Izio Gross & Grupo – Isto É Bossa (1999)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Em nosso sortido balaio temos sempre de tudo um pouco. Hoje, para variar ainda mais nossas postagens eu trago um trabalho de primeiríssima com o pianista Izio Gross, uma saudação e homenagem a dois grandes bateristas brasileiros, Edson Machado e Dom Um Romão. Esta é na verdade uma versão em cd que reúne dois momento de Izio Gross, um ao lado de Edson Machado em gravações de seu disco de 1964. E anos mais tarde em gravações com Dom Um Romão, pouco antes de vir a falecer. O cd saiu como uma homenagem póstuma e ainda hoje se pode comprá-lo por aí. Muito bom 🙂

just a moment
fleur blanche
fire fly
na moita
noche de ronda
cartão de visita
mau mau
murmúrio
menina feia
palahçada
dançando e balançando
samba perroquet
a certain smile
samba triste
mulher de trinta

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Tukley – Raul Seixas Cover (1992)

Cantor, compositor e guitarrista, nascido em 1953, Tukley (pseudônimo de TuclayGanzert) já é conhecido dos amigos cultos e ocultos do TM, que já foram brindados com seu primeiro LP-solo, de 1980. Sua carreira começou na década de 1970, quando apresentou, na TV Paraná, Canal 6, de Curitiba, então pertencente à extinta Rede Tupi, o programa “Ponto 6”. Em 1974, é contratado pela gravadoraRGE-Fermata como integrante da Dupla Ponto e Vírgula, que alcança sucesso com as músicas “Chacrilongo” (mistura de chato, cri-cri e pernilongo) e “Laika nós laika (Mas money que é goodnóis não have)”, sendo que esta última serviu de inspiração para os Mamonas Assassinas nos anos 90 (não por acaso, o álbum que hoje oferecemos tem a co-produção de Rick Bonadio, o empresário que revelou os Mamonas). Foi ainda guitarrista e vocalista da banda paulista de rock Spray, criadora da música “Tictic nervoso”, mais tarde sucesso na regravação do grupo Magazine. Assim que saiu do Spray, adotou o nome artístico de Tuca Estrada, com o qual gravou o terceiro álbum-solo, em 1999, e passou a se apresentar como cover de Raul Seixas. E foi justamente nessa condição que participou de programas como o “Fantástico”, da Rede Globo, através do qual foi escolhido como melhor cover de Raulzito, e “Domingo legal”, do SBT. Já no primeiro álbum solo, anteriormente oferecido pelo TM a vocês, Tukley apresentava um repertório com nítida influência de Raul Seixas. Influência esta que se acentua ainda mais no presente trabalho, lançado em 1992 pela CID, gravadora carioca que existe até hoje, com produção de Mellino Júnnior, Antônio Carlos Kruppa e o já citado Rick Bonadio, aqui assinando-se Ricardo. São nove faixas de composição própria, a maior parte em parceria com um certo Nati, e apenas uma composta solo, “Camaleão”, que abre o disco, dedicado “às pessoas que acreditam que nada é por acaso”. Portanto, é um trabalho que reafirma Tukley, hoje Tuca Estrada, como um dos melhores “covers” de Raul Seixas, sempre mantendo certa originalidade. É só ouvir e confirmar.

o camaleão
titia rita
terra de cego
dona rolla
revoltado
a cigarra
de onde eu venho
nada
leis transcendentais

*Texto de Samuel Machado Filho

Carlos Lucena – Pomar Dos Deuses (1992)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Marcando presença mais uma vez em nosso Toque Musical, hoje temos um outro disco do Cacá, Carlos Lucena, um dos grandes nomes da música mineira, artista que aqui está pela terceira vez com este maravilhoso trabalho de 1992, “Pomar dos Deuses”, produção independente e autoral. Um disco que devido a sua tiragem limitada, hoje em dia adquire o status de raridade. Aliás, todos os disco do Carlos Lucena são ‘coisa rara’, vale muito uma conferida em seu trabalho.  🙂

pomar dos deuses
do céu da cabeça
olhos de lua
plataforma dos cristais
diamantes
nada demais
um tom de amor
o canto dos duedes
vi oh…

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Companhia Clic (1989)

Paralelamente ao chamado Rock Brasil, ou BRock, já comentado aqui anteriormente, um outro movimento musical começava a se manifestar em meados da década de 1980: o da axé music. Esse gênero surgiu no estado da Bahia, durante as manifestaçõespopulares do carnaval de Salvador, misturando ritmos como ijexá, samba-reggae, merengue, forró, samba duro, ritmos do candomblé e até mesmo pop-rock, bem como outros ritmos brasileiros e afro-latinos. A palavra “axé” é uma saudação religiosa usada no candomblé, significando energia positiva. E foi o jornalista Hagamenon Brito, em 1987, quem chamou de “axé music” aquela música dançante com aspirações internacionais. Com o impulso da mídia, a axé music se espalhou rapidamente por todo o Brasil (com a realização das micaretas, ou seja, carnavais fora de época) e fortaleceu-se como potencial mercadológico, produzindo sucessos durante o ano todo. Dentre os maiores astros da axémusic, podemos citar: Luiz Caldas, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Carlinhos Brown (o criador da Timbalada), Sara Jane, Alinne Rosa e as bandas Asa de Águia, Olodum, Araketu, Reflexus, Chiclete com Banana, Terrasamba, É o Tchan, Companhia do Pagode, Cheiro de Amor (que tinha Márcia Freire como vocalista), Eva (que revelou Ivete Sangalo, mais tarde bem-sucedida na carreira-solo) e Babado Novo (da qual é oriunda outra cantora de axé mundialmente consagrada, Cláudia Leitte). Pois o TM está trazendo hoje, para seus amigos cultos e ocultos, um documento sonoro dos primórdios da axémusic. Trata-se do primeiro dos quatro álbuns gravados pela Companhia Clic, lançado em 1989 pela Eldorado. Na sua formação, estavam Sérgio Henrique, Jonga Cunha, Rudnei Monteiro, Raul Carlos Gomes, Marcus Sampaio e, como vocalista, nada mais nada menos que Daniela Mercury, a futura rainha da axémusic. Com 16 anos, Daniela já cantava em bares de Salvador. Entre 1986 e 1988 foi cantora da Banda Eva, a mesma da qual saiu Ivete Sangalo, e se tornou backing vocal de Gilberto Gil. Um ano depois,elá decidiu formar seu próprio grupo, exatamente a Companhia Clic, do qual apresentamos o primeiro disco. No repertório, dez faixas, com todo aquele ritmo e ginga da música baiana, destacando-se a faixa “Pega que oh…!”, grande sucesso em Salvador na época, e também lançada em compacto simples. Daniela ainda faria mais um LP como vocalista da Companhia Clic, desligando-se mais tarde do grupo para realizar sua bem-sucedida carreira-solo (nos dois últimos discos da banda, a vocalista foi Carla Visi).  Enfim, este primeiro disco da Companhia Clic é um trabalho que se reveste de inestimável valor histórico, não só dos primeiros passos da axé music, como também do promissor início de carreira de Daniela Mercury. Confiram…

vida ligeira
te procurei
asa sul
perto dela
nossa praia
zona solidão
mágica
pega que oh
porto belo
temporais

*Texto de Samuel Machado Filho

Encontros (1975)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Celebrando os 11 anos do Toque Musical, hoje o presente é esse box lançado pela Philips em 1975 reunindo em três discos 33 registros de músicas onde seus artistas cantam em parceria. E como podemos ver pela capa, trata-se da fina flor da nossa então moderna música popular brasileira. Um box realmente imperdível.

