Chegando à sua edição de número 115, o Grand Record Brazil apresenta a terceira e última parte da retrospectiva dedicada a Carlos Galhardo (1913-1985), sem dúvida um dos mais queridos e expressivos intérpretes de nossa música popular, um cantor que, de fato, como dizia seu slogan, dispensava adjetivos. Desta feita, estamos oferecendo a nossos amigos cultos, ocultos e associados onze preciosas gravações de Galhardo, verdadeiras joias de seu repertório. Abrindo o programa, temos “Vela branca sobre o mar”, ótimo fox de José Maria de Abreu e Oswaldo Santiago, gravação Victor de 18 de junho de 1937, lançada em setembro do mesmo ano, disco 34200-A, matriz 80469. Fiel às raízes italianas da família, Galhardo depois nos oferece “Guaglione”, palavra que em italiano quer dizer “rapazola” ou “garoto”. É outro fox, este composto lá mesmo na Itália, por Nicola Salerno, o Nisa, e Giuseppe Fanciulli, com letra brazuca do radialista Júlio Nagib. Foi gravado na já então RCA Victor em 3 de dezembro de 1956, indo para as lojas em março de 57 com o n.o 80-1735-B, matriz BE6VB-1396 (curioso é que, um mês antes, a Odeon pôs nas lojas a gravação de Léo Romano, feita porém três dias depois desta de Galhardo, a 6 de dezembro de 56, sendo nosso focalizado, portanto, o primeiro a gravar a versão). Em seguida, a marchinha “Mercador”, de Wilson Batista e Ari Monteiro, do carnaval de 1953. Outra gravação RCA Victor, esta de 7 de agosto de 52, e que chegou às lojas ainda em dezembro sob n.o 80-1047-A, matriz SB-093392. Da safra de Galhardo na Odeon é “Morena faceira”, samba do mestre Ataulfo Alves, gravado em primeiro de junho de 1937 e lançado em outubro do mesmo ano, disco 11522-B, matriz 5586. “Noite sem luar”, nossa faixa seguinte, é uma das inúmeras e bem-sucedidas valsas dos autores de “Boa noite, amor” (prefixo pessoal de Francisco Alves) , José Maria de Abreu e Francisco Matoso. Abreu já era o “rei da valsa” entre os autores, e Galhardo, “rei da valsa” entre os intérpretes, imortalizando “Noite sem luar” na Victor em 18 de junho de 1937, mas com lançamento apenas em março de 38 com o n.o 34299-A,matriz 80470. “Notícia de última hora”, de Benedito Lacerda e Darcy de Oliveira, é um samba do tempo da Segunda Guerra Mundial, em que um pracinha avisa que vai lutar com os países aliados na Itália e retornar vitorioso. De fato, os aliados derrotaram as forças do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), marcando o fim do conflito, em 1945. Destinado ao carnaval de 1943, o samba foi gravado na Victor por Galhardo em 25 de setembro de 42, com lançamento ainda em dezembro, disco 80-0026-A, matriz S-052624. “O homem da valsa”, de Custódio Mesquita e David Nasser, por certo é uma referência ao próprio Galhardo, ele que a registrou na mesmíssima Victor em 11 de fevereiro de 1943, com lançamento em maio do mesmo ano sob n.o 80-0076-B, matriz S-052719. Do início da carreira do cantor é pinçado o samba que vem em seguida, “Para onde irá o Brasil?”, de autoria de Assis Valente, então também iniciante como Galhardo, que o gravou em seu segundo disco, o Victor 33627-A,em 2 de fevereiro de 1933, com lançamento em março do mesmo ano, matriz 65663. Assis havia composto o samba durante a Revolução Constitucionalista de 1932, e foi intimado a dar explicações às autoridades policiais. Seu conteúdo, porém, traz uma mensagem antibélica. O mestre Ataulfo Alves novamente aparece com outro de seus inspirados sambas, ‘Receita”, parceria com João Bastos Filho, gravação Victor de Galhardo em 20 de junho de 1938, porém só lançada em abril de 39, disco 34422-A, matriz 80832. O samba seguinte também é de Ataulfo, agora em parceria com o violonista Claudionor Cruz: o clássico “Sei que é covardia (Mas…)”. E é também gravação Victor do nosso Galhardo, datada de 5 de dezembro de 1938, com lançamento em janeiro de 39 para o carnaval, triunfalmente consagrado como um dos maiores hits dessa folia, disco 34401-A, matriz 80952. Finalizando, a belíssima valsa “Viena do meu coração”, de autoria de dois expoentes do gênero, Paulo Barbosa e Oswaldo Santiago, que nosso “rei da valsa”, Carlos Galhardo, imortalizou na Odeon em 23 de março de 1937, com lançamento em julho do mesmo ano, disco 11492-A, matriz 5557. De fato, um belo fecho para o retrospecto de Carlos Galhardo feito por nosso GRB. E nossas duas próximas edições serão dedicadas ao grande compositor Lupicínio Rodrigues, cujo centenário de nascimento comemoramos neste 2014. Até lá!
* Texto de Samuel Machado Filho
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