Senhor Ouve Teu Povo (1973)

Fundada no dia 5 de março de 1901, como oficina tipográfica, e com sede na cidade de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro, a Editora Vozes é a mais antiga casa editorial brasileira em funcionamento. Pertencente aos frades franciscanos, a Vozes privilegia especialmente três grandes áreas: cultura, religião e catequese. Está entre as cinco maiores editoras do Brasil, produz 15 novos títulos a cada mês, além de reimprimir outros 30 ou 40, e tem seu lucro reinvestido na própria empresa e destinado a obras sociais. Durante o período de repressão, nos anos 1970, a editora destacou-sepela corajosa publicação de obras em defesa da liberdade, tais como “Tortura nunca mais” e “A voz dos vencidos”. A Vozes tem sido ainda, desde seus primeiros tempos, o maior veículo de comunicação religiosa do Brasil, além de possuir uma linha editorial segura e diversificada, provando que, ao contrário do que muitos insistem em dizer, nosso país desfruta de um imenso potencial dentro da indústria cultural. O álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos, lançado em 1973 sob o selo RCA Camden, é justamente uma co-produção da gravadora do cachorrinho Nipper com a Editora Vozes. É “Senhor, ouve teu povo”, gravado no Rio de Janeiro, que contou com arranjos e regências de um verdadeiro “cobra”, Paulo Moura, e a produção de Jorge Santos. Suas doze faixas foram extraídas do livro “Cantos e orações”, antes denominado “Cecília”. Editado, claro, pela Vozes, já tinha vendido, até aquele momento, mais de um milhão de exemplares, e é sucesso permanente do catálogo da editora.  Conforme explica a contracapa, o disco é “a primeira tentativa de integração da música popular brasileira em todos os seus ritmos e também com sentido religioso”, com preocupações inclusive ecológicas, ou seja, nada mais atual. Para interpretar as músicas foram designados os cantores João Luiz, Ricardo de Assis, Cidinho, Vânia e Aline (nada a ver com Aline Barros, atual estrela gospel). Os destaques ficam por conta de duas músicas assinadas por mestres do samba: a faixa-título, “Senhor, ouve teu povo”, de Zé Kéti, com João Luiz, e “Bom é louvar o Senhor”, de Paulinho da Viola, com Aline. No mais, este é um trabalho primoroso, que nos dá uma ideia do que se fazia no Brasil em matéria de música católica, nesse tempo, bem antes da explosão dos “padres cantores”, tipo Marcelo Rossi, Fábio de Melo e Reginaldo Mazzotti (o padre Zezinho veio muito antes deles, nos anos 1960). Um álbum pioneiro, e, por isso mesmo, digno de merecer a postagem do meu, do seu, do nosso Toque Musical!

prova de amor

o pão de deus

o vosso coração

bendigamos ao senhor

lá no azul do céu

todos saberão

senhor ouve teu povo

aleluia eu sou o pão

vou primeiro recociliar-me

bom é louvar o senhor

que poderei retribuir

senhor tende piedade



*Texto de Samuel Machado Filho

Chacrinha & Chacretes – Cantam Para Todas As Festas (1985)

