Hoje o Toque Musical oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados um álbum dos Violinistas de Copacabana, ao que parece o único. Foi lançado em 1960 pela Copacabana, evidentemente, com produção caprichada. O texto de contracapa foi escrito por Irany Pinto, não por acaso um dos melhores violinistas de seu tempo, com vários discos gravados. E os Violinistas de Copacabana têm o apoio de outros instrumentistas de quilate, destacando-se Abel Ferreira ao saxofone, e o pianista Chaim Lewak. O repertório é igualmente muito bem cuidado, apresentando peças clássicas em ritmo popular (como “Olhos negros”, canção popular russa, em ritmo de bolero, assim como “Barqueiros do Volga”, a “Serenata” de Toseli a “Meditation” de Massenet e a “Rêverie” de Schumann, “Melodia in F”, de Arthur Rubinstein, em ritmo de rumba, e as “Czardas” em ritmo de fox). A famosa modinha “Quem sabe?”, de Carlos Gomes (“Tão longe, de mim distante”…) também virou bolero aqui. Completando o repertório, o clássico “Copacabana”, de Braguinha e Alberto Ribeiro, e um bolero-beguine de autoria de outra notória instrumentista, Lina Pesce, “Canción de mi alma”, não por acaso lançado em 1958 pelo contracapista do álbum, Irany Pinto, claro que em solo de violino. As orquestrações ficaram por conta de Gustavo Carvalho, no lado A, e Leal Brito (creio que seja o pianista e compositor Britinho), no lado B. Mas o destaque fica por conta do regente. É nada mais, nada menos que o maestro Mário Tavares, potiguar de Natal, nascido em 18 de abril de 1928. Para ele, “música boa é música bem feita”, o que define uma carreira que nunca se prendeu a qualquer rótulo, sem barreiras entre o erudito e o popular. Desde cedo, Mário Tavares foi incentivado a ser músico, e aos 8 anos ganhou um violoncelo de sua avó, Amélia. Aos 12, já integrava a orquestra de salão da Rádio Educadora de Natal, dirigida por dois Carlos, o Lamas e o Faracchi. Em 1944, aos 16 anos, já residindo no Recife, Tavares ingressa na Orquestra Sinfônica da capital pernambucana, criada três anos antes por Vicente Fittipaldi. Ali, foi influenciado pelo frevo, tornando-se amigo de um autêntico mestre do gênero, Nélson Ferreira. Em 1947, Mário Tavares viaja para o Rio de Janeiro, a fim de concorrer a uma vaga de violoncelista na Orquestra Sinfônica Brasileira, sendo devidamente aprovado e contratado,em abril desse ano, permanecendo na OSB até 1960, quando tornou-se maestro titular da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal do Rio. Tavares também fez carreira internacional bem-sucedida, apresentando-se na Alemanha, EUA, Portugal, Porto Rico, Chile, Colômbia, Peru, Romênia e Bulgária. Considerado o melhor intérprete da obra orquestral de Heitor Villa-Lobos, Mário Tavares, atuaria igualmente na televisão, com produções musicais para as redes Globo e Manchete. Ocupou a cadeira número 30 da Academia Brasileira de Música, cujo patrono é o compositor Alberto Nepomuceno. Mário Tavares faleceu em 5 de fevereiro de 2003, no Rio de Janeiro, aos 74 anos, de câncer, e sua presença como regente credencia, e muito, este álbum dos Violinistas de Copacabana, elogiado inclusive pela seção “Esquina sonora”, do jornal carioca “Correio da Manhã”, quando de seu lançamento,por volta de setembro de 1960. Um discão!
copacabana
serenata
meditation
cancion de mi alma
czardas
reverie
quem sabe
olhos negros
melodia in f
os barqueiros do volga
* Texto de Samuel Machado Filho