que pena – caetano veloso e gal costa
das rosas – dorival caymmi e quarteto em cy
quem mandou – gilberto gil e jorge ben
these are the songs – elis regina e tim maia
esse teu olhar – sylvia telles e lúcio alves
samba pra vinicius  – chico buarque e toquinho
aguas de março – elis regina e tom jobim
samba em prelúcio – odette lara e vinicius de moraes
amiga – claudette soares e ivan lins
joana francesa – fagner e chico buarque
formosa – nara leão e maria bethania
ponteio – marilia medalha e edu lobo
você não entende nada – chico buarque e caetano veloso
de onde vens – nara leão e edu lobo
mano caetano – jorge ben e maria bethania
ladeira da preguiça – elis regina e gilberto gil
você – dick farney e norma benguell
oração da mãe menininha – gal costa e maria bethania
samba da volta – toquinho, vinicius e mpb-4
charles anjo 45 – caetano veloso e jorge ben
saudades da bahia – tom jobim e dorival caymmi
clara – claudette sores e gilberto gil
pot pourri – elis regina e jair rodrigues
pra dizer adeus – maria bethania e edu lobo
país tropical – gal costa, caetano veloso e gilberto gil
carta ao tom 74 – toquinho, vinicius e quarteto em cy
penas do tiê – nara leão e fagner
noite dos mascarados – chico buarque e elis regina
canção a medo – mpb-4 e quarteto em cy
a estrada e o violeiro – nara leão e sidney miller
sete meninas – dominguinhos e quinteto violado
cada macaco no seu galho – gilberto gil e caetano veloso
cantores do rádio – chico buarque, nara leão e maria bethania

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Nazareno (1978)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Como todos devem saber, julho é o mês de aniversário do nosso blog Toque Musical. Estamos completando 11 anos de atividades! Não é pouca coisa não! Mas ao contrário dos anos anteriores, neste não teremos festejos e nem bolo, somente presentes. Presentes diários. Neste mês o que teremos de especial será apenas postagens diárias, como fazíamos anteriormente. Com a sempre colaboração do amigo Samuca, acho que vamos conseguir preencher todo o mês.
Hoje eu tenho este lp do Nazareno, o primeiro disco solo deste cantor e compositor que teve sua carreira iniciada nos anos 50. Participou de diversos grupos, entre esses o Quarteto Teorema. De lá, junto com outro membro do grupo, o Pena Branca, gravou em 75 um lp, seguindo a linha das duplas tipo Tom & Dito e Antonio Carlos & Jocafi. Em 78 ele volta, agora em carreira solo, com este lp muito bem produzido, trazendo em seu repertório um conjunto de músicas muito boas, entre composições autorais e de outros. Um bom disco que merece ser ouvido. Confiram no GTM.

socorro, joão
viva meu samba
amor que te quero amar
pra que brigar
amigo é pra essas coisas
pé de coelho
velho amigo
o nosso amor
corpo surrado
bolero
império do samba
cantiga de roda

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Nonato Luiz – Terra (1980)

O Toque Musical põe hoje em foco um dos melhores violonistas contemporâneos, aplaudido no Brasil e no exterior. Estamos falando de Raimundo Nonato de Oliveira Luiz, ou simplesmente Nonato Luiz. Também compositor e arranjador, ele veio ao mundo na cidade de Lavras da Mangabeira, interior do Ceará, no dia 3 de agosto de 1952. Aos três anos de idade, começou a tocar cavaquinho. Estudou no Conservatório de Fortaleza e, aos 15 anos, já era violinista da Orquestra Sinfônica da capital cearense. Em seguida, optou definitivamente pelo violão como seu instrumento. Aos 21 anos, foi estudar na Escola de Música Villa-Lobos, no Rio de Janeiro, com Turíbio Santos, entre outros professores.  Em 1975, Nonato venceu o Concurso para Violonistas da extinta TV Tupi de São Paulo. Na mesma época, concluiu cursos de corpo coral e violão clássico, além de participar dos festivais de inverno de Campos do Jordão (SP). Em 1978, radicou-se definitivamente no Rio de Janeiro, e excursionou pelo Brasil com o concertistaDarcy Villa Verde. Seu repertório é bastante eclético, contemplando desde valsas, choros , minuetos e prelúdios até blues e flamenco, além dos gêneros tipicamente nordestinos, como baiões, xotes e frevos. Excursionou por diversos países nas décadas de 1980/90, e tem em sua discografia mais de 30 álbuns, gravados no Brasil e no exterior (o mais recente é “Natal feliz com Nonato Luiz”, lançado em 2014). Foi também contemplado com vários prêmios, entre eles o Prêmio Sharp de Música, pela canção “Baião da rua”, que fez em parceria com Fausto Nilo. Suas composições mereceram a publicação de um livro de partituras, “Suíte sexta em ré para guitarra”, editado em Paris. Pois hoje, o TM apresenta, para seus amigos cultos e ocultos, o pontapé inicial da trajetória fonográfica de Nonato Luiz. É o álbum “Terra”, lançado em 1980 pela CBS (selo Epic), e com o qual ele foi revelado ao grande público. Gravado no Rio de Janeiro, com direção artística e de produção de Fagner, e produção executiva de Cacá Moreno, o disco é primoroso, e ainda conta com as participações especiais de João Nonato, Bimba e do próprio Fagner, que ainda assina o pequeno texto de contracapa. São doze faixas, quase todas de autoria do próprio Nonato, sozinho ou com parceiros, e incluindo um arranjo dele para “Muié rendeira”, tema folclórico nordestino. Tudo isso em um disco precioso, em que Nonato Luiz já mostra a que veio, documentando o promissor início de carreira deste notável violonista, sempre sinônimo de alta qualidade musical.

terra
quatro prantos
mosaico
mulher rendeira
minueto em sol maior
micheline
interlúdio
choro acadêmico
contemplação
mourisca
tudo ou nada
reflexões nordestinas

*Texto de Samuel Machado Filho

Festival de Verão – 3 Cancões Para Salinas (1979)

Hoje o Toque Musical oferece a seus amigos cultos e ocultos uma pequena-grande parcela da música popular produzida no estado do Pará, região Norte do Brasil. Trata-se de um compacto duplo produzido pela gravadora paraense Erla (Estúdio Rauland) em 1979, no qual são apresentadas quatro músicas exaltando o município de Salinas, também conhecido como Salinópolis, banhada pelo Oceano Atlântico. A cidade fica a aproximadamente 220 km da capital do estado, Belém, e sua economia gira em torno da pesca e, claro, do turismo. As praias possuem areia fina e branca, com águas de tonalidade verde-acinzentada, devido aos sedimentos carregados pelo Rio Amazonas. A Praia do Atalaia é aberta à circulação de carros, porém a variação de maré é muito grande, e muitos carros são pegos desprevenidos quando a maré sobe… A paisagem é formada por praias, rios, furos, igarapés, mangues e dunas, no meio das quais está o “Lago da Coca-Cola”, que tem esse nome por suas águas doces, escuras e geladas. Com tantas belezas e atrativos naturais, não é de se estranhar que Salinas (ou Salinópolis) também seja inspiração para cantores e compositores. Daí, a gravadora ter pedido “Três canções para Salinas”, a fim de lançar este disco, também alusivo ao Festival de Verão, que anualmente acontece na cidade. Resultado: chegaram mais de cinquenta músicas (!), e certamente a seleção não foi uma tarefa fácil. De qualquer maneira, este compacto duplo apresenta quatro ótimos trabalhos: o samba “Salinas urgente”, de Alfredo Oliveira, cantado por Fernando Gogó de Ouro, refletindo as noites nas barraquinhas do Maçarico, “Atalaia”, exaltação à praia de mesmo nome, composta por Guilherme Coutinho e interpretada por Helinho, “Carimbolando por Salinas”, de e com César Escócio, que é um carimbo, ritmo típico do Pará, e por fim outra música do mesmo autor e intérprete, “Caranã”. Enfim, um pequeno-grande documento fonográfico que o TM nos oferece, mostrando um pouco da inspiração e da sensibilidade dos compositores paraenses.

