Dando prosseguimento a seu ciclo latino-americano, o TM hoje nos oferece um álbum daquela que é considerada a mais importante folclorista e fundadora da música popular chilena. Estamos falando de Violeta Parra. Compositora, cantora, artista plástica e ceramista, Violeta del Cármen Parra Sandoval nasceu na cidade de San Carlos, comuna da província de Ñuble, em 4 de outubro de 1917, filha de um professor de música (Nicanor Parra) e de uma camponesa (Clarisa Sandoval), ambos admiradores da música folclórica. Tinha oito irmãos e dois meio irmãos (filhos de um relacionamento anterior da mãe). Passou grande parte de sua infância em Lautaro, aos três anos teve varíola, e morou ainda em distintas localidades da zona de Chillán, onde teve suas primeiras experiências artísticas, compondo suas primeiras canções para violão em 1929. Estudou até o segundo ano do secundário, e abandonou os bancos escolares em 1934,para trabalhar e cantar com seus irmãos em bares e circos. Autodidata, cantora e violonista desde os nove anos, ingressou de vez na carreira musical aos quinze, após a morte do pai, deixando a casa da mãe, no interior chileno, e indo morar em Santiago com o irmão Nicanor, que estudava na capital. Na época, formou com sua irmã Hilda o duo Las Hermanas Parra, que cantava músicas folclóricas na noite. É quando conhece o ferroviário Luís Cereceda, com quem se casou em 1938 e teve dois filhos que também seguiriam carreira musical, Isabel e Ángel, separando-se em 1948. A desilusão desse relacionamento marcaria a vida e a obra de Violeta. Ela gravou seu primeiro disco em 1949, em parceria com a irmã Hilda, e contraiu segundas núpcias com Luís Arce, tendo com ele duas filhas, Luísa Cármen e Rosita Clara, que faleceu de pneumonia, antes de completar um ano de idade. Em 1952, começou a pesquisar as raízes folclóricas chilenas e compôs os primeiras temas musicais que a celebrizaram, ocasião em que também teve programa de rádio. Chegou a catalogar mais de 3 mil canções tradicionais! “Gracias a la vida”, “Míren como soríen”, “La carta” e “Volver a los 17” estão entre seus mais conhecidos trabalhos. Em 1955, visitou a União Soviética, Londres e Paris, cidade onde residiu por dois anos, e realizou gravações para a BBC, e para os selos Odeon e Chant du Monde. Em 1957 radicou-se em Concepción e voltou a Santiago para iniciar uma nova carreira, a de artista plástica. Em 1961, mudou-se para a Argentina, onde fez grande sucesso em apresentações públicas. Voltou a Paris e lá ficou por mais três anos, percorrendo várias cidades da Europa, inclusive Genebra, na Suíça. Violeta regressou ao Chile em 1965, apresentou-se na Bolívia e, de volta ao país natal, instalou uma grande tenda na comuna de La Reina, objetivando convertê-la em um grande centro de referência para a cultura folclórica chilena, junto com os filhos Ángel e Isabel, e os folcloristas Patrício Manns, Rolando Alarcon e Victor Jara. Entretanto, Violeta Parra não teve sucesso nesse empreendimento, o que coincidiu com o fim do relacionamento amoroso com seu terceiro marido, o músico suíço, Gilbert Favré, e, abatida emocionalmente, suicidou-se no dia 5 de fevereiro de 1967, na tenda de La Reina. Três anos depois, é publicado seu primeiro livro de poemas, por iniciativa do irmão Nicanor. De sua extensa discografia, o TM traz hoje para seus amigos cultos, ocultos e associados “Canciones ineditas”, originalmente lançado em 1975 pela Intermusique, de Luxemburgo, e que aportou no Brasil em 1980, pela extinta Copacabana. Em onze faixas, encontraremos tudo que caracteriza a obra de Violeta: algumas músicas de extremo lirismo, associadas a outras de versos demolidores contra toda injustiça social, enfim, características que fizeram suas canções serem entoadas por gerações de revolucionários latino-americanos em ocupações e barricadas. Um álbum que merece ser baixado, ouvido e guardado, apresentando trabalhos então inéditos desta que é considerada a mãe da canção comprometida com a luta dos oprimidos e explorados. Ou seja: nada mais atual!
*Texto de Samuel Machado Filho