A Música De Ismael Silva Na Voz De… – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 85 (2014)

Olá, amigos cultos, ocultos e associados do TM!  Esta semana, o Grand Record Brazil apresenta a segunda parte da retrospectiva que está dedicando à obra musical de Ismael Silva (1905-1978), um grande expoente do samba e da música popular brasileira. Na semana passada, apresentamos composições de Ismael na voz de Francisco Alves (1898-1952), o eterno Rei da Voz. A seleção desta semana tem 14 faixas com intérpretes diversos, e nela Francisco Alves também está presente em duetos. Para começar, e muito bem, apresentamos duetos de Chico Alves com Mário Reis. Eles formaram uma dupla que gravou um total de 12 discos com 24 músicas, todos pela Odeon, legado esse imprescindível para quem estuda a história do samba e da MPB.  Desse legado, ouviremos seis peças simplesmente antológicas, autênticas joias do samba, com acompanhamento da Orquestra Copacabana, dirigida pelo palestino Simon Bountman:  na faixa 1,  “Não há”, da santíssima trindade Ismael Silva-Francisco Alves-Nílton Bastos, gravado em 5 de dezembro de 1930 e lançado em janeiro de 31 para o carnaval, disco 10747-A, matriz 4079. O lado B, na faixa seguinte, matriz 4080, é um autêntico clássico assinado pela mesma trinca de autores: o inesquecível “Se você jurar”, que atravessou os anos e até hoje é muito lembrado, e com justiça. Teve regravação inclusive pelo próprio Ismael Silva, em 1955. “O que será de mim?”, logo em seguida, e dos mesmos autores, é gravação de 28 de fevereiro de 1931, lançada em abril do mesmo ano pela “marca do templo” sob n.o 10780-B, matriz 4162, outra demonstração de bossa da dupla Chico Alves-Mário Reis (que, durante a gravação, chama o Rei da Voz para cantar com ele, no que, claro, é prontamente atendido).  “Ri pra não chorar” é da parceria Ismael Silva-Francisco Alves, que na edição homenageiam Nílton Bastos, que falecera. Gravação da notável dupla Chico Viola-Mário Reis, de 20 de agosto de 1931, lançada pela Odeon em dezembro do mesmo ano sob n.o 10850-B, matriz 4292. De Chico e Ismael é também “Liberdade”, gravação de 20 de novembro de 1931 lançada em janeiro de 32, evidentemente para o carnaval, disco 10871-B, matriz 4363, citando inclusive o “Hino da Proclamação da República, de Leopoldo Miguez-Medeiros e Albuquerque. O samba saiu na segunda tiragem desse disco, que trouxe no lado A, também cantada em dueto por Chico e Mário, a “Marchinha do amor”, de Lamartine Babo (na primeira, saiu um outro samba, “Oh! Dora”, de Orlando Vieira, com Chico Viola sozinho).  Terminando esse verdadeiro show de interpretação sambística da dupla Francisco Alves-Mário Reis, temos “A razão dá-se a quem tem”, já com Noel Rosa como parceiro de Ismael Silva e Chico Viola, gravação feita na “marca do templo” em 2 de julho de 1932 e lançada em dezembro seguinte com o n.o 10939-A, matriz 4472. A faixa 7 é um outro dueto de Francisco Alves, agora com Sílvio Caldas: “Tristezas não pagam dívidas”, gravado na Odeon em 23 de junho de 1932, e lançado com o n.o 10922-A, matriz 4463. Temos aqui duas curiosidades: no selo original, aparece como autor um certo Manoel Silva (havia na época um compositor com esse nome, cujo nome completo era Manoel dos Santos Silva). Mas, segundo depoimento de Sílvio Caldas ao pesquisador Abel Cardoso Júnior, o samba é mesmo de Ismael Silva. Sílvio não teve crédito no selo como intérprete por ser na época contratado da Victor, mas achou a omissão natural, “apenas uma colaboração”.  