O Toque Musical começa 2018 em grande estilo, oferecendo hoje a seus amigos cultos e ocultos um dos melhores trabalhos de uma das mais respeitadas cantoras, letristas e produtoras de nossa música popular. Estamos falando de Olívia Hime, na pia batismal Maria Olívia Leuenroth, nascida no Rio de Janeiro em 25 de junho de 1943. É filha de Cícero Leuenroth e neta de Eugênio Leuenroth, ambos pioneiros da propaganda no Brasil, sendo ainda sobrinha-neta do militante anarquista Edgard Leuenroth. No início de sua carreira, Olívia integrou, com Miúcha e Telma Costa, um grupo vocal com o qual atuou em um show de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Ao se casar com o cantor-compositor Francis Hime, em 1969, relutou por alguns anos em abraçar a carreira profissional de cantora, pois temia esbarrar no rótulo de “mulher do Francis” ou de amiga de medalhões da MPB tipo Chico Buarque e Tom Jobim. Em 1977, ano em que produziu para o marido Francis o álbum “Passaredo” (logo passando também a compor e participar dos discos e shows dele), Olívia lançou seu primeiro disco-solo, pela Tapecar, um compacto simples com as músicas “Bela adormecida” e “Diana”, pouco divulgado e sem nenhumarepercussão. Em 1980, novo single, pela RGE, apresentando “Três Marias” e “Céu de estio”, músicas que, um ano mais tarde, fariam parte de seu primeiro LP, sem título, produzido por Dori Caymmi, reunindo músicas dela mesma em parceria com Francis, e de outros autores. O casal tem três filhas – Maria, Joana e Luiza – e três netas. Como produtora musical, seus mais notáveis trabalhos são os álbuns “A música em Pessoa”, em parceria com Elisa Byington, reunindo quinze poemas de Fernando Pessoa, musicados por grandes compositores brasileiros, lançado em 1985, por ocasião do cinquentenário da morte do poeta lusitano (e por sinal já oferecido a vocês pelo TM), e “Estrela da vida inteira”, com poemas musicados de Manuel Bandeira, editado em 1986 por ocasião do centenário do poeta. Em 2000, fundou, com Kati de Almeida Braga, a gravadora Biscoito Fino, da qual é diretora artística, responsável pelos melhores lançamentos de MPB dos últimos anos. Com sensibilidade e bom gosto, Olívia Hime vem conseguindo o respeito dos músicos e da crítica com seus trabalhos pessoais, burilados e originais, sempre procurando não ser associada a um único estilo musical. Seu mais recente álbum, em dupla com o marido Francis, é “Sem mais adeus – Uma homenagem a Vinícius”, lançado em 2017, verdadeiro tributo ao PoetinhaVinícius de Moraes.“Segredo do meu coração”, o disco que o TM nos oferece hoje, é o segundo álbum-solo de Olívia Hime, lançado em 1982 com o selo Opus/Columbia (ou seja, pela Som Livre, com distribuição da CBS, hoje Sony Music), e que hoje faz parte do catálogo da Biscoito Fino. Com produção executiva e direção de estúdio de Dori Caymmi e do marido Francis Hime, ela percorre, como de hábito, vários gêneros musicais, explorando as riquezas da alma brasileira, e mantendo um ambiente sonoro bem cuidado e variado. O disco é também o documento de uma época marcada pela esperança da abertura e pelo fim das interdições impostas pela censura federal. A faixa-título, na verdade, é o subtítulo de “Saiçú”, composição do gaúcho Kleyton Ramil, da dupla com o irmão Kledir. No total, são onze músicas de extraordinária qualidade, entre elas, “Mariposa”, “Cartão postal” (assinadas pelo casal Francis-Olívia), regravações de “Zabelê”, da dupla Gilberto Gil-Torquato Neto, “Canção da noiva (História de pescadores)”, do mestre Dorival Caymmi, e “Gongoba (Pra você que chora)”, da parceria Edu Lobo-Gianfrancesco Guarnieri, e ainda “Flor das estradas”, de Dori Caymmi e Paulo César Pinheiro, também gravada pelo próprio Dori e mais tarde pela irmã, Nana. Enfim, um trabalho muito bem cuidado, em termos técnicos e até mesmo gráficos, digno de merecer a postagem de nosso TM e um dos pontos altos da carreira da notável Olívia Hime. É só conferir…
estrela guria
zabelê
cartão postal
deveria
a flor das estradas
próxima partida
saiçu (segredo do meu coração)
gongoba (pra você que chora)
amazônia
mariposa
canção da noiva
*Texto de Samuel Machado Filho