Ê trem bão… Eis a segunda parte da retrospectiva que o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil dedica aos eternos e inesquecíveis Tonico e Tinoco. Dupla que tem em seu respeitável currículo, inclusive, atuações no cinema. Estrearam na sétima arte em 1949, participando de “Luar do sertão”, primeiro filme brasileiro do italiano Mário Civelli (1923-1993), que teve um remake em 1971, sob a direção de Oswaldo de Oliveira, e do qual a dupla também participou. Também atuaram em “Lá no meu sertão” (1963), “Obrigado a matar” (1965), “Os três justiceiros” (1972), “A marca da ferradura” (do mesmo ano), “O menino jornaleiro” (1982) e “A marvada carne” (1983). Enfim, caipiras versatilíssimos.
Prosseguindo esta retrospectiva da eterna “dupla coração do Brasil”, apresentamos onze preciosos fonogramas, todos originalmente da Continental. Em ordem cronológica de lançamento são estes: para começar, a primeiríssima gravação da dupla: o cateretê “Em vez de me agradecer”, de autoria do Capitão Furtado (Ariowaldo Pires, sobrinho de Cornélio Pires, pioneiro na divulgação da música caipira em disco), em parceria com Jayme Martins e o violonista Aymoré. Feita em 26 de novembro de 1944, matriz 10324, era só um teste, uma “prova”, como se dizia na época. Quando eles foram gravar o verso do 78, cantaram tão alto (como faziam lá na roça)… que o microfone estourou! E a Continental os puniu com seis meses de aulas de canto para educar a voz e voltar a gravar… Para sorte deles, uma música que deveria entrar no último disco lançado pela dupla Palmeira e Piraci, que teria no lado B “Salada internacional”, foi proibida pela censura do Estado Novo, e o jeito foi usar justamente “Em vez de me agradecer” como lado A desse disco, o Continental 15385. Agradaram em cheio!
Depois apresentamos o lado B do primeiro disco completo da dupla, de n.o 15417, gravado em 4 de agosto de 1945 e lançado em setembro seguinte, matriz 10453: a moda de viola “Porto Esperança”, mesmo nome de um distrito da cidade de Corumbá, Mato Grosso do Sul, onde se passa a narrativa.
O 78 seguinte é o de número 15447-B, gravado em 8 de agosto de 1945 e lançado em outubro do mesmo ano, matriz 10470: outra moda de viola das boas, “Moreninha”, de Tonico sem parceiro.
Temos depois as duas faixas do disco 15655, gravado em 10 de abril de 1946 e lançado em junho seguinte. O lado A, matriz 10581, é outro modaço de viola, “Destino de caboclo”, de Tonico e Aldo Renatti, No verso, a matriz 10580 nos traz o recortado mineiro “Ai, meu bem”, de Piraci e Geraldo Costa.
Completamos depois o disco 15706, gravado em primeiro de junho de 1946 e lançado em setembro seguinte, apresentando o lado B, correspondente à matriz 10605, o rasqueado “Adeus, morena, adeus”, de Piraci e Luiz Alex, este último não creditado no selo original como co-autor.
Nossa próxima faixa é o lado A do disco 15795, gravado em pleno feriado de Tiradentes, 21 de abril de 1947, e lançado em julho seguinte, matriz 10707, a moda de viola ”A cruz do caminho”, de Anacleto Rosas Júnior (autor de inúmeros hits do sertanejo de raiz, como “Baldrana macia”, “Os três boiadeiros” e “Burro picaço”) e Arlindo Pinto, outro compositor bastante considerado no gênero, tendo em seu currículo parcerias com Mário Zan (“Chalana”, “Balanceio”) e Palmeira (“Baile na tuia”). Confira em nossa edição anterior o lado B, que é o clássico “Tristeza do jeca”.
Passamos em seguida às duas músicas do Continental 15796, gravado também em 21 de abril de 1947, e lançado no mesmíssimo suplemento de julho daquele ano. No lado A, matriz 10705, Arlindo Pinto entra novamente em cena, desta vez assinando em parceria com Geraldo Costa a moda de viola “Boiadeiro entrevado”. No verso, matriz 10704, Geraldo Costa assina com o acordeonista Mário Zan (o consagrado autor de “Nova flor”, “Quarto centenário”, “Chalana”, “Festa na roça” etc.)o recortado mineiro “Que lucro dá?”, inclusive com o próprio Mário puxando o fole no acompanhamento.
Por fim, o disco que encerra esta nossa segunda parte é o de número 15819, gravado em 30 de junho de 1947 e lançado entre agosto e outubro do mesmo ano. No lado A, matriz 10727, o cateretê “Você sabe onde eu moro”, de Piraci e Geraldo Costa, de novo com a sanfona do mestre Mário Zan no acompanhamento, mais o violão do co-autor, Piraci. No verso, matriz 10726, a moda de viola “Destinos iguais”, de autoria do mesmo Capitão Furtado que os descobriu, em parceria com o professor Ochelcis Laureano, paulista de Sorocaba e autor do clássico “Marvada pinga”, um dos eternos carros-chefes de Inezita Barroso. Curiosa, aliás, é a composição de seu nome: “O” (artigo masculino), “chel” (segunda sílaba do nome da mãe, Rachel) e “cis” (sílaba do meio do nome do pai, Francisco), ficando “Ochelcis”. Com esta interessante curiosidade, encerramos esta resenha do segundo volume que o GRB dedica a Tonico e Tinoco, a eterna e insubstituível “dupla coração do Brasil”!
* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO