O Toque Musical oferece hoje a seus amigos cultos, ocultos e associados, uma preciosa parcela do rico acervo da canção regional gaúcha. E na interpretação de um quinteto que tem em seu currículo uma vastíssima bagagem musical. Estamos falando do Conjunto Farroupilha.
O grupo era formado por quatro gaúchos, sendo dois deles de Porto Alegre (Danilo Vidal de Castro e Iná Bangel), um de Taquara (Tasso José Bangel, irmão de Iná) e outra de Santana do Livramento (Estrela Dalva Lopes de Castro). Completando o quinteto, o paulistano Sidney do Espírito Santo de Morais, que mais tarde ingressaria nos Três Morais e posteriormente gravaria uma série de álbuns de canções latinas, predominantemente boleros, com o pseudônimo de Santo Morales.
Inicialmente denominado Conjunto Vocal Farroupilha, o grupo formou-se em 1948 em uma emissora de rádio da capital gaúcha, Porto Alegre, também chamado Farroupilha. Inicialmente dedicaram-se exclusivamente às canções típicas do Rio Grande. Em 1953, estrearam em disco no selo Rádio, com o LP de 10 polegadas “Gaúcho”. Três anos mais tarde, os Farroupilhas transferiram-se para São Paulo, e logo em seguida iniciaram uma série de excursões pelo Brasil e pelo exterior. Por vários anos mantiveram contrato com a Varig (Viação Aérea Rio Grandense) e com o Ministério das Relações Exteriores, sendo o primeiro grupo vocal a projetar a música gaúcha tanto no Brasil como no exterior. Entre os inúmeros países visitados pelo conjunto estão a China, a Alemanha, a Venezuela e a antiga União Soviética. Em cada país visitado, eles integravam uma canção típica para homenagear as plateias locais, e assim foi crescendo seu repertório internacional, com músicas que depois eram lançadas em seus discos brasileiros, tais como “Noites de Moscou” e Liechtenstein polka” (no exterior, os Farroupilhas gravaram álbuns que nem foram lançados entre nós). Entre os nomes da música gaúcha lançados pelo conjunto estão os de Luiz Carlos Barbosa Lessa e Paixão Cortes. Enveredaram também pela bossa nova e, nos anos 1960, criaram, em sociedade com a Editora Fermata, a gravadora Farroupilha, passando então a dedicarem-se à mesma. Por essa época também foram contratados da antiga TV Record de São Paulo, onde tiveram programa exclusivo. Entre os maiores sucessos do Conjunto Farroupilha destacam-se “Gauchinha bem-querer”, “A chimarrita”, “A mesma rosa amarela”, “Chimarrita balão”, “Negrinho do Pastoreio”, “Piazito carreteiro”, “Prenda minha”, “Rancheira da carreirinha” e o clássico infantil “Papai Walt Disney”, este ainda hoje na memória de muita gente que foi criança nesse tempo, inclusive eu próprio.
O Conjunto Farroupilha desfez-se em 1971, em virtude dos compromissos pessoais de seus componentes. Mas, em 1983, o grupo voltaria à ativa, apresentando-se no programa “Som Brasil”, da TV Globo, com três integrantes originais – Tasso, Danilo e Estrela Dalva – e acrescentando Norma Nagib e Sabiá, retorno esse acontecido após oito meses de preparação e ensaios, a fim de que a qualidade do trabalho do grupo fosse mantida. No mesmo ano, gravaram um LP pela RGE.
A discografia dos Farroupilhas inclui 16 discos de 78 rpm com 31 músicas, onze LPS e três compactos, nos selos Rádio, Odeon, Columbia, Farroupilha, Continental e RGE. Também lançaram pela Rádio um LP que dividiram com o Trio Nagô, “Canções populares do Norte e do Sul”, e tiveram uma coletânea de seus hits lançada em 1979 pela CBS, selo Uirapuru.
Agora, o TM oferece a vocês o único álbum gravado pelo Conjunto Farroupilha na Continental. Trata-se de ‘Temas gaúchos”, editado originalmente em 1968 (SLP-10018) e depois relançado em 1973 com o selo Musicolor (números LPK-20301 e 1-04-405-066). Com excelentes orquestrações do maestro Cyro Pereira e arranjos para conjunto do próprio Tasso Bangel, o grupo apresenta um repertório primoroso, absolutamente fiel às tradições do Rio Grande, no qual desfilam autênticas joias do cancioneiro gaúcho. “Gauchinha bem querer” foi lançada pelo próprio autor, o paulista (de Pirajuí) Tito Madi, em 1957, e foi composta quando ele participou de festejos promovidos em Porto Alegre pela Rádio Farroupilha, sendo incluída no repertório do grupo logo em seguida e ganhando uma coloração mais autêntica. “Piazito carreteiro”(Luiz Menezes), “A chimarrita” (Dilú Mello), “Os homens de preto” (Paulo Ruschell) e o tema folclórico ‘Meu boi barroso”, entre outras, abrilhantam este trabalho do Conjunto Farroupilha, digno de ser ouvido e guardado por todos aqueles que, sejam ou não do Sul, apreciam a música regional no que ela tem de mais puro, belo e expressivo. Bom divertimento!
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO
meu boi barroso
seu calça larga
os homens de preto
cana verde – a chula
é sul, é sul, é sul
milonga do bem querer
gauchinha bem querer
aroeira
a chimarrita
chotes carreirinho – chotes laranjeira
paizito carreteiro
jacaré
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