Manezinho Araujo – Cuma É O Nome Dele? (1974)

Digam lá, amigos cultos e ocultos! Em meio a pandemia e dentro de casa, porque nós temos juízo, vamos aproveitar o tempo desfrutando das raridades deste nosso Toque Musical. Hoje e mais uma vez temos aqui a felicidade de trazer o Manezinho Araújo, o Rei da Embolada. Um artista em duplo sentido, tanto na música quanto nas artes plásticas, mais exatamente na pintura. Manuel Pereira de Araújo, o Manezinho Araújo foi um cantor, compositor, jornalista e pintor. Dedicou-se a música até os anos 50. Gravou entre os anos 30 e 50 dezenas de discos e suas composições foram também gravadas por diversos artistas. Na década seguinte começou uma nova carreira, se entregando de corpo e alma a pintura. Nessa área também se destacou, sendo considerado um artista/pintor no estilo Arte Naïf, um termo francês cujo significado é ingênuo, ou seja, artistas geralmente auto-didatas, sem formação acadêmica, cujo os trabalhos são chamados de ‘Primitivo’. Manezinho Araújo se tornou um mestre, consagrado internacionalmente como pintor brasileiro, assim como Heitor dos Prazes e Sidney da Conceição.
O álbum que trazemos de Manezinho, creio eu, foi seu último registro musical. Lançado pela RCA/Camden em 1974, foi um retorno em disco, onde ele regravou alguns de seus maiores sucessos. Disco bacana e realmente imperdível. Vale conferir no GTM…

não sei o que é faca
nana roxa
saudade de pernambuco
cuma é o nome dele
dor de cotovelo
o carrité do coroné
seu dureza da rocha pedreira
novo amanhecer
pra onde vai valente
como tem zé na paraíba
vatapá
olha o buraco no barreiro, cavalheiro
sulandá

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Forró 78 – Seleção 78 RPM Do Toque Musical Vol. 138 (2015)

