Dando prosseguimento à série de álbuns relacionados à Jovem Guarda, o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados o primeiro LP de uma das mais expressivas cantoras do movimento, até hoje em atividade: Rosemary. Com o nome de Rosemeire Gonçalves, ela veio ao mundo a 7 de dezembro de 1945, no bairro carioca de Bonsucesso. Gostava de cantar desde a mais tenra idade, e já aos oito anos participou do programa de rádio “Clube do Guri”. Atuando como amadora até os 14 anos, em 1959, adotou o nome artístico de Rosemary. Em agosto de 1961, é lançado pela Chantecler seu primeiro disco, em 78 rpm, apresentando o bolero “Fala, coração” e o samba “Também sou mulher”. O segundo disco vem um ano mais tarde, em junho de 1962, pela Continental, apresentando os twists “Eu sei” e “Reprovada”. Foi justamente com a explosão da Jovem Guarda que Rosemary ficou conhecida do público, cognominada “a fada loira do iê-iê-iê”. Nessa época, gravou sucessos como “Que bom seria”, “Uma tarde no circo”, “Feitiço de broto”, “Juro por Deus”, “Eu que não vivo sem ti” e “O barco”. No cinema, apareceu cantando em filmes como “Na onda do iê-iê-iê”, “Adorável trapalhão” e “Jovens pra frente”, do qual foi inclusive a atriz principal. Com o fim da Jovem Guarda, Rosemary passou a interpretar outros gêneros musicais, com um repertório essencialmente romântico-popular, ainda que chegasse a regravar sucessos de Chiquinha Gonzaga e Cármen Miranda. São dessa fase (anos 1970/80/90) hits como “Quero ser sua”, “Joia (“Sou uma mulher, preciso ser amada”…)”, “Um caso meu”, “Solidão” e “Separação”, esta última em dueto com Amado Batista. A partir de 1976, sua carreira nos palcos toma impulso por conta de seus shows dirigidos por Abelardo Figueiredo, como “Rose, Rose, Rosemary”, que ficou oito meses em cartaz na boate O Beco, de São Paulo. Lá, ela também fez, em 1979, o espetáculo “Meu Brasil brasileiro”, depois apresentado na França, Alemanha, Portugal e EUA, onde Rosemary inclusive cantou para o então presidente Jimmy Carter, na Casa Branca, em Washington. Nos anos 80, apresentou shows como “Rosemary Paixão” e “Rosemary mulher”, tendo inclusive atuado em novelas como “Tititi” (primeira versão) e “Cambalacho”, ambas na TV Globo, e apresentado-se na China e no Japão. Desde o final dos anos 70, é um dos destaques dos desfiles carnavalescos da Estação Primeira de Mangueira, sua escola de samba de coração. Tem gravados nove álbuns, entre LPs e CDs, um DVD e inúmeros compactos, em mais de 50 anos de carreira. E é justamente o primeiro LP de Rosemary, lançado pela RCA Victor em julho de 1964, que o TM oferece com a satisfação de sempre: “Igual a ti não há ninguém”. É um disco recheado de versões de hits internacionais, particularmente da música italiana, então desfrutando de grande prestígio no Brasil, a começar pela faixa-título e de abertura, na época sucesso de Rita Pavone (no original, “Come te non c’e nessuno”), o que vem também a ser o caso de ‘Que me importa o mundo? (Che m’importa del mondo)”, “Sempre aos domingos (La partita di pallone)”, “A dança dos brotos (Il ballo del mattone)” e “Meu coração (Cuore)”. Com direito até a um hit de Gigliola Cinquetti, “Non ho l’eta per amarti”, rebatizado como “Poema de ternura”. Nada mais natural, posto que, no Brasil dessa época, as versões faziam bem mais sucesso que os originais. O programa se completa com trabalhos de Erasmo Carlos (“O sonho de todas as moças”), dos irmãos Hélio e Dayse Justo (“Lágrimas de tristeza”, “Ninguém como você”) e até mesmo de José Messias (“O doutor do amor menino”), mais tarde polêmico jurado de televisão. Enfim, um disco que se constitui em precioso documento de época, não só do início de carreira de Rosemary, como também dos preparativos para a explosão definitiva, em 1965, do movimento Jovem Guarda. Imperdível!
igual a ti não há ninguém
lágrimas de tristeza
como sinfonia
sempre aos domingos
o sonho de todas as moças
vintee quatro mil beijos
que me importa o mundo
a dança dos brotos
ninguém como você
o doutor do amor, menino
meu coração
poema de ternura
*Texto de Samuel Machado Filho