Jorge Antunes – No Se Mata La Justiica (1981)

Olá amigos cultos e ocultos! Há muito que eu venho ensaiando uma semana ‘toquemusical’ dedicada a um tipo de música que não é feita para tocar no rádio. Até então, o máximo que tenho feito é postar música que as rádios não gostam de tocar. O Toque Musical, como todos já sabem, se interessa por tudo. Tudo que possa gerar algum intercâmbio e uma discussão inteligente, muito embora poucas foram as vezes em que nos dispusemos a discutir com maestria assuntos dessa natureza. Eu faço a minha parte, jogando na roda, todos os dias, um assunto novo e diferente. Mas é justamente algo diferente que eu queria fazer por uma semana, pelo menos. Acho que fico protelando por ter a convicção de que uma dose maciça de experimentalismo possa acabar comprometendo o interesse de uma grande maioria. Por isso, acabo diluindo o que é difícil de engolir puro. Por outra, tem também a questão dos dias dedicados a isso ou aquilo (eruditos, trilhas e coletâneas). Querendo ou não, acabo voltando para a salada mista. Assim sendo, viva a variedade! Vamos à ela…

Tenho aqui para vocês um disco do singular compositor Jorge Antunes. Digo ‘singular’ no sentido de ser ele um tipo raro de músico, ou, de ser este um músico envolvido em situações musicais diferentes. Jorge Antunes é um nome pioneiro. Foi o primeiro músico brasileiro a trabalhar com instrumentos eletrônicos, tipo o Teremin, um instrumento musical totalmente eletrônico, inventado no início do século passado por um russo, chamado Lev Sergeyevich Termen. No início dos anos 60 Jorge Antunes se destacou como um precursor da música eletroacústica no país. Foi sempre um pesquisador, desenvolvendo uma técnica de composição utilizando-se das cores em correspondência ao som, que ele chamou de “música cromomfônica”. É um músico respeitadíssimo mundo a fora, mestre e doutor no assunto. Desde de 1973 é professor da UnB, onde desenvolve suas pesquisas no Laboratório de Música Eletroacústica e ensina Composição e Acústica Musical. Sua obra, talvez, mais conhecida seja a ópera “Olga”, inspirada na vida da alemã Olga Benário, militante do Partido Comunista e companheira de Luis Carlos Prestes. Outra particularidade de Jorge Antunes é o fato de ser um músico engajado politicamente. Socialista de carteirinha e um dos mais importantes membros do PSOL. Foi candidato pelo partido da Heloisa Helena ao Senado. Como eu disse, uma figura singular e não só na sua música.
“No se mata la justicia” foi um álbum lançado em 1981, no qual Jorge Antunes reúne três de suas obras, realizadas em épocas distintas, todas fora do Brasil. “Cromorfonética” é uma gravação de 1969, trabalho realizado durante seu curso de pós graduação, numa bolsa de estudos na Argentina. “Proudhonia” é de 72, composto e gravado na França. E finalmente “Elegia violeta para Monsenhor Romero”, produzido em 1980, durante quatro meses que o compositor passou em Israel. Em 2003 o disco foi relançado, na versão cd, pelas Edições Paulinas. Desta vez Jorge Antunes resolveu incluir outros trabalhos: “Rimbaudiannisia MCMXVC” e o “Rituel Violet”.
Eu talvez devesse aqui explicar melhor este disco, mas felizmente o álbum, de capa dupla, nos traz todas as informações necessárias. No arquivo estão reunidas as duas versões, lp e cd. Tudo bem mastigadinho 🙂
elegia violeta para monsenhor romero
cromorfonética
proudhonia
rimbaudiannisia MCMXCV – expiation pour cumiqoh
rimbaudiannisia MCMXCV – voyelles
rimbaudiannisia MCMXCV – ditirambus
rituel violet