Cildo Meireles – Sal Sem Carne (1975)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Dentro da nossa premissa, “ouvir com outros olhos” eu hoje trago algo que vai além do tradicional, ou do convencional. O que temos aqui não é apenas um disco de vinil e seu conteúdo não é exatamente musical. Este disco é uma espécie de ‘objeto de arte’, uma produção do artista plástico Cildo Meireles, um dos mais importantes nomes da arte contemporânea brasileira. Recentemente alguém colocou a venda um exemplar deste disco no Mercado Livre e redes sociais e chamou a atenção de quem gosta de vinil, muito por conta de seu valor e da sua obscuridade (óbvia) dentro de um cenário de colecionismo, que necessariamente não passa pelos campos da arte. Por certo, poucos sabem do que realmente se trata este disco. Mas a curiosidade foi grande devido ao alto valor da oferta, algo em torno de 20 mil reais. Embora, como disse, não seja este um disco de músicas, achei interessante trazê-lo para apresentar a vocês, pois o conteúdo sonoro não se encontra na íntegra nem no Youtube . Segue o texto… 
“Concebido como uma espécie de radionovela por Cildo Meireles, após uma estadia nos Estados Unidos em 1974 e realizado no Rio de Janeiro em 1975 com corte e prensagem da Tapecar, editado pela Galeria Luiz Buarque de Holanda e Paulo Bittencourt, o disco Sal Sem Carne reúne captações sonoras que vocalizam o embate entre a civilização branca e os coletivos indígenas do Brasil. O disco traz, em si, uma questão de escuta – o ouvinte pode “equalizar” no seu aparelho os quatro canais que apresentam o colonizador (a marcação de um relógio e festas religiosas); e do colonizado (depoimentos de remanescentes indígenas das tribos xerente, kayapó e krahô). As imagens centrais, na capa e na contracapa, mostram de um lado o momento de um ritual da tribo krahô (massacrados nos anos 40) e de outro, um registro feito pelo próprio artista de um homem catatônico, com sua cabeça ensimesmada em um canto de parede. As fotos menores são registros de Max Jorge Campos Meireles, que documentou o entorno das gravações em áudio. ‘Sal Sem Carne’ é uma complexa obra conceitual, sendo um marco histórico da arte contemporânea brasileira.”
 
sal sem terra – parte 1
sal sem terra – parte 2