O Toque Musical traz hoje para seus amigos cultos e ocultos mais um álbum de Sebastião de Barros, compositor, arranjador, clarinetista, saxofonista e maestro, que ficou para a posteridade com o pseudônimo de K-Ximbinho, e de quem postamos anteriormente o dez polegadas “Ritmo e melodia”. Lançado pela Polydor em 1958, este é o terceiro volume da série “Em ritmo de dança” (os dois anteriores foram gravados pelo conjunto do pistonista Pernambuco). K-Ximbinho, “o mais original dentre os instrumentistas que se dedicaram à orquestra popular urbana”, no dizer de outro grande maestro e clarinetista, Paulo Moura,veio ao mundo no dia 20 de janeiro de 1917, na cidade de Taipu, no Rio Grande do Norte. Iniciou seus estudos de clarinete frequentando a banda de sua cidade, mudando-se posteriormente com a família para a capital do estado, Natal.Chegou a participar, junto a outros estudantes secundaristas, do conjunto Pan Jazz, e também atuou na banda de sua corporação no exército. Em 1938, Severino Araújo assume a direção da famosa Orquestra Tabajara, e K-Ximbinho entra para a mesma. Nela permanece até 1942, quando se muda para a então capital da República, o Rio de Janeiro. Nesse ano, atua nas orquestras de Fon-Fon (Otaviano Romero Monteiro) e Napoleão Tavares. Em 1945, quando a Orquestra Tabajara já estava no Rio, K-Ximbinho voltou a integrá-la, nela permanecendo até 1949, como primeiro saxofonista. Em 1946, tem sua primeira composição gravada, “Sonoroso”, de parceria com Del Loro, até hoje um de seus choros mais famosos. “Eu quero é sossego”, “Sonhando” e “Sempre” são outros sucessos de K-Ximbinho como autor. Participou, com muitos dos mais importantes instrumentistas brasileiros de seu tempo, dos anos de ouro do rádio, acompanhando artistas em evidência, e também teve muita importância no circuito de orquestras, dancings e boates , entre elas a Casablanca e a famosa Sacha’s, de cujo grupo fez parte em 1955. E ainda participou da então incipiente televisão brasileira, como orquestrador da Globo, nos anos 1960, época em que também integrou a Orquestra Sinfônica Nacional, da Rádio MEC. Sua última composição foi “Manda brasa”, vencedora do Segundo Festival do Choro, promovido em 1978 pela TV Bandeirantes. K-Ximbinho faleceu no Rio de Janeiro, em 26 de junho de 1980, após a gravação de seu último álbum, “Saudades de um clarinete”, lançado postumamente. Neste “Em ritmo de dança 3”, com texto de contracapa assinado pelo violonista Henrique Gandelman, pai de outro saxofonista de renome, Léo Gandelman, K-Ximbinho assina os arranjos, além de solar seu clarinete com a maestria habitual. Nas doze faixas, um repertório bem variado e dançante, mesclando, como de hábito nessa época, sucessos nacionais e internacionais da ocasião, com direito a três composições próprias: o baião “Tá?”, com Hianto de Almeida, e os choros “Teleguiado” e “Penumbra”. Temos ainda os clássicos “Lá vem a baiana”, do mestre Dorival Caymmi, “Por causa de você”, da dupla Tom Jobim-Dolores Duran, “Se acaso você chegasse”, primeiro grande hit autoral de Lupicínio Rodrigues, aqui em parceria com Felisberto Martins, “Não diga não”, de Tito Madi e Georges Henry,e, na área internacional, “Anaffairtoremember” (do filme “Tarde demais para esquecer”), “I’vegotyouundermyskin” e “Love me forever”. Tudo isso, mais o “Mambo do Panamá”, do organista Steve Bernard, romeno radicado no Brasil, e o choro “Zezinho teimoso”, de Nestor Campos, aqui participando ao violão elétrico, fazem deste trabalho mais um produto de primeira oferecido pelo nosso TM. Aproveitem…
la vem a baiana
an affair to remember
zezinho teimoso
tá
por causa de você
mambo do panamá
teleguiado
love me forever
não diga não
i’ve got you under my skin
penumbra
se acaso você chegasse
*Texto de Samuel Machado Filho