O Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos mais um disco na linha dançante, desses que animavam quaisquer bailes e festas não só em residências como também em salões que não dispunham de música ao vivo. Trata-se de “Conversando com o pistom”, terceiro álbum do maestro, pianista e pistonista Pernambuco (os anteriores foram “Em ritmo de dança” 1 e 2), lançado em 1959 pela Polydor. Ayres da Costa Pessoa, seu nome verdadeiro, nasceu na cidade de Palmares (município pernambucano, obviamente), no dia 27 de fevereiro de 1918, e há poucas informações a respeito dele (não há referência nem mesmo a respeito de seu falecimento). Partiu muito jovem para a então meca dos artistas e capital da República, o Rio de Janeiro, e, em seus primeiros anos na “Cidade Maravilhosa”, foi pistonista da orquestra de Otaviano Romero Monteiro, o Fon-Fon. Mais tarde, trocou o pistom pelo piano, dedicando-se também a arranjos e composições. Um de seus trabalhos autorais mais conhecidos é o samba-canção “Suas mãos”, de parceria com Antônio Maria, que tem várias gravações, destacando-se as de Sylvia Telles e Maysa. No entanto, após oito anos, Pernambuco voltou a soprar seu pistom, o que aliás é frisado no interessante texto de contracapa assinado pelo jornalista e também compositor Ricardo Galeno, um diálogo imaginário entre Pernambuco e o instrumento. Aqui, ele está à frente de sua orquestra (os dois álbuns anteriores foram com seu conjunto), com direito inclusive a duas músicas de autoria dele próprio, à época também lançadas em 78 rpm: a faixa-título e de abertura, o samba “Conversando com o pistom”, e o mambolero “Dorme”, este em parceria com o contracapista do álbum, Ricardo Galeno, interpretado por coral, e regravado mais tarde por Dalva de Oliveira. Além de uma adaptação do próprio Pernambuco para o clássico “Casinha pequenina”, em ritmo de samba, e “Sarambá”, parceria do dançarino Duque com o maestro J. Thomaz (que regia de luvas e… não sabia música!), surgida em 1930. No mais, uma verdadeira seleção de sucessos, com destaque para a presença de dois indiscutíveis e imortais clássicos de Luiz Gonzaga: “Asa branca” (parceria com Humberto Teixeira) e “Vem, morena (com Zé Dantas). E ainda os clássicos internacionais “All the way” (então sucesso de Frank Sinatra), “Babalu” (eterno carro-chefe de Ângela Maria no Brasil), “As time goes by” (surgida em 1931 mas que só se tornou bem conhecida em 1942, com o filme “Casablanca”), “An affair to remember” (tema-título de outro filme famoso, exibido no Brasil como “Tarde demais para esquecer” e “Ai, mouraria” (obra-prima portuguesa, com certeza). Enfim, mais um álbum que é verdadeiro espelho de sua época, representando um período de expressivo fastígio melódico no mundo inteiro, inclusive no Brasil, é claro. É só conferir…
conversando com o piston
all the way
babalu
asa branca
as time goes by
saramba
dorme
an affair to remember
casinha pequenina
zum zum babae
a mouraria
vem morena
*Texto de Samuel Machado Filho