Junia Horta – Espaços (1981)

Bom dia a todos! Eu havia digitalizado alguns discos de artistas mineiros, independentes para um amigo. Indiquei a ele o Mediafire como suporte de armazenamento de seus arquivos. Mas acho que o cara deixou a ‘torneira’ aberta, pois percebo que agora que esses mesmos arquivos estão a deriva, espalhados pela rede e o coitado nem deve ter se dado conta disso. Lá vou eu então resgatando os independentes perdidos. Deixa eu trazê-los para o lugar certo. De volta a fonte, com direito a uma nova filtragem.

Entre os tantos que vou encontrando, para hoje temos este belíssimo trabalho da Júnia Horta, “Espaços”, disco independente lançado em 1981. Há uns dois anos atrás eu postei aqui um outro disco dela e até pensei que fosse o primeiro, o trabalho era de 83. Como eu não conheço nenhum outro álbum da artista, na dedução, imagino que o primeiro foi este que agora apresento.
Na mesma linha de “Não me lembre demais e nem me esqueça“. “Espaços” é um trabalho muito consistente e agradável. Todas as músicas são de Júnia, algumas em parceria. Ela conta neste lp com a participação e a força de muita gente boa. Figuras como o primo Toninho Horta, Aécio Flávio, Marco Antonio Araújo e Jane Duboc não deixam de ser destaque na produção e gravação deste disco. O álbum foi gravado, parte em Belo Horizonte, pelo Dirceu Cheib e outra no Rio de Janeiro, pelo Ed Lincoln. A capa, por sinal, muito bonita (se o álbum estiver novo!) traz uma gravura da artista plástica mineira Miúra Bellavinha. As duas faixas instrumentais, “Espaços” e “Sinais da pedra” foram compostas para a trilha sonora do filme “Sinais da Pedra, de Paulo Augusto Gomes. Taí uma boa pedida para a sexta independente 😉
tartaruga voou
nave estrela
pois sim, pois é
visita
espaços
quem dera
as irmãs
estrela escondida
e agora?
valsa do juca
sinais da pedra

Travessia – O Canto Dos Mineiros (1981)

Bom dia, amigos cultos e ocultos. A escolha do disco de hoje, além do fato de ser um álbum independente, tem muito a ver com o seu título, o nome do disco, “Travessia”. Pensei nele não por qualquer ligação com Milton Nascimento, Clube da Esquina ou outra ‘mineiridade’. “Travessia” veio em seu sentido literal, quer dizer, naquilo que a expressão realmente significa: transposição de um ponto ao outro. Nesse sentido, eu me refiro também à passagem. E hoje a “passagem” ou “travessia” poderá estar acontecendo. Talvez o dia amanhã seja mais triste. Se eu não aparecer por aqui, podem ter certeza que estarei nessa hora chorando, num misto de tristeza e de alívio por ter presenciado por tantos anos o sofrimento de uma pessoa querida. A dor do outro que também dói na gente chama-se sentimento. Desculpem por essa introdução, mas há momentos em que eu não consigo separar o Augusto TM, do autor do blog. As vezes aflora mais um lado do que o outro e eu acabo confundindo a cabeça dos meus leitores. O fato é que esta postagem eu dedico à minha tia-mãe querida, que já bem idosa e muito debilitada, hoje passará por um processo cirúrgico bastante complicado. Rezo para que Deus interceda e acompanhe a sua travessia.
Bom, deixa eu enxugar as lágrimas e buscar um alento. Falando um pouco do disco “Travessia – O canto dos mineiros”, este álbum nasceu de um projeto realizado no final dos anos 70, uma espécie de festival estadual de música, ou melhor, 430 músicas de várias regiões de Minas inscritas no projeto, das quais foram selecionadas 25 e dessas, 12 finalistas que vieram a ser apresentadas em show no Palácio das Artes e incluídas no presente lp. Ao que tudo indica, acabou acontecendo uma parceria da Fundação Clóvis Salgado (que foi quem promoveu a ação) com a Fiat Automóveis de Betim. O disco só saiu graças ao apoio promocional da Fiat e um ano depois quando a fábrica já completava cinco anos no Brasil. O álbum “Travessia” teve a direção artística de Célio Balona e a produção musical por conta do Nivaldo Ornelas. Participam do disco alguns dos nomes mais importantes da música mineira, tendo na cozinha o grupo de cordas da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais, gente como Marcus Viana, Marco Antonio Araújo, Yuri Popoff e outros não menos importantes. Este álbum, importantíssimo na história da música popular em Minas, até hoje não teve seu relançamento em versão digital. Trata-se por tanto de um disco raro. E também muito bonito, podem acreditar!

sagrado coração – sagrado coração da terra
gaiola – ladston nascimento
lua virada – alexandre sales
travessura – melão
forró possível – lery faria jr
violão não é solução – aldo junior
coração bendito – haroldo anunciação
quem dera – junia horta
canto mineiro – flávio do carmo
primavera – grupo mambembe
estrada a fora – grupo raízes
mineirinha – selma marçal

Junia Horta – Não Me Lembre Demais, Nem Me Esqueça (1983)

Já faz um tempo que não escuto falar mais na cantora e compositora Junia Horta. Me parece que ela trocou a carreira de artista pela burocrática. A última informação que tive dela foi que estava trabalhando na Secretaria Estadual de Cultura de Minas Gerais. Junia, para os que não sabem é parente (prima ou tia?) do guitarrista Toninho Horta. Com ele, ela compôs ainda na adolescência a letra para a música “Flor que Cheira Saudade”, gravada por Aécio Flavio e seu conjunto. Em 1967, outra criação dos dois, “Maria Madrugada”, esteve na primeira eliminatória do II FIC e foi um dos passaportes de Toninho para Rio de Janeiro, que no início dos anos 70 se mudaria em definitivo para lá.

“Não me lembre demais, nem me esqueça” foi gravado na Bemol e contou com um time de feras mineiras nesta produção independente. Me parece que foi seu primeiro e único disco. Não sei se ela chegou a gravar outros e nem os encontrei na rede. Ironicamente, com este título, o álbum chega a ser quase um prenúncio. Mas a sua música tem qualidades que estão no sangue. Além de letrista e compositora ela também tem uma bela voz. Há algo de Sueli Costa… sei lá… Só sei dizer que o disco é bom e vale uma conferida.

memória
veneno
corpo e alma
caldeirão
loucura
de sol a sol
verdade submersa
canto de desalento
contradança
fantasmas
mariana
velas ao mar