Linda Rodrigues 3 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 57 (2013)

E chegamos, nesta edição do Grand Record Brazil, a de número 57, à terceira e última parte da retrospectiva por nós dedicada à cantora e compositora Linda Rodrigues. E, de acordo com reportagem publicada pela “Revista do Rádio” em 1963, Linda era mesmo carioca, do bairro da Tijuca. Formou-se em enfermagem pela Escola Ana Nery, atendendo a um pedido de sua mãe, mas jamais exerceu a profissão. Linda se apresentou artisticamente como cantora pela primeira vez em 1935, na Rádio Transmissora carioca, sob a orientação de Renato Murce, atuando com outros futuros astros da MPB e então também amadores como ela: Emilinha Borba, Ciro Monteiro, Orlando Silva e Odete Amaral. Linda atuou dois anos na Rádio Clube do Pará, em Belém, cidade onde também iniciou seus estudos de enfermagem, e ao regressar a seu Rio de Janeiro natal, cantou na Rádio Cruzeiro do Sul. Em 1939, fez sua primeira viagem artística, atuando na Feira de Amostras do Recife (PE), e também passou dois meses na Bahia. Voltando ao Rio, foi contratada pela lendária Rádio Nacional. Também atuou em São Paulo, na PRG-2, Rádio Tupi (então “a mais poderosa emissora paulista”) e em shows, no ano de 1940. De volta a seu Rio natal, foi contratada para cantar nos cassinos da Urca e Icaraí. Em 1943, Linda transfere-se para a PRG-3, Rádio Tupi do Rio (“o cacique do ar”) e troca a Urca pelo Cassino Atlântico. Volta mais tarde ao Icaraí, onde fica até a proibição do jogo no Brasil, em 1946. De 1945 a 1957, com uma interrupção durante um período em que adoecera, Linda atuou na Rádio Mayrink Veiga, para a qual voltou em 1962, desta feita ficando um ano, transferindo-se para a Rádio Mauá, onde encerrou sua trajetória radiofônica.

E é com este volume que encerramos o retrospecto da carreira de Linda Rodrigues em disco, iniciada, como vocês bem se lembram, em 1945. Desta feita, apresentamos 13 preciosas e históricas gravações. Abrindo nossa seleção da semana, as faixas de seu segundo 78 rpm na RCA Victor, n.o 80-1798, gravado em 21 de março de 1957 e lançado em junho seguinte, ambas sambas-canções: “Pianista”, de Irany de Oliveira e Ari Monteiro, matriz 13-H2PB-0067 (curiosamente regravado por Cauby Peixoto em 1989), “Comentário barato”, de autoria do violonista Jayme Florence, o Meira dos regionais, e J. Santos, matriz 13-H2PB-0068. De seu terceiro disco na marca do cachorrinho Nipper, destinado ao carnaval de 1958, n.o 80-1901, apresentamos o lado B, o samba “Quando o sol raiar”, de Mirabeau Pinheiro (também co-autor dos clássicos “Cachaça”, “Jarro da saudade” e “Tem nêgo bebo aí”, entre outras), Sebastião Mota e Urgel de Castro. Gravado em 9 de outubro de 1957 e lançado em janeiro de 58, matriz 13-H2PB-0272, também fez parte do LP coletivo “Carnaval RCA Victor – volume 1” (não esquecendo de que esta era uma época de transição de formatos, do 78 para o vinil, que desbancou de vez a quebradiça bolacha de cera em 1964). A 28 de janeiro de 1958, Linda grava “Sereno no samba”, de Aldacir Louro  e Dora Lopes, matriz 13-J2PB-0345, e, fiel à dor-de-cotovelo que era sua especialidade, um bolero dela mesma em parceria com o mesmo Aldacir, “Nada me falta”, matriz 13-J2PB-0346. Gravações estas que foram para as lojas em abril do mesmo ano com o n.o 80-1935.  Já para o carnaval de 1959, a primeiro de outubro de 58, Linda Rodrigues grava duas composições próprias com parceiros: o samba “Tem areia” (com José Batista), matriz 13-J2PB-0499, e a “Marcha da folia” (com Aldacir Louro e Silva Júnior), matriz 13-J2PB-0500, lançadas um mês antes da folia, em janeiro, com o n.o 80-2025. Em 27 de janeiro de 1959, Linda grava seu último disco na RCA Victor, n.o 80-2054, lançado em abril seguinte. Abrindo-o, um bolero que fez com Aldacir Louro, “Meu romance”, matriz 13-K2PB-0577 (regravado por Francisco Carlos em 1985). No verso, matriz 13-K2PB-0578, o samba-canção “Mesa discreta”, de Elias Cortes. Em seguida, por causa de mudanças na direção artística da RCA Victor, Linda Rodrigues teve rescindido seu contrato com a empresa. Um ano mais tarde, lança seus dois últimos 78 rpm, pela Chantecler: em agosto, sai o disco 78-0297, que abre com o clássico samba-canção “Negue”, de Adelino Moreira em parceria com o radialista Enzo de Almeida Passos (criador dos programas “Telefone pedindo bis” e “A grande parada Brasil”), matriz C8P-593, lançado em janeiro do mesmo ano por Roberto Vidal e inúmeras vezes regravado (em 1978, Maria Bethânia o reviveu com sucesso em seu LP “Álibi”). No verso, matriz C8P-594, um samba-canção da própria Linda mais um certo Castelo: “Tenho moral”. E, em novembro de 1960, sai o disco 78-0357, que abre com o samba-canção “Companheiras da noite”, dela mesma com Aylce Chaves e William Duba, matriz C8P-713, e no verso, matriz C8P-714, apareceu a segunda gravação que fez para o clássico “Lama”, de Paulo Marques e Aylce Chaves. “Companheiras da noite”, por sinal, deu título àquele que, ao que parece, seria seu único LP gravado (Chantecler CMG-2119), editado em 1961, e no qual as três outras faixas que gravou na “marca do galinho madrugador” também apareceram, sendo a regravação de “Lama” a faixa de abertura. Enfim, é com muita satisfação e a alegria do dever cumprido, que encerramos esta retrospectiva que o GRB dedicou a Linda Rodrigues, agradecendo a imprescindível colaboração do amigo Alberto Oliveira. Como percebem vocês, um esforço que valeu a pena, e muito!

Texto de Samuel Machado Filho

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