Finalmente está chegando aos amigos cultos, ocultos e associados do TM uma novíssima edição do Grand Record Brazil, a de número 140. Apresentamos nesta quinzena a primeira de duas partes de um retrospecto dedicado a Paraguassu, certamente um dos pioneiros do disco e do rádio no Brasil.
Batizado com o nome de Roque Ricciardi, o cantor nasceu em São Paulo, a 25 de maio de 1894. Seus pais, italianos, tiveram seis filhos, sendo nosso focalizado o terceiro deles, e primeiro a nascer no Brasil. O falecimento de seu pai, dono de armazém e ferraria, abalou a tranquila vida familiar, e o menino Roque foi logo encaminhado ao trabalho, como tipógrafo, por pouco tempo, e como seleiro, por muitos anos, chegando a mestre no ofício. Desde criança ele estava empolgado com a música e, ainda imberbe, depois do trabalho, já se apresentava em cafés-cantantes, serestas e rodas boêmias, de violão em punho. Mesmo falando perfeitamente o italiano e conhecendo as canções da terra de seus pais, ele só cantava modinhas brasileiras. Em 1908, o grande Eduardo das Neves, em temporada paulistana, tem a oportunidade de ouvi-lo no Café Donato e o convida para o espetáculo que daria. Foi uma emoção inesquecível para o menino de catorze anos. Contava Paraguassu que fez suas primeiras gravações em 1912, em São Paulo, sob o selo Phoenix, mas esses discos não têm sido localizados por nenhum colecionador. Comprovadamente, gravou na pioneira Casa Edison (selo Odeon), em 1926/27, um total de sete discos com catorze músicas, ainda na fase mecânica. Já havia ingressado, em 1924, sem ganhar um só tostão, na pioneira Rádio Educadora Paulista, que funcionava nas torres do Palácio das Indústrias de São Paulo, e onde se cantava “num telefone”. Seus companheiros de então eram Alberto Marino e Américo “Canhoto” Jacomino, sendo que este último Paraguassu conheceu numa seresta, em plena rua. Em 1927, no início da fase elétrica de registros fonográficos, registra na Odeon dois discos com duas músicas. Em 1929, a convite, ingressa no elenco da nóvel Columbia, sob a direção artística do maestro Gaó (Odmar Amaral Gurgel), então com apenas 20 anos de idade. Paraguassu, embora na casa dos 34 anos, já representava a “velha guarda”. Até esse momento, tinha aparecido nos selos dos discos com seu nome verdadeiro, Roque Ricciardi. Cansado de ser chamado de “italianinho do Brás”, escolheu um pseudônimo bem brasileiro, Paraguassu, fazendo questão dos dois “ss”. Recordando episódios da história do Brasil, lembrou-se dos índios Caramuru e Paraguassu e escolheu este último, que aliás era índia, e não índio. E passaria a ser “o cantor das noites enluaradas”. Foi na Columbia que Paraguassu desfrutou de sua fase áurea, entre 1929 e 1937, gravando 77 discos com 146 músicas. Em seguida, suas gravações iriam se espaçar cada vez mais: na Victor (1938), Odeon (idem), novamente na Columbia (1939 e 1942), Continental (1945 a 1949), Todamérica (1953) e Chantecler (1960), perfazendo um total de 101 discos 78 rpm com 192 músicas. Ainda gravaria LPs rememorativos, em 1958 e 1969. Também foi bom compositor, mas não se inibiria em apresentar, como suas, algumas canções tradicionais, inclusive gravadas por outros antes dele. Um expediente sobretudo prático de reservar para si direitos musicais que, na maioria dos casos, não seriam destinados a ninguém. Paraguassu faleceu em sua Pauliceia natal, no dia 5 de janeiro de 1976, aos 81 anos de idade.
De seu extenso e bastante expressivo legado fonográfico, o GRB foi buscar, nesta primeira parte, dezessete preciosas gravações, apresentadas em ordem cronológica. Abrindo esta seleção, temos a modinha “Lua de fulgores”, com acompanhamento ao violão de Américo Jacomino, o Canhoto, gravação Odeon de 1926, disco 122938. Dada como “arranjo” do intérprete, é na verdade a famosa “Lua branca”, de Chiquinha Gonzaga, surgida em 1912 na burleta teatral