Após apresentar a seus amigos cultos, ocultos e associados dois álbuns da Lyra de Xopotó, autêntica banda no sentido literal da palavra, o Toque Musical vem trazer hoje mais uma “furiosa”. Desta feita,uma “charanga” (tipo de banda em que predominam instrumentos de sopro), vinda da cidade de Três Passos, interior gaúcho, situada nas barrancas do Rio Uruguai, divisa com a “hermana” Argentina, e fortíssimo reduto de imigrantes alemães e seus descendentes. Trata-se da Bandinha da Saudade, formada naquele município em 1933. em meio aos “kerbs”, ou seja, festanças e fandangos com muita música típica e danças, no melhor estilo germânico, nas horas de folga. Mas, com as dificuldades de se locomover do local de trabalho para o das festas, com os precaríssimos passos e piques então existentes, depois substituídos por estradas e pontes, tal diversão nem sempre era viável, não era possível chegar a tempo. Diante de toda essa dificuldade, a bandinha acabou se dissolvendo alguns anos mais tarde. Mas o tempo passou, como sempre curando toda e qualquer ferida e, em 1957, a Bandinha da Saudade voltava a tocar, devidamente reorganizada. Isso foi fruto do trabalho de Rod Latrich (pseudônimo de Raymundo Schmidt, também contrabaixista do grupo), que, reanimando alguns de seus membros-fundadores e reunindo outros novos, estreou um programa especial para a bandinha, na Rádio Difusora de Três Passos, emissora que ainda hoje existe. A atração logo tornou-se sucesso de audiência, e a popularidade da bandinha, obviamente, cresceu. Nessa ocasião, era desejo dos componentes da Bandinha da Saudade chegar ao disco. E essa oportunidade viria finalmente em 1973, justamente com o álbum que o TM nos apresenta hoje, selo Itamaraty, da CID (gravadora carioca especializada em discos de preço econômico, ainda hoje em plena atividade). Com produção simples, porém dedicada, este trabalho compõe-se demúsicas de ritmos variados, dobrados, valsas, sambas, mazurcas, foxes, típicos de uma autêntica “furiosa”. Quase todas as compoisções são inéditas em disco até então, de autoria dos próprios integrantes da bandinha: o maestro e saxofonista Antônio Avelino Heinen, os irmãos Raymundo (saxofone) e Albino Schmidt (trompa), o trombonista Willy Benke, o pistonista Sebaldo Mergen, o violoncelista Edvino Henricksen, o flautista Albino Kempf e o clarinetista Ricieri da Rosa. O programa se completa com dois temas folclóricos, “Sentimento” e “Famasko”, e o álbum, por certo, irá proporcionar “momentos de alegres lembranças àqueles que realmente gostam das músicas amenas”, como diz a contracapa. Ao que parece, este foi o único LP gravado pela Bandinha da Saudade, e não há indícios de que a mesma tenha prosseguido carreira em disco. De qualquer forma, um trabalho sob medida para os saudosos das velhas bandinhas. Boa diversão à moda germânica e gaúcha, tchê!
*Texto de Samuel Machado Filho