salinas urgente – fernando gogó de ouro

carimbolando por salinas – cesar escocio

atalaia – helinho

caranã – cesar escocio



*Texto de Samuel Machado Filho

Raices De America – Amazônia (1990)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Eu estou sempre me surpreendendo com o acervo musical que fomos criando ao longo desses 11 anos de atividades.Confesso que as vezes até me esqueço do que já postei aqui e as vezes chego até a postar de novo e só depois me dou conta disso. Também, não é para menos, temos aqui mais de 3 mil títulos! É disco pra caramba! E assim como repito, também falho em algumas postagens que já deveriam estar aqui. É o caso do grupo Raices de America que agora eu percebo, nunca postei nada deles aqui. Uma injustiça, por certo. Mas que agora vamos corrigir. Tenho aqui este lp, o Amazônia, lançado em 1990. Acredito eu que este tenha sido o último disco gravado pelo grupo que surgiu no final dos anos 70, formado inicialmente por músicos argentinos, chilenos e brasileiros. Seguindo a linha de outros grupos de cunho folclórico latino americano, como o Tarancón, o Raices de America buscou ser um grupo um pouco além, preocupado com suas apresentações sempre bem produzidas, um trabalho de cunho também autoral. Ao longo de todos esses anos o grupo passou por várias formações, ou por outra, muitos artistas contribuíram para a permanência de um dos mais importantes grupos musicais do gênero. Gravou uma dezena de discos. Neste álbum, ‘Amazônia’, que como disse, parece ser o último da era vinil. Lançaram em 2006 um cd reunindo seus melhores momentos. Confiram este trabalho no GTM.

amazônia
nelson mandela sus dos amores
el primer amor
caminho de andes
passo de cucaracha
carcará
clareia a manhã
guantanamera
los pajaros
a dívida não existe

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Tania Maria – Olha Quem Chega (1971)

Cantora, compositora e pianista de jazz brasileira mundialmente consagrada, Tânia Maria volta a bater ponto aqui no TM. Desta vez oferecemos a nossos amigos cultos e ocultos “Olha quem chega”, álbum lançado pela Odeon em 1971, segundo trabalho-solo de Tânia e o último feito por ela antes de fixar residência no exterior. Neste disco, que conta com arranjos do violonista Geraldo Vespar  (uma ótima credencial, convenhamos), Tânia Maria oferece, como sempre, um repertório irrepreensível e de qualidade, assinado por compositores de quilate: Ivan Lins (“Madalena”, “Hey você”), a dupla Eduardo Gudin-Paulo César Pinheiro (a faixa-título), Toquinho (“Bobeou, não vai entender”, parceria com Gianfrancesco Guarnieri, e “Mais um adeus”, com o Poetinha Vinícius), Johnny Alf (“Garota da minha cidade”), Chico Feitosa (“Vireivolta”), Abílio Manoel (“Ruas do Rio”), Anselmo Mazzoni (“De frente”) e ainda dois clássicos inesquecíveis de nosso cancioneiro: “Carinhoso” (Pixinguinha e João “Braguinha” de Barro) e “Ai, que saudades da Amélia (Ataulfo Alves e Mário Lago). Tudo com a versatilidade, a competência e  o talento incontestáveis da grande Tânia Maria, aliado ao que de melhor a Odeon tinha em aparato técnico de gravação, fazendo deste “Olha quem chega” um dos melhores trabalhos já realizados pela cantora-compositora-pianista. Simplesmente de arrepiar!

bobeou, não vai entender
madalena
olha quem chega
mais um adeus
ai que saudades da amélia
garota da minha cidade
ruas do rio
hey você
carinhoso
de frente
vireivolta

*Texto de Samuel Machado Filho

Sandra Sá – Vale Tudo (1983)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Hoje cedo dei carona para um amigo gringo, fui levá-lo no aeroporto. No caminho, rádio ligado, começou a tocar o balanço “Guarde minha voz”, com a Sandra Sá. O cara pirou com a música, foi longo pelo aplicativo do celular procurar saber de quem era. Baixou a música e já desceu do carro ouvindo. Aquilo me chamou a atenção, lembrei que tenho este disco e por acaso nunca postei aqui no Toque Musical. Para minha infelicidade, em meio a uma centena de discos, acabei não o encontrando. Onde foi que eu coloquei esse disco? Terei que dar uma geral no meu quartinho no próximo fim de semana. Mas felizmente eu já o tenho aqui digitalizado e só de teimosia vou postá-lo agora. Vamos lá, vale tudo… Vale o que vier, até mesmo homem com homem e mulher com mulher, hehehe… (postura mais correta para os dias atuais)

trem da central
candura
pela cidade
onda negra
gamação
vale tudo
guarde minha voz
terra azul
musa
só as estrelas

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Diana Pequeno – Sentimento Meu (1982)

Olá, amigos cultos e ocultos! Segue para o dia de hoje este álbum da cantora baiana Diana Pequeno, artista a qual já presentamos outros dois trabalhos e dispensa maiores apresentações. Temos aqui o seu quarto disco, lançado em 1982, pela RCA. Um trabalho muito bem produzido, com direito a um álbum de capa dupla. Certamente, já não traz o mesmo encanto dos três primeiro lps, mas evidentemente é um disco acima da média. Não deixem de conferir no GTM 😉

sentimento meu
vida
amor de índio
inverno
paisagem
missa da terra sem males
estrela vermelha
que amor não me engana
irupe
hoje te vi de longe
el rossynol

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Os Melhores (1985)

Os anos 1980 foram marcados pela explosão de um novo movimento musical: o Rock Brasil, ou BRock, a princípio com o surgimento de bandas independentes divulgadas em fanzines. A criação de casas de show como Noites Cariocas e Circo Voador (Rio), e Aeroanta, Carbono 14, Lira Paulistana, Madame Satã e Napalm (São Paulo), foi outro acontecimento importante para a formação do cenário roqueiro da época. As primeiras bandas a fazerem sucesso foram Gang 90 e Absurdettes, vindos de São Paulo (com o hit “Perdidos na selva”, inscrito no festival MPB-Shell de 1981) e liderados pelo jornalista Júlio Barroso, e a Blitz, do Rio de Janeiro, com outro hit explosivo, “Você não soube me amar” (que inclusive popularizou a expressão “OK, você venceu”). Surgiram também solistas, como Lulu Santos, Lobão, Léo Jaime, Ritchie (aquele da “Menina veneno”)e Marina Lima, além de outros grupos, caso do Rádio Táxi e do Herva Doce. Outras bandas cultuadíssimas surgiram nessa época, como Os Paralamas do Sucesso, Legião Urbana (a mais influente, liderada por Renato Russo), Capital Inicial, Kid Abelha, Barão Vermelho (com Cazuza à frente), Sempre Livre (que revelou a vocalista Dulce Quental), Camisa de Vênus, Raimundos, Biquini Cavadão, Ira!, Titãs, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawaii, RPM, Tokyo (aquela do Supla), enfim, para toda e qualquer tribo. Algumas dessas bandas, como os Paralamas, os Titãs e o Ira! ainda estão em franca atividade, em discos e shows. Outras se imortalizaram, como o Legião e os Engenheiros, e tocam nas rádios até hoje, principalmente em virtude do sucesso alcançado entre os jovens e adolescentes. Dessa época são também Kiko Zambianchi, Celso Blues Boy (“Aumenta que isso aí é rock androll”) e Fausto Fawcett (o da “Kátia Flávia”). Na área do heavy metal, destaque para o Sepultura, surgido em Minas Gerais e sucesso internacional, com tendência para o “thrash metal”, e o Viper, surgido em São Paulo, com sucesso inclusive no Japão, que revelou o vocalista André Matos, mais tarde integrante do Angra e do Shaman. Hoje, o TM apresenta para seus amigos cultos e ocultos um raro tesouro dessa efervescente época do rock brasileiro. Trata-se do único álbum do sexteto carioca Os Melhores, lançado pela Polydor/Polygram em 1985, e produzido pelo sempre experiente Mariozinho Rocha, a quem inclusive o disco foi dedicado. O grupo era formado por Iúri (teclados), Sérgio Serra (violão, guitarras e voz), Paulo Duncan (baixo, teclados e voz), Rodrigo Castro Neves (bateria), Edom (guitarra) e a solista vocal Maria Eduarda. Ao que parece, a banda não passou desse álbum, mas pelo menos duas faixas do disco obtiveram destaque nas rádios: “Emoções baratas”, de Rodrigo, Sérgio e Paulo, e “Como é bom te amar”, versão brasileira para o hit “Life islife”, do grupo austríaco Opus. Destaque ainda para “Dançando no escuro”, que também tocou razoavelmente na ocasião. Enfim, um documento histórico e interessante do chamado Rock Brasil, hoje cult, que o TM nos oferece prazeirosamente hoje.

