O TM põe hoje em foco uma cantora surgida nos tempos da Jovem Guarda, que, a exemplo de Sérgio Reis, abrigou-se entre os intérpretes de música sertaneja. Trata-se de Nalva de Fátima Aguiar, mineira de Tupaciguara, nascida em 9 de outubro de 1945, e carinhosamente conhecida como rainha das festas de peão de boiadeiro, título que ganhou por cinco vezes. Filha de um alfaiate que tornou-se dono de hotel, Nalva sonhava em ser cantora desde muito pequena, e com sete anos já estudava acordeão, instrumento do qual tornou-se mais tarde professora. Um pouco mais tarde, passou a cantar em festas e rádios do Triângulo Mineiro, e na TV Triângulo de Uberlândia . Na primeira metade dos anos 1960, participou de um disco da dupla Nízio e Nestor. Em 1966, atraída pela Jovem Guarda, mudou-se para São Paulo e gravou seu primeiro disco, um compacto simples com as músicas “Garota diferente” e “É o amor”. Um ano depois, representou Minas Gerais em um concurso da lendária Rádio Nacional do Rio, interpretando, em inglês, o clássico country “Jambalaya”. Atuou ainda no cinema, em filmes como “Adorável trapalhão”, “Dois mil anos de confusão” e “O conto do vigário”. Em 1971, gravou seu primeiro LP, “Nalva”, fazendo sucesso com “José (Joseph)”, do francês Georges Moustaki em versão de Nara Leão, já gravada antes por Rita Lee. Em meados da década de 1970, passou a dedicar-se à música sertaneja, lançando, em 1975, um compacto simples com “Beijinho doce”, de Nhô Pai, regravação de um antigo sucesso das Irmãs Castro, que interpretara no filme “O conto do vigário”, e vendendo mais de 500 mil cópias. Tornou-se uma das mais importantes figuras femininas da música sertaneja, e é pioneira do gênero. Nos anos 90, afastou-se das gravações, tendo morado durante longo período na América do Note, entre o Canadá e os EUA, onde recebeu o título de “Rainha da Música Country no Brasil”. Voltou ao disco em 1999, lançando um CD com participações especiais de Chitãozinho e Xororó, Ivan Lins, Sérgio Reis e do locutor de rodeios Barra Mansa. Em 2010, foi uma das convidadas de Roberto Carlos para o especial de TV “Emoções sertanejas”, lançado depois em CD duplo. Da extensa discografia-solo de Nalva Aguiar (catorze álbuns, entre LPs e CDs, e muitos compactos), o TM foi buscar, para seus amigos cultos e ocultos, o quarto LP. É “Vale prateado”, lançado pela CBS em 1977, com direção de produção de Tony Bizarro, e arranjos de outro “cobra”, Eduardo Assad, sob a direção artística de Jairo Pires. Aqui, Nalva mostra sua disposição de entrar de sola na música sertaneja, regravando “Tá de mal comigo” (que aliás voltou a ser sucesso em sua voz), “Cabecinha no ombro”, “Coração da pátria” e “Judiaria” (esta, uma guarânia de Lupicínio Rodrigues). E, para aproveitar a onda da “discomusic”, ela revive, nesse ritmo, o clássico “Lili”, versão de Haroldo Barbosa para a música-tema do filme de mesmo nome, produção MGM de 1953. O lado compositora de Nalva é expresso na faixa “Maria da Galileia”, parceria dela com Itamar e Alberto Luiz. Há ainda trabalhos de Marcelo Costa (“Belém do Pará”), Guilherme Lamounier(“Força de ser feliz”), e da dupla Mílton Carlos-Isolda (“Vou aprender a criar galinhas e filhos”), sendo que Isolda também assina a versão que dá título ao disco, “Vale prateado”. Três composições de Edvaldo Santana e Fernando Teles, “Pura ilusão”, “Pé de poeira” e “Lampião pintou por lá”, completam este trabalho de Nalva Aguiar, sucesso quando de seu lançamento e merecedor desta postagem de hoje do TM.
lili
maria da alileia
vou aprender a criar galinhas e filhos
pura ilusão
tá de mal comigo
judiaria
vale prateado
pé de poeira
força de ser feliz
lampião pintou por lá
belém do pará
coração da pátria
cabecinha no ombro
*Texto de Samuel Machado Filho