Seu nome, na pia batismal, é Paulo Roberto Figueiredo de Oliveira. E é como Paulinho Boca de Cantor que todos o conhecem. Também compositor, é claro, ele veio ao mundo na cidade de Santa Inês, na Bahia, no dia 28 de junho de 1946. Começou sua carreira musical em 1962, como crooner da orquestra de Carlito (mais tarde Orquestra Avanço), que animava bailes em Salvador e no interior da Bahia. Em 1969, funda, juntamente com Pepeu Gomes, Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), Moraes Moreira e Luiz Galvão, um dos mais importantes grupos da história de nossa música popular: os Novos Baianos, do qual seria um dos principais compositores. O grupo, que revolucionou a MPB nos anos 70 e ainda é referência para novas gerações, lançou dez LPs de estúdio, entre eles o premiadíssimo “Acabou chorare”, de 1972, considerado o melhor álbum brasileiro da história, segundo a revista “Rolling Stone”. Com o fim dos Novos Baianos, em 1979, Paulinho Boca de Cantor partiu para a carreira-solo. Sua carreira no exterior começou em 1983, em Roma, capital da Itália, apresentando-se no show “Bahia de todos os sambas”, ao lado de ilustres conterrâneos, tais como João Gilberto, Nana e Dorival Caymmi, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gilberto Gil. Em 1988, passa a residir em Nova York, EUA, lá fundando a Bahia Band e com ela fazendo shows em várias cidades norte-americanas. Em 1990, Paulinho voltou a morar em Salvador, participando de inúmeros projetos culturais importantes. Em 1997, reuniu novamente os Novos Baianos, com quem gravou ao vivo o CD “Infinito circular”, e realizou shows históricos por todo o Brasil. Paulinho Boca de Cantor tem em sua discografia-solo onze álbuns, sendo o mais recente deles “Forró do Boca”, lançado em 2013 (o LP “Valeu”, de 1981, que trouxe o hit “Rock Mary”, foi um dos discos independentes mais vendidos no Brasil nessa época). Destaca-se ainda como pesquisador de nossa música popular, e lança, em 2002, em parceria com Edil Pacheco, o CD duplo “Do lundu ao axé – Bahia de todas as músicas”, homenagem aos maiores compositores do século XX (entre 1902 e 2002), com a participação de importantes nomes da MPB, tais como Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Armandinho, Luiz Caldas e Moraes Moreira. Foi também produzido por ele o álbum comemorativo do centenário do Esporte Clube Vitória, lançado em 1999, com participação de artistas-torcedores da agremiação, tipo Daniela Mercury, Durval Lélis, Ivete Sangalo , Tatau (do Araketu) e Gilmelândia (então vocalista da Banda Beijo). Da discografia-solo de Paulinho Boca de Cantor, o TM traz para seus amigos cultos e ocultos “Cantor popular”. Trata-se do terceiro LP-solo do artista, lançado no início de 1984, e o primeiro que fez para a todo-poderosa EMI, incorporada anos mais tarde pela Universal Music. Com produção executiva de Guilherme Maia e Tôni Costa, também responsáveis pelos arranjos, orquestrações e regências, ao lado de Jorginho Gomes, e direção de produção de Renato Corrêa (que integrou os Golden Boys), o disco tem dez faixas, seis delas assinadas pelo próprio Paulinho com parceiros, e dele podemos destacar a autobiográfica faixa-título, “Cantor popular”, que conta inclusive com a participação de Pepeu Gomes, a irreverente “O enviado”, “Salsa morena” (com influência de ritmos caribenhos) e “Voltar ao zero”, de Mauriçola. Tudo isso num trabalho impecável, tanto técnica quanto artisticamente, de um dos maiores nomes de nossa música popular, agora também com credenciais de pesquisador. E que continua na ativa, felizmente.
ecologia astral
quanto mais quente melhor
semente do prazer
cantos de fada
um peixe vivo
volta ao zero
cantor popular
salsa morena
alegria de doido
o enviado
*Texto de Samuel Machado Filho