Moacir Santos – The Maestro (1974)

“Tu que não és um só, és tantos, como o meu Brasil de todos os santos, inclusive meu São Sebastião”. Assim o Poetinha Vinícius de Moraes, em seu “Samba da bênção”, com melodia de Baden Powell, homenageou um dos principais arranjadores, multi-instrumentistas e compositores brasileiros, aquele que renovou a linguagem da harmonia no país. É Moacir Santos, que o TM põe hoje em foco.  Foi na cidade de Flores, no sertão pernambucano, que Moacir Santos veio ao mundo, no dia 26 de julho de 1926. Começou a tocar clarinete aos onze anos, e iniciou sua carreira tocando em bandas de música. Foi para o Recife ainda adolescente e, em seguida, excursionou com um circo pelo interior de Pernambuco. Nos anos 1940, trabalhou na Bahia, Ceará e Paraíba, e aprendeu a tocar saxofone. Em 1948, junta-se à Orquestra Tabajara de Severino Araújo e muda-se para o Rio de Janeiro, sendo logo contratado pela lendária Rádio Nacional. Conhecido por seu virtuosismo, ainda dominava o piano, o trompete, o banjo, o violão e a bateria. Por dois anos, Moacir residiu em São Paulo, onde foi regente da orquestra da antiga TV Record, voltando em seguida para o Rio. Foi lá que, em 1965, gravou seu primeiro LP, “Coisas de Moacir Santos”, pela marca Forma, que pertencia a Roberto Quartin. Suas composições mais conhecidas são “Nanã (Coisa número 5)”, de parceria com Mário Telles, irmão da cantora Sylvia Telles, “Se você disser que sim” (que fez com o Poetinha Vinícius), “Menino travesso’ e “Triste de quem”.  Foi assistente do compositor alemão Hans Joachin Kollreuter e professor de importantes nomes da MPB, tais como Baden Powell, Paulo Moura, João Donato, Nara Leão, Roberto Menescal e Sérgio Mendes. Em 1967, Moacir Santos transfere-se para Los Angeles, EUA, pois fora convidado para a estreia mundial do filme “Amor no Pacífico”, de cuja trilha sonora foi responsável (também compôs para filmes do cinema novo brasileiro, como “Ganga Zumba”, “Os fuzis”, “O beijo” e “Seara vermelha”). Nos EUA, Moacir lançou quatro álbuns autorais (inclusive o que o TM nos traz hoje) e continuou compondo para o cinema, além de ministrar aulas de música e vir esporadicamente ao Brasil, onde recebeu inúmeras homenagens, como o Prêmio Shell de Música, com o qual foi agraciado em 2006. Em 2005, foi lançado pela Biscoito Fino o álbum “Choros & alegria”, com várias composições do início da carreira de Moacir, nunca antes gravadas.  Moacir Santos faleceria um ano mais tarde (6 de agosto de 2006), em Pasadena, Califórnia, onde residia. “The maestro”, o álbum de Moacir Santos que o TM orgulhosamente oferece a seus amigos ocultos, ocultos e associados, é o primeiro que ele fez nos EUA. Lançado em 1972 pela Blue Note, verdadeira referência em matéria de jazz, só chegou ao Brasil dois anos mais tarde, através da extinta Copacabana Discos, que representava o selo, então coligado da United Artists, e hoje com seus produtos mundialmente distribuídos pela Warner. Gravado em Los Angeles, nos estúdios da A&M Records, e remixado em Nova York, é um trabalho excepcional, com oito faixas, todas de autoria do próprio Moacir Santos, sozinho ou com parceiros. Logo no início, ele revive sua “Coisa número 5”, o afro-samba “Nanã”, como já frisado, um de seus mais conhecidos trabalhos autorais. Ele mesmo participa como vocalista em cinco faixas, sendo que em duas ele divide os vocais com Sheila Wilkinson, e assina quase todos os arranjos, a exceção de “Nanã”, que ficou a cargo de Reggie Andrews, também produtor deste trabalho. Por sinal, impecável do início ao fim, com o padrão técnico e de qualidade que até hoje caracteriza as produções fonográficas da Blue Note. Ouvindo-o, constata-se que, realmente, Moacir Santos não era um só: eram muitos, em uma só pessoa!

nanã (coisa n.5)

bluishmen

sou eu (luanne)

lamento astral (astral whine)

mãe iracema

kermis

april child (maracatu, nação do amor)

the mirror’s mirror

*Texto de Samuel Machado Filho