suborno emocional
emoções baratas
garotinhas
canção para quem acreditou em mim
dançando no escuro
porque
nosso amor é uma guerra
como é bom te amar
cobrador

*Texto de Samuel Machado Filho

Missa Leiga (1972)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Mantendo o nosso leque de variedades e surpresas, tenho para hoje um disco de teatro, ou melhor dizendo, a trilha musical da polêmica peça de Ademar Guerra, ‘Missa Leiga’, escrita pelo dramaturgo paulista Francisco de Assis Pereira, ou como era mais conhecido, Chico de Assis. Missa Negra foi uma peça de grande sucesso, com produção de Ruth Escobar. Estreou em 1972, sendo montada em uma velha fábrica abandonada depois de ter sido proibida a sua apresentação na Igreja da Consolação, local antes idealizado para o espetáculo. A peça foi uma super produção com música de Cláudio Petraglia, cenários e figurinos de Joel de Carvalho e um elenco com dezenas de atores, entres os quais estavam Armando Bógus e Buzza Ferraz. Segundo o ator Sérgio Britto, que participou da segunda montagem da peça, já no Rio de Janeiro, “Missa Leiga foi uma das mais importantes tentativas de furar a censura e falar o que acontecia no país naqueles malditos tempos.” A peça fez tamanho sucesso que chegou a ser apresentada também fora do país, em Portugal e também na África.
Este disco é um registro dos mais importantes, pois é a gravação ao vivo dessa primeira montagem, lançado no mesmo ano pela Sigla/Som Livre. Aqui, eu procurei não editar, ou seja, separar por faixas, pois entre as partes não há pausas. Daí, temos separação apenas dos lados, ok? 😉

procissão de entrada
a destruição do templo e despojamento
salmo da paz
kyrie
glória
aleluia
canto de joão batista
ofertório e canto da entrega
sanctus
agnus dei
última oração

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Grupo Corda & Voz (1982)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos um pouco de nossa melhor música caipira, ou sertaneja raiz, como também é chamada. Trata-se do único álbum do Grupo Corda & Voz, lançado em 1982, com a garantia habitual de qualidade técnica e artística da Eldorado. A história do grupo, formado por funcionários do Senac de Araçatuba e Presidente Prudente, começa em 1981. Um outro grupo, o Som Senac, se dissolvera por problemas de disponibilidade de tempo de seus músicos para ensaios e apresentações. Daí a proposta de um diretor da entidade, José Ildefonso Martins, de se criar um grupo apenas com funcionários da entidade. Tarefa extremamente fácil, pois vários servidores do Senac  tinham algum tipo de talento musical e dominavam algum instrumento.  Daí nasceu o Corda & Voz, integrado porÁlvaro (solista vocal), Mazzini (viola e voz),Waldemar Milanez Júnior (violão de doze cordas), José Ildefonso (violão de seis cordas) e Arnaldo (contrabaixo e voz). Logo depois do surgimento do grupo, veio o convite de Ronaldo Boldrin para se apresentar no programa “Som Brasil”, que ele então apresentava nas manhãs de domingo da Rede Globo, com sucesso. Na primeira apresentação, o Corda & Voz interpretou “Pé de ipê”, do repertório de Tonico e Tinoco (inclusive constante deste disco), e agradou tanto que voltaria ao programa inúmeras vezes. Também se apresentaram em várias cidades do interior paulista. Por fim, o convite da Eldorado para gravar este disco, o que aconteceu em apenas uma semana, em 1982. E com texto de contracapa do próprio Rolando Boldrin, que acabou sendo uma espécie de “padrinho” do Corda & Voz. O disco foi lançado em uma noite de gala, no Bar Engenho & Arte, com o grupo recebendo várias homenagens, entre as quais a entrega de um ramalhete de flores enviado pelo publicitário Carlito Maia, então executivo do alto escalão da Rede Globo. Como iremos observar, o repertório tem dez clássicos do cancioneiro caipira brasileiro, como “Pingo d’água”, “Burro picaço” e “Chitãozinho e xororó” (que inclusive deu nome a uma dupla moderna do gênero sertanejo, formada pelos irmãos José e Durval), com nova leitura e roupagem, inclusive a adoção de harmonia com até quatro vozes, porém mantendo a identidade das canções. Tudo com muita sensibilidade e bom gosto, e é uma pena que o Grupo Corda & Voz só tenha gravado este álbum. Ainda assim, o grupo conseguiu durar dez anos, com mudanças de integrantes, e realizando shows por todo o estado de São Paulo, mas inexplicavelmente não teve mais oportunidades em disco. De qualquer forma, este trabalho do Corda& Voz é uma autêntica obra-prima, que o TM se orgulha, e muito, de nos oferecer. Ô trem bão… 🙂

irmãos de lua
burro picaço
pingo d’agua
faca de ponta
pé de ipê
pomba do mato
boiadeiro apaixonado
sina de violeiro
carreiro bão
chitãozinho e xororó

*Texto de Samuel Machado Filho

Fernando Ribeiro – O Coro Dos Perdidos (1978)

E vamos que vamos… amigos cultos e ocultos! Hoje trazendo mais um disco bacana, obscuro para muita gente, pois se trata de uma produção local, que ficou restrita ao meio universitário e como sendo também coisas vindas do Sul, não chegou ao centro do país, Rio e São Paulo, que até então era a grande vitrine de divulgação. Estamos falando do compositor gaúcho (?) Fernando Ribeiro em seu segundo disco. “O Coro dos Perdidos” foi um disco produzido por Geraldo Flack, um dos mais importantes músicos do Rio Grande do Sul. Aliás, neste trabalho, Fernando Ribeiro vem muito bem acompanhado por alguns melhores músicos do Sul. As músicas são todas de sua autoria, com letras do parceiro Arnaldo Sisson, letrista também de seu primeiro disco. Este disco, assim como a faixa que dá nome ao lp, me parece hoje em dia bastante atual. Um povo rachado, mas num coro dos perdidos. 🙁

maldita noite
vera cruz
surdo mudo
americano
pedaços
walhala
o coro dos perdidos
diga lá
se restar em você
dolorido amor
americano II
dramas de circo
americano III
final e deus nos guarde
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Grupo Olá (1980)

Olá! Será que os amigos cultos e ocultos se lembram deste disco? Principalmente aqueles que ainda eram crianças entre o final da década de 70 e início dos 80. Temos aqui o ‘Olá’, mais que um simples disco infanto-juvenil, um projeto realmente interessante criando pela pedagoga Denise Mendonça. Uma ideia que nasceu nos anos 70 quando Denise se encontra com Maria Mazzetti, também professora, escritora e poeta, que dedicou seu trabalho à educação infantil. Mazzetti foi uma incentivadora de Denise, oferecendo a ela seus poemas para serem musicados. Dessa parceria nasceu no início de 80 o bem idealizado lp independente ‘Olá’, um disco muito bem produzido, gravado em Belo Horizonte, na Bemol, com direito a libreto com todas as músicas, recheado de desenhos e ainda um compacto duplo, pois ao que parece, não coube tudo num disco só. Este disco foi lançado em 1980, mesmo ano em que começaram as atividade do Instituto de Arte Tear, criando também por Denise Mendonça, no Rio de Janeiro. A propósito, este trabalho foi relançado em cd, mas me parece que em uma nova gravação. Denise, continua a frente do Tear, tentando manter acessa a chama da educação e cultura, hoje em dia tão golpeada em nosso país. Ouve só… 🙂

