Arquivo da categoria: Patrício Teixeira
A Música De Wilson Batista (Parte 1) – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 77 (2013)
Vários Cantores – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 41 (2012)
E chegamos à quadragésima-primeira edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil. Desta vez, apresentamos uma seleção de sambas, do acervo do blog Coisa da Antiga (http://coisadaantiga.blogspot.com.br), pertencente ao grande Ary do Baralho, dono de um autêntico tesouro do gênero, cheio de raridades absolutas. A você, Ary, os nossos mais sinceros agradecimentos.
Esta seleção, com doze preciosas gravações, dá bem uma ideia do que o Ary tem no Coisa da Antiga, autênticas joias do samba. E começamos com o carioca Moreira da Silva (1902-2000), o eterno rei do samba de breque, de vida (98 anos) e carreira lôngevas. O eterno Kid Morenguera se faz presente através do disco Columbia 22165, lançado em dezembro de 1932, com vistas ao carnaval de 33. A faixa de abertura, matriz 381362, apresenta este que foi o primeiro grande sucesso do Moreira: “Arrasta a sandália”, de Aurélio Gomes e Osvaldo Vasques, este último conhecido como Baiaco (Rio de Janeiro, c.1913-idem, c.1935), ritmista e um dos fundadores da primeira escola de samba, a Deixa Falar, no bairro carioca do Estácio. Entoado num esquema pergunta-resposta típico do partido alto, caiu no agrado popular e tornou-se um clássico. No verso, matriz 381363, outra composição do Baiaco, agora em parceria com Ventura: “Vejo lágrimas”.O acompanhmento neste disco é do grupo Gente do Morro, liderado por Benedito Lacerda, com sua flauta inconfundível.
Patrício Teixeira (1893-1972) era também carioca, da Rua Senador Eusébio, no coração da lendária Praça Onze, autêntico reduto de sambistas e boêmios, e onde aconteciam os desfiles da escolas de samba cariocas até sua demolição, para dar lugar à Avenida Presidente Vargas. Cantor e violonista, também foi professor de violão, e entre suas alunas mais famosas estão Linda Batista, Aurora Miranda e as irmãs Danusa e Nara Leão. Dele apresentamos, inicialmente, outra composição de Osvaldo “Baiaco” Vasques, em parceria com o grande flautista Benedito Lacerda: “Tenho uma nêga”, gravação Victor de 14 de novembro de 1932, lançada em dezembro seguinte com o número 33600-B, matriz 65535, também para a folia de 1933. Em seguida, de Max Bulhões e Mílton de Oliveira, outro samba bastante conhecido: “Sabiá-laranjeira” (“ouvi teu cantar bem perto”…), de Max Bulhões e Mílton de Oliveira, gravação Victor de 13 de maio de 1937, lançada em agosto seguinte com o número 34137-B, matriz 80404. Apesar de ser o outro lado do clássico “Não tenho lágrimas”, dos mesmos autores, este “Sabiá” também fez sucesso, e ambas as músicas seriam bastante cantadas no carnaval de 1938.
No disco seguinte, o Columbia 22238, de 1933, mais uma vez Osvaldo Vasques, o Baiaco, se faz presente, com dois sambas interpretados em dueto por Léo Vilar (futuro líder do conjunto vocal Anjos do Inferno) e Arnaldo Amaral (que também foi galã de cinema): de um lado, matriz 381527, “Rindo e chorando”, parceria de Baiaco com Bucy Moreira (1909-1982), neto da Tia Ciata, em cuja residência aconteciam rodas de samba na qual se reuniam autênticos bambas da MPB no início do século XX, como Pixinguinha, Donga e João da Baiana. Bucy também fundou uma escola de samba de nome pitoresco: Vê se Pode! No verso, matriz 381526, “Se passar da hora”, em que Baiaco tem a parceria de Boaventura dos Santos.
Relembramos depois o grande Ciro Monteiro (1913-1973), o “cantor das mil e uma fãs”, também conhecido como “Formigão”, sem dúvida um dos maiores expoentes de nosso samba, com uma carreira repleta de sucessos. Ele comparece aqui com dois sambas de Djalma Mafra (Rio de Janeiro, c.1900-idem, 1974), gravados na Victor: “Obrigação”, parceria de Djalma com Alcides Rosa, registrado em 3 de maio de 1945 e lançado em julho seguinte sob n.o 80-0294-B, matriz S-078163, e “Oh seu Djalma”, parceria de Mafra com Raul Marques (1913-1991), gravado em 13 de outubro de 1943 e lançado em dezembro seguinte com o n.o 80-0138-A, matriz S-052856.
