Em sua edição de número 142, o Grand Record Brazil tem a satisfação de apresentar uma cantora que também mostrou seu talento no cinema, como atriz, e ainda hoje lembrada por muita gente. Estamos falando de Luely da Silva Figueiró, seu nome completo na pia batismal, Nasceu em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no dia 26 de setembro de 1935. Cantava no rádio desde a mais tenra idade, tendo sido eleita, em 1957, Rainha do Rádio Gaúcho. Logo depois, mudou-se para São Paulo (residiu também no Rio), e gravou seu primeiro disco, em 78 rpm, pela Continental, apresentando o tango “Yasmin de Santa Mônica” e o bolero “Quero te assim”. Luely foi também estrela do cinema nacional, em filmes como “A doutora é muito viva”, “Casei-me com um xavante”, “Vou te contá” e “Marido de mulher boa”. Esteve também entre as “certinhas do Lalau”, seção que Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, mantinha em sua coluna no jornal “Última Hora”. Em 1958, foi eleita Rainha dos Músicos de São Paulo. Luely foi esposa do compositor Sérgio Ricardo, com quem apresentou o programa musical “Balada”, da TV Continental, Canal 9, do Rio de Janeiro. Atuou também na TV Tupi e na Rádio e TV Record de São Paulo, as chamadas “Emissoras Unidas”. Sua discografia abrange doze discos 78, quase todos pela Continental e o último deles pela RCA Victor, um compacto simples pela Chantecler, em 1967, e apenas dois LPs, “Gauchinha bem querer” (Continental, 1959) e “Nova era” (independente, 1981), este último já oferecido a vocês pelo TM, além de participações em álbuns coletivos. Convertendo-se ao espiritismo, Luely Figueiró deixou a carreira artística e retomou seus estudos, diplomando-se professora de ensino de segundo grau, tendo exercido a profissão por muitos anos até ser aposentada pelo Estado de São Paulo, na virada do século XXI. Dedicou-se à literatura espírita, lançou livros religiosos e se tornou também astróloga. Não cantava mais profissionalmente, mas apenas em encontros comunitários. Sua última aparição foi em agosto de 2008, em São Paulo, durante o show musical de lançamento do livro “A era do rádio”, do pesquisador Waldyr Comegno, onde apresentou-se ao lado de nomes como Denise Duran e Roberto Luna. Luely Figueiró morreu em 6 de dezembro de 2010, aos 75 anos. Nesta edição do GRB, apresentamos catorze preciosas gravações de Luely Figueiró em 78 rpm. Para começar, as músicas do disco RCA Victor 80-2281, gravado em 26 de outubro de 1960, com lançamento em janeiro de 61, por sinal o único de Luely na marca do cachorrinho Nipper. No lado A, matriz L2CAB-1116, a toada “Amor ruim”, de Sérgio Ricardo. E no verso, matriz L2CAB-1117, o samba-canção “Chuva que passa”, de Durval Ferreira , Maurício Einhorn e Bebeto. Durval e Maurício fizeram parte, respectivamente como violonista e gaitista, do grupo Os Gatos. As onze faixas seguintes são da Continental, primeira gravadora de Luely, incluídas, em sua maior parte (exceto “O relógio da saudade”, “A felicidade” e “O nosso amor”), no primeiro LP da cantora, “Gauchinha bem querer”. E a terceira faixa desta seleção é justamente a que deu título ao vinil, toada de Tito Madi que foi gravada originalmente por ele mesmo, em 1957. E Luely a registrou um ano mais tarde, a 22 de abril de 1958, com lançamento pela Continental em julho-agosto seguintes sob número 17565-A, matriz 12078. “A felicidade”, samba clássico da parceria Tom Jobim-Vinícius de Moraes, foi feito para o filme “Orfeu negro”, produção franco-italiana rodada em cores no Brasil, e originalmente exibida nos cinemas daqui como “Orfeu do carnaval”. Interpretado na trilha sonora por Agostinho dos Santos, é aqui oferecido por Luely na gravação que a Continental lançou em agosto de 1959 com o número 17713-A, matriz C-4191. Depois, temos “Eu não sei”, samba-canção de autoria do cantor Lúcio Alves, lançado em maio de 1959 sob número 17664-B, matriz 12181. “O nosso amor” é outro samba da parceria Tom Jobim-Vinícius de Moraes feito para o filme “Orfeu negro” (nos cinemas, “Orfeu do carnaval”), e foi nele interpretado por Elizeth Cardoso. Luely Figueiró o canta aqui em gravação que a Continental lançou em agosto de 1959 sob número 17713-B (o outro lado de “A felicidade”), matriz C-4190. “Quero-quero” é uma valsa campeira em estilo gauchesco, de autoria de Luiz Carlos Barbosa Lessa. É o lado B do segundo 78 de Luely, o Continental 17469, lançado em julho-agosto de 1957, matriz 11974. “Até…”, também conhecido como “Até que…”, é a versão de Oswaldo Santiago para o fox “Till”, de Carl Sigman e Charles Danvers. Foi lançado pela Continental em setembro-outubro de 1958, sob número 17589-B, matriz 12120, e na época foi também gravado por Julie Joy. “Não quero, não posso, não devo”, samba-canção de Dirce Moraes, é o lado B de “Eu não sei”, lançado em maio de 1959, matriz 12181. “Nasce uma pobre menina”, samba-canção de Alcyr Pires Vermelho e Alberto Ribeiro, abre o segundo 78 de Luely, o Continental 17469, lançado em julho-agosto de 1957, matriz 11974, e na mesma ocasião também teve registro de Léo Vaz, na Todamérica. “O relógio da saudade”, a faixa seguinte, é uma verdadeira relíquia para colecionadores, e me foi enviado a pedido pelo pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, lá de Fortaleza (CE), a quem agradecemos a cortesia. Trata-se de um samba-canção de Sérgio Ricardo, com quem Luely foi casada, e saiu pela Continental em julho de 1959 sob número 17698-A, matriz C-4178, estranhamente com o título de “O relógio da vovó”! Por certo o título foi mudado em tiragens posteriores, e Luely também interpretou a música no filme “Marido de mulher boa”, da Herbert Richers. A valsa “Olhe-me, diga-me”, de autoria de Tito Madi, é bastante conhecida e tem vários registros, inclusive do próprio autor. Este foi feito na Continental por Luely em 22 de abril de 1958, com lançamento em julho-agosto do mesmo ano, disco 17565-B (do qual aqui também está o lado A, “Gauchinha bem querer”), matriz 12072. “O relógio da saudade” teve regravações por Rosana Toledo e pelo próprio Sérgio Ricardo. O bolero “Quero-te assim (Te quiero asi, asi)”, de Bernardo Sancristóbal (espanhol radicado no México) e Miguel Prado, em versão de Carlos Américo, é o lado B do 78 rpm de estreia de Luely Figueiró, o Continental 17438, lançado em maio-junho de 1957, matriz 11952. Encerrando esta edição do GRB, o divertido “Xote do Netinho”, de autoria do violonista Ângelo Apolônio, o Poly, em parceria com Victor Dagô, lançado pela Continental em janeiro-fevereiro de 1959 sob número 17635-AZ, matriz 12177. Esta é, portanto, a homenagem que o Grand Record Brazil presta a Luely Figueiró, também uma grande contribuição à preservação de nossa memória musical. Para ouvir e guardar com carinho!
* Texto de Samuel Machado Filho