E chegamos à edição de número 133 do Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical. Aqui,apresentamos a segunda e última parte de nossa retrospectiva dedicada a esse grande mestre da MPB que foi Pixinguinha (1897-1973). Desta vez, apresentamos 14 raridades de fazer qualquer colecionador vibrar, gravações essas que, em sua maior parte, foram feitas ainda no processo mecânico ou acústico, correspondendo ao glorioso início da carreira do mestre Pizindim, sendo algumas outras já do processo elétrico, quase todas de sua própria autoria.
Para abrir esta seleção de verdadeiras raridades, foi escalada a primeiríssima gravação do mais popular, o mais difundido e o que recebeu maior número de arranjos entre todos os sucessos de Pixinguinha: nada mais nada menos que “Carinhoso”, choro que ele compôs em 1917, mas que ficou engavetado por mais de 10 anos, uma vez que o próprio Pixinguinha o considerava extremamente “jazzificado”. A Orquestra Típica Pixinguinha-Donga fez este histórico registro, que a Parlophon lançou em dezembro de 1928, no início das gravações elétricas brasileiras, com o número de disco 12877-B, matriz 2048. Ressalte-se que, só nove anos mais tarde (1937) é que “Carinhoso” recebeu letra, assinada por João de Barro, o Braguinha, e magistralmente gravada por Orlando Silva. Logo depois, outra relíquia imperdível: a valsa “Rosa”, executada pelo próprio Pixinguinha à flauta, com a maestria habitual, à frente de seu “Choro”. Verdadeira relíquia mecânica da Odeon/Casa Edison, datada de 1917,disco 121365. E outra composição dele que Orlando Silva gravou em 1937, com letra de autoria controvertida, embora a partitura impressa informe que Pixinguinha também fez os versos. Estes, segundo alguns estudiosos, teriam sido escritos, na verdade, por um mecânico do Engenho de Dentro, muito amigo de Pixinguinha, cujo nome era Otávio de Souza. Já da fase elétrica de gravação é o choro “Vamos brincar”, em mais uma magnífica execução de flauta do autor. Saiu pela Odeon em maio de 1928,sob número 10163-A, matriz 1566. E em seguida ainda tem o lado B, “Ainda existe”, matriz 1567, choro com a qualidade habitual do mestre, em composição e execução de flauta. O tango (nada a ver como argentino) “Os dois que se gostam” é gravação mecânica de 1919, disco Odeon /Casa Edison 121613. De 1926 é a gravação do choro “Tapa buraco”, disco Odeon/Casa Edison 123067. Em seguida temos a polca “Pretensiosa”, em solos de bandoneon, por executantes não-identificados no selo original. A gravação saiu pela Parlophon em outubro de 1928, disco 12848-A, matriz 1962. Voltamos depois a ouvir a flauta do então jovem Pixinguinha no seu samba “Eu também vou”, em registro Odeon/Casa Edison de 1926, disco 122100. O tango (brasileiro, é claro) “Os Oito Batutas” alude ao conjunto que o próprio Pixinguinha fundou, e foi gravado por ele à frente de seu grupo em 1919, disco Odeon/Casa Edison 121610. Logo depois, a Orquestra Típica Pixinguinha-Donga executa “Os teus beijos”, samba amaxixado de autoria de Felisberto Martins, que foi pianista e dirigente de gravadora. Registro Parlophon de 24 de outubro de 1928, lançado em dezembro do mesmo ano sob número 12876-B, matriz 2062. A faixa 11 nos traz a gravação original do choro “Recordando”, com o próprio Pixinguinha em outro imperdível solo de flauta. Ele o imortalizou na Odeon em 19 de junho de 1934, mas o disco só saiu em março de 35, sob número 11204-A, matriz 4869. Confira, no volume anterior, a regravação feita por Jacob do Bandolim em 1950, com o título modificado para “Teu aniversário”. Depois temos outro choro clássico do mestre Pizindim na gravação original: o célebre “Lamento” (mais tarde “Lamentos”, no plural) executado pela Orquestra Típica Pixinguinha-Donga. Saiu pela Parlophon em novembro de 1928 com o número 12867-A, matriz 2046. Teve duas regravações por Jacob do Bandolim (a primeira delas apresentada em nosso volume anterior) e receberia letra posterior de Vinícius de Moraes. A mesma orquestra executa em seguida o maxixe “Desprezado”, igualmente do mestre Pizindim, em gravação lançada pela mesmíssima Parlophon em janeiro de 1929, disco 12893-A, matriz 2050. Encerrando com chave de ouro este festival de verdadeiras joias raras, apresentamos o imperdível registro original do tango (depois choro) “Sofres porque queres”, verdadeira obra-prima de Pixinguinha que ele mesmo executa à frente de seu “choro”. Obra-prima que ele imortalizou na Odeon/Casa Edison em 1917, em disco número 121364. Mais tarde ele regravaria a música ao saxofone,em dupla (e com a co-autoria) do flautista Benedito Lacerda. Enfim, são verdadeiras relíquias que, por certo, enriquecerão as coleções de tantos quantos apreciem nossa melhor música popular, sobretudo por seu inestimável valor artístico e histórico. Simplesmente imperdíveis!
* Texto de Samuel Machado Filho