compacto, em 73, mas este nem chegou a ser realmente divulgado. Elogiada pela crítica e por músicos do calibre de João Bosco e Toninho Horta, Aline tinha tudo para ser uma das maiores cantoras brasileiras, mas como sempre, quem dita nomes nem sempre dita qualidade. Não é atoa que chegamos hoje à grande cantora do momento, Pablo Vittar. As coisas são assim… A música popular brasileira a cada hora, piora… Ainda bem que temos espaços como o Toque Musical, onde se pode ouvir, além de curiosidades, raridades. Temos assim este álbum, produção independente, raro e numerado, lançado em 1979. Neste trabalho, Aline conta com um time de músicos de primeiríssima e um repertório muito bem selecionado. Disco super elogiado e hoje ainda mais raro por conta dos japoneses que levaram boa pare da produção.

cavaleiro e os moinhos
perna curta
amo-te muito amo-te mesmo muito
vento de maio
esta é a sua vida
tá lembrado de mim
ponta do seixas
a mulata
a carta
meu amor não sabia
negação
amanheceremos

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Quinteto De K-Ximbinho – Em Ritmo De Dança Vol. III (1958)

O Toque Musical traz hoje para seus amigos cultos e ocultos mais um álbum de Sebastião de Barros, compositor, arranjador, clarinetista, saxofonista e maestro, que ficou para a posteridade com o pseudônimo de K-Ximbinho, e de quem postamos anteriormente o dez polegadas “Ritmo e melodia”. Lançado pela Polydor em 1958, este é o terceiro volume da série “Em ritmo de dança” (os dois anteriores foram gravados pelo conjunto do pistonista Pernambuco). K-Ximbinho, “o mais original dentre os instrumentistas que se dedicaram à orquestra popular urbana”, no dizer de outro grande maestro e clarinetista, Paulo Moura,veio ao mundo no dia 20 de janeiro de 1917, na cidade de Taipu, no Rio Grande do Norte. Iniciou seus estudos de clarinete frequentando a banda de sua cidade, mudando-se posteriormente com a família para a capital do estado, Natal.Chegou a participar, junto a outros estudantes secundaristas, do conjunto Pan Jazz, e também atuou na banda de sua corporação no exército. Em 1938, Severino Araújo assume a direção da famosa Orquestra Tabajara, e K-Ximbinho entra para a mesma. Nela permanece até 1942, quando se muda para a então capital da República, o Rio de Janeiro. Nesse ano, atua nas orquestras de Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro) e Napoleão Tavares. Em 1945, quando a Orquestra Tabajara já estava no Rio, K-Ximbinho voltou a integrá-la, nela permanecendo até 1949, como primeiro saxofonista. Em 1946, tem sua primeira composição gravada, “Sonoroso”, de parceria com Del Loro, até hoje um de seus choros mais famosos. “Eu quero é sossego”, “Sonhando” e “Sempre” são outros sucessos de K-Ximbinho como autor. Participou, com muitos dos mais importantes instrumentistas brasileiros de seu tempo, dos anos de ouro do rádio, acompanhando artistas em evidência, e também teve muita importância no circuito de orquestras, dancings e boates , entre elas a Casablanca e a famosa Sacha’s, de cujo grupo fez parte em 1955. E ainda participou da então incipiente televisão brasileira, como orquestrador da Globo, nos anos 1960, época em que também integrou a Orquestra Sinfônica Nacional, da Rádio MEC. Sua última composição foi “Manda brasa”, vencedora do Segundo Festival do Choro, promovido em 1978 pela TV Bandeirantes. K-Ximbinho faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1980, após a gravação de seu último álbum, “Saudades de um clarinete”, lançado postumamente. Neste “Em ritmo de dança 3”, com texto de contracapa assinado pelo violonista Henrique Gandelman, pai de outro saxofonista de renome, Léo Gandelman, K-Ximbinho assina os arranjos, além de solar seu clarinete com a maestria habitual. Nas doze faixas, um repertório bem variado e dançante, mesclando, como de hábito nessa época, sucessos nacionais e internacionais da ocasião, com direito a três composições próprias: o baião “Tá?”, com Hianto de Almeida, e os choros “Teleguiado” e “Penumbra”. Temos ainda os clássicos “Lá vem a baiana”, do mestre Dorival Caymmi, “Por causa de você”, da dupla Tom Jobim-Dolores Duran, “Se acaso você chegasse”, primeiro grande hit autoral de Lupicínio Rodrigues, aqui em parceria com Felisberto Martins, “Não diga não”, de Tito Madi e Georges Henry,e, na área internacional, “Anaffairtoremember” (do filme “Tarde demais para esquecer”), “I’vegotyouundermyskin” e “Love me forever”. Tudo isso, mais o “Mambo do Panamá”, do organista Steve Bernard, romeno radicado no Brasil, e o choro “Zezinho teimoso”, de Nestor Campos, aqui participando ao violão elétrico, fazem deste trabalho mais um produto de primeira oferecido pelo nosso TM. Aproveitem…

