Nesta semana, em sua centésima-terceira ediçã o, o Grand Record Brazil resgata uma cantora hoje esquecida, mas que deixou um legado importantíssimo, tanto artística quanto historicamente, para nossa música popular. Estamos falando de Sylvinha Mello. Nossa biografada, evidentemente batizada como Sylvia Mello, nasceu em Vitória, capital do Espírito Santo, no dia 23 de fevereiro de 1914, filha de pernambucanos. Aos nove anos de idade, chegou ao Rio de Janeiro. Iniciou sua carreira artística interpretando peças folclóricas em teatros e cassinos do Rio de Janeiro, São Paulo e outras capitais brasileiras. Ao atingir a maioridade (dezoito anos), Sylvinha apresentou-se no programa radiofônico de César Ladeira, o que lhe permitiu atuar ao lado de três grandes cartazes da época: Francisco Alves, Cármen Miranda e Sílvio Caldas. Gravou seu primeiro disco em 1931, na Victor, com duas canções de Hekel Tavares: “Chove, chuva” (parceria com o poeta Ascenso Ferreira) e “O pequeno vendedor de amendoim” (com versos do teatrólogo Joracy Camargo), esta última incluída nesta edição do GRB. Como atriz, participou de três filmes: “Estudantes” , “O grito da mocidade” e “Estrela da eterna esperança”. Sua discografia compreende dez discos com dezenove músicas, oito deles pela Victor, e os outros dois pela Columbia, interpretando composições de Hekel Tavares, Joubert de Carvalho e Custódio Mesquita, entre outros, com estilo marcadamente romântico, predominando as canções e as valsas. Mais tarde, Sylvinha mudou-se para Nova York, onde viveu dois anos como estudante, conseguindo, pouco depois, emprego no consulado brasileiro. Foi uma das primeiras brasileiras a fazer sucesso nos EUA, obtendo grande aceitação com suas interpretações de músicas de Ary Barroso, em emissoras de rádio e boates daquele país, inclusive a Blue Angel, de Nova York. Após se separar de um primeiro casamento, Sylvinha contraiu novas núpcias, agora com um diplomata francês, passando, então, a residir em Paris. Sylvinha morreu ali mesmo na capital francesa, por volta de 1978. Para esta edição do GRB, foram escolhidos nove exemplos da arte de Sylvinha Mello. Abrindo esta seleção, o lado A de seu derradeiro disco, o Columbia 55001, lançado em dezembro de 1938: a canção “Soldadinhos de chumbo”, de Marcelo Tupinambá e Galda de Paiva, matriz 3721, música originalmente gravada em 1930, por Edgard Arantes. As oito faixas seguintes foram todas gravadas na Victor. Do disco 33956, foi escalado o lado B, o samba-canção “Perto do céu”, de autoria do pianista Romualdo Peixoto, o Nonô (tio dos cantores Cyro Monteiro e Cauby Peixoto) com versos de Francisco Matoso, gravação de3 de abril de 1935, lançada em agosto do mesmo ano, matriz 79859. Na faixa 3, temos a valsa “Os teus olhos me falam de amor”, de Joubert de Carvalho, gravada em 30 de agosto de 1935 e lançada em outubro seguinte sob número 33984-A, matriz 80023. Na faixa 6 está o lado B, matriz 80022, a canção “Mariblanca”, também de Joubert em parceria com Luiz de Gongora. Na faixa 4, do primeiro disco de Sylvinha, o Victor 33489, foi escalada a canção “O pequeno vendedor de amendoim”, de Hekel Tavares e Joracy Camargo,o lado B, gravado em 14 de outubro de 1931 e lançado ao apagar das luzes desse ano, em dezembro, matriz 65254. A seguir, outras quatro composições de Joubert de Carvalho, autor com quem Sylvinha obteve seus maiores hits. Na faixa 5, a valsa “A carícia de suas mãos”, disco Victor 33972-A, gravação de 15 de julho de 1935, lançada em setembro desse ano, matriz 79981. Na faixa 8 está o lado B, a canção “Teu retrato”, matriz 79990, gravada três dias depois da “Carícia”, ou seja em 18 de julho de 1935. Na faixa 7, a valsa “Viver para o amor”, gravação de 15 de julho de 1935 que a marca do cachorrinho Nipper lançará em agosto seguinte com o número 34079-A,matriz 79982 (curiosamente, no lado B, apareceu a valsa “Italiana”, clássico na voz de Carlos Galhardo!). Por fim, o fox “Canção das águas”, outra página do autor de “Taí” e “Maringá”, que Sylvinha gravou na Victor em 26 de maio de 1936 e foi lançada em julho seguinte com o número 34070-B, matriz 80166. Enfim, uma expressiva amostra, “curta e grossa”, do expressivo legado deixado por Sylvinha Mello para a nossa música popular. Ouçamos e recordemos…
Texto de Samuel Machado Filho