É incontestável a importância de José Abelardo Barbosa de Medeiros, ou mais simplesmente Chacrinha (Surubim, PE, 30/9/1917-Rio de Janeiro, 30/6/1988), para a comunicação de massa no Brasil. No rádio e principalmente na televisão, usando roupas exóticas e espalhafatosas, ele foi enorme sucesso de audiência, apresentando programas de calouros (a “Buzina”, com a qual reprovava os calouros que desafinavam) e de cantores consagrados (a “Discoteca”). Muitos cantores que debutaram como calouros de Chacrinha despontariam mais tarde para o estrelato, entre elesRoberto Carlos, Perla, Paulo Sérgio e Raul Seixas. O “velho guerreiro”, como foi carinhosamente chamado por Gilberto Gil no samba “Aquele abraço”, também criou frases e bordões famosos, tais como “Terezinha!” (originário da propaganda da água sanitária Clarinha, que fazia no rádio), “Vocês querem bacalhau?”, “Na TV nada se cria, tudo se copia” (é verdade…), “Quem não se comunica se trumbica”, “Eu vim para confundir e não para explicar”, “Roda, roda, roda e avisa” (anunciando o intervalo comercial), “Como vai, vai bem? Veio a pé ou veio de trem?” “Vai para o trono ou não vai?”, etc. Além disso, anualmente lançava marchinhas de carnaval que caíam na boca do povo. Quem não se lembra, por exemplo, de “Você gosta da lourinha?”, “Maria Sapatão”, “Leva eu, painho”, “Marcha da camisinha” e tantas outras? Além dos jurados que avaliavam os calouros, tais como Elke Maravilha, Pedro de Lara, Edson Santana, Aracy de Almeida, Carlos Imperial e o travesti Rogéria, outro elemento que contribuía para o sucesso de Chacrinha na televisão eram as “chacretes”, dançarinas profissionais de palco que faziam coreografias para acompanhar as músicas e animar a atração. No início, eram conhecidas como “vitaminas do Chacrinha”, e em 1970 passaram a ser denominadas chacretes. Algumas das mais famosas foram Rita Cadillac, Fernanda Terremoto, Suely Pingo de Ouro, Índia Amazonense e Fátima Boa Viagem. E é justamente com o inesquecível “velho guerreiro” e suas endiabradas chacretes o álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos.  É “Chacrinha &chacretes cantam para todas as festas”, lançado pela Som Livre em 1985, época em que ele apresentava o “Cassino do Chacrinha”, na Globo. Com direção de produção de Pedrinho da Luz, que também participa como arranjador, regente e técnico de mixagem, é um álbum cheio de alegria e alto astral, feito para animar as mais diversas festividades. Para as festas juninas, por exemplo, há uma quadrilha marcada (a contracapa do disco reproduz seu roteiro). Há também um pot-pourri carnavalesco (do qual a “Maria Sapatão” faz parte), músicas para o Natal (o clássico “Jingle bells’), e aniversários, inclusive para o público infantil. Em suma, um disco bem animado, “pra cima”, que o TM hoje nos oferece, como recordação e justa homenagem a este grande comunicador que foi Abelardo “Chacrinha” Barbosa!

o bate-bola
nosso herói
miau miau
tá com medo tabaréu
mamãe um sonho no sítio
brincando de roda
tem sanfona no salão
o som do chacrinha abelardo barbosa
jingle bell
rock do ratinho

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*Texto de Samuel Machado Filho

Coral Do Maranhão – As Mais Belas Canções (1963)

Hoje o TM oferece a seus amigos cultos e ocultos mais um ótimo álbum de música erudita produzido no Brasil. É “As mais belas canções”, com o Coral do Maranhão, lançado de forma independente (o disco não traz o ano de gravação, mas parece ser de 1963, um ano após a criação do grupo). Regido por Bruno Wyzuj, polonês radicado no Brasil, sobre o qual se dispõe apenas das informações constantes da contracapa, o coral é afinadíssimo, e apresenta um repertório selecionado de 13 peças eruditas, compostas pelos melhores autores, inclusive Brahms (“Taublein Weiss”, “In stiller nacht”) e o nosso Heitor Villa-Lobos (“Estrela é lua nova”, “Xangô”). Curiosamente, um dos tenores do coral, Murilo, era membro da família Sarney, de larga tradição na política maranhense! Detalhe à parte, o disco (ao que parece o único gravado pelo Coral do Maranhão) é de ótima qualidade, sendo por isso merecedor da postagem de nosso Toque Musical.

au joly jeu
el grillo
canzona napoletana
madona per voi ardo
je ne fus jamais si ayse
the silver swan
so ben mi cha bon tempo
ave maria
estrêla é lua nova
xangô
meninas vamos ao vira
lonesome valley
taublein weiss
in stiller nacht