la vem a baiana

an affair to remember

zezinho teimoso

por causa de você

mambo do panamá

teleguiado

love me forever

não diga não

i’ve got you under my skin

penumbra

se acaso você chegasse

*Texto de Samuel Machado Filho

Reviat Zikim II – Canto De Paz (1969)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Mantendo sempre o lema de ser aqui um lugar para se ouvir música com outros olhos, hoje eu trago para vocês este lp do grupo Reviat Zikim, formado por jovens da comunidade judáica, aqui no Brasil. Trata-se, por certo de um grupo folk e aqui em seu segundo disco. Infelizmente, as informações sobre eles se resumem mesmo ao que consta na contra capa. Nem mesmo o primeiro trabalho eu consegui localizar. Acredito que, como este, deve ter sido uma produção independente, o que o torna ainda mais raro. E nesse sentido é mesmo, um obscuro lp ‘brasileiro’ super bem contado em listagem de colecionadores japoneses. Por sorte, este disco que apresento a vocês está completo, quer dizer, incluindo encartes com as letras também traduzidas. A propósito disso, as mensagens nas músicas são sempre otimistas, de paz, amor e fraternidade (entre judeus, claro). No final do texto de contracapa há uma curiosa frase:”Só quem tem a paz dentro de si, pode trazer a paz ao mundo”. Muito bonita, por sinal. Mas quando lembro da Palestina…
Bom, deixa prá lá. Melhor a utopia musical.

shir hashalom
shuv lo nelech
lu haiti pirat
mot haparfar
leiad hamessilá
ishá chassidá aitá
tzif tzif, meal ratzif
har haguilboa
ma she siprú
zo she adain machaká
shalosh haavotai
machrozet russit

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Peruzzi E Sua Orquestra – Fantasia Dançante (1963)

