Vários – Um Novo Carnaval (1968)

Olá amigos cultos e ocultos! Segue aqui mais um disco de Carnaval.desta vez, vamos para o de 1968, lançado pela CBS. Temos aqui uma seleção de marchinhas defendidas por Ary Cordovil, Noel Carlos, Zilda do Zé, Clério Moraes e Paulo Bob. Um novo Carnaval, ou mais um bom disco, coisa que hoje em dia a gente não ouve mais. Por isso é fundamental que revisitemos outros e antigos carnavais. Pra gente lembrar como se brinca de verdade. 😉

tá certo (tá certo meu amor) – ary cordovil
tô com diabo – noel carlos
caí do cavalo – zilda do zé
forrobodó – paulo bob
acorda maria – clerio moraes
vou jogar meu pandeiro fora (é triste brincar sem mulher) – noel carlos
menina de colegio – noel carlos
maré brava – zilda do zé
fim de carnaval – ary cordovil
bang bang no salão – paulo bob
vem me perdoar – clério moraes
coitada… coitada… – ary cordovil
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A Música De Nelson Cavaquino – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 69 (2013)

Depois de Cartola, na semana passada, o Grand Record Brazil, em sua sexagésima-nona edição, homenageia mais um nome que faz parte da história da Mangueira, e, por tabela, do samba e da MPB: Nélson Cavaquinho.
Nélson Antônio da Silva, seu nome verdadeiro, nasceu no dia 29 de outubro de 1911, na Rua Mariz e Barros, no bairro carioca da Tijuca. Seu pai, o Sr. Brás Antônio da Silva,  era músico da Banda da Polícia Militar, tocava tuba, e seu tio Elvino era exímio violinista, e também organizava rodas de samba em sua casa. A mãe de Nélson,  a sra. Maria Paula da Silva, foi lavadeira do Convento de Santa Tereza. Por volta de 1919, a família, fugindo do aluguel, muda-se para a Lapa, ocasião em que Nélson  frequenta a escola primária Evaristo da Veiga, abandonando o curso para trabalhar como eletricista. Nesse bairro boêmio carioca, fez amizade com os “valentes” de então, Brancura, Edgar e Camisa Preta.  Na adolescência, transferiu-se para  o subúrbio de Ricardo de Albuquerque, para finalmente se estabelecer em uma vila operária na Gávea.  Ali, frequenta os bailes dos clubes Gravatá, Carioca Musical e Chuveiro de Ouro, conhecendo músicos decisivos em sua formação, alguns deles  empregados de uma fábrica de tecidos local, tais como Edgar Flauta da Gávea, Heitor dos Prazeres, Mazinho do Bandolim e o violonista Juquinha, de quem receberia lições de cavaquinho, .daí nascendo o pseudônimo com que ficaria para a posteridade: Nélson Cavaquinho. Já na maturidade, optaria pelo violão, desenvolvendo um estilo inimitável de tocá-lo, usando apenas dois dedos da mão direita.
Em 1931, com apenas 20 anos de idade, Nélson conhece  Alice Ferreira Neves, com quem se casa meses depois, da união resultando quatro filhos. Em seguida, graças a seu pai, consegue um emprego na Polícia Militar, fazendo rondas noturnas a cavalo. E é durante essas rondas, montado no seu querido “Vovô”, que conhece  e passa a frequentar o morro da Mangueira, travando contato com sambistas como Cartola e Carlos Cachaça. Isso lhe rendeu várias detenções, pois passava dias sem ir ao quartel, em decorrência da boemia. O ambiente da prisão era tranquilo, e ele ficava lá compondo… Em 1938, antes de ser expulso da polícia, consegue dar baixa  e, separado da mulher e afastado dos filhos, ingressa definitivamente na boemia e na música, mudando-se para o morro da Mangueira em 1952. Teve diversos outros relacionamentos até finalmente, no início dos anos 1960,  encontrar Durvalina, 30 anos mais nova que ele, com quem viveria pelo resto de sua existência.  