*Texto de Samuel Machado Filho

USA Click… (1974)

Boa tarde, meu queridos amigos cultos e ocultos! Aqui temos mais um exemplar de coletâneas internacionais, na qual a editora Beverly fez uma bela salada mista, incluindo diferentes fonogramas. Destacando alguns hits da black music, do reggae e também grupos brasileiros Kris Kringle, Baby Joe e The Sweet Set. Ao que tudo indica, esta coletânea foi lançada inicialmente em 1971 e em 74 recebeu uma nova tiragem. Não deixem de conferir, muito legal 😉

double barrel – dave and ansil collins
funny funny – the sweet set
susie – kris kringle
(i could) conquer the world – baby joe
chicken lickin – okie duke
shocks of a mighty – upsetters
i’m sorry – bobby bland
the freedom under certain konditions marching band – raw spitt
black pearl – harace faith
we’re got to get ourselves together – bob and marcia
sal a faster – swamp dogg
you’re coming back – dandy

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Deixa Que Eu Empurro (1972)

Boa noite, amigos cultos e oculto! Em agosto vamos ao gosto da freguesia, procurando sempre variar. Hoje temos um disquinho curioso e como todos podem ver, uma coletânea internacional. Certamente, muitos aqui irão de se lembrar dos discos, lps e compactos, da Top Tape e seu selo One Way. Muita coisa bacana do cenário pop daquela época. E era uma época em que se faziam alguns ‘truques’ sem muitos problemas. No caso, me refiro ao uso e abuso da música estrangeira, quando até mesmo os músicos e artistas brasileiros faziam mais sucesso como gringos. Essa era a época sem muito controle, o que permitia a uma gravadora produzir discos com os mais variados fonogramas e também trabalhar com seus covers, o que era infinitamente mais barato. Daí, nasciam discos como este, bem produzidos, de capa dupla e laminada, com divertidos desenhos de Júlio Cesar. Reunia uma seleção de sucessos com artistas originais e covers, alguns tão perfeitos que a gente até achava que era o original. Vale a pena relembrar…
clair – spirit of freedom
where is the love – mike morton congregation
happier than the morning sun – b. j. thomas
baby let me take you – detroit emeralds
your life is gone – s. jerome
mouldy old dough – mike morton congregation
to be the one you love – mike morton congregation
mary had a little lamb – spirit of freedom
i wanna be a bird – dimensão 5
something new about you – silent majority
carmen brasilia – revolution system
burning love – mike morton congregation

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Lyrio Panicalli – E O Sucesso (1969)

Maestro, arranjador e pianista, além de compositor, LyrioPanicalli volta a bater ponto hoje aqui no TM. Ele veio ao mundo na cidade de Queluz, interior de São Paulo, em 26 de junho de 1906. Filho de imigrantes italianos, aos 12 anos transferiu-se para São Paulo, ingressando no Liceu Coração de Jesus e depois no Conservatório Dramático e Musical da cidade. Em 1922, já no Rio de Janeiro, estudou no Instituto Nacional de Música, e foi maestro e pianista da Companhia Negra de Revista. É quando conhece Lamartine Babo, e compõe com ele o fox “Saias curtas”. Por razões familiares, teve de voltar à Queluz natal, onde desenvolveu intensa atividade musical, organizando bandas e coros. Regressando à capital paulista, começou a trabalhar na Rádio São Paulo, desta passando, em 1938, para a lendária Nacional do Rio de Janeiro, onde participou do programa “Canção antiga”, de Almirante. Nesse ano, organizou uma orquestra melódica com seu nome, e desde então escreveu temas para diversas novelas da PRE-8, como as valsas “Encantamento”, “Magia” e “Ternura”. Em 1939, faz seu primeiro trabalho para o cinema: a trilha sonora do filme “Aves sem ninhos”, de Raul Roulien. Depois, faz o roteiro musical de inúmeros outros filmes, tais como “Moleque Tião” (1943), “A dupla do barulho” (1953) e “Nem Sansão, nem Dalila” (1954), os três da lendária Atlântida. Panicalli também foi um dos fundadores, em 1950, da gravadora Sinter (hoje Universal Music), onde foi diretor artístico e gravou seu primeiro LP, “Orquestra Melódica de LyrioPanicalli”. Idealizou com Paulo Roberto, na Rádio Nacional, o famoso programa “Lyra de Xopotó”, sobre bandas do interior do Brasil, de que resultou uma série de LPs com o mesmo título, alguns deles já postados aqui no TM. Foi ainda maestro contratado da Rádio MEC, também do Rio, e enriqueceu, com seus arranjos e regências, as gravações de vários cantores brasileiros, tais como Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Sílvio Caldas, Orlando Silva, Cauby Peixoto, Tito Madi e Sérgio Murilo, às vezes usando o pseudônimo de Bob Rose. Com a popularização das telenovelas, nos anos 1960, escreveu trilhas sonoras para várias delas, trabalho esse resumido, em 1972, no disco “Panicalli e as novelas”. Faleceu em 29 de novembro de 1984, em Niterói, litoral fluminense, aos 78 anos de idade. Além dos discos da Lyra de Xopotó, o TM já postou outros trabalhos que tiveram o dedo do mestre LyrioPanicalli: “Cantigas de roda”, “Nova dimensão”, “Boleros” (regendo a Orquestra Violinos de Ouro) e “Panicalli italiano”. Agora trazemos, para desfrute de nossos amigos cultos e ocultos, um álbum que a Odeon, gravadora à qual o maestro esteve vinculado durante bastante tempo, lançou em 1969. Trata-se de “LyrioPanicalli e o sucesso”, gravado sob a direção de produção de Mílton Miranda. Aqui, ele investe na linha dançante, apresentando com sua orquestra doze sucessos nacionais e internacionais daquele ano, destacando-se “Eu disse adeus” (do repertório de Roberto Carlos), “Sugar sugar” (de um conjunto americano do “faz de conta”, The Archies), “F… commefemme’ (de Salvatore Adamo, tema da novela “Beto Rockfeller”, da extinta Tupi),  “I started a joke’ (dos Bee Gees, tema da mesma novela), “Cantiga por Luciana” (vencedora do FIC de 69, na voz de Evinha), “Aquarius” (da peça “Hair”), “Love isall” (também do FIC de 69, sucesso do britânico Malcolm Roberts) e “Evie” (que, na voz de Johnny Mathis, seria mais tarde prefixo do jornal “Hoje”, da Globo). Enfim, mais um álbum do mestre LyrioPanicalli que o TM oferece, verdadeiro e irresistível convite à dança. Que comece a festa…

i started  a joke
evie
stormy
cantiga para luciana
aquarius
daydream
eu disse
love is all
será será..
f… comme femme
goodbye
sugar sugar

*Texto de Samuel Machado Filho

O Melhor Do Millôr (1986)

Em sua postagem de hoje, o TM presta merecida homenagem àquele que foi um dos maiores humoristas brasileiros, de longa atividade na imprensa brasileira, tendo sido jornalista, escritor, desenhista, tradutor, escritor, poeta e dramaturgo. “Enfim, um escritor sem estilo”, como ele mesmo se apresentava. Trata-se de Millôr Viola Fernandes. Ele era do subúrbio do Méier, zona norte do Rio de Janeiro, e ali nasceu a 16 de agosto de 1923, filho do imigrante espanhol   Francisco Fernandes e da brasileira Maria Viola Fernandes. Entretanto, por descuido dos pais, só acabou registrado quase um ano depois, a 27 de maio de 1924, que passou a ser sua data oficial de vinda ao mundo, com o nome de Mílton Viola Fernandes (o nome Millôr teria se originado da letra garranchenta do escrivão!). Em 1925, ainda bebê, Millôr perdeu o pai, então com 36 anos de idade, e sua mãe passou a trabalhar como costureira, além de alugar parte do casarão em que a família morava (eram quatro filhos, incluindo Millôr). Em 1934, quando cursava o ensino básico, ele perdeu também a mãe, vítima de câncer. Os irmãos se separaram e Millôr, então com 10/11 anos de idade, foi morar com a avó num quarto no fundo do quintal da casa do tio materno, Francisco. Ainda em 34, estimulado pelo tio paterno, Antônio, enviou um desenho para “O Jornal”, matutino que pertencia aos Diários Associados. O trabalho é aceito e publicado, e ele recebeu um pagamento de dez mil-réis. Aos quinze anos, em 1938, conseguiu seu primeiro emprego fixo, como entregador de um remédio para os rins (!), mas ele durou pouco na função, logo se ocupou do trabalho que o acompanhou para o resto da vida. Ainda em 38, passou a trabalhar na revista “O Cruzeiro”, então a de maior circulação no Brasil, como paginador, contínuo e factótum. Em 1943, escreve a seção “Poste escrito”, para a revista “A Cigarra”, também dos Diários Associados e, dois anos depois, em “O Cruzeiro”, estreia a seção “O Pif-Paf”, sob o pseudônimo de Emanuel Vão Gogo, em parceria com o cartunista Péricles Maranhão, criador do Amigo da Onça. Em 1946, sai o seu primeiro livro, “Eva sem costela – Um livro em defesa do homem”, sob o pseudônimo de Adão Júnior, e depois viriam muitos outros, tais como “Tempo e contratempo” (como Emanuel Vão Gogo, 1949), “Lições de um ignorante” (1963), “Fábulas fabulosas” (1964), “Papaverum Millôr” (1967), “Trinta anos de mim mesmo” (1972, um apanhado de seus melhores trabalhos na imprensa), “Compozissõis imfãtis” (1975, aliás o título é esse mesmo), “O livro branco do humor” (idem ao anterior) e “Millôr definitivo – A Bíblia do caos” (1994). Em mais de 70 anos de carreira, Millôr ganhou fama por suas colunas de humor gráfico em publicações como “O Pasquim”, “Correio da Manhã”, “Tribuna da Impernsa” (que pertencia a seu irmão Hélio Fernandes), “Jornal do Brasil”, “Veja” e “Istoé”.  Em seus trabalhos costumava valer-se de expedientes como a ironia e a sátira para criticar o poder e as forças dominantes, sendo consequentemente  bastante confrontado com a censura. Escreveu também inúmeras peças teatrais, como “Um elefante no caos”, “Liberdade, liberdade”  (com Flávio Rangel), “É…” (talvez seu maior sucesso nessa área), “Os órfãos de Jânio” e “Computa, computador, computa”, além de ter traduzido outras 74, caso de “O prodígio do mundo ocidental” (John M. Synge), “Quem tem medo de Virgina Woolf?” (Edward Albee), “Pigmalião” (Bernard Shaw) e “Rei Lear” (Shakespeare). Outro fato marcante na vida de Millôr foi a invenção do frescobol, esporte que implementou junto com outros colegas na Praia de Ipanema, em 1958. No cinema, colaborou em três filmes dirigidos pelo argentino Carlos Hugo Christensen:  “Amor para três” (1960), “Crônica da cidade amada” (1965) e “O menino e o vento” (1967), e foi ainda corroteirista em “Modelo 19” (1950). Com a saúde fragilizada após sofrer um AVC, no começo de 2011, Millôr Fernandes  morreu no dia 27 de março de 2012, aos 88 anos de idade, deixando um vasto e expressivo legado para as futuras gerações. Dele também faz parte o álbum que hoje o TM possui a satisfação de oferecer hoje a seus amigos cultos e ocultos. É “O melhor do Millôr”, lançado em 1986 pela Continental (selo Phonodisc).  Sob a batuta do produtor Solano Ribeiro (notório pela organização de festivais de MPB para a televisão), e com a participação de Fernanda Montenegro,  Fernando Torres (marido de Fernanda), Luiz Carlos Miéli, Ruy Affonso (igualmente responsável pelo roteiro deste disco) e, claro, do próprio Millôr, o álbum é praticamente um resumo da trajetória dele como humorista e escritor. Temos aqui, por exemplo, uma de suas “Composições infantis”, “A água”, o conto “O abridor de latas” (“o primeiro escrito inteiramente em câmera lenta”, segundo definiu o próprio autor), o poeminha “Última vontade”, “Poesia matemática”, o “Decálogo do machão”, “Confúcio disse”… Enfim, uma obra-prima digna de ser desfrutada, que se constitui em diversão garantida e, ao mesmo tempo, uma merecida homenagem que o TM faz a este notório e inigualável humorista que foi Millôr Fernandes!