O samba também foi apresentado por Chico Alves no segundo espetáculo da série “Broadway Cocktail”, um espetáculo palco-tela apresentado no Cine Broadway. Aracy Cortes, grande estrela dos tempos áureos do teatro de revista, aqui comparece com o samba “Quero sossego”, da parceria Ismael Silva-Nílton Bastos (na edição Francisco Alves também aparece como co-autor), Lançado pela Brunswick por volta de março de 1931, sob n.o 10158-A, matriz 602, foi um dos derradeiros discos lançados no Brasil por essa gravadora, de origem norte-americana, que logo cerraria as portas da filial brazuca, levando para a sede, nos EUA, todas as matrizes de cera que gravou entre nós em pouco mais de um ano de atividades. Da parceria de Ismael Silva com Noel Rosa e Francisco Alves é a marchinha “Assim sim”, gravada na Victor por Cármen Miranda em 31 de maio de 1932 e lançada em dezembro desse ano sob n.o 33581-A, matriz 65502, claro que para o carnaval de 33. No acompanhamento, Harry Kosarin e seus Almirantes (o maestro, então vindo anos antes dos EUA, é considerado o introdutor do jazz no Brasil). Em 1930, a “pequena notável” vira e ouvira Noel com o Bando de Tangarás, no Cinema Eldorado, e, dois anos mais tarde, teria ocasião de trabalhar com o Poeta da Vila, Francisco Alves e Almirante no “Broadway Cocktail”. Cármen não teve oportunidade de solicitar um número especial para gravar. Porém, não ia passar muito tempo para isso acontecer, nascendo daí  este “Assim, sim”. Dando um ligeiro salto no tempo, apresentamos outra marchinha, “Ninguém faz fé”, de Ismael e Paulo Medeiros, com Linda Batista, então no auge da carreira, para o carnaval de 1953, em gravação RCA Victor de 19 de setembro de 52, lançada ainda em dezembro sob n.o 80-1039-A, matriz SB-093478. Aurora Miranda, irmã de Cármen, apresenta mais outras duas marchinhas, ambas de Ismael Silva sem parceiro: “Não vejo jeito”, gravação Victor de 3 de outubro de 1939, lançada em novembro do mesmo ano, por certo para o carnaval de 40, sob n.o 34519-B, matriz 33170, e “Não apoiado”, gravação Odeon  de 7 de janeiro de 1936 lançada bem em cima do carnaval desse ano, em fevereiro, disco 11327-B, matriz 5240. Ainda no campo da marchinha carnavalesca, e também só de Ismael, temos “Macaco me lamba”, da folia de 1951, lançada pela Sinter ainda em dezembro de 50 sob n.o  00-00.026-A, matriz S-50. A última faixa desta seleção, o samba “Fama sem proveito”, parceria de Ismael Silva com Heitor Catumbi, é um mistério. Quem o canta é a carioca Odaléa Sodré (1924-?), acompanhada por Netinho, Antônio Souza e regional, e que teve curtíssima carreira no disco. São conhecidos dois discos comerciaisda cantora, gravados na Columbia em 1936-37, e esta é uma gravação RCA Victor sem data, registrada no acervo do Instituto Moreira Salles com o número 196, o que leva a crer que se trate de disco particular, não comercializado (será que foi para as lojas?). Enfim, uma incógnita. Mas, de qualquer forma, aí vai mais uma contribuição do GRB para a preservação de nossa memória musical. Até a próxima!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

