A presente seleção nos traz quinze composições de Ismael Silva interpretadas pelo Rei da Voz Francisco Alves (1898-1952), várias delas em que o cantor figura como parceiro, e a maior parte sambas. A primeira faixa, porém, é de Ismael sem parceiro: “Choro, sim”, gravação Victor de 21 de novembro de 1934, e, apesar de constar na edição ter sido feita para o carnaval de 35, só lançada em julho desse ano sob n.o 33946-B, matriz 79784. “Ando cismado” é uma parceria de Ismael com Noel Rosa, gravação Odeon de 27 de outubro de 1932, lançada em dezembro seguinte com o n.o 10936-A, matriz 4532. Um pouco antes, a 29 de junho de 32, e também pela “marca do templo”, Chico gravara uma autêntica obra-prima dos mesmos parceiros, “Para me livrar do mal”, disco 10922-B, matriz 4467. Da parceria Ismael-Chico Viola é “Gandaia”, lado B do disco Odeon 10906, gravado em 23 de março de 1932 e lançado em maio seguinte, matriz 4420. Ambos também fizeram a marchinha ‘Você gosta de mim”, lançada pela Parlophon em dezembro de 1931, visando, claro, o carnaval de 32, sob n.o 13377-B, matriz 131307. Logo em seguida você encontrará o lado A, o samba “Sonhei”, de Chico, Ismael e Nílton Bastos (não creditado na edição), matriz 131306. Também da folia de 1932 são as faixas do Parlophon 13375, lançado junto com o anterior, em dezembro de 31, e que temos logo em seguida: o samba “Amar”, também da santíssima trindade Chico Alves-Ismael Silva-Nílton Bastos, no lado B, matriz 131308, e, no lado A, matriz 131302, a divertida marchinha “Gosto mas não é muito”, inspirada num fato real acontecido após a subida de Getúlio Vargas ao poder: muitos de seus adeptos, antigos e de última hora, almejavam cargos públicos, em tempo de crise braba, e para amenizar a coisa, passou-se a exigir, dos postulantes a tais cargos, requerimento estampilhado, com foto e selo (“Traz o retrato e a estampilha”). Obviamente, aqueles mais chegados ao círculo do poder, os “adeptos do Gegê”, passavam longe de tais exigências, sendo nomeados militares. Aqui, Ismael e Chico são parceiros de Noel Rosa, que fez a segunda parte mas não foi creditado no selo do disco e na partitura impressa. Em seguida, outro produto da santíssima trindade Ismael Silva-Francisco Alves-Nílton Bastos, o samba “É bom evitar”, lançado pela Odeon por volta de outubro de 1931 sob n.o 10837-A, matriz 4271. Eles assinam ainda as faixas seguintes: “Ironia”, lançada pela “marca do templo” em março de 1931, disco 10767-B, matriz 4136, com provável participação ao bandolim de Luperce Miranda, “Meu batalhão”, em que Chico Alves é acompanhado de seu “Esquadrão”, lançada pela Odeon em janeiro de 1931, claro que para o carnaval, com o n.o 10748-B, matriz 4091, “Olê-leô”, para a mesma folia, gravação de 27 de novembro de 1930 também saída em janeiro de 31 pela “marca do templo” (10745-B, matriz 4068) e o lado A desse disco, o conhecidíssimo “Nem é bom falar”, matriz 4067. Comenta-se que Roquette Pinto, criador do radiodifusão brasileira, ao ouvir o verso “Eu quero uma mulher bem nua”, declarou: “Todos nós queremos, mas não é preciso dizer”… “Não é isso que eu procuro”, parceria de Chico Alves e Ismael Silva, gravado na mesma Odeon em 10 de agosto de 1928 e lançado em setembro do mesmo ano com o n.o 10251-B, matriz 1876, foi interpretado pelo Rei da Voz, em dupla com Célia Zenatti, na revista “Eu quero é nota”, encenada no Teatro Carlos Gomes do Rio, e depois incluída em outra revista ali encenada, também com o nome de “Não é isso que eu procuro”. E, para encerrar, justamente o primeiro samba que Ismael Silva teve gravado: “Me faz carinhos”, que a Odeon de sempre lançou em janeiro de 1928 com o n.o 10100-B, matriz 1480 (diz-se que teria sido antes gravado instrumentalmente pelo pianista Cebola, mas esse disco nunca foi localizado). A autoria de “Me faz carinhos”, no selo e na edição, é atribuída apenas a Francisco Alves, que o comprou de Ismael mais por necessidade imediata de dinheiro por parte do compositor, sem esperar o resultado das vendas dos discos e das partituras. Entretanto, por mais que Chico Viola comprasse parcerias, contribuía, e muito, para o aprimoramento das composições de Ismael quando as gravava e, sem o Rei da Voz, é pouco provável que o sambista niteroiense surgisse na MPB de maneira tão decisiva. Chico Viola também cantou ”Me faz carinhos” numa revista muito adequadamente chamada “Você quer é carinho”, igualmente encenada no Teatro Carlos Gomes. Enfim, uma amostra da genialidade de Ismael Silva, a primeira que o GRB oferece para deleite de tantos quanto apreciem o melhor do samba e da MPB. Semana que vem teremos mais Ismael Silva. Encontro marcado!
* Texto de Samuel Machado Filho