Mas figuras como Ely Camargo estão acima, bem acima desse patamar. Embora esteja inserida no universo musical de nossas raízes, do tradicional ou popular, paradoxalmente podemos dizer que Ely Camargo é uma erudita. Sua relação com o tradicional é profunda e a acompanha desde a infância. Herdou do pai, o compositor Joaquim Edison Camargo toda a sua riqueza musical e foi além. Pesquisadora respeitada, não apenas no país, já representou o Brasil em diversos momentos levando aos estrangeiros a nossa cultura, mostrando ao mundo que a música brasileira não se resume apenas em samba e bossa nova. Neste instante me vem a cabeça um pensamento…, o quanto temos deixado de lado e esquecidas as nossas verdadeiras tradições. Temos trocado nosso ouro bruto por bijuterias. As novas gerações só conseguem ver maracatu, toadas, maxixe, côco, samba e tantos outros ritmos maravilhosos que temos, se estiverem temperados ou decorados com raps, funks, reggaes e punks. É como botar gelo uma boa pinga de Salinas. Por essas e por outras é que eu insisto em apresentar aqui mais algumas vezes esta ilustre figura. No que depender de mim, ainda teremos outros discos dela por vir.
A Chantecler foi um selo criado no inicio dos anos 60, especialmente para lançar artistas, descobrir novos valores e revela-los ao Brasil. Durante sua existência ele cumpriu bem o papel, figurando entre seus lançamentos os primeiros e mais famosos discos de Ely Camargo.
Para hoje, vamos como o belíssimo “Outras Canções de Minha Terra”, também compreendido como sendo o quinto volume da série “Canções de Minha Terra”. Neste álbum ela continua resgatando temas tradicionais. É bom lembrar que “as canções de minha terra” não se referem apenas à música de Goiás, mas de todo o Brasil. Temos acompanhando Ely o grupo vocal Os Titulares do Ritmo e a viola de Zé do Rancho. Os arranjos são dos maestros Zico Mazargão e Jorge Kazsás. Mais um disco nota 10! Confiram o toque…
mamãe iemanjá
canto chorado
xodó
mulé rendeira
sodade, meu bem, sodade
biá-tá-tá
morena, morena
meu barco é veleiro
boneca de pano
rancheira de carrerinha
eterna saudade
jornada de iapinha
meu limão, meu limoeiro
prenda minha
distante da pátria
dança de caboclo
preto do corcovado