Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a primeira parte de uma retrospectiva dedicada a um compositor com várias músicas gravadas, mas sobre o qual pouquíssima coisa se sabe. Estamos falando de Príncipe Pretinho, cujo nome verdadeiro era José Luiz da Costa, nascido no Rio de Janeiro em data ignorada e ali mesmo falecido em 1946. Um personagem tão misterioso quanto fascinante, que muito incentivou a carreira de outro grande nome de nossa música popular, Herivelto Martins, ao apresentá-lo a J.B. de Carvalho, fundador e líder do Conjunto Tupi, no qual Herivelto participou. Nesta primeira parte, apresentamos dezoito composições de Príncipe Pretinho, interpretadas por cantores de prestígio em sua época. Abrindo-a, temos sua primeira composição levada a disco, o samba “Gamela quebrada”, sem parceiro, do carnaval de 1931, gravação Victor de Sílvio Caldas em 13 de dezembro de 1930, lançada bem em cima da folia, em fevereiro, sob n.o 33407-B, matriz 65058. Em seguida, o Conjunto Tupi interpreta a marchinha ”Me dá, me dá”, igualmente de Príncipe Pretinho e ninguém mais, do carnaval de 1933. Outra gravação Victor, esta de25 de outubro de 1932, lançada ainda em dezembro, disco 33599-A, matriz 65569. Francisco Sena (Bahia, c.1900-Rio de Janeiro,1935), primeiro integrante da Dupla Preto e Branco, ao lado de Herivelto Martins, interpreta solo o ponto de macumba “Quem tá de ronda?”, também só de Príncipe Pretinho, gravada na Victor em 25 de maio de 1933 e só lançada em julho de 35 (!), disco 33953-B, matriz 65751. No samba “Tereré não resolve”, do carnaval de 1938, Príncipe Pretinho tem a parceria de Rogério Nascimento. Quem canta é Miguel Baúso (1913-?). em gravação Odeon de 27 de dezembro de 1937, lançada bem em cima dos festejos momescos, em fevereiro, sob n.o 11576-B, matriz 5750. O Trio de Ouro (apresentado inicialmente nos selos “Dalva de Oliveira e Dupla Preto e Branco”, isto é, Herivelto Martins e Nilo Chagas) apresenta-nos as duas músicas de seu disco de estreia, o Victor 34206, gravado em primeiro de julho de 1937 e lançado em novembro seguinte com vistas ao carnaval de 38, ambas apenas e tão-somente de Príncipe Pretinho. Na faixa 6, o lado A, a marchinha “Ceci e Pery”, matriz 80513. Nessa ocasião, Dalva e Herivelto combinaram que seu filho, então prestes a nascer, teria o nome de Ceci, caso fosse menina, e o de Pery, se fosse menino. E foi mesmo Pery, o excelente cantor Pery Ribeiro, outro de saudosa memória. Na faixa 5 está o lado B, matriz 80512, o batuque “Itaquari”. O Trio de Ouro interpreta depois o samba “Palavra de rei”, em que Príncipe Pretinho tem a parceria de Waldemar Crespo. Também destinado ao carnaval de 1938, foi gravado na mesmíssima Victor em 28 de julho de 37, com lançamento um mês antes da folia, em janeiro,sob n.o 34263-A, matriz 80557. Para essa folia, na mesma Victor e no mesmo dia, 28 de julho de 1937, a Dupla Preto e Branco, sem Dalva, ainda gravaria o samba “Bate palmas”, onde o parceiro de Príncipe Pretinho é Boanerges Guedes. Saiu ainda em dezembro de 37, com o n.o 34247-A, matriz 80558, O Trio de Ouro volta a se reunir na faixa seguinte, o batuque “Quem mora na lua”, só de Príncipe Pretinho, gravação Odeon de 27 de junho de 1938, mas só lançada em abril de 39 com o número 11652-A, matriz 5878. No samba “Nosso amor não convém”, do carnaval de 1939, Príncipe Pretinho tem a parceria de Peterpan (José Fernandes de Paula, Maceió, AL, 1911-Rio de Janeiro, 1983). A gravação ficou por conta de Carlos Galhardo, na Victor, em 16 de dezembro de 1938, com lançamento um mês antes dos festejos momescos, em janeiro, disco 34401-B, matriz 80970. Na faixa seguinte, volta o Trio de Ouro, desta vez interpretando o belíssimo samba-rumba “Alvorada”, em que Príncipe Pretinho tem a parceria de um certo E. J. Moreira. Marcou a estreia do trio na Columbia, em gravação de 10 de maio de 1939, com lançamento em junho seguinte, disco 55066-B, matriz 150. Da escassa discografia da cantora Janir Martins, outra cuja biografia é um mistério (dois discos com quatro músicas, ambos pela Columbia), foram pinçadas as duas músicas do primeiro disco, número 55175, gravado em 20 de setembro de 1939 e lançado em novembro do mesmo ano, ambas por ela cantadas em dueto com Jorge Nóbrega, parceiro de Príncipe Pretinho nas duas composições, destinadas ao carnaval de 1940: a marchinha “Eu me rasgo todo”, matriz 215, por certo inspirada no tango “Por vos yo me rompo todo”, de Francisco Canaro, e o samba “Podes crer”, matriz 216. Para esse mesmo carnaval Príncipe Pretinho fez sozinho a marchinha “Na Turquia”, outra gravação do Trio de Ouro na Columbia, em 15 de dezembro de 1939, lançada um mês antes da folia, em janeiro de 40, sob n.o 55200-B, matriz 248. Nessa ocasião, vez por outra, Dalva de Oliveira, que integrava o Trio de Ouro, tinha oportunidade de gravar como solista. É o que acontece na mazurca “Menina de vestido branco”, de Príncipe Pretinho e mais ninguém, gravação Columbia de 24 de maio de 1940, lançada em junho do mesmo ano sob n.o 55218-B, matriz 286. Cármen Costa e Henricão apresentam em dueto dois sambas de Príncipe Pretinho, ambas do disco Columbia 55239, gravado em 19 de julho de 1940 e lançado em agosto do mesmo ano: “Dance mais um bocado”, parceria do próprio Henricão, matriz 307, e “Não quero conselho”, em que o parceiro é Constantino Silva, o Secundino, matriz 308. Para encerrar, Janir Martins interpreta, de seu segundo e último disco, o Columbia 55241-A, a marchinha “É espeto”, parceria de Príncipe Pretinho com Rogério Nascimento, gravada em 20 de setembro de 1940 e lançada em novembro seguinte, matriz 318, por certo para o carnaval de 41. Enfim, um atraente e histórico apanhado da obra musical de Príncipe Pretinho, que continuaremos a abordar na próxima semana. A gente se vê!
*Texto de Samuel Machado Filho