Um artista personalíssimo, dono de um estilo inconfundível. Assim é Sílvio Brito, cujo álbum de 1982 o Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados. Nascido na cidade mineira de Três Pontas (onde, por coincidência, o carioca Mílton Nascimento se criou), no dia 10 de fevereiro de 1952, Sílvio Ferreira de Brito mudou-se com a família para Varginha, outra cidade mineira, seis meses depois de nascido. Órfão de pai aos dois anos, trabalhou na infância como engraxate, office-boy e balconista. Aos seis anos de idade, bem cedo, começou a cantar, participando do programa “Petizada alegre”, da Rádio Clube de Varginha. Gravou seu primeiro disco aos dez anos de idade, em Belo Horizonte, interpretando o clássico country “Jambalaya”,de Hank Williams. Participou de dezenas de programas de rádio e televisão no Rio de Janeiro e de São Paulo, entre eles os de César de Alencar, Paulo Gracindo e Manoel Barcellos, na Rádio Nacional carioca, e, na TV, os de Ayrton Rodrigues (“Almoço com as estrelas”), Jair de Taumaturgo e Júlio Rosenberg, apresentando-se por todo o Brasil. Em 1962,foi contratado pela TV Nacional de Brasília (hoje TV Brasil), onde apresentou um programa infantil. Compôs sua primeira música aos doze anos, quando já tocava trombone e saxofone na banda do colégio em que estudava, logo começando a tocar piano e violão nas festas escolares. Nessa época, Sílvio Brito amargou o primeiro desemprego, ao ser demitido da TV Nacional por razões políticas. Aos 15 anos, formou seu primeiro conjunto, Os Apaches, que gravou dois LPs interpretando hits da época, tais como “Sonho de amor”, “See you in september”, “E por isso estou aqui”, etc. Ainda adolescente, passou a compor músicas gravadas por cantores como Ronnie Von, Antônio Marcos e Vanusa. Depois de oito anos nos Apaches, Sílvio Brito mudou-se para São Paulo, onde começou sua carreira-solo fazendo arranjos para discos católicos na gravadora das Edições Paulinas, e em seguida passou-se para a Continental,onde grava, em 1971,um compacto simples com as músicas “Vou pra nunca mais te ver” (de sua autoria) e “Eu amei, eu te amo, eu sempre te amarei” (de Silfrancis e Jean Garfunkel). Aos 21 anos, foi residir em Nova York, onde trabalhou como lavador de pratos em uma lanchonete, mas logo voltou ao Brasil. Em 1974,o Brasil inteiro passou a conhecer Sílvio Brito através de seu primeiro grande sucesso: “Tá todo mundo louco”, cujo início (“Esta música foi feita num momento de decisão”…) é uma paródia de “Ouro de tolo”, então hit de Raul Seixas (que inclusive o cita carinhosamente em seu livro autobiográfico como o único que fazia seu estilo musical). Lançada em compacto simples pela Chantecler (já então coligada da Continental), a música foi uma coqueluche em todo o Brasil, dando a Sílvio Brito o Troféu Buzina do Chacrinha de revelação do ano.Um ano mais tarde, veio o primeiro LP, “Vendendo grilo”, que abre com outro sucesso estrondoso: “Espelho mágico” (‘Espelho meu, espelho meu / Diga se no mundo existe alguém /mais louco do que eu”), na mesma linha “louca e inteligente” que passou a ser sua marca registrada. Quando Sílvio foi fazer show em um hospício, por exemplo, os pacientes cantaram a música em coro junto com ele! Nessa época, apresentou,por pouco tempo, o programa “Hallelujah (Aleluia)”, na extinta TV Tupi, ao lado de Fábio Júnior, então em princípio de carreira. Participou de praticamente todos os programas de auditório da televisão brasileira dos anos 1970/80, sempre recebido com carinho por seus apresentadores. Outros hits conhecidos de Sílvio são “Pare o mundo que eu quero descer” (“Tem que pagar pra nascer, tem que pagar pra viver, tem que pagar pra morrer”), a canção sertaneja “Casinha”, de S. Rodrigues, “Por um beijo seu”, “Tubo maluco” e “Filho da corrente”. Foi um dos campeões do quadro “Qual é a música?”, do “Programa Sílvio Santos”, tendo o segundo maior número de vitórias consecutivas , só perdendo para Ronnie Von. Também dedicou-se à canção religiosa de cunho católico, produzindo e arranjando diversos álbuns do Padre Zezinho, seu amigo pessoal. Nessa área, fez sucesso com músicas como “Terra dos meus sonhos”, “Uma luz” e uma regravação de “Utopia”, do Padre Zezinho. Em toda a sua carreira, Sílvio Brito teve três milhões e meio de discos vendidos, tendo recebido quatro discos de ouro. Apresentou-se também no exterior, em países como EUA, Espanha, Itália, Alemanha, Uruguai, Argentina,Egito, Israel e, principalmente, Portugal. Gravou mais de 30 discos, a maior parte deles independente da mídia e de grandes esquemas promocionais. Seus shows sempre atraíram milhões de pessoas,e sempre foram considerados os mais completos e emocionantes. Apresentou durante anos o primeiro programa musical da Rede Vida de Televisão, “Sílvio Brito Show – Todas as caras”, e hoje tem, na mesma emissora, o “Sílvio Brito em família”, onde recebe convidados num ambiente intimista, ao lado da mulher e das filhas,com a participação do maestro Maurílio Marques Kobel. Este “Panorama mundial”, que o TM oferece hoje, é o quinto álbum-solo de Sílvio Brito. Lançado em 1982 pela extinta Copacabana, é um trabalho inovador, em que Sílvio se mostra bastante eclético, expressando seu lado regional, irreverente, romântico e místico. Com produção de Jorge Gambier, e arranjos de Waldemiro Lemke, Eduardo Assad e do acordeonista Sivuca, teve até mesmo a participação especial de Tonico e Tinoco! Com um repertório impecável (que inclui até mesmo uma canção infantil, “Natal do Tio Patinhas”), é por certo merecedor de toda a atenção. Vale a pena ouvir!