Várias Cantoras – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 40 (2012)

As vozes femininas sempre têm lugar reservado no Grand Record Brazil. E nesta quadragésima edição não poderia ser diferente, posto que temos mais uma compilação dedicada às cantoras, com 14 faixas.

Relembramos, mais uma vez, para começar, Aracy Cortes (Zilda de Carvalho Espíndola), nascida (31/3/1904) e falecida (8/1/1985) no Rio de Janeiro, filha de um “chorão”, Carlos Espíndola, e que morou até os 12 anos no bairro do Catumbi, onde teve um ilustre vizinho: nada mais menos que Pixinguinha. Foi Luiz Peixoto quem a descobriu, quando ela se apresentava no Circo Democrata interpretando e dançando maxixes, e seu nome artístico lhe foi dado por Mário Magalhães, crítico teatral do jornal “A Noite”. Sua estreia em teatro deu-se em 1921, na revista “Nós, pelas costas”. Em disco, suas primeiras gravações saíram em 1925, ainda no processo mecânico. Entre os anos 1950/60 afastou-se do meio artístico, voltando em 1965 no histórico show “Rosa de ouro”, produzido por Hermínio Bello de Carvalho e Kleber Santos, onde também atuavam Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros. Aracy aqui comparece com três ótimas faixas: “Você não era assim”, samba de Ary Barroso e Aricles França, lançado pela Odeon em junho de 1930 (10619-A, matriz 3592), mais os clássicos “Jura”, samba de Sinhô que ela mesma lançou na revista “Microlândia” (Parlophon 12868-A, lançado em novembro de 1928, matriz 2071) e “Iaiá”, que ficou mais conhecido como “Ai, Ioiô”, e é considerado o primeiro samba-canção brasileiro (Parlophon 12926-A, lançado em março de 1929, matriz 2366). Com música de Henrique Vogeler, teve antes duas letras: por Cândido Costa (“Linda flor”) e Freire Júnior (“Meiga flor”), mas a que pegou mesmo foi esta, assinada pelo descobridor de Aracy, Luiz Peixoto, e Marques Porto, e que ela também cantou na revista “Miss Brasil”. Nas três faixas, a cantora é acompanhada pela orquestra do palestino Simon Bountman, que tinha diversos nomes: Pan American, Copacabana, Simão Nacional Orquestra,  Orquestra Parlophon, todas na verdade a mesmíssima orquestra. Quando gravava na Columbia, aparecia nos selos como “Simão e sua Orquestra Columbia”.

Elisa de Carvalho Coelho (Uruguaiana, RS, 1909-Volta Redonda, RJ, 2001) era filha de um tenente do Exército e da jornalista e escritora Acy Carvalho, que redigia a seção feminina de “O Jornal”, matutino carioca. Passou a infância e a adolescência em Florianópolis, considerando-se por isso catarinense. Ao voltar para o Rio, cantava acompanhando-se ao piano em reuniões familiares nas quais compareciam jornalistas e poetas, amigos de seu pai. Numa dessas reuniões, em 1929, foi convidada pelo diretor da Rádio Clube do Brasil, um coronel amigo de seu pai, para apresentar-se lá, e agradou logo de saída. Excursionou pela Bahia e pelo restante do Nordeste em 1930, ao lado do compositor Hekel Tavares, passando a interpretar composições suas. Em 1935-36 esteve por duas vezes na Argentina e no Uruguai, e atuou no rádio até o final dos anos 1940. Era mãe do jornalista e apresentador de TV Goulart de Andrade, aquele do bordão “Vem comigo”, e sua discografia, gravada entre 1930 e 1934, compreende 15 discos com 30 músicas. Desse repertório, o GRB apresenta duas gravações Victor: o samba-canção “Tenho saudade”, de Ary Barroso (disco 33480-A, gravado em 14 de julho de 1931 e lançado em novembro do mesmo ano, matriz 65195), e a toada “Ciúme de caboca” (no mais puro caipirês), de  Josué de Barros, descobridor de Cármen Miranda, e Domingos Mangarinos, gravação de 11 de junho de 1930, porém só lançada em agosto de 31 (disco 33444-A, matriz 50308).

Por falar na luso-brasileira Cármen Miranda (Maria do Carmo Miranda da Cunha, Marco de Canavezes, Portugal, 1909-Los Angeles, EUA, 1955, ela aqui comparece com outra composição de Ary Barroso, o samba “Nosso amô veio dum sonho”, gravação Victor de 10 de março de 1932 lançada a toque de caixa (disco 33537-A, matriz 65404). Na verdade, já tinha sido gravada como canção por Gastão Formenti, em 1930, como canção e o nome de “Teus óio”, tendo sido a primeira composição do mestre de Ubá, feita quando ele tinha seus quinze anos, com o título “De longe”. O estribilho e a melodia são iguais, mas a segunda parte é diferente.

