O Toque Musical põe hoje em foco uma das mais expressivas cantoras brasileiras. Estamos falando de Maria das Graças Rallo, que adotou inicialmente o nome artístico de Cláudia, e, por questões numerológicas, passou a se assinar Claudya. Ela veio ao mundo no dia 10 de maio de 1948, na cidade do Rio de Janeiro. Entretanto, foi criada em Juiz de Fora, Minas Gerais, onde também começou a cantar, aos oito anos de idade, participando de um programa de calouros da Rádio Sociedade. Aos treze anos, atuou como “crooner” do conjunto Meia-Noite, que atuava em bailes e festas de Juiz de Fora e cidades vizinhas. Sua carreira profissional se inicia nos anos 1960, em São Paulo, quando participa do programa “O fino da bossa”, da antiga TV Record. Entretanto, sua apresentadora, Elis Regina, a baniu definitivamente da atração, pois Claudia foi considerada, logo de saída, uma intérprete tão boa quanto Elis, que evidentemente temia sofrer concorrência. Claudia gravou seu primeiro disco em 1965, na RGE, um compacto simples com as músicas “Deixa o morro cantar”, de Tito Madi, e “Sorri”, de Zé Kéti e Elton Medeiros. Logo no primeiro ano de carreira, foi agraciada com o Troféu Roquette Pinto de cantora-revelação e, em 1967, lançou seu primeiro LP, também pela RGE. Mais tarde, viajou para o Japão, onde se apresentou ao lado do saxofonista Sadao Watanabe, ficando seis meses naquele país, e lançando um LP em japonês que vendeu mais de 200 mil cópias! De volta ao Brasil, em 1969, venceu o I Festival Fluminense da Canção, defendendo a música “Razão de paz para não cantar” , de Eduardo Lages e Alézio de Barros, que também concorreu no quarto FIC (Festival Internacional da Canção), obtendo a quarta colocação e dando à nossa Claudia o prêmio de melhor intérprete. Ela também foi marcante presença em diversos festivais de música no exterior (Japão, Espanha, Grécia, México, Venezuela…), tornando-se a cantora mais premiada fora do Brasil. E, aqui mesmo, recebeu ainda os troféus Imprensa e Globo de Ouro. Claudia tem, em sua discografia, mais de 20 álbuns, entre LPs e CDs, e alguns compactos, e entre seus principais sucessos, destacamos: “Jesus Cristo” (cuja gravação chegou a vender tanto ou mais que a do próprio Roberto Carlos!), “Com mais de trinta”, “Só que deram zero pro Bedeu”, “Deixa eu dizer” (sampleada por Marcelo D2 na música “Desabafo”), “Mudei de ideia”, “Memória livre de Leila” (homenagem póstuma à atriz Leila Diniz, morta em acidente aéreo, composta por Taiguara) e “Gosto de ser como sou”. O grande momento da carreira de nossa Claudia viria em 1982, ao ser convidada para fazer o papel principal na versão brasileira do musical “Evita”, de autoria dos britânicos Andrew Lloyd Weber e Tim Rice. Grande sucesso de público e crítica, “Evita” permaneceu seis meses em cartaz em São Paulo, e quase dois anos no Rio de Janeiro, e Claudia ainda foi considerada a que melhor interpretou o mito político argentino entre todas as adaptações internacionais do espetáculo. Claudia (ou Claudya) é ainda, desde os 23 anos de idade, exímia tecladista, e sua filha, Graziela Medori, também segue carreira de cantora. Da extensa e bastante expressiva discografia da então Claudia, o TM oferece hoje, a seus amigos, ocultos e associados, o sexto álbum de estúdio da intérprete. É “Reza, tambor e raça”, editado no início de 1977 pela RCA Victor, depois BMG, Sony/BMG e atualmente Sony Music. Com direção de estúdio do experiente Osmar Navarro, e arranjos e regências a cargo dos competentíssimos José Paulo Soares, Pepe Ávila e Bauru, é um trabalho muitíssimo bem cuidado, técnica e artisticamente. Nele, Claudia dá um banho de interpretação e técnica vocal, seja em regravações de hits da ocasião (“Soy latino-americano”, “O cavaleiro e os moinhos”, “Apenas um rapaz latino-americano”, “Glorioso Santo Antônio”), quanto em trabalhos até então inéditos , como a própria faixa-título, “Reza, tambor e raça”, “Poeta do medo”, “Pororoca” e ‘Ana cor de cana”. E a curiosidade deste trabalho fica por conta da releitura do tema da série de TV norte-americana “Peter Gunn”, sucesso de audiência nos anos 1950/60, composto por Henry Mancini, que ganhou letra em português com o título de “Vai, baby” e acordes brasileiríssimos de samba! Enfim, um excelente trabalho da agora Claudya, cuja voz permanece atualíssima e vibrante. E ela continua aí, na ativa, para alegria de tantos quanto apreciem o que nossa música popular tem de melhor e mais expressivo!
reza, tambor e raça
soy latino americano
glorioso santo antonio
poeta do medo
pororoca
lua negra
apenas um rapaz latino americano
o cavaleiro dos moinhos
vai baby (peter gunn)
segunda feira
homem e mulher
ana cor de cana
*Texto de Samuel Machado Filho