Esta semana, o Grand Record Brazil, “braço de cera” do Toque Musical, apresenta a segunda e última parte da retrospectiva dedicada a João da Baiana (1887-1974). Semana passada, vocês tiveram oportunidade de conferir músicas de João da Baiana na interpretação dele próprio. Nesta segunda parte, apresentamos dez faixas, como sempre de grande importância histórica, artística e cultural, com música desse notável sambista carioca, interpretadas por outros cantores de seu tempo. Abrindo nossa seleção desta semana, temos Patrício Teixeira, que, a exemplo de João da Baiana, nasceu (1893) e faleceu (1972) no Rio de Janeiro. Um dos pioneiros do rádio e da gravação sonora no Brasil, Patrício foi cantor, compositor, violonista e até professor de violão e canto. Algumas de suas alunas foram Aurora Miranda, Linda Batista, as irmãs Danusa e Nara Leão, e a atriz Maria Lúcia Dahl. Neste volume do GRB, Patrício comparece com três sambas de João da Baiana em gravações Odeon, a saber: “Dona Clara (Não te quero mais)”, parceria de João com Ernesto dos Santos, o Donga (também co-autor do pioneiro “Pelo telefone”), lançado em dezembro de 1927,bem nos primórdios da gravação elétrica, sob n.o 10084-B, matriz 1385; “Cabide de molambo”, de João sem parceiro, gravado em 23 de janeiro de 1932 (disco 10883-A, matriz 4402) e “Ai, Zezé”, o lado B desse disco, matriz 4403, tendo como parceiro de João da Baiana o próprio Patrício. Considerada pelo diplomata Pascoal Carlos Magno uma das maiores cantores negras do mundo, a soprano carioca Zaíra de Oliveira (1891-1952) interpreta, da santíssima trindade Pixinguinha-Donga (marido da cantora)-João da Baiana, a batucada “Já andei”, gravação Victor de 24 de novembro de 1931, lançada em janeiro de 32 para o carnaval, disco 33509-A, matriz 65300, com acompanhamento do Grupo da Guarda Velha, formado justamente por Pixinguinha (Rio de Janeiro, 1897-idem, 1973). Também participa da gravação o cantor baiano Francisco Sena (c-1900-1935) primeiro integrante da Dupla Preto e Branco, ao lado de Herivelto Martins, e substituído, após sua morte prematura, por Nilo Chagas. No lado B, matriz 65299, ele e Zaíra interpretam o ponto de macumba “Qué queré”, do mesmo trio de autores. Em seguida, volta Patrício Teixeira, interpretando o interessante samba “Quem faz a Deus paga ao diabo”, de João da Baiana sem parceiro, do carnaval de 1933, lançado pela Columbia em janeiro desse ano sob n.o 22173-B, matriz 381383, e também com acompanhamento orquestral de “São” Pixinguinha. Patrício ainda canta, em dueto com a eterna “pequena notável”, Cármen Miranda,outro samba de João da Baiana e mais ninguém, o delicioso e divertido “Perdi minha mascote”, gravação Victor de 29 de junho de 1933, lançada em dezembro seguinte com o número 33733-B, matriz 65791, com acompanhamento do grupo do violonista Rogério Guimarães, o Canhoto (Campinas, SP, 1900-Niterói, RJ, 1980), também destacado dirigente da marca do cachorrinho Nipper, tendo sido seu primeiro diretor artístico. Cognominado “a maior patente do rádio”, Almirante (Henrique Foréis Domingues, Rio de Janeiro, 1908-idem, 1980), interpreta “Deixa amanhecer”, gravação Odeon de 30 de agosto de 1935, lançada em novembro seguinte com o número 11282-B, matriz 5132. Neste samba, João da Baiana conta com a parceria de outro importante sambista, Alcebíades Barcelos, o Bide (Niterói, RJ-1902-Rio de Janeiro, 1975), que fez com Armando Marçal inúmeros outros clássicos do samba. Carlos Galhardo (1913-1985), o eterno e sempre lembrado “cantor que dispensa adjetivos”, aqui interpreta uma marchinha da parceria João da Baiana-Wilson Batista, “Mariposa” (referência ás mulheres que, como o animal de mesmo nome, só saíam à noite, sendo o sinônimo bem fácil de adivinhar). Destinada ao carnaval de 1941, foi gravada na Victor em 8 de outubro de 40, sendo lançada ainda em dezembro com o número 34682-B, matriz 52018. Para finalizar, apresentamos os Trigêmeos Vocalistas, grupo paulistano formado pelos irmãos Carezzato (ou Carrazatto), Armando, Raul e Humberto, os dois últimos gêmeos. Raul é parceiro de João da Baiana no ponto de macumba (no selo, “afro-brasileiro”) “Ogum Nilé”, gravação Odeon de 31 de maio de 1950, lançada em agosto do mesmo ano sob n.o 13033-A, matriz 8633. Ressalte-se que não há nenhuma semelhança com o “Ogum Nilé” que o próprio João da Baiana gravou em 1957 e que apresentamos na edição anterior, apenas o título é semelhante. Enfim, mais uma edição do GRB que irá enriquecer os acervos dos amigos cultos, ocultos e associados do TM com preciosa e histórica parcela de nossa boa música popular do passado. Até a próxima e divirtam-se!
* Texto de Samuel Machado Filho