Surgida na Áustria e na Alemanha, a valsa chegou ao Brasil em 1808, com a transferência da corte portuguesa ao país. O gênero foi apresentado em salões onde a elite do Rio de Janeiro dançava e, mesmo com o surgimento da polca, em 1845,a valsa continuou a ter grande aceitação no decorrer da segunda metade do século XIX, que se estendeu,logicamente, até o século XX.
Inúmeros compositores brasileiros conceberam valsas: Ernesto Nazareth, Villa-Lobos, Pixinguinha, Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga etc. O gênero foi inclusive absorvido pela música sertaneja, destacando-se Zé Corrêa e a dupla José Fortuna e Pitangueira. Até hoje, tradicionalmente,a valsa é muito utilizada em casamentos e bailes de debutantes.
Pois hoje o Toque Musical oferece a seus amigos cultos,ocultos e associados uma antologia que reúne algumas das melhores composições brasileiras do gênero valsa.Trata-se do segundo volume de “Valsas brasileiras”, lançado pela Odeon em 1959,com execução a cargo do violinista Tobias Troisi. Nascido em São Paulo, em 1918, Troisi foi considerado por muito tempo o melhor violinista do Brasil. Com acentuada inclinação para a música, formou-se, com distinção e louvor, em 1938, no curso de concertista do Conservatório Musical e Dramático de São Paulo. Com uma bolsa de estudos do governo brasileiro, Troisi percorreu toda a Europa, fazendo cursos de aperfeiçoamento. Embora dedicando-se à música erudita, nunca desprezou os gêneros populares. Mais tarde, foi para o litoral de São Paulo, atuar no Cassino de São Vicente com a orquestra de Luiz Argento. Casou-se com uma santista, e da união resultaram dois filhos.
A convite do maestro Vicente Paiva, Tobias Troisi foi para o Rio de Janeiro, atuando no Cassino da Urca. Quando o jogo foi proibido no Brasil, em 1946, encerrando a era dos cassinos, integrou a fabulosa Orquestra Copacabana, do palestino Simon Bountman, que tocava na Boate Meia-Noite, do Copacabana Palace Hotel. Integrou também a Orquestra do Teatro Municipal de São Paulo. Comparado ao extraordinário violinista francês Georges Boulanger (de quem regravou, entre outras,o clássico “Avant de mourir”, conhecido como “My prayer”), Troisi formou, na década de1960, ao lado do bandoneonista argentino Ramon Torreyra, uma orquestra típica especializada em tangos, talvez a melhor surgida no Brasil.
Tobias Troisi faleceu em Santos, em 1986. Deixou uma discografia escassa porém brilhante, abrangendo seis discos 78 rpm com doze músicas, entre 1951 e 1957, e quatro LPs, entre 1958 e 1960. Neste segundo volume de “Valsas brasileiras”,algumas das melhores e mais expressivas composições do gênero, tais como “E o destino desfolhou”, “Cascata de lágrimas”, “Saudades de Ouro Preto”, “Lágrimas de virgem”, “Caprichos do destino”, assinadas por autores de primeira linha (como Luiz Americano, Claudionor Cruz, e o próprio Troisi, que assina “Ida”). É toda uma história da valsa em território brazuca, magistralmente contada pelo violino de Tobias Troisi. Deliciem-se…
e o destino desfolhou
cascata de lágrimas
sombras que vivem
melodia perdida
dirce
ida
pic nic trágico
saudades de outropreto
amorosa
adda
lágrimas de virgem
caprichos do destino
* Texto de Samuel Machado Filho