Olga Praguer Coelho (Manaus, AM, 1909-Rio de Janeiro, 2008), pertencente à gloriosa dinastia das cantoras-folcloristas, e com vitoriosa carreira internacional, comparece aqui com três faixas gravadas na Victor: o ponto de macumba “Estrela do céu”, por ela própria adaptado (disco 34325-B, gravado em 30 de julho de 36 mas só lançado em junho de 38, matriz 80182), a modinha “Mulata”, também chamada de “Mucama” ou “Mestiça”, versos de Gonçalves Crespo e autor da melodia desconhecido (lado A desse mesmo disco, gravado em 22 de abril de 1936, matriz 80137) e a modinha “Róseas flores”, adaptação da própria Olga (disco 34042-A, gravado em 29 de novembro de 1935 e só lançado em abril de 36, matriz 80024).

Laís Marival, paulista de Taquaritinga (1911-?),  deixou uma discografia escassa: apenas 7 discos com 14 músicas, todos pela Columbia, futura Continental, entre 1936 e 1938. Dela, aqui está uma música de seu segundo disco, o de número 8210-B, matriz 3314, de 1936: é o samba “Cada um dá o que tem”, de autoria de Raul Torres, grande expoente da chamada música caipira ou sertaneja de raiz, mas que também era de samba.

Autêntica “garota de Ipanema” por sua origem (foi eleita miss desse bairro em 1929), a carioquíssima Laura Suárez (1909-c.1990), também atriz de teatro (no qual atuou por mais de meio século) e cinema, só gravou na Brunswick, selo americano que durou menos de dois anos no Brasil:13 discos com 26 músicas: em 1930/31, inclusive com músicas de autoria própria. E é dela mesma o samba que apresentamos aqui, “Você… você”, lançado em setembro de 1930 com o número 10103-A, matriz 500.

Outra cantora-folclorista de carreira internacional, a também carioca Elsie Houston, aqui se apresenta com o samba “Morena cor de canela”, motivo popular adaptado por Ary Kerner (autor também de “Na Serra da Mantiqueira” e “Trepa no coqueiro”, entre outras), em gravação lançada pela Columbia em junho de 1930 sob número 5217-A, matriz 380649. Um mês depois saiu pela Victor o registro de Helena Pinto de Carvalho, sendo o original do cantor Sílvio Salema, um ano antes. A morte prematura de Elsie Houston, aos 40 anos, ainda é um mistério: ela foi encontrada morta em seu apartamento em Nova York, EUA, no dia 20 de fevereiro de 1943, e ainda hoje existem dúvidas se foi suicídio ou assassinato.

A respeito da cantora Neide Martins, quase nada se sabe. Sua escassa discografia compreende seis discos com doze músicas, entre 1937 e 1939, nos selos Victor (dois), Odeon (três) e Columbia (o último). Aqui, um frevo-canção de seu disco de estreia, o Victor 34142-A, gravado em 10 de dezembro de 1936 e lançado em janeiro de 37, matriz 80293: “Que fim você levou?”, do mestre Nélson Ferreira.