Apresentamos em seguida duas composições de Geraldo Pereira (Juiz de Fora, MG, 1918-Rio de Janeiro, 1955), responsável por clássicos como “Falsa baiana”, “Sem compromisso”, “Escurinha” e “Escurinho”, interpretadas por Roberto Paiva (pseudônimo de Helim Silveira Neves). Primeiro, “Se você sair chorando”, de Geraldo com Nélson Teixeira, gravação Odeon de 26 de setembro de 1939, lançada em novembro seguinte com o n.o 11788-B, matriz 6206, visando ao carnaval de 1940. Depois Roberto canta “Tenha santa paciência”, parceria de Geraldo com Augusto Garcez, em gravação Victor de 6 de março de 1942, lançada em maio seguinte, disco 34923-A, matriz S-052489.
Para encerrar, o notável Otávio Henrique de Oliveira, aliás, Blecaute (Espírito Santo do Pinhal, SP, 1919-Rio de Janeiro, 1963), detentor de inúmeros êxitos no meio de ano e no carnaval (quem nunca cantou “Maria Candelária”, “General da banda”, “Papai Adão”, “Pedreiro Valdemar” e tantas outras?), e que recebeu esse apelido do Capitão Furtado (Ariowaldo Pires), por causa dos blecautes (apagões) que havia em toda a orla marítima do Brasil na época da Segunda Guerra Mundial durante a noite, a fim de evitar ataques inimigos. Blecaute aqui comparece com dois clássicos de Geraldo Pereira, gravados na Continental: Primeiro o delicioso “Chegou a bonitona”, de Geraldo com José Batista, gravado em 11 de agosto de 1948, com lançamento entre outubro e dezembro do mesmo ano, disco 15954-A, matriz 1922. Depois outro clássico do Geraldo Pereira, agora em parceria com Arnaldo Passos, o famoso “Que samba bom”, lançado em janeiro de 1949 para o carnaval daquele ano com o número 15981-B, matriz 2002. Um fecho realmente de ouro para esta sambística seleção do GRB, para enriquecer os acervos de muitos amigos cultos, ocultos e associados. E olha: pretendemos aproveitar muito mais coisas do blog Coisa da Antiga, pois o Ary do Baralho tem bastante coisa boa nele. Aguardem!
Texto de SAMUEL MACHADO FILHO.
Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 29 (2012)
Após uma semana de ausência, motivada pelo aniversário do nosso Toque Musical, estamos de volta com o Grand Record Brazil, em sua edição de número 29. O coquetel da semana tem quinze fonogramas com os mais variados intérpretes, para enriquecer os acervos de muitos colecionadores.
Para começar, apresentamos uma cantora incluída entre as pioneiras na interpretação e gravação de temas folclóricos: Elsie Houston (Rio de Janeiro, 1902-Nova York, EUA, 1943), soprano que era filha de um dentista americano do Tennessee, no Rio desde 1892, e de uma carioca descendente de portugueses da Ilha da Madeira. Estudou canto lírico na Alemanha em 1922 e tomou o gosto por nosso folclore ao conhecer o maestro e compositor Luciano Gallet. Casou-se, em 1927, com o poeta e militante trotskista Benjamin Peret, durante temporada em Paris, e tiveram um filho em 1931. No mesmo ano, hostilizado pelo governo getulista, o casal mudou-se para a França. Em 1936, Peret foi lutar na Guerra Civil Espanhola e se envolveu com uma pintora hispano-americana, motivo que faria Elsie, um ano mais tarde, mudar-se para Nova York. Em 1939-40 apresentou na rede de rádio NBC o programa “Fiesta pan-americana”, onde divulgava nossa música. No dia 20 de fevereiro de 1943, Elsie Houston foi encontrada morta em seu apartamento na Park Avenue, não se sabe até hoje se por assassinato ou suicídio! Aqui, poderemos ouvi-la numa gravação de 26 de setembro de 1933, feita na Gramophone Company de Paris, na qual interpreta dois temas harmonizados por ela mesma: “Berceuse africano-brasilienne” e Óia o sapo”, disco original K-7055-B, matriz OPG 1017-1. Em seguida, Gastão Formenti (Guaratinguetá, SP, 1894-Rio de Janeiro, 1974) apresenta um de seus mais queridos e conhecidos sucessos: o cateretê (que mais parece rumba) “De papo pro á”, da parceria Joubert de Carvalho-Olegário Mariano, em gravação Victor de 28 de