Rir é o melhor remédio. E é o bom humor que marca a seleção desta oitava edição do Grand Record Brazil, apresentando dez fonogramas raros e, claro, bem alto astral.
Para começar, temos os Trigêmeos Vocalistas, um trio que era formado por três irmãos: Armando Carezzato, o mais velho, e os gêmeos Raul e Humberto, três anos mais novos (originalmente o nome do grupo era Trio Carezzato). Eles aqui comparecem com duas gravações Odeon: o corrido em estilo mexicano “Don Pedrito”, de Djalma Esteves (autor de rumbas como “Escandalosa”) e Célio Monteiro, gravação de 12 de maio de 1949, matriz 8491, lançada só em novembro seguinte com o nº 12958-A, matriz 8491, e o fox “Eu vou sapatear”, de Nicola Bruni, gravado em 29 de setembro de 1949 mas só lançado em maio de 1950 com o nº 12997-B, matriz 8558.
Outro grupo vocal dessa mesma época aqui comparece: os Vocalistas Tropicais. Formado na capital cearense, Fortaleza, em 1941, teve diversos componentes e, em 1946, surgiu a formação definitiva: Nilo Xavier da Motta (líder, violonista e arranjador), Raimundo Evandro Jataí de Souza (vocal, viola americana e arranjos), Artur Oliveira (percussão e vocal), Danúbio Barbosa Lima (percussão), estes quatro cearenses, e o pernambucano do Recife Arlindo Borges (violão e vocal solo). Eles aqui comparecem com dois grandes sucessos carnavalescos gravados na Odeon: as marchinhas “Jacarepaguá”, que cita no estribilho a rumba “El cumbanchero”, da folia de 1949, gravada em 21 de outubro de 48 e lançada um mês antes da folia em janeiro (12893-A, matriz 8427) e “Tomara que chova”, crítica à crônica falta d’água que acontecia no Rio de Janeiro na época, para os festejos momescos de 1951. Este é o registro original, datado de 6 de setembro de 1950 e lançado ainda em dezembro daquele ano com o nº 13066-A, matriz 8792. Pois, como se sabe, Emilinha Borba fez outra gravação, em outubro de 50, perla Continental, creio que a mais lembrada. Ambas as composições são de Paquito e Romeu Gentil, com o reforço de Marino Pinto em “Jacarepaguá”.
O comediante carioca Jorge Loredo também aqui comparece com o disco Columbia 3129, lançado em agosto de 1960. No lado A, matriz CBO-2424, ele aparece na pele de seu mais famoso personagem, Zé Bonitinho, “o perigote das mulheres”, surgido naquele mesmo ano no programa “Noites cariocas”, da extinta TV Rio. É uma composição de Fernando César (autor também de hits como “Dó-ré-mi” e “Joga a rede no mar”) e do maestro e pianista gaúcho João Leal Brito, o Britinho, que também acompanha o comediante com sua orquestra neste disco, que se completa com “Nobre colega”, de Édison Borges, matriz CBO-2425.
Outro comediante que marcou época bate ponto aqui no GRB 8: o “inimigo número um da tristeza”, Zé Fidélis (São Paulo, 1910-idem, 1985), um dos pioneiros do humor no rádio brasileiro e que, embora fizesse de papel de português, era descendente de italianos (!), tanto que sue nome verdadeiro era Gino Cortopassi. Famoso por suas paródias, ele aqui comparece com a da valsa “Alza, Manolita”, do provavelmente francês Léo Daniderff, e então sucesso na versão brasileira de Eduardo das Neves cantada por Osny Silva. Originalmente, “Manuelita” saiu pela Columbia, em junho de 1943, com o nº 55438, matrizes 10146-A/B, ocupando os dois lados do 78. Naquele ano, porém, a Byington & Cia. perdeu a representação da Columbia americana para a Odeon, e, em seu lugar, surgiu a marca Continental. Para marcar o início das atividades da nova marca, foram relançados cem discos da antiga Columbia, entre eles “Manuelita”, que voltou às lojas com o nº 15046.
Finalmente, temos Zé Gonzaga (José Januário Gonzaga do Nascimento, Exu, PE, 1921-Rio de Janeiro, 2002), que, como você já percebeu, era irmão de Luiz Gonzaga e também sanfoneiro. Ele inclusive se apresentou no exterior, substituindo o irmão famoso em uma excursão pela França, promovida pelo empresário de comunicação Assis Chateaubriand, em 1952, atuando também no Uruguai e na Argentina. Zé aqui está com um disco Copacabana de 1956, de nº 5601, sem indicação exata de mês de lançamento. No lado A, matriz M-1556, uma composição dele próprio com Amorim Roxo, o xote “O cheiro da Carolina”, uma coqueluche na época, também gravado por Carlos Antunes e pelo próprio irmão famoso, o Gonzagão (talvez o registro de maior sucesso entre os três). No verso, matriz M-1557, vem o “Xote da vovó”, também do próprio Zé Gonzaga com Nelinho, um solo de sanfona “bão da mulésta”, sô! E que encerra esta bem humorada seleção do GRB 8, com a qual você poderá desfrutar de agradáveis momentos de descontração e alegria. Bom divertimento!
* TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO
manuelita (parte 1) – zé fidelis
manuelita (parte 2) – zé fidelis
o cheiro da carolina – zé gonzaga
xote da vovó – zé gonzaga
nober colega – jorge loredo
zé bonitinho – jorge loredo
dom pedrito – trigemeos vocalistas
eu vou sapatear – trigemeos vocalistas
tomara que chova – vocalistas tropicais
jacarepaguá – vocalistas tropicais