Encerrando esta edição, apresentamos a carioca Zezé Fonseca (Maria José González). Nascida em 5 de agosto de 1915, começou sua carreira na “Hora da arte”, do Tijuca Tênis Clube. Em 1932, levada por Paulo Bevilacqua, foi contratada pela Rádio Philips, PRAX, onde apresentava o programa “Fox tarde demais”, depois atuando como produtora de programas femininos na Rádio Cruzeiro do Sul. Integrou a companhia teatral de Procópio Ferreira, atuando com sucesso na peça “Deus lhe pague”, de Joracy Camargo. Abandonou o rádio em 1935, nele reingressando em 1939, através da lendária Rádio Nacional, onde trabalhou por seis anos. Em 1945 foi para a Rádio El Mundo, de Buenos Aires (Argentina), transferindo-se um ano depois, ao voltar ao Rio, para a Globo, passando pela Mayrink Veiga e depois retornando à Nacional, sendo uma das pioneiras da radionovela no Brasil, e uma das melhores atrizes do gênero.. Ficou famosa, a partir de 1942, por manter um tórrido romance com Orlando Silva, cujos altos e baixos causaram sério desequilíbrio emocional no “cantor das multidões”, que se viciou em morfina e afastou-se do meio artístico por alguns anos. Deixou, como cantora, entre 1933 e 1940, sete discos com catorze musicas, os cinco primeiros pela Columbia e os dois últimos pela Victor. Aqui, de seu quarto disco, o Columbia 22224-B, matriz 381502, apresentamos a marchinha “Casar não é pra mim”, de Alberto Ribeiro, lançada para o carnaval de 1933. Zezé Fonseca morreu de forma trágica, em 16 de agosto de 1962, aos 47 anos, durante um incêndio em seu apartamento no Rio.

Enfim, mais uma edição do GRB que por certo ocupará lugar de destaque no acervo de nossos amigos cultos, ocultos e associados!

Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.

Cristina Maristany – Aracy Côrtes – Olga Praguer Coelho – Laura Suarez – Elisinha Coelho – Elsie Houston – Neide Martins – Helena Pinto De Carvalho – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 32 (2012)

 

Estamos de volta com o meu, o seu, o nosso Grand Record Brazil, em sua edição de número 32, apresentando mais uma seleção interpretada exclusivamente por cantoras. Nunca esquecendo de mencionar as pessoas da radialista Biancamaria Binazzi e do jornalista Ronaldo Evangelista, idealizadores do blog Goma Laca (www.goma-laca.com), de onde foi extraída a seleção musical completa de nossa edição número 29, e a quem eu e o Augusto agradecemos o toque e a lembrança, inclusive aproveitando fonogramas raros desse mesmo blog sempre que possível, unidos que estamos por um só ideal, que é a preservação de nossa memória musical.

Esta semana, começamos nossa seleção musical com a soprano Cristina Maristany (Porto, Portugal, 1906-Rio Claro, SP, 1966), na pia batismal Cristina Navarro de Andrade Costa, que veio parta o Brasil com poucos meses de idade. Ela gravou seus primeiros discos com o nome de Cristina Costa, e mudou o sobrenome artístico quando casou-se com o jornalista Breno Maristany. Não tiveram filhos, e mesmo depois de se desquitar, Cristina conservou o sobrenome Maristany na vida artística. Cristina aqui comparece com o disco Odeon X-3273, da série azul internacional da “marca do templo”, gravado em outubro de 1941. No lado A, matriz 6824, a clássica modinha “Quem sabe?” (“Tão longe, de mim, distante”…), de autoria do paulista (de Campinas)Antônio Carlos Gomes (1836-1896), aquele mesmo do “Guarani”, com versos do sergipano Bittencourt Sampaio (1834-1895), poeta e futuro governador do Espírito Santo. Foi inspirada em Ambrosina, o primeiro amor de Carlos Gomes, que morava na sua Campinas natal, e composta em 1859, mesmo ano em que o parceiro Bittencourt Sampaio se formou em Direito. Muito gravada, até mesmo por Agnaldo Timóteo. No verso, matriz 6825, a toada “Quando uma flor desabrocha”, de autoria de Francisco Mignone, que por sinal acompanha Cristina com seu quarteto de cordas nesse disco, música também muito conhecida.