Entre suas mais de 400 composições, várias  em parceria com Guilherme de Brito, destacam-se: “Rugas”, “Degraus da vida”,  “Luz negra”, “A flor e o espinho”, “Pranto de poeta”, “Quando eu me chamar saudade”, “Juízo final”, “Cuidado com a outra” e “Eu e as flores”.  Eram canções feitas com extrema simplicidade, e letras quase sempre remetendo a questões como o violão, botequins, mulheres e, principalmente, a morte. Que, inevitavelmente, aconteceria na madrugada de 18 de fevereiro de 1986, aos 74 anos, de enfisema pulmonar.  Como intérprete, estreou em disco no ano de 1966, gravando algumas faixas em um álbum que a cantora Thelma  Costa dedicou à sua obra. Depois, em 1970, viria seu primeiro LP-solo, “Depoimento do poeta”, pela Castelinho (que não passou desse disco!). O segundo viria dois anos mais tarde, pela RCA, primeiro volume da Série Documento, e o terceiro pela Odeon, em 1973.  Também participou, em 1977, do álbum da RCA ”Quatro grandes do samba”, ao lado de seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito, mais Candeia e Elton Medeiros.
Nesta edição do GRB, apresentamos dez gravações originais em 78 rpm, com sambas de Nélson Cavaquinho interpretados por vários cantores e feitos com parceiros diversos. Abrindo a seleção, “Palavras malditas”, feita com seu mais constante parceiro, Guilherme de Brito, gravação de Ary Cordovil na Todamérica em 6 de setembro de 1957, disco TA-5724-B, matriz TA-100091, que seria regravada em 2011 por Beth Carvalho.  Ary também canta “Cheiro de vela”, de Nélson com  José Ribeiro (faixa 3), lançada no extinto selo Vila em 1958 (ou 61, não há certeza), disco 10003-B, matriz V-7801-B. Ruth Amaral, também compositora, interpreta outras duas faixas nesta seleção, ambas em gravações Columbia: “Cinzas”, de Nélson e Guilherme mais Renato Gaetani, lançada em novembro de 1955 sob n.o CB-10210-A, matriz CBO-584, e “Garça”, só de Nélson e Guilherme, lançada pouco antes, em maio desse ano, com o n.o CB-10192-A, matriz CBO-192 (faixa 5). A faixa  4 traz também a regravação de Nerino Silva para “Cinzas’, lançada pela Chantecler em janeiro de 1963, disco 78-0677-B, matriz C8P-1354. “Negaste um cigarro”, parceria de Nélson Cavaquinho com José Batista, foi gravada em fins de 1962 por Orlando Gil em outro selo extinto, o Albatroz, disco A-121-B. A “Divina” Elizeth Cardoso aqui comparece com um samba do carnaval de 1954, de Nélson, Roldão Lima e Gilberto Teixeira, gravação Todamérica de 12 de novembro de 53, lançada ainda em dezembro sob n.o TA-5380-B, matriz TA-591.  Francisco Ferraz Neto, o Risadinha, apresenta  “Minha fama”, de Nélson Cavaquinho com Magno de Oliveira, gravação Odeon de 4 de setembro de 1952, só lançada em junho de 53, disco 13455-B, matriz 9413. O grande Jorge Veiga interpreta “O fruto da maldade”, de Nélson com César Brasil, lançado pela Continental entre julho e setembro de 1951 com o n.o 16434-B, matriz 2632. Por fim, Vítor Bacelar interpreta outro samba de Nélson Cavaquinho em parceria com César Brasil: “Não brigo mais”, gravado na Todamérica em 23 de agosto de 1954 e lançado em setembro seguinte sob n.o TA-5471-B, matriz TA-723. Esta é a homenagem do GRB a mais este poeta da Mangueira e do samba carioca que foi Nélson Cavaquinho!
* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO

A Música De Cartola – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 68 (2013)

