Dando prosseguimento ao ciclo dedicado á música popular e folclórica latino-americana, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados um dos mais expressivos títulos da discografia do chileno Ángel Parra, filho da imortal Violeta Parra (de quem já apresentamos aqui o disco “Canciones inéditas”). Lançado em 1976 pela Intermusique, de Luxemburgo, o disco se intitula “Ángel Parra de Chile”, e teve também os nomes de “La libertad” e “Yo tuve una pátria” (no Brasil, a extinta Copacabana manteve o título original). Com o nome completo de Ángel Cereceda Parra, este que, além de cantor e compositor, foi também escritor, veio ao mundo na cidade chilena de Valparaíso, no dia 27 de junho de 1943, fruto da união de Violeta Parra com o ferroviário Juan Cereceda Arenas. Teve início de carreira precoce, aos cinco anos, cantando em circos. Seu primeiro LP-solo viria em 1965, “Ángel Parra y su guitarra”, pontapé inicial para uma constante e prolífica produção musical. Participou do movimento denominado “Nueva Canción Chilena” e, durante um certo período, sua música situava-se entre a canção de protesto e o folclore do Chile, cantando ocasionalmente ao lado de sua irmã Isabel Parra. Ángel foi também um dos compositores chilenos a se abrir para outros gêneros musicais, como o rock, colaborando com o grupo Los Blops. Por suas ideias políticas e sua vinculação à Unidade Popular de Salvador Allende, em 1973, logo após o golpe de estado do general Augusto Pinochet, Ángel ficou detido no Estádio Nacional e no campo de concentração de Chacabuco. Na ocasião, escreveu “La pasión según San Juan, oratório de Navidad”, que gravou e lançou na Europa logo após ser libertado. No exílio, morou no México e na França, dedicando-se a denunciar ao mundo a triste situação de seu país. Nesse período, produziu um álbum de guitarra popular chilena (“La prochaine fois”) e, em 1981, gravou seu último disco em dupla com a irmã Isabel. A partir de 1989, estaria várias vezes em seu Chile natal para se apresentar artisticamente, mas continuou residindo na França. Nos anos 1990, gravou, entre outros discos, o que comemorou os 500 anos do descobrimento da América (com letras do escritor galego Ramón Chao, pai do músico Mano Chao), o que lembrou os 50 anos do falecimento da poetisa Gabriela Mistral, e outro em homenagem à mãe, Violeta Parra. Em fins de 2004, ao lado da irmã Isabel , recebeu a distinção de “Figura fundamental da música chilena”. Em 2006, publicou um livro sobre a vida de sua mãe, “Violeta se fue a los cielos”. Ángel Parra faleceu em 11 de março deste ano de 2017, aos 73 anos, em Paris, em consequência de um câncer pulmonar, deixando uma discografia que abrange quase 40 álbuns-solo, além dos seis gravados junto com a irmã Isabel. Este “Ángel Parra de Chile” mostra o cantor-compositor em sua melhor forma, apresentando onze faixas bastante expressivas, todas de autoria dele próprio. Isso comprova que Ángel Parra foi um digno continuador do trabalho de sua mãe, Violeta Parra, e mostra por que ele também é referência obrigatória quando se fala em música popular e folclórica latino-americana.
la liberdad
yo tuve una patria
tango en colombes
auto retrato
que sera de mis hermanos
porque manna se abriran las alamedas
el poeta frente al mar
el dia que vuelva a encontar
compañero presidente
america del sur
levantese compañero
*Texto de Samuel Machado Filho