Em seguida, tiramos do esquecimento Olga Praguer Coelho (Manaus, AM, 1909-Rio de Janeiro, 2008), cantora e pesquisadora de música folclórica aplaudida no Brasil e no mundo, inclusive nos Estados Unidos, onde residiu por vários anos, e lá moram dois filhos seus atualmente. Olga comparece inicialmente com uma gravação feita em Nova York nos anos 1940: a canção “Azulão”, de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira, cuja primeira gravação entre nós é de 1944, na voz de Alice Ribeiro. Depois, tem o ponto de macumba “Estrela do céu”, motivo popular por ela adaptado, em gravação Victor de 30 de julho de 1936, porém só lançada em junho de 1938, disco 34325-B, matriz 80182. No lado A desse disco, matriz 80137, gravação de 22 de abril de 1936, a conhecida modinha “Mulata”, também chamada de “Mucama” ou “Mestiça”, com versos de Gonçalves Crespo e melodia de autor até hoje ignorado, peça também merecedora de inúmeras gravações desde 1902. Olga encerra sua participação neste volume com “Róseas flores”, outro motivo popular por ela adaptado, em gravação Victor de 29 de novembro de 1935, só lançada em abril de 36, disco 34042-A, matriz 80024.

Gaúcha de Uruguaiana, Elisa de Carvalho Coelho(1909-2001)criou-se porém na capital catarinense, Florianópolis. Foi casada com o deputado Lopo Coelho e mãe do jornalista e apresentador de TV Goulart de Andrade, o do bordão “Vem comigo”. Sua discografia, nos selos Victor, Odeon e Parlophon, abrange 15 discos 78 com 30 músicas, entre 1930 e 1932, incluindo hits como “No rancho fundo” e “Caco velho”, ambas de Ary Barroso e a primeira com letra de Lamartine Babo. Dessa discografia, o GRB apresenta a toada “Ciúme de caboca” (assim mesmo, em caipirês), de Josué de Barros, descobridor de Cármen Miranda, e Domingos Magarinos, em registro Victor de 11 de junho de 1930, só lançado, porém mais de um ano depois, em agosto de 1931, com o número 33444-B, matriz 50308 (o lado A é “No rancho fundo”, que fica pra uma próxima).

A paulistana Helena Pinto de Carvalho (1909-1937) foi funcionária pública, trabalhando na Secretaria das Municipalidades de São Paulo. Iniciou sua carreira artística no rádio, em 1929, e dois anos mais tarde participou do primeiro filme sonoro produzido no Brasil, “Coisas nossas”. Helena faleceu prematuramente, com apenas 28 anos, de ataque cardíaco, em sua casa, deixando seis 78 com doze músicas. Ei-la aqui no Columbia 22021, de 1931, interpretando de um lado, matriz 380984, o samba “Já cansei de chorar por você”, e , de outro, matriz 380991, uma deliciosa marchinha de Jayme Redondo, “Chi! Iaiá tá brava”.

De longa carreira no teatro de revista, a carioca Aracy Cortes (Zilda de Carvalho Espíndola, 1904-1985) não gravou tanto quanto poderia, talvez porque a maior parte de seus rendimentos viesse mesmo dos palcos. Já veterana, em 1965, participou do show “Rosa de ouro”, ao lado de Clementina de Jesus, Paulinho da Viola e Elton Medeiros, entre outros. Aracy está presente nesta edição com dois sucessos inesquecíveis lançados em selo Parlophon: o primeiro, lançado em novembro de 1928 em disco 12868, é o samba “Jura”, de Sinhô, lançado por ela na revista musicada “Microlândia”. Ironicamente, porém, ela a foi a segunda a gravá-lo, pois “Jura” teve dois registros na mesma sessão, fato inusitado: o primeiro por Mário Reis (matriz 2070, lançado com o selo Odeon, da qual a Parlophon era subsidiária), e em seguida o de Aracy (matriz 2071), ambos de sucesso e com acompanhamento da Orquestra Pan American de Simon Bountman, aqui como Simão Nacional Orquestra. Em seguida outro clássico, extraído do disco 12926-A, matriz 2366, lançado em março de 1929: “Iaiá”, ou “Meiga flor”, de Henrique Vogeler, Luiz Peixoto e Marques Porto, que ficou mais conhecido como “Ai, Ioiô”, considerado o primeiro samba-canção brasileiro, também cantado por Aracy na revista “Miss Brasil”. Tinha recebido duas letras anteriormente: a primeira por Freire Júnior (“Meiga Flor”), gravada por Francisco Alves, e a segunda por Cândido Costa (“Linda flor”), na voz de Vicente Celestino, mas a que pegou foi mesmo este “Ai, Ioiô”, com Aracy Cortes.