agosto de 1931, lançada em outubro do mesmo ano, disco 33469-A, matriz 65226. Convém lembrar aliás que jereré, citada na letra, não é uma cidade mas sim um tipo de rede de pesca. Pescar de jereré equivale a pescar de anzol. Editado como “canção regional”, “De papo pro á” tem vários registros e é até hoje muito conhecida e lembrada. O contracanto é feito por Castro Barbosa, sem crédito no selo e o acompanhamento por “orquestra típica”. Dilú Mello (Maria de Lourdes Argollo Oliver, Viana, MA, 1913-Rio de Janeiro, 2000) também foi séria pesquisadora de nosso folclore, e deixou mais de cem composições. Aqui, um de seus hits, bastante conhecido: a toada “Fiz a cama na varanda”, dela em parceria com Ovídio Chaves, lançada pela Continental em abril de 1944, disco 15126-A, matriz 724, com acompanhamento do Conjunto Tocantins, que também faz coro. Outra peça que tem inúmeros registros, entre eles os de Stelinha Egg, Inezita Barroso e Nara Leão. De ascendência alemã, o carioca Breno Ferreira Hehl (1907-1966) foi cantor enquanto estudava direito, e abandonou a advocacia depois de se formar. Também foi pioneiro do cooperativismo no Brasil, tendo publicado vários livros técnicos, e foi o descobridor de Dolores Duran. Eis Breno Ferreira em sua obra mais conhecida, por certo: a embolada “Andorinha preta”, por ele composta em 1925, e que gravaria sete anos depois, na Columbia, neste registro lançado em maio de 1932, disco 22136-B, matriz 381255. Foi regravada mais tarde, entre outros, por Nat King Cole, Trio Irakitan e (vejam vocês!) Hebe Camargo. Os Trigêmeos Vocalistas aqui comparecem com um corimá (gênero afro-brasileiro) de João da Baiana, “Ogum Nilê”, por eles gravado na Odeon em 31 de maio de 1950, com lançamento em agosto seguinte com o n.o 13033-A, matriz 8633. No selo original, é dado como co-autor Raul Carrazatto, um dos Trigêmeos, mas em 1957, quando o próprio João da Baiana regravou a música, Raul sumiu da parceria, nem sequer sendo creditado! Por que será? Vamos agora comentar sobre três gravações do GRB desta semana, feitas em 7-8 de agosto de 1940, a bordo do navio “S.S.Uruguai”, então atracado no porto carioca, sob a supervisão do maestro britânico Leopold Stokowski (Londres, 1882-Hampshire, 1977), que então excursionava com sua All American Youth Orchestra. A nata da MPB naqueles tempos foi escalada para fazer uma série de 40 gravações, com plateia formada pelos músicos da orquestra de Stokowski. Destas, dezessete saíram em disco nos EUA pela Columbia, no início de 1942, em dois álbuns de 78 rpm com quatro cada um, intitulados “Native brazilian music”. O GRB apresenta, desta série que só saiu no Brasil em 1987, em LP da Funarte, três registros preciosíssimos: o ponto de macumba “Caboclo do mato”, de Getúlio “Amor” Marinho e João da Baiana, interpretado por ele mesmo em dupla com Janir Martins, sendo a flauta do mestre Pixinguinha (disco 36504-B, matriz CO-30151), a embolada “Bambo do bambu”, de Donga e Patrício Teixeira, interpretada por Jararaca e Ratinho (disco 36505-B, matriz CO-30156), e o samba, também de Donga, “Passarinho bateu asas” (disco 36508-B, matriz CO-30149), na voz de Zé da Zilda. Histórico! Isaura Garcia, a “personalíssima”, cantora de longa carreira e inúmeros sucessos, vem aqui com um deles, em dueto com o mineiro (de Viçosa) Hervê Cordovil: o baião “Pé de manacá”, de Hervê com Mariza Pinto Coelho, em gravação RCA Victor de 22 de junho de 1950, lançada em setembro do mesmo ano, disco 80-0686-A, matriz S-092695. Eles já cantavam a música em dueto na Rádio Record de São Paulo, e o sucesso se repetiu em disco. Conhecidos como “os reis do riso”, Alvarenga e Ranchinho aqui estão em uma das páginas mais conhecidas e apreciadas de seu repertório: a “valsa fúnebre” “Romance de uma caveira”, deles próprios mais Chiquinho Sales, em gravação Odeon de 2 de fevereiro de 1940, lançada em março seguinte, disco 11831-A, matriz 