No início dos anos 1970, a maior parte da programação das rádios brasileiras eram de canções estrangeiras. Foi a época de um grande fenômeno que então acontecia no mercado fonográfico brasileiro: artistas brasileiros fazendo grande sucesso ao compor e cantar em inglês usando pseudônimos. Era uma exigência de consumo da época, e as gravadoras, para manter os lucros em alta, embarcaram nessa onda. Pois, naturalmente, pagar direitos autorais a artistas estrangeiros dava muito mais despesa do que cantores brasileiros. Quem nunca ouviu falar, por exemplo, de Terry Winter (“Summer holiday”), Morris Albert (autor e intérprete de “Feelings”, por sinal êxito em todo o mundo), Chrystian (que mais tarde formou dupla sertaneja com o irmão Ralf, sendo que este também cantava em inglês como Don Elliott), Michael Sullivan (que mais tarde formou uma bem-sucedida dupla autoral com Paulo Massadas), Steve MacLean, Glen Michael, Paul Denver, Mark Davis (o futuro Fábio Júnior), Tony Stevens (o saudoso Jessé) e tantos outros? Tinha também os conjuntos, tipo Pholhas, Lee Jackson, Sunday, Light Reflection, Harmony Cats… E ninguém imaginava que as belas canções que compunham e cantavam, ouvidas com frequência nas rádios, “brincadeiras” dançantes , bailes e até mesmo nas telenovelas, eram feitas aqui mesmo em terras brazucas… Eram, em sua maioria, músicos e cantores experimentados, que se apresentavam em bares e bailes. Outros eram profissionais de estúdios de gravação. Mas praticamente todos anônimos. Em 1973, a Rede Globo exibiu com sucesso a primeira novela colorida de nossa telinha: “O bem amado”, escrita por Dias Gomes. E, em sua trilha sonora internacional, uma música chamou a atenção: “Listen”, composta e interpretada por um certo Paul Bryan. Pois essa era a identidade secreta de outro brasileiro: Sérgio Sá. Deficiente visual, Sérgio é cearense de Fortaleza e mudou-se para São Paulo aos treze anos de idade, a fim de prosseguir seus estudos. Foi interno, por um ano, do Instituto Padre Chico, onde aprendeu a tocar piano. É também co-autor de “Don’t say goddbye”, sucesso com Chrystian. Tem, aliás, várias composições gravadas por intérpretes de prestígio, entre os quais Roberto Carlos, Antônio Marcos, Eduardo Araújo e Fábio Júnior (o ex-Mark Davis). Após o sucesso de “Listen”, foi tecladista do grupo de rock Joelho de Porco, nele permanecendo até 1976. Em 2005, participou da novela global “América”, como entrevistado de Dudu Braga (filho de Roberto Carlos) no programa fictício “É preciso saber viver”. E é justamente o único LP que Sérgio Sá gravou como Paul Bryan que o Toque Musical está oferecendo hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. O título é Listen to Paul Bryan”, e o álbum foi lançado pela Top Tape (selo Blue Rock Records) em 1973. Além de “Listen”, que vem a ser a faixa de abertura, temos mais onze faixas, a maioria compostas pelo próprio Paul/Sérgio Sá, na mesma linha, essencialmente românticas. Evidentemente, o loiro barbudo que aparece na capa do disco não tem absolutamente nada a ver com o artista. Mas este “Listen to Paul Bryan” vale como documento de época e uma demonstração de versatilidade, talento e até mesmo superação. E Sérgio Sá continua aí, felizmente.
Paul Bryan – Listen Of Paul Bryan (1973)
listen
like a rainy night
thais
feel like i feel
window
a song for helping hand
some love
afraid of all
so long
who to bleme
why she goes away
old rock
*Texto de Samuel Machado Filho