Amigos cultos e ocultos, já chegamos à sétima edição do Grand Record Brasil. Sete, dizem, é conta de mentiroso, mas a diversão que você vai ter aqui é cem por cento verdadeira! Aqui focalizamos cinco das mais importantes cantoras brasileiras, em fonogramas raros e autênticos itens de colecionador.
Para início de conversa, aqui está Carmélia Alves, a “rainha do baião”. Nascida na Quarta-Feira de Cinzas de 1923 (14 de fevereiro), estreou em disco na Victor, em 1943, interpretando “Deixei de sofrer” (Popeye do Pandeiro e Dino Sete Cordas) e “Quem dorme no ponto é chofer” (Assis Valente), sendo que a própria Carmélia pagou os custos de gravação e prensagem (quatrocentos mil-réis!). O disco fez sucesso, mas Carmélia só voltaria às gravações em 1949, através da Continental. É dessa fase o disco que apresentamos aqui, de número 16413, lançado entre julho e setembro de 1951. “No mundo do baião” é um delicioso popurri que ocupa os dois lados do disco (matrizes 2607-08), no qual foram inseridas músicas dos mais variados autores desse gênero. No lado A, apenas músicas de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, tipo “Asa branca“ e “Paraíba”, e no verso composições de outros autores que se dedicaram ao baião: Hervê Cordovil, Mário Vieira, e Braguinha, o “João de Barro”. Tudo com o reforço do grande acordeonista Sivuca e de seu conjunto. Outra cantora aqui apresentada também era de baião: a paulistana Vitótia de Martino Bonaiutti, aliás Marlene, tida como rival de Emilinha Borba, mas na realidade ambas eram muito, muito amigas (não é de hoje que tem marqueteiro, não é mesmo?).E eis Marlene interpretando um baião do mestre Haroldo Lobo em parceria com Rômulo Paes: a “Canção das noivas”, disco Continental 16556-B, lançado em maio-junho de 1952, matriz C-2843. Em seguida encontramos a amazonense (de Manaus) Violeta Cavalcante. E desta vez em clima de carnaval, apresentando duas músicas para a folia de 1955. Gravado na Odeon em 28 de setembro de 1954, com lançamento ainda em dezembro sob número 13741, o disco traz no lado A, matriz 10309, a “Marcha do cacoete”, de Paulo Menezes e Mílton Legey, e no verso, matriz 10308, o samba “Madrugada”, que tem como parceira a“pianeira” Carolina Cardoso de Menezes, uma das melhores que o Brasil já teve, conhecida por seu jeito brasileiríssimo de dedilhar as notas do piano, e que assina a música ao lado de Jota Leite e Orlando Reis. Bem apropriado para estes dias pré-carnavalescos atuais… Zezé Gonzaga, que já havia aparecido anteriormente na coletânea de Natal do GRB (e com uma faixa de fins de 1951 que também aqui aparece, “Um sonho que sonhei”, Sinter 10.00.114-B,matriz S-245) agora volta com dois discos, aliás dois e meio: o Sinter 265, lançado em setembro de 1953,trazendo no lado A, matriz S-575, um baião muito conhecido de Miguel Gustavo: “É sempre o papai”. Naquele ano, inclusive, o Dia dos Pais foi instituído no Brasil por iniciativa do jornal carioca “O Globo”, visando atrair anunciantes do comércio (em São Paulo só chegaria dois anos mais tarde). “É sempre o papai” foi também gravado por Marlene e Jorge Veiga. O lado B, na verdade, é um relançamento, pois originalmente foi o lado A do 78 de “Um sonho que sonhei”, matriz S-244, de 1951. E a “Valsa de aniversário”, composta por Joubert de Carvalho. Autor de clássicos da MPB como “Taí”, “De papo pro á” e “Minha casa”. Prudentemente, o selo do original de 51 está aqui reproduzido. O outro disco de Zezé aqui apresentado é o Columbia (hoje Sony Music) CB-10273,lançado em agosto de 1956. No lado A, matriz CBO-777, a versão do radialista paulista (de Sorocaba) Júlio Nagib para o beguine italiano “Arrivederci, Roma”, grande hit de Teddy Reno naquele ano. Esta mesma versão foi gravada também por Rogéria (seria o famoso travesti?), Neuza Maria e Wilson Roberto. No verso do disco, matriz CBO-778, uma simpaticíssima toada de Bruno Marnet, “Moreno que desejo”, em ambas as faces acompanhada de conjunto e coro. Finalmente, vem à nossa lembrança o nome de Zilah Fonseca (Yolanda Ribeiro Angarano, São Paulo, 1929-Rio de Janeiro, 1992). Ela aqui comparece, assim como Violeta Cavalcanti, em clima bem carnavalesco, através de um disco que lançou pela Columbia, mais tarde Continental, em janeiro de 1940, número 55197, com duas marchinhas para a folia daquele ano: o lado A, matriz 3776, tem “Pulga maldita”, de Francisco Malfitano sobre tema popular. No verso, matriz 3777, “Pigmalião”, também de Francisco Malfitano em parceria com Eratóstenes Frazão (pra quem não sabe, ele também é co-autor do clássico carnavalesco “Cordão dos puxa-saco”).Este, portanto, é o sétimo e feminino volume do GRB, que certamente irá proporcionar agradáveis momentos de recordação e entretenimento. Divirtam-se!
marcha do cacoete – violeta cavalcante
madrugada – violeta cavalcante
é sempre o papai – zezé gonzaga
festa de aniversário – zezé gonzaga
um sonho que eu sonhei – zezé gonzaga
moreno que desejo – zezé gonzaga
arrivederci roma – zezé gonzaga
pulga maldita – zilah fonseca
pigmalião – zilah fonseca
canção das noivas – marlene
no mundo do baião I – carmélia alves e sivuca
no mundo do baião II – carmélia alves e sivuca
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO