Muitos pensam que ela é mineira. Mas, na verdade, Vanusa Santos Flores, nome completo da cantora-compositora que o TM põe novamente em foco no dia de hoje, é paulista de Cruzeiro, onde veio ao mundo no dia 22 de setembro de 1947, e foi criada na cidade mineira de Frutal. Foi lá que, na plenitude de seus 16 anos de idade, Vanusa deu início à sua carreira de cantora, atuando como crooner do conjunto Golden Lions, que se apresentava em inúmeras cidades da região. Em uma dessas exibições, foi vista por Sidney Carvalho, que trabalhava na agência de publicidade Magaldi, Maia & Prosperi, que produzia o lendário programa “Jovem Guarda”, comandado na TV Record por Roberto Carlos. Convidada para morar em São Paulo, Vanusa foi lançada como rival da então “rainha da Jovem Guarda”, Wanderléa, e ganhou participação fixa em programas da TV Excelsior: “O bom”, apresentado por Eduardo Araújo, e “Linha de frente”, comandado pelos Vips. Na mesma emissora, integrou o elenco do humorístico “Adoráveis trapalhões”, substituindo Ted Boy Marino, ídolo da luta-livre de então, que fora para a Globo, e participou das últimas edições do “Jovem Guarda”, na Record. Já no compacto simples de estreia, em 1967, obtém retumbante êxito com “Pra nunca mais chorar”, de Carlos Imperial e Eduardo Araújo. Um ano depois, lançou seu primeiro LP, no qual estreou também como compositora, em cinco das doze faixas: “Mundo colorido”, “Perdoa”, “Pode ir embora”, “Eu não quis magoar você” e “Negro”. A cantora também ficou célebre por seus relacionamentos, e namorou diversos colegas de profissão, como Wanderley Cardoso e Antônio Marcos, com quem acabou se casando, resultando dessa união as filhas Amanda e Aretha. Mais tarde contraiu segundas núpcias com Augusto César Vannucci, ator e produtor de cinema e TV, com quem teve o filho Rafael, vencedor, em 2002, da segunda edição do reality-show “Casa dos artistas”, do SBT. Ao longo de sua carreira, Vanusa lançou 23 álbuns, entre LPs e CDs, e vários compactos, vendendo três milhões de cópias e obtendo sucessos como “Mensagem” (regravação de antigo sucesso de Isaurinha Garcia), “Manhãs de setembro” (talvez o maior de todos), “Comunicação” “Sonhos de um palhaço”, “Paralelas” (esta, do recém-falecido Belchior), “Estado de fotografia”, “Desencontro” e “Amigos novos e antigos”. Representou o Brasil em vários festivais internacionais, recebeu cerca de duzentos prêmios, e apresentou-se em programas de TV como “Clube dos artistas” (da extinta Tupi), “TV Bolinha” (Bandeirantes), “Globo de ouro” e “Qual é a música?” (célebre quiz musical apresentado por Sílvio Santos). Em março de 2009, viveu uma situação constrangedora: ao participar de um encontro estadual de agentes públicos, na Assembleia Legislativa paulista, cantou de forma errada e desafinada o Hino Nacional, causando consternação aos presentes. O vídeo espalhou-se pela web, sendo até motivo de piadas, e Vanusa atribuiu o deslize por estar sob a ação de um remédio contra labirintite. Um ano depois, ao se apresentar em evento comemorativo do Dia dos Pais, acontecido no Parque do Idoso, em Manaus (AM), Vanusa errou a letra de “Sonhos de um palhaço” (composição do ex-marido Antônio Marcos) e, para compensar, cantou um trecho de outra música dele, “Como vai você?”, provocando novo vexame. Depois disso, entrou em depressão, internando-se em uma clínica e, em 2013, já recuperada, retomou a agenda de shows. Seu mais recente trabalho é o CD “Vanusa Santos Flores”, lançado em 2015 pela Saravá Discos, e produzido pelo cantor-compositor Zeca Baleiro. Hoje, o TM oferece a seus amigos cultos, ocultos e associados o décimo-quarto álbum de Vanusa, gravado ao vivo, em março de 1986, no restaurante Inverno & Verão, de São Paulo, que ficava no bairro do Campo Belo e cedeu lugar, anos depois, a um supermercado (!). O título do álbum, “Mudanças”, corresponde a um dos hits da cantora, composto em parceria com o sempre notável Sérgio Sá. É um ligeiro retrospecto da carreira de Vanusa até então (ela já estava com 17 anos de estrada), no qual a intérprete desfila toda a sua capacidade vocal e interpretativa em faixas diversas: hits de carreira (“Paralelas”, “Mensagem”, “Manhãs de setembro”, além, claro, da faixa-título), alguns clássicos inesquecíveis (“Súplica cearense”, “Felicidade”, “Maria, Maria”, “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones”, “Aprendendo a jogar”), um pot-pourri de sucessos dos eternos Beatles (“Yesterday”, “Day tripper” e “Eleanor Rigby”), e hits da ocasião (“Um dia de domingo’ e “Bilhete”, esta última com excelente arranjo de Antônio Adolfo). Tudo em interpretações de primeira, oferecendo, como diz a contracapa, “música para quem gosta de música”. Este disco seria relançado pela RGE em 1992, com o título de “A arte do espetáculo”. E constitui, sem dúvida, um prato cheio para os apreciadores de música com M maiúsculo, produto difícil de se encontrar nos dias que correm… Aproveitem!
mensagem – manhãs de setembro – paralelas
aprendendo a jogar
um dia de domingo
yesteerday – eleonor rigby – day tripper
mudanças
bilhete
era um garoto que como eu amava os beatles e os rolling stones
felicidade
súplica cearense
*Texto de Samuel Machado Filho