6301. No acompanhamento, o conjunto do violonista Rogério Guimarães. Quem nunca ouviu que atire a primeira pedra! A seguir, duas gravações lançadas somente em LP: a primeira é a conhecida toada “Chuá, chuá”, de Pedro de Sá Pereira, Ary Pavão e Marques Porto, os três por coincidência gaúchos. Foi lançada na revista teatral “Comidas, meu santo!”, em 1925, por Roberto Vilmar, sendo depois levada a disco pelo cantor Fernando. Aqui, quem a interpreta, acompanhada pela orquestra de Rafael Puglielli, é a dupla Cascatinha e Inhana, em registro lançado pela Todamérica em 1958 no álbum “Os sabiás do sertão” (LPP-TA-316). A outra é a canção “Azulão”, de Hekel Tavares e Luiz Peixoto, cuja primeira gravação, na voz de Paraguassu (1930), apresentamos na edição anterior do GRB. Aqui, a regravação de Patrício Teixeira, feita em 1956 para o LP de dez polegadas da Sinter “Festival da velha guarda” (SLP-1074), o único registro por ele feito após seu último 78 rpm, que saiu em 1944. Stefana de Macedo (Recife, PE, 1903-Rio de Janeiro, 1975) também foi séria pesquisadora do folclore brasileiro. Ela aqui comparece com o coco “Ronca o bisouro na fulô”, recolhido por ela mesma, em gravação lançada pela Columbia em fevereiro de 1930, disco 5147-A, matriz 380432. Pra finalizar esta nossa edição do GRB, duas composições do mestre baiano Dorival Caymmi. A primeira, interpretada por ele mesmo, é a clássica canção praieira “O mar”, em registro Columbia de 7 de novembro de 1940, lançado em dezembro seguinte, disco 55247, matrizes 328-329, ocupando os dois lados do disco. O acompanhamento orquestral foi concebido por Guerra Peixe, conduzido com maestria por Lírio Panicalli. A segunda é uma canção de ninar interpretada pelo Trio de Ouro em sua primeira fase (Herivelto Martins, Dalva de Oliveira e Nilo Chagas): “História pra sinhozinho”, gravação Odeon de 15 de março de 1945, lançada em maio seguinte com o n.o 12573-B, matriz 7779, e acompanhamento de conjunto de estúdio da “marca do templo”, faixa esta que encerra com chave de ouro o nosso GRB da semana. Para apreciar e sobretudo guardar!
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO
**ESTA SELEÇÃO MUSICAL FOI EXTRAÍDA DO SITE GOMA-LACA, RESPONSÁVEL PELA DIGITALIZAÇÃO DOS FONOGRAMAS.
Vários – Seleção 78 RPM Do Toque Musical – Vol. 28 (2012)
Fratura no joelho é um troço bem complicado… O nosso Augusto TM que o diga! Mas depois de mais um período de ausência forçada (até eu senti saudades), eis aqui a vigésima-oitava edição do meu, do seu, do nosso Grand Record Brazil, apresentando mais dez preciosos fonogramas da era das 78 rotações por minuto para enriquecer os acervos de nossos amigos cultos e associados. E começamos com um sucesso de Patrício Teixeira (1893-1972), carioca da Rua São Leopoldo, na lendária Praça Onze, que começou a gravar ainda pelo processo mecânico e continuou de maneira bem sucedida na fase elétrica, até quando saiu seu último disco, em 1944. (depois disso, ainda gravaria a canção “Azulão”, de Hekel Tavares e Luiz Peixoto, para um LP da Sinter). Foi até professor de violão, e entre suas alunas mais ilustres estão Nara Leão e as irmãs Linda e Dircinha Batista. E Patrício aqui comparece com um clássico: o samba “Gavião calçudo”, do mestre Pixinguinha, com letra de Cícero “Baiano” de Almeida, cujo sucesso desaguaria no carnaval de 1930. Saiu em duas gravações de Patrício: a primeira no selo Parlophon, em março de 1929, e esta segunda, com o selo Odeon, lançada em agosto do mesmo ano com o n.o 10436-A, matriz 2685, na qual o intérprete canta a letra completa, acompanhado de piano e violão (no registro original era com orquestra, e nele só foram apresentados o estribilho e uma das estrofes). “Azulão” também está aqui, mas no registro original do “cantor das noites enluaradas”, Paraguassu (Roque Ricciardi, 1894-1976), lançado pela Columbia em fevereiro de 1930, disco 5141-A, matriz 380474.