Maestro, arranjador, flautista, trombonista, compositor. Este é o perfil de Edmundo Peruzzi, de quem o TM oferece, para deleite de seus amigos cultos e ocultos, mais um álbum (o quinto que postamos dele).  Trata-se de “Fantasia dançante”, gravado na efêmera marca Discobrás (da qual inclusive foi diretor), e, segundo o Instituto Memória Musical Brasileira, lançado em 1959. Com vasta folha de serviços prestados à nossa música popular, Peruzzi nasceu em Santos, litoral de São Paulo, em 29 de junho de 1918. E foi no Conservatório Musical santista que iniciou seus estudos de música, soba orientação de Sabino de Benedictis. Iniciou sua carreira artística em 1932, aos catorze anos, apresentando-se como trombonista em espetáculos de circo, e foi também integrante da Banda do Corpo de Bombeiros de Santos. Em 1935, trocou o trombone pela flauta. Em 1945, Peruzzi formou sua própria orquestra, passando a atuar em programas da PRA-6, Rádio Gazeta de São Paulo (então “a emissora de elite”) e apresentando-se em bailes realizados nos arredores da capital bandeirante. Em outubro do mesmo ano, é lançado o primeiro disco da orquestra de Peruzzi, pela Continental, apresentando o choro “Perigoso”, de Ernesto Nazareth, e a valsa “Em pleno estio”, de RobertoFirpo. Em 1948, a orquestra também se apresentou na Rádio Tupi paulistana. Em 1951, contratado pela Rádio Mayrink Veiga,Peruzzitransferiu-se para o Rio de Janeiro, lá permanecendo por dez anos e atuando à frente de várias orquestras radiofônicas. Em 1953, Peruzzi apresentou-se com sua orquestra no Teatro Municipal carioca, executando o “Moto perpétuo”, de Pagnini, em ritmo de samba. Em 1959, compôs a trilha sonora do filme “Depois do carnaval”, de Wilson Silva, primeira de muitas que faria nos anos seguintes, como, por exemplo, a de “O cabeleira” (1963), de Mílton Amaral, baseado no romance homônimo de Franklin Távora, e a de “Traficante do crime” (1968), de Mário Latini. Em 1964, excursionou pela Argentina e, em 1967, apresentou-se no Paraguai. Em 1970, esteve no Peru, onde realizou apresentações e fez arranjos para a orquestra do peruano Augusto Valderrama. Como arranjador, realizou gravações para cantores diversos, tais como Orlando Silva, Miltinho, Wilson Simonal, Neyde Fraga, Clara Nunes, Agnaldo Timóteo, Dalva de Andrade e Eduardo Araújo. Peruzzi faleceu em sua Santos natal, em 3 de novembro de 1975, aos 57 anos. Neste “Fantasia dançante”, ora postado pelo TM, os arranjos ficaram por conta do próprio Peruzzi e de Pereira dos Santos. Há também a participação dos vocalistas, então desconhecidos, porém bastante talentosos, Joab Teixeira, Josemar e Nilza Morales. O disco foi dividido em duas partes, uma de cada lado. A primeira é “Sinfonia à Bahia”, reunindo, em uma única faixa, várias páginas musicais inspiradas pela Boa Terra, tais como “Bahia com H”, de Dênis Brean, “Exaltação à Bahia”, de Vicente Paiva e Chianca de Garcia, “Na Bahia”, de Herivelto Martins e Humberto Porto, “Cristo nasceu na Bahia”, de Duque e Sebastião Cirino, além de páginas dos mestres Ary Barroso (“Quindins de Iaiá”, “No tabuleiro da baiana”, “Bahia imortal”, “Isto aqui o que é”) e Dorival Caymmi (“O que é que a baiana tem?”, “Preta do acarajé”, “Você já foi à Bahia?”, “Vatapá”).  A segunda parte, “Carícias musicais”, é uma seleção de belas páginas da canção latino-americana, principalmente boleros, em quatro faixas, cada qual com três músicas. Nela, desfilam páginas como “Desesperadamente”, “Cubanacan”, “Sinceridad”, “Sin ti”, “Adios” “Amor, amor” e “Mi oracion” (composta por Georges Boulanger com o título “Avant de mourir” e que depois ganhou letra em inglês de Jimmy Kennedy, sob o título de “My prayer”). Em suma, um álbum “majestosamente trabalhado”, conforme diz a contracapa, na medida exata para ouvir e dançar, e mais um título digno da postagem de nosso TM.

sinfonia a bahia
preta do acarajé
cristo nasceu na bahia
o que é que a baiana tem
no tabuleiro da baiana
na bahia
na baixa do sapateiro
os quindins de ya ya
você já foi a bahia
exaltação a bahia
baiana de nazaré
vatapá
bahia com h
bahia imortal
isto aqui o que é
tema musical
carícias musicais
maria dolores – cubanacan – sinceridad
sin ti – para mi no mas – desesperadamente
senhora – final – tengo cellos de ti
adios – mi oracion – amor amor

*Texto de Samuel Machado Filho

Fuzi 9 (1970)

