O TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados uma autêntica raridade, bastante difícil de se encontrar por aí. Trata-se de um LP de dez polegadas que reúne oito gravações feitas por Orlando Silva (Rio de Janeiro, 3/10/1915-idem, 7/8/1978) na Copacabana, gravadora com a qual assinou contrato em 1951 (ano em que também foi eleito Rei do Rádio), e onde permaneceria pelos quatro anos seguintes. À época destes preciosos registros, o “cantor das multidões” já tinha voltado aos braços emocionados do grande público brasileiro, que sempre o teve como ídolo, depois de haver superado os problemas particulares, inclusive de ordem amorosa, que foram obstaculizando sua carreira. Os anos 1950 foram, para ele, mais tranquilos, mas nem por isso menos importantes. Seu timbre de voz estava um pouco mais grave, porque esse é o curso natural da voz humana e ele havia surgido para a glória na adolescência dos 18 anos. Mas ainda era o mesmo Orlando Silva de recursos técnicos impecáveis, voz prodigiosa e interpretação comovente. É o que vocês poderão comprovar através deste preciosíssimo vinil de dez polegadas, lançado em 1955, ano em que Orlando Silva retornou à Odeon. São oito faixas originalmente lançadas em discos de 78 rpm, que evidenciam o bom gosto musical do intérprete, afinal ninguém como Orlando para escolher tão bem o repertório. E, como se trata de uma espécie de “edição extraordinária” de nosso Grand Record Brazil, convém relacionar as bolachas de cera em que estas faixas saíram originalmente. Abrindo o disco, o fox -bolero “Aquela mascarada”, de Cyro Monteiro e Dias da Cruz, editado em agosto-setembro de 1953 sob número 5113-A, matriz M-518. O choro “Amanhecendo”, de Cícero Nunes, Arcênio de Carvalho e Rogério Lucas, foi inicialmente lançado em versão instrumental, pelo trombonista Raul de Barros. E coube a Orlando Silva registrar a versão cantada, que a Copacabana lançou em abril de 1954 sob número 5240-B, matriz M-761. A valsa “De que vale a vida sem amor” é dos mesmos J. Cascata e Leonel Azevedo que deram a Orlando, em 1937, os clássicos “Lábios que beijei” e “Juramento falso”, e aqui contam com a parceria de José de Sá Roris. O 78 original saiu por volta de maio de 1954, e levou o número 5254-A, matriz M-814. O samba “Não… e sim”, do flautista Altamiro Carrilho em parceria com Armando Nunes, é o lado B de “Amanhecendo”, matriz M-815. Da parceria Herivelto Martins-Mário Rossi é o samba “Obrigado, Maria”, editado em setembro de 1954 sob número 5302-A, matriz M-914. O ótimo samba “Exaltação à cor”, bem na tradição de seu autor, Ataulfo Alves, aqui em parceria com J. Audi, vem a ser o lado B de “Aquela mascarada”, matriz M-519. “Renúncia”, samba-canção de exclusiva autoria de Marino Pinto, teve lançamento em 78 rpm quase simultâneo a este LP, em março-abril de 1955, sob número 5382-B, matriz M-915. Para encerrar, Orlando Silva homenageia seu grande amigo Francisco Alves, que o lançou em seu programa da Rádio Cajuti, do Rio de Janeiro, em 1934, com a regravação de “Cinco letras que choram (Adeus)”, samba-canção de Silvino Neto, que o Rei da Voz lançou em 1947 e seria a música mais tocada pelas rádios quando do trágico falecimento dele em acidente rodoviário, em 1952. O registro de Orlando foi lançado logo em seguida, em outubro-novembro desse ano, sob número 5010-A, matriz M-261. Enfim, uma seleção primorosa e imperdível, que mostra um Orlando Silva com os pés no presente, com força para trilhar e projetar o momento em que vivia. É ouvir e confirmar.
aquela máscara
amanhecendo
de que vale a vida sem amor
não é sim
obrigado maria
exaltação a cor
renúnica
adeus
* Texto de Samuel Machado Filho