Em sua sexagésima-oitava edição, o Grand Record Brazil nos brinda com as primeiras composições gravadas de um grande nome do samba e da MPB. Estamos falando de Cartola. Angenor de Oliveira – que só por ocasião de seu casamento com Zica (Euzébia Silva do Nascimento) descobriria que seu pré-nome era Angenor e não Agenor, como vinha assinando – nasceu em 11 de outubro de 1908, na Rua Ferreira Viana n.o 9, no bairro do Catete, Rio de Janeiro. Era o primeiro dos oito filhos do primeiro casamento de Sebastião, com Aída. Aos oito anos, foi morar na Rua das Laranjeiras e teve despertado seu interesse pela música no contato com ranchos e clubes de operários e, ora, pois, pois, portugueses. Quando ele tinha 11 anos, a situação da família piorou, fazendo com que se mudasse para o morro da Mangueira, então ainda com características rurais e pouquíssimo habitado. Aí conhece Carlos Cachaça (1902-1999), marcando o início de uma estreita e duradoura amizade, inclusive na música, sendo parceiros de grandes sambas. O primeiro emprego de Cartola, primeiro de muitos trabalhos humildes, foi numa modesta tipografia. Na profissão de pedreiro, ele passou a usar um chapéu-coco a fim de proteger o cabelo do reboco, daí nascendo o pseudônimo com que ficou para a posteridade. Com apenas 18 anos, amasia-se com Deolinda (que era casada, tinha uma filha e era sete anos mais velha que ele!). Integrado na roda dos batuqueiros, integra a formação, anos depois, do Bloco dos Arengueiros, cujo maior prazer entre seus componentes era promover arruaças, fazendo jus ao nome. Um dia, porém, seus componentes concluem ser chegada a hora de acalmar os nervos, sem perder a finalidade musical. Assim nasceu, em 1928, a lendária Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira, cujas cores, verde e rosa, foram adotadas por sugestão do próprio Cartola (eram as mesmas cores do Rancho dos Arrepiados, por ele frequentado no tempo em que morara na cidade).  Entre 1929 e 1933 teve suas primeiras oito composições gravadas, cinco por Francisco Alves , o maior cantor da época, uma por Cármen Miranda, uma por Sílvio Caldas e uma pelo iniciante Arnaldo Amaral. Essa primeira fase de músicas gravadas seria interrompida, pois os rendimentos eram parcos, e Cartola dedicou-se apenas a compor para sua querida Mangueira, da qual se tornou figura lendária, lançando esporadicamente em disco um ou outro samba, inclusive gravando para o maestro Leopold Stokowski, em 1940, o samba “Quem me vê sorrir” (ou “Quem me vê sorrindo”), parceria com Carlos Cachaça, registro que na época só saiu nos EUA.  Nos anos  40, teve inúmeras dificuldades, tanto financeiras quanto pessoais, abalado pelo falecimento de sua Deolinda e gravemente doente. Nessa ocasião, Cartola se afasta da Mangueira e chega até a ser dado como morto. Em meados da década de 1950, o jornalista e escritor Sérgio Porto o redescobre na penúria, como lavador de carros numa garagem de Ipanema. Sérgio anuncia a boa nova de que Cartola ainda vivia, e lhe arranja um emprego menos árduo. Aos poucos, o mestre mangueirense começa sua reintegração ao meio musical. É quando se casa com sua querida Dona Zica, bela cabrochinha de olhos brilhantes, e também exímia e celebrada cozinheira. Ambos instalam, num antigo casarão da Rua da Carioca, o lendário restaurante Zicartola, que funcionou de 1963 a 1965, tornando-se ponto de encontro de sambistas de morro com nomes ditos elitizados , dando também oportunidade para o surgimentos de novos valores, Cartola comandando o samba e Dona Zica o “rango”. Entre suas composições mais conhecidas destacam-se “O sol nascerá”, “As rosas não falam”, “Acontece”, “O mundo é um moinho”, “Sim” e “Alvorada”. Entre 1974 e 1978, Cartola grava quatro LPs, dois pela Marcus Pereira e outros dois pela RCA, bastante elogiados pela crítica e bem acolhidos pelo público. Cercado do respeito e reconhecimento gerais, faleceu em 30 de novembro de 1980, aos 72 anos, sendo seu corpo velado na sede da Mangueira com todas as homenagens, e sepultado no cemitério do Caju.