Logo depois, trazemos de volta a cantora-folclorista Elsie Houston (Rio de Janeiro, 1902-Nova York, EUA, 1943), agora interpretando um  motivo popular adaptado por Ary Kerner (também autor de “Na Serra da Mantiqueira” e “Trepa no coqueiro”, entre outras), o samba “Morena cor de canela”, extraído do disco Columbia 5217-A, lançado em junho de 1930, matriz 380649.

Na faixa seguinte, temos a carioca Laura Suárez (1909-c.1990), a primeira “garota de Ipanema” de que se tem notícia, afinal foi Miss Ipanema em 1929. Atuou também em teatro (ao qual dedicou mais de 50 anos de carreira) e cinema, tendo participado de filmes como ‘Tudo azul” e ‘Mulheres cheguei”. Só gravou na Brunswick, marca americana de curta duração entre nós, em 1930/31: 13 discos com 26 músicas, e aqui se apresenta com um samba de sua autoria, “Você… você”, lançado em setembro de 1930 pela Brunswick com o número 10092-B, matriz 422.

Encerrando, trazemos Neide Martins, cantora cuja biografia é uma incógnita. Ela deixou uma discografia escassa, e dela aqui está sua gravação de estreia, o frevo-canção “Que fim você levou?”, de Nélson Ferreira, para o carnaval pernambucano de 1937,  lançado em janeiro daquele ano pela Victor e gravado ainda em 10 de dezembro de 36, disco 34142-A, matriz 80293. Enfim, mais uma edição do GRB com cantoras que deixaram sua marca na história da MPB, e que não podem nem devem ser esquecidas.

TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO

Coletânea Bolachão (2011)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! O dia hoje foi longo e bastante atarefado, mas ainda assim cheguei a tempo de marcar o ponto. Como hoje é (ainda) dia de coletânea, aqui vai uma seleção extraída de gravações das décadas de 20, 30 e 40. Esta coletânea já estava pronta há algum tempo atrás. Ficou na reserva, mas acabou sendo aproveitada hoje por já estar prontinha para a publicação.
Como podemos ver na lista a baixo, temos aqui um time variado de artistas em gravações raras, reunidas em 26 músicas, que equivalem à 13 bolachas de 78 rpm, que juntas dão um bolachão.
Desculpem, mas amanhã (hoje) vai ser um dia duro. É domingo de Páscoa, mas eu vou trabalhar. Trabalho bom, com certeza, senão eu não estaria nessa… Boa Páscoa a todos!

adeus estácio
azulão – olga praguer coelho
agora é cinza – mario reis
morena cor de canela – elise houston
você nõa gosta de mim – carlos galhardo
yaya linda flor – aracy cortes
quatro horas – dupla preto e braco
mulata – olga praguer coelho
mulher enigma – francisco alves
você… você – laura suarez
cadê vira-mundo? – conjunto tupy
ritmo do coração – alzira camargo
eu vivo sem destino -silvio caldas
cecy e pery – trio de ouro
que fim levou você – neide martins
nada além – orlando silva
ciúme de cabocla -elsinha coelho
meiga flor – vicente celestino
pirata – dircinha batista
por causa desta cabocla – silvio caldas
jura – aracy cortes
eu não posso perder pra você – gstão formenti
estrela do céu – olga praguer coelho
dor de cabeça – fernando jazz band sul americano
sem você – aurora mirada
maricota saí da chuva – trio madrigal e trio melodia