Hoje, o Toque Musical apresenta para seus amigos cultos, ocultos e associados um trabalho inteiramente cult, bastante apreciado especialmente por fãs da “black music” e DJs do Brasil e do exterior, sendo inclusive um dos favoritos do cantor e compositor Ed Motta. Trata-se do único álbum do grupo Fuzi-9, lançado em 1970 pela gravadora Todamérica, então ensaiando uma retomada de suas atividades, já desligada da Continental (que vendeu sua parte social na empresa). O grupo se chamava Fuzi-9 porque seus músicos eram membros do Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha do Brasil, e o disco tem particularidades bem interessantes. A primeira delas é que um de seus nove integrantes(com direito até a uma vocalista feminina) e responsável  pelos arranjos, o soldado Souza, aliás José Carlos de Souza, ganhou notoriedade, anos depois, com o pseudônimo de Carlos Dafé, sem dúvida um dos maiores e mais expressivos nomes da “soul music” tupiniquim. Ele assina cinco faixas desse histórico álbum: “Trilha” (com Vanden de Souza), “Sônia”, “Fim”, “Fuzão 79”e “Já era tempo de você”. Esta última, por sinal a faixa que abre o disco, tem uma outra particularidade: foi feita com a parceria de uma certa Rosana Fiengo, cantora que depois faria enorme sucesso com “Nem um toque”, “Custe o que custar” e principalmente “O amor e o poder” (“Como uma deeeeusaaaaaa”…), entre outras.  Temos ainda ótimas regravações de “Poeira” (Zuzuca e Benedito Reis), “Pra onde tu vai, baião?’ (João do Valle e Sebastião Rodrigues), “De conversa em conversa” (Haroldo Barbosa e Lúcio Alves), “Isto é samba” (J. Canseira e Paulo Silva) e do samba-enredo “Bahia de todos os deuses”, com o qual a escola Acadêmicos do Salgueiro venceu o carnaval carioca de 1969. Completando o programa, as então inéditas “Tributo a Muezim” e “Haiakaiam”. Mesmo tendo gravado apenas esse álbum, o Fuzi-9 realizou uma turnê por Salvador (a capital baiana), Porto Rico, Martinica e Curaçau. O próprio Carlos Dafé ficou surpreso com o status de cult que este trabalho alcançou, dentro e fora do Brasil, mesmo depois de tantos anos após seu lançamento. Portanto, é um álbum digno da postagem de hoje de nosso TM, autêntica joia rara da “black music” brasileira. Ouçam e confirmem…

já era tempo de você

poeira

trilha

de conversa em conversa

pra onde tu vai baião

tributo a muezim

haiakaiam

bahia de todos os deuses

sonia

fim

fuzão 79

isso é samba



*Texto de Samuel Machado Filho

Larry Guest – Alegria… É Som Embalo Vol. 1 (1971)

Boa tarde, amigos cultos e ocultos! Como vocês já devem saber, eu, eventualmente, tenho postado aqui discos de artistas internacionais. Obviamente, procuro trazer aquilo que está fora de circulação e também que seja algo curioso e diferente. No caso de hoje, temos um disco lançado em 1971 pela Musidisc, do Nilo Sérgio, “Alegria… É Som Embalo Vol. 1”. Trata-se na verdade de uma produção italiana, original de 1970 e tem como artistas Larry Guest, Orquestra e Vozes, nome este obscuro que parece ter sido até inventado. O disco apresenta aquele velho conceito ‘no pause’, ou seja, um disco sem divisão de faixas entre as músicas. E como vocês podem ver, são ao todo 29 músicas! Um drops misto com um leque variado de estilos, mariachi, schlager, easy listening, tudo bem aos moldes de um Paul Mauriat. Confiram…

what now my love
something stupid
puppet on a string
love is blue
what a wonderful word
this guy’s in love with you
delilah
congratulation
 a banda
help yourself
my name is jack
strangers in the night
black forest
music to watch girls by
meet mr. guest
if i had a hammer
makin’whoopee
bye bye blackbird
halekin
warst du doch in dusseldorf geblieben
computer n. 3
down by the riverside
la paloma
clementine
la golondrina
cielito lindo
la cucaracha
love me more
canadian express

