Continuando sua vitoriosa trajetória, o Grand Record Brazil chega a sua edição número 71, desta vez homenageando o eterno e festejado rei do samba de breque: Moreira da Silva!
Batizado como Antônio Moreira da Silva, nosso biografado nasceu, e isso não é nenhuma mentira, no dia primeiro de abril de 1902, no bairro carioca da Tijuca, tendo sido criado no morro do Salgueiro. Era o filho mais velho de Bernardino de Sousa Paranhos, trombonista da Polícia Militar, e Pauladina de Assis Moreira (sim, o nome dela era Pauladina mesmo!). Moreira tinha 11 anos quando teve a infelicidade de perder seu pai, o que o obrigou a abandonar precocemente a escola para ingressar no mercado de trabalho. Foi empregado de fábricas de cigarros e tecelagens, e também motorista de praça (comprou um táxi aos 19 anos) e de ambulância, tendo-se casado em 1928. Ao mesmo tempo, freqüentava rodas de malandros e boêmios.
Em 1932, Moreira lança seu primeiro disco, na Odeon, interpretando dois pontos der macumba de Getúlio “Amor” Marinho: “Ererê” e “Rei de umbanda”. Mais tarde, obtém seu primeiro grande sucesso, na Columbia, com o samba “Arrasta a sandália”, uma das músicas mais cantadas no carnaval de 1933. Outros sucessos, além dos presentes nesta edição do GRB: “Implorar”, “Jogo proibido”, “Na subida do morro”, “Amigo urso”, “Doutor em futebol”, “É batucada”, “O rei do gatilho” (com o qual ganhou o apelido de Kid Morenguera), “O último dos moicanos”, “Os intocáveis” (inspirado no seriado americano de TV de mesmo nome), “Morenguera contra 007”, “O sequestro de Ringo”, “Supermorenguera” (que gravou em dupla com Cyro Aguiar), etc. Seu último trabalho em disco, lançado em 1995, foi o CD “Os três malandros in concert”, gravado juntamente com Bezerra da Silva e Dicró, uma brincadeira com os “três tenores”, Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo.
Segundo os que conheceram o grande Morenguera, sua imagem de malandro e boêmio não passava de um tipo, um personagem. Era um cidadão exemplar, de vida regrada, não bebia, não fumava, e sempre cumpriu à risca seus deveres, em uma trajetória de vida longa e repleta de acontecimentos surpreendentes. Primeiramente como seresteiro, depois como um autêntico mestre do samba de breque, tornou-se um verdadeiro mito, uma autêntica unanimidade na história da música popular brasileira. Moreira da Silva faleceu no dia 6 de junho de 2000, em seu Riode Janeiro natal, vítima de falência múltipla de órgãos.
Para esta edição do GRB, foram pinçadas treze faixas de excelente qualidade, uma seleção que agradará a todos aqueles que conhecem o trabalho do grande Morenguera e vai permitir os que não conhecem de desfrutar um pouco de seu trabalho. Para começar, temos “Esta noite eu tive um sonho”, que o próprio Moreira assina com Wilson Batista, gravação Victor lançada em junho de 1941, disco 34754-A. Mostra como um alemão é enganado no jogo de chapinha, no qual se usavam três tampinhas de cerveja, com um miolo de pão dentro de uma delas. “Antes porém” leva a assinatura de Djalma Mafra e Cyro Monteiro, e saiu pela Odeon em junho de 1943, com o número 12315-A. “Acertei no milhar” é um clássico indiscutível, assinado por Geraldo Pereira e Wilson Batista, tendo sido editado pela mesma Odeon em agosto de 1940 sob número 11883-B. Teve regravações pelo próprio Moreira e por Jorge Veiga, entre outros. “Olha a cara dela” é uma marchinha do Morenguera em parceria com Geraldo Pereira, e saiu pela Victor bem em cima do carnaval de 1941, em fevereiro, sob n.o 34717-A. Ismael Silva e José de Almeida assinam “Maestro, toque aquela”, editado pela Odeon em dezembro de 1943, visando evidentemente o carnaval de 44, sob n.o 12390-B. Desse disco também foi escalado o lado A, “Samba pro concurso” (faixa 10 de nossa seleção), outra parceria do Morenguera com Geraldo Pereira. “Com açúcar”, a faixa 6, é também do Moreira, em parceria com Darcy de Oliveira, e saiu pela Victor em dezembro de 1940 para o carnaval de 41, com o número 34686-B. “O que tem Iaiá”, de Getúlio “Amor” Marinho e Antonico do Samba, é de 1937, lançado pela Columbia sob n.o 8249-B. “Amor” também assina sozinho “Na Favela”, lançado pela Odeon em 1932 com o número 10896-A. Em seguida temos o lado B, “Eu sou é bamba”, do mesmíssimo autor. “Nicolau” é de João da Baiana e Ari Monteiro, e saiu pela Odeon bem em cima do carnaval de 1942, em fevereiro, com o n.o 12107-A. Para finalizar, dois sambas de Geraldo Pereira em parceria com o próprio Morenguera, gravados na Odeon: “Lembranças da Bahia”, parceria com o próprio Morenguera, editado em agosto de 1942 com o n.o 12186-A, e “Voz do morro”, lançado para o carnaval de 1943, em janeiro, sob n.o 12252-B. Uma homenagem à altura que o GRB presta ao eterno Moreira da Silva, que foi, é e sempre será “o tal”!
Texto de SAMEUL MACHADO FILHO