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Ah, a alegria do reencontro…  É o que certamente vocês,  amigos cultos, ocultos e associados do nosso TM, estão sentindo ao ver, após longa ausência, mais um volume do nosso Grand Record Brazil. E eu também,  é claro, estava sentindo saudades deste convívio quinzenal com vocês.  Nesta que é a edição de número 138, estamos apresentando uma seleção de dezessete gravações, como sempre de alto valor histórico e artístico, de um gênero bem brasileiro, o forró. Afinal de contas, estamos em junho, mês de festas juninas, que no Nordeste sempre foram  verdadeiras apoteoses.
Pra começar, trazemos Gordurinha (Waldeck Arthur de Macedo, Salvador, BA, 10/8/1922-Rio de Janeiro, 16/1/1969),apresentando um baião dele mesmo em parceria com Nelinho, “Praça do Ferreira” (alusão a uma praça de Fortaleza, capital do Ceará, um dos pontos turísticos da cidade). Saiu pela Continental em setembro de 1961, sob número 17993-B. Em seguida, uma curiosa gravação de “Maria Chiquinha”,xote-balada humorístico de Guilherme Figueiredo e Geysa Bôscoli. Originalmente lançada por Evaldo Gouveia e Sônia Mamede na RGE, em agosto de 1961,aqui consta na gravação feita mais tarde por Marinês (“a rainha do xaxado”), em dueto com Luiz Cláudio, na RCA Victor.O registro data de 20 de outubro de 1961,editado sob número 80-2413-A,matriz M2CAB-1518, e saiu também no LP “Outra vez Marinês”. Um dos maiores conjuntos vocais da MPB,o Trio Nagô (Evaldo Gouveia, Mário Alves e Epaminondas de Souza) aqui comparece com o baião “O gemedor”, de Gilvan Chaves,originalmente lançado por ele mesmo em 1955. O Trio Nagô fez seu registro na RCA Victor em 20 de dezembro de 1956, e o lançamento deu-se em março de 57 sob número 80-1749-A, matriz BE6VB-1410. Marinês (Inês Caetano de Oliveira, São Vicente Férrer, PE, 16/11/1935-Recife, PE, 14/5/2007) comparece mais uma vez aqui com “Cadê o peba?”, divertido e malicioso coco de autoria de Zé Dantas, parceiro de Luiz Gonzaga em hits como “Vozes da seca”, “Cintura fina” e “O xote das meninas”. Marinês o gravou  na RCA Victor em 25 de janeiro de 1961, com lançamento em março seguinte sob número 80-2301-B, matriz M2CAB-1183, e o registro saiu também no LP “O Nordeste e seu ritmo”.  Manezinho Araújo (Manoel Pereira de Araújo, Cabo, PE, 27/9/1913-São Paulo, 23/5/1993), o eterno “rei da embolada”, aqui nos oferece um clássico do gênero, de autoria dele próprio:  é “Cuma é o nome dele?” (“É Mané Fuloriano”…), lançado pela Sinter em outubro de 1956 sob número 498-A,matriz S-822, figurando também no LP de dez polegadas “Manezinho Araújo cantando no Cabeça Chata” (um restaurante que ele então possuía no Rio de Janeiro, especializado em música e comidas típicas do Nordeste).  O eterno Rei do Baião, Luiz Gonzaga (Exu, PE, 13/12/1912-Recife,PE,2/8/1989), comparece aqui com um de seus primeiros  hits cantados. É o “chamego” “Penerô xerém”, dele e de Miguel Lima, gravação Victor de 13 de junho de 1945,lançada em agosto do mesmo ano, disco 80-0306-A,matriz S-078189. Na faixa seguinte,temos novamente Marinês, agora interpretando o xote “Peba na pimenta”, de João do Valle (antes de estourar nacionalmente com “Carcará”), José Batista e Adelino Rivera, outra divertida e maliciosa página do repertório da “rainha do xaxado”. Saiu pela Sinter em setembro de 1957 sob número 568-A, matriz S-1231, e também figurou no LP de dez polegadas “Vamos xaxar com Marinês e sua Gente”. “Peba na pimenta”  tem várias regravações, como as de Ivon Cúri e do próprio João do Valle. Gilvan (de Assis) Chaves (Olinda, PE, 20/9/1923-São Paulo, 12/8/1986) comparece nesta seleção com o divertido xote “Casamento aprissiguido”,de Ruy de Moraes e Silva. Foi por ele gravado na recém-inaugurada Mocambo, dos irmãos Rozenblit, que tinha sede no Recife,com lançamento por volta de abril de 1955, disco 15029-A,matriz R-545, figurando depois no LP-coletânea de dez polegadas “Oito sucessos”. Depois, Marinês volta, desta vez para interpretar “Xaxado da Paraíba”, de Reinaldo Costa e Juvenal Lopes,lançado pela Sinter por volta de outubro de 1957 sob número 579-A, matriz S-1253, sendo depois faixa de abertura do LP “Aquarela nordestina”. Temos depois a famosa “Mulher rendeira”, que ficou conhecida graças ao filme “O cangaceiro” (1953), produzido pela Vera Cruz e vencedor da Palma de Prata do Festival de Cannes como melhor filme de aventuras.  No entanto, o sucesso internacional do filme não impediu a falência do estúdio, uma vez que  a maior parte dos lucros ficou com sua distribuidora, a norte-americana Columbia Pictures.  De origem folclórica, mas com autoria por vezes atribuída aos cangaceiros do bando de Lampião e até mesmo a ele próprio,”Mulher rendeira” era cantada no filme pelos Demônios da Garoa (em “off”), e aqui apresentamos a gravação comercial, em ritmo de baião,  feita por eles mesmos, ao lado do cantor Homero Marques, em 27 de janeiro de 1953, com lançamento pela Odeon em março do mesmo ano, disco 13403-A, matriz 9594. O paraibano (de Taperoá) Zito Borborema, sobre quem pouco se sabe, a não ser que foi casado com Chiquinha do Acordeon , dessa união resultando um filho, Perpétuo Borborema, integrante do Trio Pé-de-Serra, aqui interpreta, acompanhado de seus “Cabras da Peste”, um clássico assinado por Venâncio e Curumba,o rojão (espécie mais acelerada de baião) “Mata Sete”. Foi lançado pela recém-nascida RGE,  de José Scatena, em dezembro de 1956, sob número 10018-A, matriz RGO-109, entrando depois no LP de dez polegadas “O Nordeste canta”.  Depois,temos novamente a grande Marinês, agora com outro clássico de João do Valle, feito em parceria com Silveira Júnior e Ernesto Pires: o xote “Pisa na fulô”,em gravação lançada pela Sinter em setembro de 1957 no lado B de “Peba na pimenta”, disco 568,matriz S-1232, sendo igualmente incluída no LP de dez polegadas “Vamos xaxar com Marinês e sua Gente” (o curioso é que “Pisa na fulô” também figurou no álbum “Aquarela nordestina”, em doze polegadas, editado posteriormente).  Outro grande nome da música nordestina, Luiz Wanderley (Colônia de Leopoldina, AL, 27/1/1931-Rio Tinto, PB, 19/2/1993) apresenta-se aqui com um xote dele próprio em parceria com Jeová Portela,”Moça véia”, gravação dos primórdios da marca alemã Polydor no Brasil, lançada em 1955 sob número 126-A, matriz POL-1065. Showman completo (cantor,compositor,humorista,etc.), o notável Ivon Cúri  (Caxambu, MG, 5/6/1928-Rio de Janeiro, 24/6/1955) aqui se faz presente com um verdadeiro clássico de seu repertório, o baião “Farinhada” (conhecido como “Tava na peneira”, primeiro verso da letra), assinado pelo mestre Zé Dantas. Ivon o imortalizou na RCA Victor em 8 de junho de 1955, e o lançamento se deu em agosto seguinte sob número de disco 80-1473-A, matriz BE5VB-0763, sendo a faixa mais tarde incluída no LP de dez polegadas “O rei decreta os sucessos” (Ivon era então o “Rei do Rádio”). ”Farinhada” tem várias regravações, inclusive do próprio Ivon Cúri. Luiz Wanderley retorna em seguida, desta vez para interpretar “O boi na cajarana”, motivo popular adaptado por Venâncio e Curumba, e por eles próprios lançado em disco,em 1953. O registro de Luiz Wanderley, em ritmo de baião, saiu pela Chantecler em janeiro de 1959, disco 78-0078-A, matriz C8P-155, e entrou mais tarde em seu primeiro LP, “Baiano burro nasce morto”.  Pernambucano de Amaraji, Ivanildo, conhecido como “o sax de ouro”, marca presença neste volume do GRB com o baião “Crioula”, de Moreira Filho, gravação Mocambo de 1961, lançada sob número 15372-A, matriz R-1263, e também faixa do LP “Uma noite no Comercial”.  Para finalizar, outro grande nome da música regional nordestina, Ary Lobo (Gabriel Euzébio dos Santos Lobo, Belém,  PA, 14/8/1930-Fortaleza, CE, 22/8/1980) apresenta o delicioso xote “Abotoa o paletó, Belizário”, de Geraldo Queiroz e Waldemar Tojal. É gravação RCA Victor de 10 de julho de 1957, lançada em setembro do mesmo ano sob número 80-1844-A, matriz 13-H2PB-0163. Enfim, uma seleção forrozeira de nível, que retoma a bem-sucedida trajetória do GRB, para alegria de tantos quantos apreciem nossa música popular no que ela tem de melhor. Puxa o fole,  maestro!
*Texto de Samuel Machado Filho

