Irmão gêmeo do saxofonista Victor Assis Brasil, o pianista e professor João Carlos Miranda de Assis Brasil nasceu em 28 de agosto de 1945, no Rio de Janeiro. Sua formação musical iniciou-se no Conservatório Brasileiro de Música, onde, além de piano, estudou harmonia e teoria musical, tendo recebido, aos dez anos de idade, o primeiro prêmio em concurso promovido pela instituição de ensino. Em 1960, prosseguiria seus estudos, com o renomado concertista Jacques Klein e, dois anos mais tarde, venceu o Concurso Nacional de Piano da Bahia. Em 1964, viajou para Paris, a capital francesa, onde estudou com Pierre Sancan. Em 1965, classificou-se em terceiro lugar no Concurso Internacional Beethoven, realizado em Viena, Áustria, disputando com mais de 60 candidatos, e ali aprimorou seus estudos com Richard Hauser e Dieter Weber. Também atuou como solista na Orquestra Filarmônica de Viena. Em 1966, apresentou-se em Londres (Wigmore Hall), Milão (no auditório da família Meneghine), Belgrado (no teatro local) e também em Viena (no Brahmsaal). Estudou em Londres com Ilona Kabos, em 1970, e cinco anos depois, apresentou-se em Washington, na Universidade Católica. Nos anos 1980, formou o João Carlos Brasil Trio, ao lado do baixista Zeca Assumpção e do baterista Cláudio Caribé, que passou a quinteto com a entrada do violoncelista David Chew e do saxofonista Idriss Boudrioua. O grupo apresentou-se em vários concertos e, nessa época, João Carlos ainda atuou como professor do Conservatório Brasileiro de Música e, durante cinco anos, como professor e diretor da Faculdade de Música da Universidade Estácio de Sá, também do Rio de Janeiro. Possui uma discografia de doze álbuns, inclusive com ilustres parceiras, como a cantora Olívia Byington e a também pianista Clara Sverner. A morte prematura de Victor Assis Brasil, em 1981, afastou os irmãos do convívio, mas João encontrou justamente na música o meio sublime que encontrou para manter viva a memória de Victor. O que resultou no belo álbum que o TM oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, gravado em 1988 e lançado com o selo Kuarup (houve reedição em CD, pela Biscoito Fino). Seu título, “Self portrait” (auto-retrato, em português), já sugere tratar-se de um disco autobiográfico. São treze músicas de Victor Assis Brasil executadas pelo piano de João, com o apoio de Paulo Sérgio Santos (clarinete e saxofone), Zeca Assumpção (baixo) e Jurim Moreira (bateria). A seleção foi feita a partir de 400 composições inéditas, a maior parte escritas durante o verão carioca de 1972/73, em três cadernos, encontrados em um baú herdado da mãe de Victor e João Carlos, dona Elba. Segundo o próprio João Carlos Assis Brasil, a intenção foi a de apresentar um panorama da obra de Victor, muito ligado á imagem de músico jazzista, mas o disco permite lançar nova luz sobre sua produção, oferecendo uma visão mais abrangente, mostrando como a música clássica contemporânea foi também fonte recorrente de inspiração e, sobretudo, como Victor buscou criar a partir de temas e ritmos brasileiros. “Self portrait” (a faixa-título), “One for Bill” (homenagem ao pianista Bill Evans) e “Blues for Oliver” (tributo ao norte-americano Oliver Nelson) têm clara inspiração no jazz, “Samba sem nome” é embebida de Brasil, e “Almendrix” traz referências à música latina. Por sua vez, as incursões de Victor pelo gênero erudito estão presentes em “Jazz sonata for piano”, com toques jazzísticos, “Fast/slow/fast” e “Moderato valsa”. Assim é o álbum que o TM orgulha-se em nos oferecer hoje: a obra de um compositor diverso e pouco conhecido, interpretada pelo sentimento de um irmão saudoso. É só conferir.
blues for oliver
samba sem nome
self portrait
one for bill
blues
almendrix
choral n.1
moderato valsa
motif for piano – scattered clouds31
elba
jazz sonata for piano
fast slow fast
*Texto de Samuel Machado Filho