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Pierre Kolmann E Seu Conjunto – Para Dançar Vol. 2 (1957)

E o Toque Musical põe de novo na área o pianista Pierre Kolmann, aliás João Leal Brito, o Britinho. Dele, já havíamos oferecido o primeiro e o terceiro volume de “Para dançar”, “Dance com Musidisc” e a coletânea “Seleção de sucessos”, todos lançados pela já saudosa Musidisc, de Nilo Sérgio (que encerrou definitivamente suas atividades em 2013). Portanto, oferecemos hoje a nossos amigos cultos e ocultos o segundo volume de “Para dançar”, editado em 1957, completando, dessa forma, a série. A respeito do pianista, não há muita coisa a ser dita, pois já falamos muito sobre ele nas postagens anteriores. Segundo escreve na contracapa um certo Sebastião Fonseca, a Musidisc  “sentiu-se obrigada” a lançar este segundo volume, em virtude do sucesso do primeiro, consequência inevitável, convenhamos. Ainda de acordo com a contracapa, o álbum é “uma antologia sonora capaz de satisfazeraos mais diversos gostos”. Entre as doze faixas, estão duas composições então inéditas do próprio Britinho/Pierre Kolmann, o samba-canção “Maldição” e o fox “Você e mais ninguém”. No restante do programa, dois sambas carnavalescos de sucesso, “Jarro da saudade” e “Tumba lelê”, um samba-canção clássico, “Dó-ré-mi”, por sinal de autoria de Fernando César, com quem Britinho/Pierre Kolmann também compôs outros êxitos, três foxes norte-americanos,“Mylittleone”, que aliás ganhou letra em português com o título de “Meu benzinho”, popularizada por Agostinho dos Santos, e os sempre lembrados “Myprayer” e “Onlyyou”, eternos hits dos Platters, e ainda “You’resensational”, então êxito de Frank Sinatra no filme “Alta sociedade (High society)”, da MGM. Para completar, três clássicos do bolero, gênero sempre muito bem recebido pelo público brasileiro, “Angústia”, “Historia de un amor” e “Nunca, jamais”. Um álbum de primeira, com o sempre impecável padrão técnico e artístico da Musidisc, e por isso mesmo, merecedor da postagem de hoje do TM. E aí? Dá-me o prazer desta contradança?

jarro da saudade
angústia
maldição
my prayer
história de un amor
you’re sensacional
do ré mi
my little one
tumba le le29
você e mais ninguém
only you
nunca jamais

*Texto de Samuel Machado Filho

Carlos Lee – Bossa Maximus (1966)

Um dos ítens mais atraentes e, ao mesmo tempo, mais enigmáticos, para os colecionadores de raridades discográficas. É o que o TM está oferecendo hoje a seus amigos ocultos e ocultos: o único álbum do cantor Carlos Lee, “Bossa maximus”, lançado em 1966 pela Musidisc de Nilo Sérgio. Como indica o título, é um disco no melhor estilo bossa nova, com doze faixascheias de balanço, por sinal bem suave, tais como “Meu Rio” e “Cantiguinha”. O álbum inclusive chamou a atenção dos executivos do selo britânico Whatmusic, que adquiriu da Musidisc os direitos de lançamento para o Reino Unido. Mas há uma questão que ninguém sabe responder, nem mesmo pesquisadores, colecionadores de discos e ex-funcionários da Musidisc: afinal de contas, quem afinal é (ou era) Carlos Lee , o cantor que assina o disco e, supostamente, aparece na capa, em uma foto num saveiro, na enseada da Urca? Segundo Nilo Sérgio Pinto, filho do fundador da Musidisc, Nilo Sérgio, e detentor do acervo da gravadora, mesmo anos depois da reedição de “Bossa Maximus” no exterior, ninguém foi capaz de dizer qual o paradeiro do cantor, ou mesmo dar alguma informação sobre ele. Seria, por sinal, o mesmo Carlos Lee que gravou dois compactos simples em 1968, um na CBS e outro na RCA Victor? Incógnita total, como se vê. Ainda assim, “Bossa Maximus” é mais um raríssimo produto de alta qualidade técnica e artística, como de praxe nos lançamentos da Musidisc, que o TM oferece com a grata satisfação de sempre. E vamos ver se alguém sabe por onde anda o Carlos Lee…