Para esta edição do Grand Record Brazil, foram selecionadas nove faixas, gravadas em 78 rpm.  Abrindo esta seleção, temos a primeira composição gravada de Cartola, “Que infeliz sorte!”, lançada pela Odeon em dezembro de 1929, na voz de Francisco Alves, disco 10519-A, matriz 3095. Mário Reis chegou a adquirir os direitos de gravação deste samba por 300 mil-réis, mas preferiu repassá-lo ao Rei da Voz. Em seguida, Cármen Miranda, já então “o maior nome feminino da fonografia nacional”, interpreta “Tenho um novo amor” gravação Victor de 11 de maio de 1932, lançada em julho seguinte sob n.o 33575-B, matriz 65486, com acompanhamento do mestre Pixinguinha, à frente do Grupo da Guarda Velha.  É uma parceria de Cartola com Noel Rosa, não creditado no selo e na edição. Vem também a ser o caso das faixas seguintes, interpretadas por Francisco Alves e por ele gravadas na Odeon: “Não faz, amor”, gravação de 7 de julho de 1932, disco 10927-A, matriz 4481, e “Qual foi o mal que eu te fiz?”, imortalizado pelo Rei da Voz em 30 de dezembro de 32 mas só lançado em maio de 1933 sob n.o 10995-B, matriz 4574. Noel e Cartola, sem dinheiro, procuraram Chico Alves no Largo do Maracanã e lhe pediram algum. Chico concordou, desde que cada um fizesse um samba naquele momento. Foi aí que compuseram “Qual foi o mal que eu te fiz?”, com toda a segunda parte de Noel, que nessa ocasião fez sozinho “Estamos esperando”, gravado por Chico em dupla com Mário Reis. No dia 3 de janeiro de 1933, Francisco Alves retorna aos estúdios da Odeon para gravar outro samba de Cartola, agora sem parceiro: “Divina dama”, que será lançado logo em seguida com o número 10977-B, matriz 4575, constituindo-se no maior sucesso da primeira fase de composições gravadas do poeta mangueirense.  A faixa seguinte, “Na floresta”, foi gravação de Sílvio Caldas, parceiro de Cartola neste samba, em  13 de julho de 1932, matriz 65546, mas a Victor só o lançou em outubro de 33 com o n.o 33712-A. Isso em virtude de atritos entre Sílvio e Francisco Alves. Bucy Moreira compôs um samba chamado ‘Foi um sonho”, do qual Chico Alves gostava da letra, mas não da melodia. Então o Rei da Voz encaixou a de “Na floresta”, deixando a letra de lado. Os versos seriam musicados e gravados por Sílvio Caldas, e Francisco Alves, evidentemente, surtou e quis impedir o lançamento do disco. Mas Sílvio Caldas convenceu o Rei da Voz de que ele tinha comprado apenas a melodia: “Você deixou a letra de lado e o Cartola precisa ganhar dinheiro!” E Chico deixou os atritos também de lado…  A faixa seguinte é “Não posso viver sem ela”, parceria de Cartola com Alcebíades “Bide” Barcelos, gravada na Odeon por Ataulfo Alves, à frente de sua Academia de Samba, em 27 de novembro de 1941, com lançamento bem em cima do carnaval de 42, fevereiro, sob n.o 12106-B, matriz 6870. Entretanto, o hit maior desse disco foi o clássico “Ai, que saudades da Amélia”, de Ataulfo e Mário Lago, que ofuscou esta aqui. O samba-canção “Grande Deus” foi composto por Cartola em 1946, quando contraiu meningite e demorou mais de um ano para se recuperar. Porém, só em agosto de 1958 é que a música foi lançada em disco, na voz do grande Jamelão, pela Continental, sob n.o 17573-A, matriz C-4099. E, para encerrar mais este pequeno-grande programa do GRB, o samba “Festa da Penha”, parceria de Cartola com Asobert (pseudônimo e anagrama de Adalberto Alves de Souza). Foi gravado em 1958 por Ary Cordovil para o extinto selo Vila, em disco de número 10003-A, matriz V-7801-A. A festa em questão acontecia todo ano no mês de outubro, com romaria de fiéis  percorrendo o longo caminho até a igreja (com escadaria e tudo), que até hoje fica bem em cima do morro da Penha, numa demonstração de fé e oportunidade para apresentação de novas músicas, sempre com um olho profano em direção ao carnaval. Esta é a homenagem do GRB ao mestre Cartola, nome que tem seu lugar garantido entre os imortais de nossa música popular.

* Texto de SAMUEL MACHADO FILHO