Claudia Telles (1979)

No dia 21 de fevereiro deste ano, às vésperas do carnaval, o Brasil perdeu uma de suas melhores cantoras. Claudia Telles de Mello Mattos foi-se aos 62 anos, em seu Rio de Janeiro natal, vitimada por insuficiência cardíaca e disfunção da válvula aórtica, causadas por endocardite. Instrumentista e compositora, além de cantora, Claudia Telles, de ascendência portuguesa e francesa, nasceu em 26 de agosto de 1957, filha do violonista, compositor e advogado Candinho, e de uma das precursoras da bossa nova, a também cantora Sylvia Telles.  Ainda menina, foi convidada pela mãe para subir ao palco do Teatro Santa Rosa, no último show da temporada do espetáculo “Reencontro”, que reuniu Sylvia Telles, Edu Lobo, Tamba Trio e Quinteto Villa-Lobos, para cantar “Arrastão”, parceria de Edu com Vinícius de Moraes. Ficou órfã de mãe aos nove anos, tendo sido criada por seus avós maternos, e teve pouco contato com o pai. Aos 16 anos, após ter perdido os avós, foi viver sozinha no apartamento que era de sua mãe, em Copacabana. Nesta época, trabalhava em musicais no teatro. Nossa focalizada iniciou sua carreira fazendo coro para artistas famosos em suas gravações, entre eles Roberto Carlos, os Fevers, Fafá de Belém, José Augusto, Gilberto Gil, Simone, Jorge Ben (depois Ben Jor), Simone, Belchior e Rita Lee. Foi ainda “crooner” do conjunto de Chiquinho do Acordeom, um dos mais conceituados de sua época, durante um ano. Em 1976, saía seu primeiro disco, pela CBS, um compacto simples cuja faixa principal era a balada romântica “Fim de tarde”, de Mauro Motta e Robson Jorge. A música foi o primeiro grande sucesso de Claudia, e o disco vendeu mais de 500 mil cópias. Em 1977, gravou seu primeiro LP, onde, além de “Fim de tarde”, vieram dois outros hits, “Eu preciso te esquecer” e “Aprenda a amar”, além de uma regravação de “Dindi”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, em homenagem à mãe, Sylvia Telles. Em seus shows, Claudia Telles cantava do samba ao bolero, além da Bossa Nova, sua paixão. Em entrevista, aliás, no início dos anos 1980, expressou o desejo de reviver em disco os sucessos do movimento, considerado o maior da história da música brasileira, o que seria também um tributo a sua mãe, mas a ideia nunca saiu da gaveta. Claudia era separada e teve três filhos homens, que não seguiram a carreira artística. Da discografia de Claudia Telles, o TM oferece hoje a seus amigos cultos e ocultos o terceiro LP, lançado pela CBS em 1979. Produzido por Fernando Adour, com arranjos de Eduardo Souto Netto, Eduardo Lages e Lincoln Olivetti (este na faixa “Só de você”, da própria Claudia em parceria com Mauro Motta), o disco tem onze faixas, e nele predomina o estilo romântico que celebrizou a intérprete. Há ainda uma regravação de um sucesso da mãe Sylvia, “Demais”, de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, e participações especiais de Guilherme Arantes (piano na faixa “Esse amor existe”, de autoria dele próprio) e do saxofonista Ricardo Pontes (na faixa “Acaba de acontecer”). Renato Teixeira, autor do clássico “Romaria”, aqui comparece com “Quarto de motel”, parceria com Eduardo Souto Netto. Tudo isso e muito mais, em uma justa homenagem póstuma que o TM presta a Claudia Telles, sem dúvida uma perda irreparável para nossa música popular. É ir ao GTM e conferir.

eu quero ser igual a todo mundo
esse amor existe
acaba de acontecer
quarto de motel
demais
só de você
é preciso tentar
vontade e medo
um momento qualquer
quero ter você pra mim
vou caminhando

*Texto de Samuel Machado Filho 

Claudia Telles – Claudia (1977)

Boa noite, amigos cultos e ocultos! Ultimamente todas as minhas publicações tem sido de discos que eu chamo de ‘discos de gaveta’, aqueles sempre prontos, como as ‘notícias de gaveta’, que aguardam a sua hora para entrar no jornal. Tenho feito assim, catando aquilo que está mais próximo, sem ficar escolhendo muito. Felizmente, o que tenho deixado para essas horas são coisas que valem também a conferida. Hoje, por exemplo, vamos com este lp da cantora Claudia Telles, o primeiro lp gravado por ela. Antes disso a moça só tinha participado em discos de outros artistas, fazendo côro e alguns ‘backvocals’. Em 1976 ela gravou num compacto a música “Fim de tarde”, de Walter Davila Filho e Mauro Motta, que fez muito sucesso nas rádios e lhe abriu as portas para este lp, que sairia no ano seguinte. A música acabou entrando no repertório do disco, impulsionando-o . E mais uma vez ela fez sucesso com outra música de Mauro Motta, desta vez em parceria com Robson Jorge, “Preciso te esquecer”, tema de uma novela da Rede Globo. O álbum trouxe também outros destaques como “And I love her”, dos Beatles e “Dindi”, música de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, também interpretada por sua mãe, a cantora Sylvia Telles.
Já ouvi outros discos da Claudia Telles, mas este é para mim o preferido, não apenas pelo repertório tão agradável, mas também pelos arranjos de Lincoln Olivetti e regências de Alexandre Gnatalli. Isso, sem dúvida, faz a diferença 🙂
eu preciso te esquecer
eu nao posso mudar
dindi
você pensa
aprenda a amar
caminhos iguais
um dia tudo vai passar
não aguento mais você
and i love her
sem ter você
a vida sem você
fim de tarde
.