canto do boiadeiro
meu rio
zulu
amando estou
cantiguinha
capoeira de oxalá
mensagem
subúrbio triste
rei do quilombo
você me conquistou
quarta feira
disseram

*Texto de Samuel Machado Filho

Deo e Marco (1967)

O TM já ofereceu a seus amigos cultos e ocultos vários álbuns de Marku Ribas (pseudônimo de Marco Antônio Ribas, Pirapora, MG, 19/5/1947-Belo Horizonte, MG, 6/4/2013), cantor, compositor, dançarino, percussionista e ativista político, filho de pai negro e mãe descendente de índios caiapós. Dono de um estilo musical peculiar, com diversos elementos da blackmusic, ele inovou ao utilizar o próprio corpo como instrumento de percussão. Em sua voz, harmonias e melodias improvisadas em qualquer ritmo, o seu estilo de cantar e inventar palavras e frases com diferentes sonoridades influenciou e continua a influenciar diferentes gerações de músicos, de estilos variados. Entre eles, Ed Motta, grande admirador de sua obra, que inclusive organizou a compilação “Zamba bem”, lançada em 2007. Pois hoje o TM oferece um disco que hoje tem inestimável valor histórico, pois documenta o início da carreira de Marku Ribas. Ele atuava, desde 1962, como baterista e cantor do grupo Flamingo. Cinco anos mais tarde, 1967, ele transferiu-se para São Paulo junto com o amigo e parceiro Deo. E é justamente quando gravam, para a Continental, então sob a direção artística de Alfredo Borba, seu único LP juntos, este “Deo e Marco”, ficando os arranjos e regências por conta do maestro Antônio Porto Filho, o Portinho. Na capa, eles aparecem ao lado de um avião biplano Fleet, encomendado  especialmente para servir durante a Revolução Constitucionalista de 1932 (Marco, o futuro Marku Ribas, é o que está de pé). Outra curiosidade fica por conta da contracapa, na qual são relacionadas as características do avião e da própria dupla. Nessa época, a Jovem Guarda ainda estava no auge, e era preciso aproveitar a onda. Tanto que as doze faixas do disco, todas de autoria dos próprios intérpretes, seguem o estilo da época, alternando iê-iê-iês e baladas românticas. Mesmo tendo passado despercebido à época de seu lançamento, “Deo e Marco” vale como precioso documento, como diz a contracapa, das “inimagináveis” possibilidades de seus intérpretes, particularmente Marco, quer dizer, Marku Ribas, que depois iria revelar-se um dos músicos mais criativos e inovadores que a música popular brasileira já conheceu em toda a sua história. A conferir, sem falta.

sinta comigo
vou lhe dar tudo de bom
tentei fugir
um dia de sol
serei sincero
ri
meu tempo de criança
sozinho na praia
teu olhar em meu olhar
jardim de primavera
prisioneiro da ilha
esperança

*Texto de Samuel Machado Filho

Revolução de 32 – Uma Visão Através Da Música Popular (1981)

