Waltel Branco – Músicas Do Século XVI Ao Século XX (1968)

Olá, amigos cultos e ocultos! O TM oferece a vocês hoje mais um álbum de qualidade produzido no Brasil, enfocando a música erudita. Trata-se de “Músicas do século XVI ao século XX”, lançado em 1969 pela CID (Cia. Industrial de Discos), gravadora independente carioca que existe até hoje, sob o selo Itamaraty, com distribuição da extinta Codil. O repertório, evidentemente, é primoroso, com obras de Villa-Lobos (“Prelúdio n.o 2”), Brahms (“Valsa n.o 15”), Chopin (“Prelúdio n.o 20”), Schumann (“Romanza”), Gluck, Weiss (ambas denominadas “Ballet”) e Poulnac (“Sarabanda”). Tudo isso em notáveis solos de violão a cargo de Waltel Branco, que também assina as faixas “Prelúdio, sarabanda e Bourrée” (que dedicou ao dr. Fernando Paes Leme) e “Moda de viola” (dedicada a meu xará Samuel Babo). Também notável arranjador, maestro e compositor, Waltel Branco nasceu em Paranaguá, litoral paranaense, no dia 22 de novembro de 1929. Oriundo de família musical, iniciou-se bem cedo nessa arte, por meio da bateria, do violão, e posteriormente do cavaquinho e do violoncelo, estudando ainda harpa e órgão. Sua infância e adolescência, alternadas entre Curitiba e Rio de Janeiro, foram marcadas pelo estudo da música e religião. No período em que esteve no seminário, estudou música com o chileno Joaquín Zamacois, e teve ainda outros mestres que contribuíram para sua formação, como Bento Mossurunga, Alceu Bocchino e o padre José Penalva. Em Curitiba, Waltel formou uma jazz-band junto com seu irmão, o baterista Ismael Branco, e o pianista Gebran Sabag, então grande revelação. Em 1949, ainda jovem, foi para o Rio de Janeiro e, em seguida para Cuba, junto com a cantora Lia Ray, a fim de ser violonista, diretor musical e arranjador do conjunto que formaram. Lá, nosso Waltel teve oportunidade de tocar com Perez Prado, Mongo Santamaria e Chico O’Farrel, ajudando a criar a mistura de jazz, música cubana e brasileira que influenciaria a “jazz fusion”, estilo do qual ele é considerado um dos precursores. Seu currículo inclui passagens pelos EUA, Europa, Ásia e até mesmo pela Índia, onde até lecionou música ao lado de maestros renomados. Poucos sabem, mas foi Waltel Branco quem compôs, à época em que trabalhava com o maestro norte-americano Henry Mancini, o famoso tema da “Pantera Cor-de-Rosa”, ouvido e conhecido até hoje. Teve importância fundamental na formatação da bossa nova, morando em uma pensão junto com nada mais nada menos que João Gilberto, com quem desempenhou longa parceria, sendo seu amigo e arranjador desde então. Waltel Blanco também foi, em 1965, um dos pioneiros da TV Globo, onde, a convite do próprio dr. Roberto Marinho, viria a compor um seleto time de músicos da emissora, junto a Radamés Gnattali, Guerra Peixe e Guio de Moraes, ficando lá por mais de vinte anos. Tem mais de 5.000 composições (ao longo da carreira), incontáveis arranjos e participações, além de espetáculos e shows que até hoje realiza no Brasil e no exterior. É difícil, aliás, encontrar artista brasileiro (ou mesmo internacional) com quem Waltel não tenha trabalhado. Tocou com Dorival Caymmi e a filha Nana, além, claro, de João Gilberto, fez arranjos para gente do porte de Roberto Carlos, Mercedes Sosa, Cazuza, Tim Maia, Djavan, Cartola, Astor Piazzola, Zé Kéti, Elis Regina, Vanusa, Gal Costa, Tom Jobim, Maria Creuza e muitos mais. Em 2012, recebeu o título de doutor “honoris causa” pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), aliás o primeiro título da entidade concebido a um músico. Em suma, Waltel Branco é um grande mestre de nossa música, o que por si só credencia este “Músicas do século XVI ao século XX”, oferecido hoje pelo TM com a satisfação e o orgulho de sempre. A conferir, sem falta…

canção do século XVI

ballet – gluck

romanza – schumann

valsa n. 15 – brahms

ballet – weiss

prelúdio n. 20 – chopin

estudos 16 – sor

sarabanda – poulenc

prelúdio n. 2 – villa lobos

andante – p. van der staak

moda de viola

 

*Texto de Samuel Machado Filho

Deixe um comentário