dia diferente
elefante elegante
nhoque
tô toque-toque
rua do muito barulho
desencaracolando
correndo, correndo, correndo
parou paradinho
gato xadrex
quem mora
meu boizinho
calhambeque
viagem maluca
cadê meus óculoses
esconde, esconde
um barquinho
o que eu descubro
compacto:
ouve só
plantando flor
cantiga de embalar papai
tesouro do pirata
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Grandes Sucessos Da E. S. Portela (1962)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos, com a alegria e a satisfação de sempre, um disco lançado pela Copacabana em 1962, pondo em foco sambas de compositores ligados a uma das mais tradicionais e queridas escolas de samba do Rio de Janeiro, a Portela. A escola das cores azul e branco, que tem a águia como símbolo, foi fundada em 11 de abril de 1923, como bloco carnavalesco, com o nome de Conjunto Oswaldo Cruz, pois ficava no bairro de mesmo nome. No mesmo ano, foi criado o bloco Baianinhas de Oswaldo Cruz, que já continha o embrião da primeira diretoria portelense: Paulo da Portela, Alcides Dias Lopes (o “malandro histórico”), Heitor dos Prazeres, Antônio Caetano, Antônio Rufino, Manuel Bam-Bam-Bam, Natalino José do Nascimento (o “seu Natal”), Candinho e Cláudio Manuel. Mudou duas vezes de nome, Quem Nos Faz é o Capricho e Vai Como Pode, até assumir definitivamente , a partir de 1936, a denominação Portela. Ao longo das primeiras décadas do carnaval carioca, a Portela tornou-se uma das principais escolas de samba cariocas, ao lado de Mangueira, Império Serranoe Acadêmicos do Salgueiro. E é responsávelpor algumas inovações nos desfiles de carnaval, como, por exemplo, a comissão de frente, sendo também a primeira escola a uniformizá-la. A Portela é, também, um dos grandes celeiros de compositores do samba, comprovado por sua ativa e tradicional Velha Guarda.  Além disso, é a maior campeã do carnaval carioca, com 22 títulos conquistados, entre 1935 e 2017. Sua quadra, situada no bairro de Madureira, é um dos grandes pontos culturais do Rio de Janeiro, e recebe, o ano inteiro, visitações e eventos. Neste disco, produzido por um verdadeiro craque, Moacyr Silva, iremos encontrar doze sambas bastante expressivos, interpretados por Zezinho (duas faixas) e Abílio Martins (as demais). E assinados por vários nomes ligados à Portela, como Zé Kéti, Manacéa e seu irmão Aniceto, Waldir 59, Candeia… além, é claro, do lendário Paulo da Portela. Ele aqui comparece com um samba até então inédito em disco, “Cidade-mulher”, cujo título original era “Guanabara”, composto em 1935 para a então Vai Como Pode. Um álbum cheio de autenticidade, produzido com esmero e capricho, e digno de figurar nos acervos de tantos quanto apreciem o melhor de nossa música popular. E agora, ó abre alas, que a Portela quer passar!

piau
sofrer por errar
já sou feliz
cidade mulher
linda natureza
exaltação ao rio
sempre teu amor
nós vamos assim
pode chorar
sofrimento
micróbio do samba
incrível destino

*Texto de Samuel Machado Filho

 

Tadeu Franco – Cativante (1983)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Eis aqui um disco que há muito eu queria postar, mas  por razões diversas, acabou ficando para algum dia. E esse dia então chegou, é hoje! Taí, o músico mineiro Tadeu Franco em seu primeiro disco, produzido por Milton Nascimento, direção musical de Túlio Mourão e arranjos e regência de Wagner Tiso. Isso par não citar os outros músicos que o acompanham, que são só feras. Estreou bem o rapaz, o que também prova as suas qualidades, pois para ter um time de colaboradores desse naipe precisa ser realmente muito bom. E Tadeu Franco é, sem dúvida, uma grande revelação da MPB nos anos 80. “Cativante” é realmente um trabalho cativante, que pega a gente pelo pé (do ouvido, com certeza). Um repertório impecável, onde todas as músicas fizeram e fazem muito sucesso. Vale a pena recordar 🙂

nenhum mistério
gente que vem de lisboa
canto de uma terra
se meu jardim der flor
nós dois
tiê sangue
arrumação
onde eu nasci passa um rio
coração civil

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Giba Ferreira (1982)

Olá amiguinhos cultos e ocultos! Neste mês de aniversário, eu pretendo estar mais presente, ou seja, mantendo postagens mais regulares, talvez até diárias. Assim, pelo menos, nessa data comemorativa, podemos ter um ‘algo mais’ 😉
Para hoje eu trago esse lp, produção independente lançada no início dos anos 80. Trata-se do primeiro disco do compositor Giba Ferreira. Um nome ainda hoje desconhecido do grande público. Pesquisando no Google, não encontrei nada a seu respeito além, é claro, deste disco sendo vendido no Mercado Livre. No texto da contracapa (parece até ironia) também apresenta o artista de forma vaga. Quem é Giba Ferreira? “Não há referências musicais e nem curriculuns extensos.” E pelo jeito, com o passar do tempo, ele parece ter não ter vingado, apesar de ter aqui um trabalho muito bom, assessorado por nomes de peso como Amilton Godoy, Toquinho, Silvinha, Tetê Espíndola, Eliana Estevão… Tem também o grupo instrumental Medusa que faz a base para todo o trabalho. Vale a pena ouvir e conhecer. Como disse, no Mercado Livre é possível encontrar alguns. Este, eu ganhei do meu amigo Fares e já faz pare da coleção 😉

valsinha pro guy
chegou o tempo
abandono
virada
profissão de fé
travelling
tá na cara
a pessoa que eu amo
meta- morfases
mais cedo ou mais tarde
zombaria
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Los Cubanacans – Noches del Caribe (1964)

Ritmos de procedência afro-americana, como rumba, conga, guaracha, chá-chá-chá e bolero sempre foram muito bem recebidos pelo público brasileiro e, por extensão,latino-americano. Ainda no final da década de 1990, inclusive, fez sucesso de bilheteria o documentário “Buena Vista Social Club”, que mostrava artistas de vanguarda da música cubana reunidos pelo produtor musical Ry Cooder para a gravação de um disco, tais como Ibrahim Ferrer, Compay Segundo e OmaraPortuondo. O documentário relatava as histórias de vida desses músicos, e como o êxito do álbum de mesmo nomegravado por eles, que ganhou até mesmo um prêmio Grammy, transformou suas vidas.  O Toque Musical oferece hoje, a seus amigos cultos e ocultos, um álbum reunindo algumas das mais famosas páginas da música afro-americana, lançado pela Odeon em 1964. É “Noches del Caribe”, gravado pelo grupo Los Cubanacans. Não há nenhuma informação sobre os músicos que participaram deste disco, e nem mesmo a respeito do regente da orquestra (tudo indica que sejam brasileiros, mesmo). Entretanto, são doze músicas bem conhecidas, assinadas por compositores do porte de Ernesto Lecuona (“Para vigo me voy”, “Siboney””Canto karabali”), Gabriel Ruiz (“Mar”), Armando Orefiche (“Rumba azul”), Rafael Hernandez (Lamento borincano”), Moisés Simon (“Cubanacan”, “El manisero”), Nilo Menendez (“Aquellosojos verdes”), Luiz Alcaraz (“Prisionerodel mar”), Joaquin Pardavé (“Negra consentida”), com direito até ao tema folclórico mexicano “La cucaracha” e até músicas de procedência norte-americana (“South Americatake it away”, “The carioca”, “Indianlovecall”). Tudo em orquestrações de primeira, na medida certa para ouvir e dançar. Enfim, um disco de produção caprichada, que irá proporcionar momentos de pura diversão a todas as idades. Que comece la fiesta!

mar
para vigo me voy – lamento borincano
indian love call – aquellos ojos verdes
prisioneiro del mar
south america take it away
rumba azul
negra consentida
cubanacan
el manisero
la cucaracha
the carioca
canto karabali

*Texto de Samuel Machado Filho

Jograis De São Paulo – Poesia Brasileira Contemporânea (1980)

Olá amigos cultos e ocultos! Hoje vamos de poesia, pois a vida anda muito dura e o ser humano perdendo a inspiração. Tenho aqui este lp do Jograis de São Paulo, um disco que comemorava os então 25 anos do grupo dirigido por Ruy Affonso. Nesta formação temos, além do Ruy, Carlos Vergueiro e os atores Armando Bogus e Rubens de Falco. No lp encontraremos a poesia de alguns dos mais importantes poetas brasileiros. Não vou nem estender a apresentação, pois a contracapa já diz tudo. Além do mais, eu hoje estou numa gripe brava. Vai aí de poesia… Eu prometo que também repostarei os outro discos do Jograis que já postei aqui, ok? Divirtam-se!