Hoje o TM tem, a grata satisfação de oferecer a seus amigos cultos e ocultos um precioso documento sonoro, focalizando um dos maiores movimentos armados da história do Brasil: a Revolução Constitucionalista de 1932, ocorrida no estado de São Paulo entre julho e agosto de 1932, com o objetivo de derrubar o governo (então) provisório de Getúlio Vargas e convocar uma Assembleia Nacional Constituinte. O golpe de estado decorrente de outra Revolução, a de 1930, depôs o então presidente da República, Washington Luiz, impediu a posse de seu sucessor, Júlio Prestes, eleito nas urnas, depôs a maioria dos governadores de estado (então chamados de “presidentes estaduais”), fechou o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas Estaduais e as Câmaras Municipais, e por fim revogou a Constituição então vigente, a de 1891. Getúlio Vargas assumiu a presidência da República, em novembro de 1930, com amplos poderes, porém, sob a promessa de convocar novas eleições e formar nova Assembleia Nacional Constituinte. Entretanto, nos anos subsequentes, essa expectativa deu lugar a um sentimento de frustração, dada a indefinição quanto ao cumprimento de tais promessas e o ressentimento contra o governo provisório, principalmente no estado de São Paulo, pois Getúlio governava de forma discricionária por meio de decretos, sem respaldo de uma Constituição e de um Poder Legislativo. Essa situação também fez diminuir a autonomia que os estados brasileiros possuíam durante a vigência da Constituição de 1891, pois os interventores nomeados por Vargas, em sua maioria tenentes, não correspondiam aos interesses dos grupos políticos locais e frequentemente entravam em atritos.  No dia 23 de maio de 1932, houve um protesto contra o governo federal em São Paulo, e durante os confrontos com as tropas getulistas, quatro jovens foram mortos: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Este foi o estopim do movimento, cujo nome era a sigla das quatro vítimas, MMDC, deflagrado a 9 de julho (data que hoje é feriado estadual em São Paulo). Com a ajuda dos meios de comunicação da época, em especial o jornal “A Gazeta” e a Rádio Record, o movimento ganhou apoio popular e mobilizou 35 mil homens, pelo lado dos lado dos paulistas, contra 100 mil soldados do governo Vargas. Esperava-se apoio de outros estados, mas o movimento ficou isolado, desenvolvendo-se uma série de batalhas. Foram quase três meses de batalhas e conflitos sangrentos em todo o estado paulista. E tudo isso terminou em 2 de outubro de 1932, com a derrota militar dos constitucionalistas. No entanto, em termos de denúncia política, o movimento foi moralmente vencedor, pois logo após o término do conflito, o governo convocou eleições para uma Assembleia Constituinte, que promulgou uma nova Constituição para o Brasil, em 1934. E com a participação das mulheres no processo eleitoral, o que acontecia pela primeira vez no país. É justamente esta importante página da história do Brasil que é contada pelo álbum hoje oferecido pelo TM, lançado em 1981, um ano antes do cinquentenário do movimento, pelo SESC (Serviço Social do Comércio) em parceria com a Fundação Roberto Marinho, parte de uma série iniciada pouco antes com a Revolução de 30 (o disco não chegou às lojas e só foi vendido nas unidades do SESC). Na capa, reproduz-se o cartaz de convocação dos paulistas à luta, feito pelo MMDC. A pesquisa e a produção musicais ficaram por conta de Jairo Severiano e MiguelÂngelo de Azevedo, o Nirez, que também contribuíram com fonogramas de seus acervos, juntamente com outros pesquisadores de renome, Ary Vasconcelos e José Ramos Tinhorão. O que resultou em um trabalho de inestimável valor histórico, reunindo músicas e trechos de discursos feitos à época pelos constitucionalistas (João Neves da Fontoura, D. Duarte Leopoldo e Silva, então arcebispo da capital paulista, o radialista César Ladeira, o professor José de Alcântara Machado) aos microfones da Rádio Record. A música-símbolo do movimento, a marcha “Paris Belfort”, claro, está aqui presente, numa gravação de 1957, feita na Continental sob a regência do maestro Rafael Puglielli. Francisco Alves, o Rei da Voz, comparece em duas faixas: o “Hino do Partido Constitucionalista”, que gravou em disco particular distribuído gratuitamente, e o samba “Anistia”, do mestre Ary Barroso, feito para o carnaval de 1934. Dessa mesma folia é o samba “Metralhadora”, interpretado por Aurora Miranda. E temos ainda a marchinha “Trem blindado”, grande êxito do carnaval de 1933 na voz de Almirante, acompanhado pelo Grupo da Guarda Velha, de Pixinguinha. Este foi inclusive um dos primeiros sucessosautorais de João de Barro, o Braguinha, compositor que, nos anos seguintes, obteria inúmeros outros êxitos na folia de Momo. A composição faz menção a três símbolos do levante paulista, a matraca, o capacete de aço e o trem blindado do título. Tudo isso, mais o “Hino acadêmico” (gravação particular), “Redenção” (hino marcial das tropas constitucionalistas) e a marchinha “Passo do soldado”, compõem um expressivo e admirável panorama sonoro desse movimento que, mesmo derrotado militarmente,marcou a vocação democrática do povo paulista, para ouvir e guardar.

