Sem dúvida, o trio elétrico é um dos maiores fenômenos de massa no Brasil. Surgiu em 1950, na capital baiana, Salvador, evoluindo ao longo das décadas, a ponto de se tornar um dos maiores atrativos do carnaval da Bahia e outras festas do país, sempre apresentando um repertório bem “pra cima”, com samba, frevo e outros ritmos. De início montados sobre caminhões do tipo “truck” (sem articulação, com um eixo dianteiro e dois traseiros), os trios elétricos passaram, ao longo dos anos, a serem construídos sobre carretas (normalmente com três eixos), tracionadas por caminhões tipo “cavalo mecânico”. O que ampliou suas dimensões, e aumentou também a capacidade sonora, além de proporcionar maior conforto e segurança para artistas e convidados. Até dois geradores passaram a garantir o fornecimento de energia para os trios elétricos, além da incorporação de grandes e confortáveis camarins artísticos, e dos indispensáveis banheiros… Foi Caetano Veloso, através de seu frevo “Atrás do trio elétrico”, hit do carnaval de 1969, quem revelou para todo o Brasil a tradição dos trios elétricos no carnaval da Bahia. E, nos anos 1970, a atividade começa a se profissionalizar, com a inovação de se trazer um cantor para os trios elétricos. Um deles, que se transformou em empresa, é justamente o que o TM põe hoje em foco: o Trio Elétrico Tapajós, que ainda nos anos 1960 foi contratado para se apresentar no carnaval do Recife, a capital pernambucana. Seu fundador, Orlando Tapajós, tem a mesma importância de Dodô e Osmar para a história dos trios elétricos, e, em 2015, foi agraciado com a Medalha Tomé de Souza, pela Câmara Municipal de Salvador. Da discografia do Tapajós, abrangendo um total de sete álbuns, gravados entre 1969 e 1984, oferecemos a nossos amigos cultos, ocultos e associados o terceiro deles. Intitulado “Caetanave”, foi lançado pela Philips/Phonogram em fins de 1972, e tem uma particularidade bastante interessante: foi todo gravado ao vivo nas ruas do Rio de Janeiro! Dá até pra imaginar o trabalho que a coisa deve ter dado aos técnicos que trabalharam no registro deste disco… De qualquer forma, é um esforço que valeu a pena, e muito. Neste álbum, com muita alegria e animação, são apresentados sucessos da ocasião em ritmo carnavalesco, tais como “Deixa sangrar”, “Summer holiday” (cujo autor e intérprete, Terry Winter, era na verdade brasileiro), “Cada macaco no seu galho (Chô chuá)”, “Chuva, suor e cerveja” (outro hit inesquecível de Caetano Veloso), “Cavaleio de Aruanda” e “O meu amor chorou”. Nessa ocasião, o Trio Elétrico Tapajós vinha de três anos consecutivos de premiações no carnaval soteropolitano: melhor decoração, melhor instrumental, melhor figurino. A Caetanave do título, como explica a contracapa, é uma mistura de monstro pré-histórico e nave espacial do (então distante) ano 2000, e foi construída para homenagear Caetano Veloso quando este voltou de seu exílio em Londres. Todos esses atributos, inclusive de ordem técnica e artística, dão importância histórica ao álbum que o TM hoje nos oferece, trazendo “in loco” toda a alegria e a animação dos trios elétricos. Afinal de contas, como diz o frevo do Caetano, “atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu”…
frevança
caetanave
duduca
estamos aí
tapajós no rio
trampolim
summer holiday
deixa sangrar
martin cererê
maria vai com as outras
quizas, quizas, quizas
chuva suor e cerveja
vem me ajudar
cada macaco no seu galho
cavaleiro de aruanda
o meu amor chorou
*Texto de Samuel Machado Filho