manuel bandeira – evocação do recife
cecília meireles – romance do embuçado
oswald de andrade – colagem de na avenida e ns dos cordões
guilherme de almeida – a rua das rimas
haroldo de campos – poemas concretos
mario quintana – velha historia
murilo mendes – jandira
carlos drumod de andrade – josé
ascenso ferreira – trem de alagoas
cassiano ricardo – a vida particular do jardim público
ruy affonso – estudo de concerto
mario de andrade – côco do major
menotti del picchia – batismo
vinicius de moraes – o dia do criador

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Cid Gray E Sua Orquestra – Soirée Dançante (1959)

Boa noite, amigo cultos e ocultos! Neste mês de julho, o Toque Musical está completando 11 anos de atividades. Certamente, um dos blogs com mais tempo de vida e sempre ativo, apesar de já não fazer mais postagens diárias como antigamente. Os tempos mudam e o interesse por esse sítio já não é como nos velhos tempos. Enfim…
Hoje eu trago para vocês o primeiro disco do maestro Cid Gray pela RGE, “Soirré Dançante”, lançado em 1959. Como de comum para a época, temos um disco dançante, com um repertório moderno e misto, com músicas brasileiras e sucessos internacionais. Ao que parece, o disco fez sucesso e teve lá continuação em outros volumes. A propósito, Cid Gray, na verdade, era um pseudônimo do maestro Renato de Oliveira, um músico de sólida carreira e bastante atuante nas décadas de 50, 60 e 70. Neste lp eu destacaria a música que abre o disco, “Chega de saudade”, o grande clássico da Bossa Nova, composta por Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Vale a pena conferir essa interpretação, aliás, vale conhecer o disco inteiro! 🙂

chega de saudade
tudo ou nada
roselle
tu me acostubraste
solidão
come prima
vai, mas vai mesmo
twilight time
ave maria lola
till
piccolissima serenata
aperta-me em teus braços

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Simone Et Roberto Ribeiro – A Bruxelles (1973)

O TM oferece hoje, a seus amigos cultos e ocultos, um notável trabalho reunindo dois astros de nossa música popular em início de carreira, e bastante promissor: Simone e Roberto Ribeiro. Ambos se apresentaram em Bruxelas, capital da Bélgica, na feira BrazilExport73, juntamente com o violonista João de Aquino, e este álbum de selo Odeon, editado exclusivamente para o mercado externo, documenta alguns dos melhores momentos de suas performances por lá.Simone Bittencourt de Oliveira (Salvador, BA, 25/12/1949), nascida prematura de oito meses (!), foi jogadora de basquete antes de seguir carreira artística. Tem inúmeros sucessos em seu repertório, tais como “De frente pro crime”, “Começar de novo”, “Tô voltando”, “Cigarra”, “Face a face”, “Jura secreta”, “Um desejo só não basta”, “Pão e poesia”, “O amanhã”, “Então é Natal” (versão do clássico natalino “HappyXmas”, de John Lennon), “Tô que tô” etc. Em 1973, Simone tinha acabado de lançar seu primeiro LP, quando participou de uma turnê internacional, organizada por Hermínio Bello de Carvalho, intitulada “Panorama brasileiro”, que passou por várias cidades europeias, incluindo Paris e Bruxelas. É de Simone a primeira parte deste disco, apresentando releituras de “Bamboleô”, “Voltei pro morro” e “Lamento negro”, além de três sambas de roda adaptados e arranjados por ela mesma. Na segunda parte, temos a presença do inesquecível Roberto Ribeiro (pseudônimo de Demerval Miranda Maciel, Campos dos Goytacazes, RJ, 20/7/1940-Rio de Janeiro, 8/1/1996), um dos melhores sambistas que o Brasil já teve. Ex-jogador de futebol, ele foi puxador de samba da Escola Império Serrano, entre 1974 e 1981, e deixou sucessos inesquecíveis, tais como “Acreditar”, “Poeira pura”, “Todo menino é um rei”, “Vazio (Está faltando uma coisa em mim)”, “Propagas”, “Algemas” e “Lágrima morena”.  Infelizmente, ele perdeu a visão de um olho, em razão de uma contaminação por fungo agravada pelo diabetes, e faleceu vítima de atropelamento, no bairro carioca de Jacarepaguá. A carreira de Roberto Ribeiro ganhou impulso a partir de 1972, quando gravou pela Odeon três compactos com Elza Soares, e, mais tarde, também com ela, o LP “Sangue, suor e raça”. Na segunda parte do presente álbum, ele interpreta o clássico “Berimbau”, de Baden Powell e Vinícius de Moraes, acompanhado por João de Aquino, e revive “Manhã de carnaval” e “Não tenho lágrimas”, além de um dueto com Simone em “De uma noite de festa”.  Enfim, é mais um raro e precioso trabalho discográfico que o TM nos oferece, apresentando dois notáveis cantores em promissor início de carreira artística!

bamboleo – simone
voltei pro morro – simone
lamento negro – simone
três sambas de roda – simone
berimbau – roberto ribeiro e joão de aquino
manhã de carnaval – roberto ribeiro
não tenho lágrimas – roberto ribeiro
de uma noite de festa – roberto ribeiro

*Texto de Samuel Machado Filho

Conjunto Super Som T. A (1974)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Seguimos no dia de hoje com mais uma doação. Um disco que traz lá boas surpresas. Temos aqui o conjunto Super Som T.A., um dos mais importantes grupos de baile formado em São Paulo na década de 70. O Super Som T. A. surgiu em um curso de inglês, com a finalidade de auxiliar no ensino. Em sociedade com o maestro italiano Enrico Simonetti, surgiu o conjunto que se tornaria um dos mais requisitados para bailes no país. Grupo super profissional, que investia tanto na arte musical como cênica. Seus bailes eram verdadeiros shows, com muitas luzes, trocas de roupas e tudo mais. Apresentavam sempre um repertório atual, incluindo músicas próprias. Aqui neste lp o que temos é exatamente isso, uma amostragem do talento deste grupo. Disco lançado pela RGE em 1974. Há uns 4 anos atrás eu postei aqui um outro disco do conjunto, lançado em 1991 e já com o nome de Internacional Super Som T. A., também muito bom.
Não deixem de conferir no GTM 😉

agora chega
dei tempo ao tempo – se deus quiser
assim ela lhe estraga a festa
lady lay
se the people alone
we can make it happen again
morri de pena
eu não queria
lonely days
the best thing that ever happened to me
corazon
warterloo

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A Festa Do Macaco (1979)