 

Manezinho Araujo – Pra Onde Vai Valente? (1986)

Boa noite, amigos cultos, ocultos e associados! Aqui vamos nos com a postagem do domingo. Queria ter apresentado este disco hoje, logo cedo. O dia estava ótimo e me inspirou a tal postagem. Infelizmente, acabei envolvido como outras tarefas de fim de semana. Só agora é que liberei…
Temos assim o Manezinho Araújo, mais um grande artista, vindo lá de Pernambuco. Um nordestino da melhor qualidade, talvez o primeiro com quem eu ouvi uma embolada. Cantor, compositor e pintor. Veio para o Rio de Janeiro nos anos 30. Gravou de 1933 a 56 diversos discos de embolada, e também frevos, côcos e sambas. Durante esse período lançou com sucesso músicas de sua autoria como “Quando eu vejo a Margarida”; “Cuma é o nome dele?”; “Pra onde vai Valente?” e outras mais… Gravou também e com sucesso outros autores nordestinos. Ficou conhecido como o “Rei da Embolada”. Ainda nos anos 50 decidiu abandonar a carreira de cantor. Segundo contam, seu show de despedida tinha quase 10 mil pessoas! Passou a se dedicar á culinária, abrindo um restaurante de comidas típicas nordestinas. Depois se enveredou para as artes plásticas, se transformando num pintor. Conseguiu também projeção e renome neste campo, tendo seus trabalhos expostos em dezenas de exposições e constando em catálogo das mais diversas galerias e museus, inclusive internacionais.
Este álbum, lançado em 1986, reúne alguns de seus maiores sucessos, todas as músicas sendo de sua autoria. Uma delícia que cairia bem no domingo, mas pode também se estender pela semana. Alegre e divertido. Quer conferir?

pra onde vai valente?
pipira
tadinho do manezinho
sulandá
festa no arraial
quando eu vejo a margarida
como é o nome dele?
‘seo’ mané é o homem
dia 40
juntou a fome
futebol na roça
olha o buraco cavalheiro