Boa tarde, amigos clássicos e eruditos! Ah, viu só? Hoje eu mudei a chamada, afinal as terças feiras tem sido de interesse mais daqueles que apreciam a música erudita, creio eu. Acho importante valorizarmos também a música dos grandes mestres, trazer à luz nomes e obras de autores que muitas vezes ficam limitados a pequenos concertos ou direcionado a um público específico. Tenho para mim, como teoria, que não é o povão quem não gosta de música clássica/erutita. No meu entendimento, o que faltou foi a educação musical. Infelizmente, no Brasil, não existe essa preocupação no ensino da música. Quando falo assim, me refiro não à necessidade de que todos aprendam a tocar instrumentos musicais e saiam tocando por aí, mas sim de que fosse dado ao povo subsídios para um conhecimento musical básico e histórico. A Música deveria ser uma matéria tão importante quanto a Matemática ou o Português. Bem porquê, através da música também se aprende matemática ou se afina o português. A música e as artes, num geral, precisam ser (mais) inseridas no contexto educacional, da mesma forma que no social. “Rock In Rio” é um espetáculo, mas não oferece nada além do que foi proposto, diversão… Acho que ainda falta a arte. E arte não é só diversão, é também coisa séria e pensada. Acho que nos falta é isso, uma coisa mais pensada. Voltada não para nichos específicos, mas aberto e a todos. Enquanto houver a crença de que o poder se faz com controle e retenção do conhecimento, a sociedade humana continuará em conflitos. Os carentes, embrutecidos, continuarão revoltados e rebelados contra aquilo que os limita e sem saberem realmente como e o que lhes faltam.
Tivesse tido eu uma melhor educação musical, estaria aqui agora descrevendo e discursando as qualidades deste belo e raro lp de uma outra forma. Talvez, quem sabe, nem fosse preciso estar aqui. Talvez não precisaria de blogs como este. Seríamos educados o suficiente para mantermos uma conduta como os americanos, europeus ou japoneses, respeitando regras e leis. Mas, fazer o quê quando o nosso único recurso para sair da lama é o nosso próprio esforço?
Putz, acho que viajei nas minhas divagações… melhor falarmos do disco…
Eis então “Mestres do Barroco Mineiro”, um belíssimo e raro lp lançado por Irineu Garcia e seu selo Festa. Nele encontramos obras do repertório sacro mineiro, no período áureo da mineração (Sec. XVIII), recolhidas pelo musicólogo Curt Lange, sob os auspícios de Clóvis Salgado, então Governador de Minas Gerais. Curt Lange reuniu um conjunto de documentos importantíssimos da música brasileira, principalmente a reconstituição de uma série de obras de cunho religioso, produzidas por compositores mineiros. José Joaquim Emérico Lobo de Mesquita, Marcos Coelho Netto, Francisco Gomes da Rocha e Ignácio Parreira Neves, foram esses compositores e tiveram suas obras apresentadas na Europa, na Argentina e, claro, no Brasil. Segundo nos conta o texto de contracapa, esta gravação que gerou o disco foi feita em 1958, por ocasião do “Festival de Música Religiosa de Minas Gerais, realizado no Rio de Janeiro pela Associação de Canto Coral e Orquestra Sinfônica Brasileira, sob a regência do Maestro Edoardo De Guarnieri.
Este álbum, embora não apresente data, eu suponho que tenha sido lançado na primeira metade dos anos 60. Foi o segundo volume, como consta na capa. Porém eu não consegui saber sdo primeiro e nem ficou claro se havia outros volumes. O selo Festa durou até o ano de 1967 e pelo jeitão do disco e seu número de série, com certeza, deve ser um dos últimos.
No final dos anos 90, a artista plástica Gracita Garcia Bueno, sobrinha de Irineu Garcia, conseguiu resgatar uma boa parte do acervo do selo Festa que estavam mofado nos arquivos da Polygram. Com muito esforço ela conseguiu trazer de volta, em versão cd, alguns dos mais importantes títulos lançados na época pelo selo. Quem conhece um pouco do catálogo criado por Irineu sabe que são jóias raras, música e poesia, o melhor do Brasil.
antifona de nossa senhora – josé joaquim emérico lobo
credo – ignácio parreira neves
maria mater gratiae – marcos coelho neto
novena de nossa senhora do pilar – francisco gomes da rocha