Um dos programas humorísticos de maior sucesso da televisão brasileira foi, indiscutivelmente, “O planeta dos homens” (título que parodiava o filme norte-americano “O planeta dos macacos”), exibido pela Rede Globo durante seis temporadas, entre 15 de março de 1976 e 3 de janeiro de 1982, nas noites de segunda-feira. Criado por Max Nunes e Haroldo Barbosa, e dirigido por Paulo Araújo, tendo entre seus redatores nomes como Luiz Fernando Veríssimo, Redi, Expedito Fagioni, Caulos e Jô Soares (que também fazia parte de seu elenco), o programa apresentava quadros de humor baseados em sátira de costumes, crítica social e política, e paródia a programas de rádio e televisão. No elenco ponteavam, além de Jô Soares, comediantes do porte de Paulo Silvino, Stenio Garcia, Clarice Piovesan (que interpretavam o casal Kika e Xuxu), Berta Loran, Renata Fronzi, Marlene Silva, Eliezer Motta, Miele, Luiz Delfino, Mílton Carneiro, Agildo Ribeiro (que interpretava, entre outros tipos, um impagável professor de mitologia grega, ao lado da “múmia paralítica”, Pedro Farah), Wilma Dias (que aparecia na abertura do programa, de biquíni, saindo de uma banana quando um macaco a abria) e OrivalPessini (que interpretava os macacos Charles e Sócrates com máscaras feitas por ele mesmo e mais tarde criou outros personagens, como o Patropi e o Fofão). “O planeta dos homens” popularizou bordões como “O macaco tá certo”, “Cala a boca, Batista!” (dito pelo irmão Carmelo, personagem interpretado por Jô Soares), “Lá vai barão!” (alusão à nota de mil cruzeiros, que tinha a efígie do Barão do Rio Branco, e crítica à alta do custo de vida), “Guenta! Ele guenta!” (do personagem Fonseca, vivido por Paulo Silvino), “Esta é a versão do macaco” e “Não precisa explicar… eu só queria entender!” (os dois últimos do macaco Sócrates). Pois o álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos é capitaneado justamente por dois dos principais comediantes que então faziam o maior sucesso no “Planeta dos homens”: Paulo Silvino (Rio de Janeiro, 27/7/1939-idem, 17/8/2017), filho do também comediante Silvino Neto, e Orival Pessini, o macaco Sócrates (Pompeia, SP, 6/8/1944-São Paulo, 14/10/2016), contando ainda com a participação de Marlene Silva, Orlandivo, Dobert Nélson e outros. É “A festa do macaco”, lançado em 1979 pela Top Tape (gravadora que ainda existe) com o selo Aquarela. O próprio Paulo Silvino produziu este disco, juntamente com Durval Ferreira (que também era gerente artístico nacional da Top Tape na época e ainda atua como violonista) e Orlandivo (que ainda atua como ritmista, ao lado de Bira), e as faixas do disco também têm a assinatura dos três. Destaque ainda para a presença de outros músicos de renome, o tecladista Lincoln Olivetti e o baixista Luizão. Curiosamente, “My menina”, interpretada por Dobert Nélson, o “cachorro”, é assinada por Paulo Silvino com o pseudônimo de Dickson Savana, com o qual inclusive gravou um 78 rpm na Chantecler, em 1960. Na interpretação das demais faixas deste disco, revezam-se Paulo Silvino e OrivalPessini, o Sócrates, e Marlene Silva ainda canta “Sombras do passado”.  Enfim, “A festa do macaco” é um disco cheio de alto astral, muito alegre e com uma excelente produção, que nos faz inclusive recordar o talento e a versatilidade de Paulo Silvino e Orival “Sócrates” Pessini, dois comediantes que marcaram época na história da televisão brasileira, e que deixaram muitas saudades. É só conferir.

coco do macaco
carochinha
bicho cabeludo
my menina
la vem portela
carochinha
bolo de chocolate
a formiguinha e o elefante
sombras do passado
com tudo arriba
coco do macaco

*Texto de Samuel Machado Filho

Andre Geraissati – 7989 (1989)

Violonista, guitarrista e compositor dos mais conceituados, com uma das mais emblemáticas trajetórias da música instrumental brasileira, André Luiz Geraissati bate ponto hoje aqui em nosso TM. Ele veio ao mundo na cidade de São Paulo, em pleno dia da Independência do Brasil (7 de setembro) do ano da graça de 1951. Sua carreira teve início nos agitados anos 1960, quando tocou com Roberto Carlos, Ronnie Von e Os Mutantes. Em 1978, formou, juntamente com outros violonistas de formação clássica e jazzística, o Grupo Dalma, do qual também fizeram parte, em momentos diferentes, Ulisses Rocha, Rui Saleme, Mozart Melo e Cândido Penteado. Admirado pela crítica por seu apuro técnico e interpretativo, o Dalma lançou o primeiro álbum em 1979, “A quem interessar possa”. O disco impulsionou a carreira do grupo, que em seguida participou de eventos como o Festival Internacional de Jazz de São Paulo (1982) e o Free Jazz Festival (1986), além de gravar mais dois LPs. A carreira-solo de André Geraissati começou em 1982, com o álbum independente “Entre duas palavras”.  E ele também tocou com Egberto Gismonti (com quem gravou o CD “Brasil musical”, em 1993), Naná Vasconcelos, Eduardo Agni e Amílson Godoy, entre outros nomes da MPB. Em 1988, participou do Festival de Jazz de Montreux (Suíça) e, dois anos mais tarde, gravou o disco “Brazilianimage”, ao lado do flautista Paul Horn, sendo apontado pela crítica especializada como “o músico da década de 1980”. Pois hoje, o TM oferece a seus amigos cultos e ocultos o quinto álbum-solo deste notável violonista. É “7989” (título referente a afinações e cifras harmônicas), gravado digitalmente em fevereiro de 1989, no Rio de Janeiro, com produção dele próprio, e lançado originalmente pela WEA/Warner (tendo sido reeditado em CD pela Eldorado, em parceria com o selo Tom Brasil, em 2001). São nove faixas, todas de autoria do próprio André, e executadas com o máximo de virtuosismo e sensibilidade. Tudo isso, aliado à mais alta qualidade técnica e artística, torna o presente álbum uma autêntica joia rara para os amigos do TM, uma preciosa amostra do trabalho e da arte deste extraordinário violonista que é André Geraissati!

fazenda
trilha
agreste
canto das aguas
oriente
paz
com o sol nas mãos
eclipse
alvorada

*Texto de Samuel Machado Filho

Revista do Henfil (1978)

Em sua postagem de hoje, o TM presta uma justa homenagem a um expressivo cartunista, jornalista e escritor brasileiro: Henrique de Souza Filho, ou, como ficou para a posteridade, Henfil.  Ele nasceu em Ribeirão das Neves, Minas Gerais, no dia 5 de fevereiro de 1944. Cresceu na periferia de Belo Horizonte, onde fez seus primeiros estudos, frequentou um curso supletivo noturno e um curso superior em sociologia na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, que abandonou após alguns meses. Foi embalador de queijos, contínuo em uma agência de publicidade e jornalista, até se especializar, no início dos anos 1960, em ilustração e produção de histórias em quadrinhos.  Nessa atividade, estreou em 1964, quando, a convite do editor e escritor Roberto Drummond, começou a trabalhar na revista belorizontina “Alterosa”, onde criou “Os Franguinhos”. Um ano depois, passou a colaborar como caricaturista político no jornal “Diário de Minas”. Em 1967, criou charges esportivas para o “Jornal dos Sports”, do Rio de Janeiro. Os trabalhos de Henfil também apareceram nas revistas “Realidade”, “Visão”, “Placar”, e “O Cruzeiro”, além do “Jornal do Brasil” e do tablóide “Pasquim”, onde seus personagens ficaram bastante populares. Já envolvido com a política do país, Henfil lançou, em 1971, a revista “Fradim”, que teve31 números publicados até 1980, cuja marca registrada era o desenho humorístico, crítico e satírico, com personagens tipicamente brasileiros, como os fradinhos Cumprido e Baixim, a Graúna, o bode Orelana, o nordestino Zeferino e, mais tarde, Ubaldo, o paranoico. Henfil passou toda a sua vida a defender o fim do regime ditatorial pelo qual o Brasil passava. Tentou seguir carreira nos EUA, onde passou dois anos em tratamento de saúde. Como não teve lugar nos principais jornais norte-americanos, sendo renegado a publicações “underground”, escreveu o livro “Diário de um cucaracha” e, de volta ao Brasil, passou a colaborar na revista “Istoé”, escrevendo a coluna “Cartas à mãe”. Pelo conjunto de obra nessa revista, Henfil recebeu, em 1981, o Prêmio Vladimir Herzog, na categoria Artes. Outras de suas obras são “Henfil na China” (1980), “Diretas já” (1984) e “Como se faz humor político” (1984). Envolveu-se também com cinema (fez o filme “Tanga: deu no New York Times?”), teatro e televisão (teve inclusive, um quadro humorístico no programa “TV Mulher”, da Globo), mas ficou marcado mesmo por sua atuação nos movimentos sociais e políticos brasileiros. Como outros dois de seus irmãos – o sociólogo Betinho e o músico Chico Mário – Henfil herdou da mãe a hemofilia, distúrbio que impede a coagulação do sangue, fazendo com que a pessoa seja mais suscetível a hemorragias. E, após uma transfusão de sangue, acabou contraindo o vírus da AIDS. Henfil acabaria falecendo em 4 de janeiro de 1988, aos 43 anos, no Rio de Janeiro, vítima de complicações dessa doença. E em pleno auge da carreira, com seus trabalhos aparecendo nas principais revistas brasileiras e no jornal “O Estado de S. Paulo”, onde publicava os quadrinhos da Graúna. Pois o TM presta justa homenagem a este notável artista apresentando hoje, a seus amigos cultos e ocultos, o álbum com as músicas do espetáculo teatral “Revista do Henfil”, que estreou em São Paulo no dia primeiro de setembro de 1978, inaugurando o (então) novo Teatro Galpão/Ruth Escobar, e depois percorreu várias das principais cidades brasileiras. O espetáculo contou com as participações de Paulo César Pereio, Rafael de Carvalho, Sônia Mamede e da própria Ruth Escobar, entre outros. O texto foi do próprio Henfil, em parceria com Oswaldo Mendes, e as músicas, de autoria de Cláudio Petraglia (que também atua ao piano na faixa “Esta vida é um mafuá”), são interpretadas pelo elenco da peça, em gravação feita ao vivo pela Bandeirantes Discos, sob a supervisão de Sérgio Lopes.  Em suma, é mais um valioso tesouro musical que o TM resgata, para alegria e satisfação de todos aqueles que apreciam o que é bom.

