Vem chegando mais um final de ano, e mais um Natal! Tempo de reunir a família, preparar o presépio, a árvore e a ceia, trocar presentes (com direito até ao chamado “amigo oculto”)… sem, é claro, esquecer que é o aniversário de Jesus. Tempo também de cantar músicas alusivas à chamada festa máxima da cristandade. Evidentemente, o Grand Record Brazil entra nesta semana em clima natalino, apresentando a primeira de duas partes de uma seleção de músicas gravadas na era do 78 rpm para comemorar a data. Ela foi extraída de uma compilação realizada em 2006, por nosso colega e amigo Thiago Mello, para o seu blog Bossa Brasileira (http://bossa-brasileira.blogspot.com). Serão ao todo vinte gravações (algumas já aparecidas em nosso volume 4, agora voltando com melhor qualidade sonora), e aqui apresentamos as primeiras dez. Abrindo esta seleção, temos a introdução, apenas instrumental, a cargo do grande Radamés Gnattali, de “Cantigas de Natal”, um pot-pourri de canções do gênero interpretadas pelos Trios Melodia e Madrigal em disco Continental 20106, de 1951, do qual apresentaremos as duas partes em nosso próximo volume. Em seguida, Neyde Fraga (São Paulo, 1924-Rio de Janeiro, 1987) apresenta, de seu terceiro disco, o Elite Special (selo então coligado da Odeon) N-1020-A, editado em 1950, a marchinha “Quando chega o Natal”, de autoria de Sereno (Inácio de Oliveira, São Paulo, 1909-idem, 1978), matriz FB-539, muito bem acompanhada pelos Demônios da Garoa (que, como ela, também eram do cast da Rádio Record de São Paulo, então “a maior”) e pela orquestra e coro do maestro Edmundo Peruzzi (Santos, SP, 1918-idem, 1975). Curiosamente, em outra tiragem desse disco, o número da matriz foi alterado para MIB-1097. Aurora Miranda (Rio de Janeiro, 1915-idem, 2005), irmã de Cármen, comparece com duas faixas que gravou na Odeon: “Natal divino”, marchinha de Mílton Amaral, do disco 11288-A, gravado em 4 de dezembro de 1935 e lançado logo em seguida, matriz 5173, e o samba “Sinos de Natal”, de Djalma Esteves e Vicente Paiva, do disco 11174-B, gravado em 18 de outubro de 1934 para lançamento, é claro, em dezembro, matriz 4935. Leny Eversong (Hilda Campos Soares da Silva, Santos, SP, 1920-São Paulo, 1984), notável intérprete de hits nacionais e internacionais, nos brinda com a marchinha “Prece de Natal”, de José Saccomani, Lino Tedesco e Walter Mello, lançada em dezembro de 1953 pela Copacabana sob n.o 5172-B, matriz M-559. “Noite de Natal”, interpretada por Dalva de Oliveira com a orquestra de Roberto Inglez, é o famoso “Noite feliz (Stille nacht, heilige nacht)”, com letra diferente da que costumamos cantar, assinada por Mário Rossi, em gravação feita em 1952, nos estúdios da EMI, em Londres, durante a longa e vitoriosa excursão da cantora pela Europa, e lançada no Brasil pela Odeon com o n.o X-3372-A (série azul internacional), matriz CE-14164. A música nasceu por um capricho de ratos que, em 1818, entraram no órgão de uma igreja da cidade austríaca de Arnsdorf e roeram seus foles. Preocupado com a possibilidade de um Natal sem música nesse ano, o padre Joseph Mohr foi logo procurar um instrumento para substituir o antigo. Nessas peregrinações, imaginou como teria sido o nascimento de Jesus, em Belém. Fez anotações, levou-as até o músico Franz Gruber para musicar… e pronto! Assim nasceu “Noite feliz”. Já que falamos em Aurora Miranda, sua irmã Cármen (1909-1955), ainda hoje uma referência em termos de Brasil no exterior, aqui interpreta a marchinha “Dia de Natal”, de Hervê Cordovil, gravação Odeon de 16 de outubro de 1935, lançada em dezembro seguinte sob n.o 11289-A, matriz 5170. Ângela Maria e João Dias interpretam, em dueto, a singela toada ‘Papai Noel esqueceu”, da parceria Herivelto Martins-David Nasser, lançada pela Copacabana para o Natal de 1955, sob n.o 20022-B (série “de exportação”), matriz M-1412. Um ano depois, em dezembro de 1956, nessa mesma série (20033-A, matriz M-1706), a Copacabana lançou o registro de Elizeth Cardoso para a canção “Cantiga de Natal”, de autoria da compositora e pianista Lina Pesce (Magdalena Pesce Vitale, São Paulo, 1913-idem, 1995), gravada originalmente por Mário Martins, em 1954, no mesmo selo. Encerrando esta primeira parte, uma marchinha da dupla Alvarenga e Ranchinho, “Presente de Natal”, interpretada por Zelinha do Amaral com doce voz de menina e delicioso sotaque de caipirinha. Foi sua única gravação, feita na Victor em 12 de novembro de 1936 e lançada em dezembro seguinte sob n.o 34116-B, matriz 80250. Semana que vem, apresentaremos a segunda parte desta seleção natalina do GRB. Até lá!
*Texto de SAMUEL MACHADO FILHO