Luiza Maria – Eu Quero Ser Um Anjo (1975)

Bom dia, amigos cultos e ocultos! Como sabem, a cada dia eu tenho espaçado ainda mais os nossos encontros e postagens. Sempre reclamei do tempo que tenho para me dedicar ao blog, principalmente quanto ainda tínhamos postagens diárias. Ainda me falta tempo e por conta disso, tenho buscado a ajuda de amigos que muito tem colaborado para a nossa sobrevivência.
Hoje, aproveitando uns momentos de ócio, resolvi postar algumas coisas. Estava ouvindo até agora há pouco este disco da cantora Luiza Maria, um álbum realmente bacana, bem setentão e inesquecível. Creio que a primeira vez que pus a mão nesse disco, eu ainda estava na minha segunda década, por volta dos 17 anos. Na época, esse era mais um dos muitos discos bons que rolavam na vitrola lá de casa. Não sei que fim levou e por muito tempo eu nem mais me lembrava. Foi só a partir do ‘bum’ dos blogs musicais que ele voltou, cheio de críticas positivas e interesse, pois afinal tratava-se de um disco que teve uma edição pequena, que nunca voltou a cena, nunca foi relançado… Redescoberto, se tornou como muitos outros raridade, disputada a tapas e tiros por colecionadores. Hoje, mais que raro, virou objeto de ostentação de endinheirados, pretensos colecionadores, que chegam a pagar mil pratas num exemplar! Pena que o meu sumiu, pois se o ainda tivesse, teria passado no cobre. Acho absurdo essa jogada de preços de vinil, mas se tem gente para pagar, que seja… Como colecionador, eu jamais pagaria, Enfim, cada um faz com seu dinheiro o que quer.
Bom, mas falando do disco em si, dessa artista pouco conhecida, achei melhor continuar na preguiça e colar aqui o texto bacana do jornalista Fernando Rosa (Senhor F), publicando originalmente na extinta revista Bizz:
Mesmo que insista em não saber disso, o Brasil teve a sua Carole King, com direito até mesmo a beleza da cantora e compositora americana. A moça atende pelo nome de Luiza Maria e gravou um raro e clássico disco em 1975, pela Philips. Com ela, músicos como o ex-Traffic Jim Capaldi, os iniciantes Lulu Santos, Rick Ferreira e Antônio Adolfo e outros cobras. E um repertório moderno e carregado de um frescor pop, que incluia uma canção inédita da Raul Seixas. Com uma carreira tão promissora quanto meteórica, Luiza Maria registrou seu nome na história do rock nacional com o disco “Eu Queria Ser Um Anjo”, produzido pelo guitarrista Rick Ferreira, que tocou com Raul Seixas. Em dez músicas, a maior parte de sua autoria, ela mostra seus refinados atributos de compositora, desfilando canções, roques, blues e climas zeppelianos, produzindo um resultado sem similar na época. E com sua voz um pouca rouca – mas quente e afinada, e transitando entre o rock de Rita Lee e a MPB de Gal Costa, disputa o espaço entre as melhores cantoras de sua geração. Atualíssimo em todos os aspectos, o disco abre com o folk-rock “Na Casca do Ovo”, parceria com Rick Ferreira e Paulo Coelho, sinalizando o tom alegre e comovente da obra. “Você precisa entender que o seu charme já era/E se você fecha a porta/Eu entro pela janela/Te mostro o verso que eu fiz/Te ensino o rock de novo/E com um beijo bem dado/Eu quebro a casca do ovo …”, canta ela. “Maya”, só dela, com arranjos de Capaldi, traz a guitarra de Lulu Santos, com o Vímana, em um dos momentos mais inspirados de sua carreira. O blues “Tão Quente” destaca, além da jazzística interpretação vocal, o piano “feito em casa” de Antônio Adolfo. E o envolvente funk-latino “Miro Giro” paga tributo ao então – e sempre! – obrigatório Santana. “O Príncipe Valente” assinala a presença de Raul Seixas/Paulo Coelho (novamente) no disco, com acompanhamento de Rick, Dadi (A Cor do Som) e Gustavo (A Bolha). “Não Corra Atrás do Sol”, com um saltitante piano de Mu (também A Cor do Som) e fuzz-guitar de Rick tem a clássica pegada roqueira dos anos setenta. Mas, é em “Universo e Fantasia”, uma espécie de “Starway to Heaven” (Led Zeppelin) brazuca, que o clássico rock setentista deixa sua marca mais profunda. O disco é um desfile de cobras do rock e da música popular brasileira, como raras vezes se reuniu. Além dos já citados, acompanham Luiza Maria os músicos Arnaldo Brandão (baixo, d’A Bolha), Fernando Gama (baixo, do Veludo Elétrico e Vímana), Rui Motta (também Veludo Elétrico e, depois, Mutantes, na fase Serginho), Luiz Paulo (teclados, ex-Módulo 1000) e Chico Batera, entre outros. Na capa, a jovem e bela Luiza Maria com longos cabelos cacheados e vestindo uma clássica bata, formatando o tradicional visual hippie setentão. Após três décadas, “Eu Queria Ser Anjo” continua moderno, em nada devendo aos melhores discos gravados em sua época, e esperando que sua beleza desperte a sensibilidade (ainda resta uma esperança!) de algum homem- ou mulher, quem sabe – de gravadora. Enquanto isso, na falta de uma edição oficial caprichada, incluindo as letras e a ficha técnica, rolam CDrs Brasil a fora, suprindo a necessidade e a curiosidade dos ouvintes mais ligados.

na casca do ovo

maya

tão quente

o príncipe valente

no fundo do poço

não corra atrás do sol

anjo

miro giro

eu sou você

universo em fantasia

 

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