henfil vai bem
seu presidente nosso abra’co
uai uai uai
xaxado
as riquezas da caatinga
cancão de amor
sambao
cancao da graúna
essa vida ‘e um mafua
tem peba na ceroula
ultima carta
henfil vai bem

Texto de Samuel Machado Filho

Cardinale Apresenta O Sucesso (1968)

Indiscutivelmente, o grupo de pop-rock The Fevers escreveu um dos mais expressivos capítulos da história da música jovem brasileira, a ponto de ser eleito, em pesquisa realizada pelo programa “Fantástico”, da TV Globo, como “a banda mais popular do país”. Formado em 1964, com o nome de The Fenders, o grupo logo mudou de nome, um ano mais tarde, para The Fevers, uma referência à música “Fever”, então sucesso de Elvis Presley (já havia um The Fenders na praça, daí a mudança). Além de gravarem seus próprios discos, a partir de 1965, os Feversrealizaram (muitas vezes sem créditos) os acompanhamentos instrumentais de gravações de Eduardo Araújo, Sérgio Reis, Deny e Dino, Erasmo Carlos, Trio Esperança, Roberto Carlos e outros mais. E também ficaram conhecidos como “os reis dos bailes”. “Mar de rosas”, “Agora eu sei”, “Elas por elas”, “Guerra dos sexos”, “Cândida”, “Hey girl”, “Vem me ajudar”, “Estou feito um demônio” e “Onde estão seus olhos negros?” são alguns dos maiores sucessos da banda. Os Fevers, durante sua fase inicial, também gravaram discos sob pseudônimo, tanto na própria companhia da qual eram então contratados (Odeon), como também em outras (na CBS, por exemplo, os Fevers gravavam com o pseudônimo de Superquentes). É justamente um desses álbuns que o TM oferece hoje, a seus amigos cultos e ocultos. Trata-se de “Cardinale apresenta o sucesso”, lançado pela Odeon (selo Parlophone) emsetembro de 1968. Evidentemente, Cardinale é um dos inúmeros pseudônimos dos Fevers. No repertório, músicas nacionais e internacionais que faziam sucesso entre a juventude nessa época. Na parte internacional, temos “E lapioggiacheva” (na verdade, “Remembertherain”, composta e gravada por Bob Lind, e que ganhou versões em italiano e português, esta última denominada “A chuva que cai”, e gravada pelo conjunto Os Caçulas), “Mrs. Robinson” (de Simon e Garfunkel, feita para o filme “A primeira noite de um homem”) , “Delilah”, “Seul sursonetoile” e “Honey” (então sucesso de Bobby Goldsboro). Na parte nacional, encontraremos “Com muito amor e carinho”, “Eu te amo, te amo, te amo” (curiosamente lançadas por Roberto Carlos em um mesmo compacto simples), “Última canção” (com a qual Paulo Sérgio despontou para o estrelato), “Bilhetinho apaixonado” (sensação da época na voz de Kátia Cilene), “Para o diabo os conselhos de vocês”(gravada por Erasmo Carlos e também por Paulo Sérgio) e “O barqueiro” (dos BrazilianBitles). Tudo isso em um disco totalmente instrumental, em que se destacam os solos de órgão Hammond, semelhantes aos do instrumentista Lafayette, reforçando aquele clima de bailinho. Por certo o álbum vendeu muito bem na época, tanto que foi seguido de um segundo volume. Portanto, este “Cardinale apresenta o sucesso” mostra por que os Fevers, mesmo escondidos sob esse pseudônimo, ficaram conhecidos como “os reis dos bailes”. E aí? Dá-me o prazer desta contradança?

com muito amor e carinho
última canção
bilhetinho apaixonado
largo tudo em venho te buscar
mrs robinson
eu te amo eu te amo eu te amo
para o diabo os conselhos de vocês
e la pioggia che va
o barquero
seul sur son stole
delilah
honey

*Texto de Samuel Machado Filho

Sucessos RGE 2 (1958)

O TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos o segundo volume da série “Sucessos RGE”, que a gravadora, então pertencente a José Brasil Ítalo Scatena, lançou em 1958 (o primeiro volume já foi oferecido a vocês pelo TM, e foi dado como sendo de 1961, quando na verdade também é de 58). Este “Sucessos RGE 2” segue a mesma linha do primeiro volume, ou seja, músicas nacionais e internacionais que estavam nas paradas naquele momento, interpretadas pelo conjunto e pela orquestra da gravadora, tendo à frente maestros e músicos supercompetentes, e por certo foi uma consequência do êxito de vendagem do álbum anterior. Para começar, encontraremos o acordeonista Carlinhos Maffasoli executando os hoje clássicos “Mocinho bonito”, de Billy Blanco, e “É da banda de lá”, de Irvando Luiz e Adoniran Barbosa, que se escondeu sob o pseudônimo de Peteleco, nome de seu cachorro de estimação. O uruguaio Rúben Pérez, conhecido como Pocho, aqui comparece regendo o conjunto e a orquestra da gravadora na execução do calipso “Cerveza”, do bolero “Cachito” (então grande coqueluche na voz de Nat King Cole), do samba-canção “Meu mundo caiu” (composto e lançado por Maysa, sua colega de gravadora), de “Viva meu samba” (de Billy Blanco, então hit de Sílvio Caldas) e do merecumbe “Ay, cosita linda”.  William Fourneaut, que também era exímio assobiador,comanda a Orquestra RGE na execução da marcha “ColonelBoogey”, tema do filme “A ponte do Rio Kwai”, co-produção Inglaterra/EUA que então arrebentava nas bilheterias, e também conduz o conjunto da gravadora no chá-chá-chá “Torero”. O misterioso Eugèned’Heliemmes  aqui recorda “Música, maestro”, samba originalmente lançado para o carnaval de 1940 na voz de Dircinha Batista. Enrico Simonetti, maestro que foi um dos pioneiros da RGE, aqui comanda o conjunto da gravadora na execução, em ritmo de bolero, do clássico italiano “Piccolissima serenata”. Para encerrar, um tango de José Astolphi, “Ilusão, ingrata companheira”, executado pelo conjunto RGE, e que a gravadora lançou em 78 rpm, em dezembro de 1957 (disco 10073-B, matriz RGO-413). Em suma, este segundo volume de “Sucessos RGE 2” segue a linha dos álbuns dançantes, que vendiam bastante nessa época e eram ideais para animar festas em residências e salões que não dispunham de conjuntos ao vivo. É mais uma deliciosa viagem aos “anos dourados” que o TM vem nos proporcionar!

mocinho bonito – carlinhos maffasoli e orquestra rge
cerveza – pocho e sua orquestra
colonel boogey – william fourneaut e orquestra rge
cachito – pocho e sua orquestra
música maestro – eugene d’heliemmes e orquestra rge
é da banda de lá – carlinhos maffasoli
meu mundo caiu – pocho e sua orquestra
torero – william fourneaut
piccolissima serenata – simonetti e conjunto rge
viva meu samba – pocho e conjunto rge
ay cosita linda – pocho e conjunto rge
ilusão ingrata companheira – conjunto rge

*Texto de Samuel Machado Filho