Estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 96. Desta feita, apresentamos a primeira de duas partes de uma retrospectiva dedicada à obra musical de um dos maiores compositores do samba carioca: Buci Moreira. Buci veio ao mundo no dia primeiro de agosto de 1909. Seu pai, Guilherme Eduardo Moreira, era violonista e ele, desde pequeno, mostrou vocação para ritmista. Buci também era neto da lendária Tia Ciata, em cuja residência, nas proximidades da não menos lendária Praça Onze, reuniam-se pioneiros do samba. Em 1917, sem deixar sua casa em São Cristóvão, passou a viver também com outra família no mesmo bairro, fazendo companhia a um menino da casa, e começando seus estudos. Em 1922, foi morar com a avó, até a morte desta, em 1924, e de 1925 a 1927, estudou na Escola Bom Jesus, na Ilha de Paquetá. Com a morte de sue pai, em 1928, Buci foi viver com os tios na Praça Onze, ingressando no Colégio Benjamin Constant. No ano seguinte, desfilou pela única vez naquela que é considerada a primeira escola de samba, a Deixa Falar. Foi justamente na Praça Onze que, em 1930, foi descoberto por Francisco Alves, primeiro a gravar uma composição de Buci, o samba “Palhaço”, parceria com Nélson Januário. Nessa ocasião, começou a atuar como ritmista em gravações na Odeon, formando dupla com Waldemar Silva e, depois, com Arnô Canegal. Entre 1936 e 1940, foi diretor de harmonia da Escola de Samba Vê Se Pode, do Morro de São Carlos, da qual foi um dos fundadores e onde, claro, também desfilou. Trabalhou no cinema, com o cineasta Moacyr Fenelon, e em 1943 participou, ao lado de outros sambistas, do famoso filme inacabado de Orson Welles, “It’s all true”. Entre seus sucessos como compositor destacam-se “Anda, vem cá” (neste volume), “Quem pode, pode”, “Por que é que você chora?”, “Em uma linda tarde” e, o mais conhecido, o samba “Não põe a mão”, parceria com Arnô Canegal e Mutt, gravado pelos Titulares do Ritmo e um dos campeões do carnaval de 1951. Buci Moreira faleceu em seu Rio de Janeiro natal, no dia 28 de março de 1982. Neste primeiro volume, apresentamos dez composições de Buci Moreira, interpretadas por cantores de prestígio em seu tempo. Abrindo-o, temos Linda Batista, interpretando o samba “Casa de cômodos”, parceria de Buci com Carlos de Souza, por ela gravado na Victor em 18 de maio de 1944 e lançado em agosto seguinte sob n.o 80-0196-A, matriz S-052964. Ela ainda interpreta aqui “Mau costume’ (faixa 3), samba dos mesmos autores mais Chiquinho Sales, gravado também no selo do cachorrinho Nipper em 15 de junho de 1942, com lançamento em agosto do mesmo ano sob n.o 34954-A, matriz S-052554. Por fim, Linda canta, na faixa 5, o samba “Salve a batucada”, do mesmo trio de autores de ‘Mau costume”, também gravação Victor, esta de 11 de maio de 1942, lançada em julho seguinte com o número 34939-B, matriz S-052514. Na faixa 2, a bossa inconfundível da dupla Francisco Alves e Mário Reis, no samba “Anda, vem cá”, gravado na Odeon em 3 de agosto de 1931, disco 10824-B, matriz 4264. O curioso é que Buci Moreira aparece como autor no selo original, mas na edição impressa, da editora Mangione, o samba é creditado a Francisco Alves, Ismael Silva e Nílton Bastos. Na faixa 4, temos o samba “Você foi a culpada”, parceria de Buci Moreira com o ex-pugilista Kid Pepe, na interpretação dos Quatro Diabos,grupo vocal integrado por estudantes de direito. Saiu pela Odeon em agosto de 1935, sob número 11252-B, aliás o único disco do quarteto. Filha do compositor e instrumentista Heitor Leite Sodré, que adotou o pseudônimo de Heitor Catumbi, a carioca Odaléa Sodré (1924-?) interpreta aqui outro samba da parceria Buci Moreira-Kid Pepe, “Romance da morena”, lançado pela Columbia em 1936 no primeiro de seus três únicos discos, número 8165-B, matriz 1112. Aurora Miranda, irmã de Cármen, vem com a marchinha natalina “Blem blau”, em que Buci tem como parceiros Portello Juno e Vicente Paiva (que a acompanha aqui com sua orquestra), gravação Odeon de 3 de novembro de 1936, lançada em dezembro seguinte sob n.o 11414-A, matriz 5434. O Quarteto de Bronze, que tem sido um mistério quanto a seus integrantes, comparece com o samba “Terra do ferro”, parceria de Buci Moreira com Carlos de Souza e Ely de Almeida, lançado pela Victor em maio de 1942 sob n.o 34925-A. Falando em Cármen Miranda, ela aqui nos apresenta “Dance rumba”, que Buci fez em parceria com um especialista nesse ritmo caribenho, Djalma Esteves. Gravação Odeon de 25 de março de 1937, lançada em julho do mesmo ano, disco 11489-A, matriz 5557. Para encerrar esta primeira parte, temos outra Cármen, a Barbosa, de curta carreira e morte prematura, interpretando o samba “Maior prazer”, parceria de Buci Moreira com Miguel Baúso, em gravação Columbia de 13 de maio de 1939, lançada em junho seguinte sob n.o 55069-B, matriz 153. Semana que vem, amigos cultos, ocultos e associados, mais um pouco da obra musical de Buci Moreira. Até lá!
*Texto de Samuel Machado Filho