Em seguida, um monólogo divertidíssimo interpretado pelo ator Pinto Filho. Trata-se de “Guerra ao mosquito”, de Luiz Peixoto e Marques Porto, lançado pela Parlophon em agosto de 1929 com o n.o 12989-A, matriz 2670. Mais atual impossível, uma vez que o Brasil tem sido, nos últimos tempos, atingido por endemias tropicais como a dengue, especialmente no verão. Não faltam farpas a políticos de prestígio na época, como o então candidato a presidente da República Júlio Prestes.
A próxima faixa vem a ser o primeiro grande sucesso nacional de Ary Barroso como compositor: a marchinha “Dá nela”, interpretada por Francisco Alves com a Orquestra Pan American de Simon Bountman, e um dos hits do carnaval de 1930. Gravação de 9 de janeiro daquele ano, lançada pouco depois sob n.o 10558-A, matriz 3258. No dia 18, a música venceu um concurso promovido no Teatro Lírico do Rio de Janeiro, e com o dinheiro ganho (cinco contos de réis!), Ary Barroso teve condições de se casar (com Yvonne Belfort Arantes) e ainda recebeu seu diploma de advogado. De letra extremamente machista (característica da época), “Dá nela” também deu nome a uma revista do Teatro Recreio, nela interpretada (de calça comprida!) por Zaíra Cavalcanti.
Um dos clássicos de Ary Barroso em parceria com Luiz Peixoto, o samba-canção “Na batucada da vida” (subintitulado “A canção da enjeitada”) tornou-se inovador na época do lançamento, pelo realismo com que tratava uma temática de cunho social. Originalmente saiu em 1934, na voz de Cármen Miranda, e aqui é apresentada no registro de Dircinha Batista, feito na Odeon em 14 de abril de 1950 e lançado em agosto seguinte, disco 13031-B, matriz 8685, com acompanhamento de piano do próprio mestre de Ubá. Como bem sabem os fãs de Elis Regina, em 1974 ela também fez um registro memorável desta composição.
O inesquecível Kid Morenguera, o grande Moreira da Silva (1902-2000), insubstituível rei do samba de breque, aqui comparece com o raríssimo disco Star 225, datado de 1951, com acompanhamento do conjunto do violonista Claudionor Cruz, destacando-se o saxofone de Portinho (Antônio Porto Filho), também maestro e arranjador de prestígio. De um lado, o samba-choro “Entrevista”, do próprio Moreira, e no verso, nesse mesmo ritmo, a homenagem do GRB aos motoristas na semana do dia deles e de seu santo padroeiro, São Cristóvão: “Sou motorista”!
Humberto Marsicano fez parte da geração de artistas paulistas surgidos no final dos anos 1920. De sua escassa discografia como cantor (apenas 16 fonogramas distribuídos em nove 78 rpm), apresentamos o disco Columbia 5051, lançado em julho de 1929, com acompanhamento da orquestra de Álvaro Ghiraldini. Abrindo-o, matriz 380143, o samba-choro “Mulher sem coração”, composto por um nome que iniciava então sua carreira, José Maria de Abreu (1911-1966), paulista de Jacareí, responsável por sucessos inesquecíveis, tais como “E tome polca”, “Alguém como tu”, “Dançando com você” e muitos outros. No verso, matriz 380144, o delicioso “sambinha-embolada” Tico-tico vuô”, de Juca Paulista e Juvenal de Abreu.
Para encerrar, uma marchinha do carnaval de 1957, lançada pela Continental em janeiro desse mesmo ano, com o n.o 17375-B, matriz C-3912. É “Seu Romeu”, de João Rosa, Arnaldo Moraes e do paulistano Ruy Rey (1915-1995), sendo este último o intérprete. Ruy, que se chamava Domingos Zeminian, foi também exímio “bandleader”, e especializou-se em ritmos hispano-americanos, precursores da atual salsa. Enfim, um belo apanhado com o qual o GRB mata as saudades de todos que estavam aguardando esta retomada. Divirtam-se e recordem!
*TEXTO DE SAMUEL MACHADO FILHO