‘redenção’ (hino das forças constitucionalistas mmdc) – orquestra columbia
trecho de discurso de joão neves da fontoura
passo do soldado – máximo puglisi com orquestra cruzeiro do sul
paris-belford – banda continental
trecho do discurso do professor josé de alcântra machado
hino acadêmico
hino do partido constitucionalista – francisco alves com orquestra
trecho do discurso de dom duarte leopoldo e silva
trem blindado – almirante e grupo da guarda velha
‘exortação’, de guilherme de almeida, lida por césar ladeira
metralhadora – aurora miranda
anistia – francisco alves e orquestra odeon

*Texto de Samuel Machado Filho.

A Grande Música De Noel Rosa (1979)

Muito bom dia, amigos cultos e ocultos! Nosso encontro hoje é com a música de Noel Rosa, através do disco da série “A Grande Música do Brasil”, concebida e dirigida por Marcus Pereira quando este já havia encerrado sua gravadora e agora estava na Copacabana Discos. Podemos considerar este disco, ou esta série como a sequencia final da produção Marcus Pereira, que dois anos depois, falido e com problemas pessoais tirou sua própria vida, encerrando de vez um dos trabalhos fonográficos mais importantes da música brasileira.
Como disse, neste lp temos a música do grande Noel Rosa. Aqui encontramos um trabalho a quatro mãos, ou por outra, a música de Noel Rosa em arranjos de, outro grande, Radamés Gnatalli, tendo como solista o pianista Arthur Moreira Lima. A direção musical e de gravação é do músico e também produtor Marcus Vinicius, que sempre esteve ao lado de Marcus Pereira em muitas das suas produções. Um excelente trabalho que precisamos resgatar.

concerto para noel rosa:
as pastorinhas
em feitio de oração
conversa de botequim
feitiço da vila
ultimo desejo
três apitos
fita amarela
silêncio de um minuto
de babado sim
até amanhã
.

Flor de Cactus – Pepitas De Fogo (1981)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Para a nossa ‘distração’, eu tenho hoje um disco bem interessante, “Pepitas de Fogo, do conjunto Flor de Cactus, um grupo de Natal, no Rio Grande do Norte, que veio a se despontar no cenário nacional, graças ao seu excelente time de músicos, nomes como o baixista Chico Guedes, que tocava com Zé Ramalho, ou ainda o percussionista Mingo Araújo que chegou a acompanhar a banda de Paul Simon. O trabalho que temos aqui é de 81, lançado pela RCA. Um disco bem bacana, que eu mesmo só estou tendo o prazer de conhecer agora. Só conhecia a faixa ‘Mistura’, que classificada no Festival da Globo, desse ano de 1981. O Flor de Cactus gravou uns três discos, creio eu. Não há na rede muita informação fácil sobre a banda. Como estou sempre sem tempo, me limito a essas informações. Confiram, pois realmente vale a pena 😉

luz de lamparina
pepitas de fogo
maravilha
mel do mesmo tacho
faça de conta
música
nem sempre sou igual
varandas e quintais
flor do sol
dar nome aos bois
mistura
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