*Texto de Samuel Machado Filho

Caetano Veloso – Qualquer Coisa (1975)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Se é para começar agosto, que seja em bom tom, com boa música e mais que isso, homenageando um grande baiano, o genial Caetano Veloso, hoje, dia 7 de agosto, fazendo aniversário. Escolhi, para tanto, um de seus clássicos discos, o maravilhoso “Qualquer Coisa”, lp lançado no ano de 1975, mesmo anos em que foi lançado seu outro clássico, o “Jóia”. Segundo o próprio artista, “Qualquer Coisa” e “Jóia” seriam, inicialmente um único álbum, duplo. E a referência a isso está na contracapa onde podemos ler “A outra metade é Jóia”.
“Ia ser um álbum duplo, porque eu tinha muito material. Aí resolvi fazer dois discos, cada um com um título. O Jóia era a minha relação com o trabalho limpo, pequenas peças bem acabadas, com a liberdade de Araçá Azul. Não tem nem bateria no Jóia, um instrumento do qual eu não gostava. Cada faixa era uma jóia. Qualquer coisa era o vale tudo, bateria, confusão. O manifesto do Jóia e o manifesto do Qualquer Coisa, lidos juntos, tem um batimento engraçado. O Jóia foi o único que reouvi em CD. Soa tão bonito… Adoro o silêncio do CD. Gosto de Na Asa do Vento e em Minha Mulher é maravilhoso o relaxamento meu e de Gil ao violão, que não encontro em outra faixa de Jóia. Qualquer Coisa é que era relaxado. Gosto da faixa Qualquer Coisa, mas na gravação a canção ficou presa. O Roberto Carlos reclamou que eu não tinha dado pra ele Qualquer Coisa. Devia ter dado. Ia cantar tão lindo, tão profissional. É curioso. A letra mais abstrata do Brasil, cheia de referências, um título de filme de Rogério Sganzerla, todo mundo cantou. Qualquer Coisa vendeu muito mais que Jóia. Uma coisa assim de 60.000 contra 30.000.”

qualquer coisa
da maior importância
samba e amor
madrugada e amor
a tua presença morena
drume negrinha
jorge da capadócia
eleanor rigby
for no one
lady madonna
la flor de la canela
nicinha

 

Ronald Golias (1972)

Boa noite, prezados amigos cultos e ocultos! Começamos mais uma jornada mensal. Agosto chega e a gente vai no embalo do mês anterior. Temos assim, para hoje, o ilustríssimo Ronald Golias, um dos grandes humoristas brasileiros marcando presença com este lp de 72, lançado pela Continental. Golias gravou vários discos, mas infelizmente, para o momento só disponho deste. Mas prometo que em breve farei aqui uma coletânea do melhor deste grande artista. Por hora ficamos com…

vida moderna
bartolomeu guimaraes
tragedinha
leão da metro
bronco socorro
piadinhas toim toim

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